• Nenhum resultado encontrado

EIXO 02 – EXERCÍCIO DA PATERNIDADE: AVALIAÇÃO E MUDANÇA

O Eixo 2 é dividido em duas classes: Paternidade e Maternidade (classe 02) e Conflitos e Avaliação (classe 05). Nelas, os participantes fazem uma reflexão sobre paternidade, maternidade e funções de gênero. Ressaltam suas mudanças de comportamento no sentido de amenizar a falta que os filhos sentem da mãe e questionam como as funções materna e paterna se mesclam em sua vivência. Analisam a paternidade como um exercício em permanente construção e o fato de terem assumido os filhos sozinhos os fizeram repensar sua própria experiência pregressa e buscar elementos para melhor exercê-la atualmente. O coeficiente de co-relação entre as classes desse Eixo é 0,62, o que demonstra o alto grau de ligação entre elas.

Classe 02 – Paternidade e Maternidade

As principais formas reduzidas associadas à classe estão representadas na Tabela 06.

Tabela 06: Principais formas reduzidas associadas à Classe 02 - GV

Formas reduzidas Freqüência na classe Freqüência no corpus X

2 Formas reduzidas Freqüência na classe Freqüência no corpus X 2 fácil 7 8 65,11 d’água 3 3 32,44 agir 5 5 54,27 substituir 3 3 32,44 atento 6 8 46,14 figura 5 8 30,42 afeto 6 8 46,14 vivenc+ 5 9 26,04

form+ 13 33 43,18 pai e mãe 3 4 22,89

signific+ 6 9 66,67 copo 3 4 22,89

respeit+ 5 7 36,08 relac+ 12 43 22,66

cri+ 5 7 36,08 *suj_02 36 156 60,88

Nessa classe, os participantes discorrem acerca dos papéis parentais, dos significados de ser pai e ser mãe e sobre como a vivência dessa monoparentalidade os levam a refletir e aprender novas atitudes para lidar com os filhos. Relatam que, quando assumiram sozinhos os cuidados com os filhos, aprenderam a ficar atentos a pequenas situações no cotidiano, estando mais disponíveis para entender certas necessidades e agir quando necessário. Na busca de amenizar a falta da esposa, passaram a expressar para seus filhos maior afeto, carinho e confiança, atitudes mais presentes inicialmente em sua

esposa. Discutem se é possível ser pai e mãe ao mesmo tempo e alguns consideram que nunca irão substituir a figura materna, pois existe uma relação mãe-filho que se estabelece anteriormente e que sempre estará presente, mesmo na ausência física dela. Por fim, consideram que esse tipo de paternidade não é fácil e que estão em um processo de constante construção e aprendizado.

As UCEs retiradas da entrevista do suj_02, Vagner, estão bastante relacionadas a essa classe. Verifica-se que, por sua formação acadêmica em andamento na área de Ciências Humanas, Vagner enfatiza a paternidade como uma construção que se dá no meio social, reforçando a questão do aprendizado nesse contexto.

SER PAI

Ao analisar mais atentamente o conjunto das entrevistas, verifica-se que alguns elementos estão mais presentes nas RS de paternidade dos participantes. Podemos dividir em cinco categorias: Responsabilidade e Acompanhamento, Afetividade e Companheirismo, Orientação e Correção, Provedor Material e Equilíbrio.

Responsabilidade e Acompanhamento

Os pais relatam que assumir a criação dos filhos foi um processo natural. O falecimento da maioria das esposas ocorreu após tratamentos de saúde prolongados, o que, de certa forma, possibilitou a eles momentos de reflexão sobre como ficaria a dinâmica familiar caso elas falecessem.

“[Esposa disse] ‘Você vai precisar delas pra algumas coisas, elas vão precisar de você pra outras, né. Muito mais elas de você. Então fica calmo, devagarzinho as coisas vão se ajustando’. E eu me emocionei muito quando nós tivemos aquela conversa, mas entendi que a verdade era aquela e que... E desde aquele dia, então, eu assumi esse papel.” (Valério)

Assim, os pais assumiram a responsabilidade por seus filhos porque é ‘preciso continuar’ e também por se considerarem as pessoas mais capazes de cuidar e ser uma referência para eles, não repassando essa tarefa para outros familiares.

“Continuei morando com os filhos, com certeza. Isso aí porque a vida continua, não tem jeito, né.” (Valter) “Então quando eu cheguei lá, a primeira coisa que eu fiz, é, comuniquei à família que eu que tinha que dar conta do meu filho, acho que não tinha ninguém mais, melhor, em melhores condições nem pra ficar com ele ali e dar o apoio que ele precisava, e falar as coisas, uma situação bem delicada.” (Vagner)

Verifica-se que a responsabilidade é um elemento bastante presente nas representações de paternidade dos participantes. Ser responsável pelos filhos significa orientar, acompanhar seu desenvolvimento e ter compromisso com suas necessidades.

“Ser pai é uma responsabilidade muito grande.” (Valério)

“Então acho que a paternidade é você assumir a responsabilidade que as suas escolhas dizem respeito a constituição do outro, não só a sua.” (Vagner)

Como Vagner ressalta, o compromisso com o filho passa a ser primordial na relação que o pai estabelece com ele. Não basta ter gerado ou reconhecido o filho, é preciso se comprometer com ele, de forma a assumi-lo como filho e, a partir disso, se constituir como pai.

“Então a paternidade não é uma função biológica nem legal. E nem de convívio, porque você pode estar convivendo diariamente e não também não assumir a paternidade. Achar que não precisa de ter relação, pode não ter compromisso, pode não ter responsabilidade. Então paternidade é uma responsabilidade. É uma aceitação e é o reconhecimento de que você tem o outro que existe.” (Vagner)

Uma vez assumido esse compromisso, é importante participar do cotidiano do filho. ‘Estar presente’, então, significa se envolver nesse cotidiano, acompanhando-o em suas tarefas e atividades e atendendo às necessidades dos filhos, agindo imediatamente quando necessário.

“Tem que participar, não, não tem lugar pra essa coisa de omissão, de ser omisso, tem que participar, um bom pai tem que participar de tudo. (...) Então ser pai é ser participativo, mesmo.” (Valério)

E aí tem que tá #atento a uma tosse, a um movimento anormal para estar #agindo prontamente. (Vilmar)

Apesar de passar grande parte do dia fora de casa, os pais procuram acompanhar, de alguma forma, o dia a dia dos filhos seja através do telefone, passando em casa rapidamente no intervalo entre seus compromissos ou no final do dia.

“Então eu ligo do serviço, sempre ligo pra cá: ‘como é que tá aí, tudo tranqüilo?’ Agora não, agora Mariana já tem telefone, então ela já liga pra mim, aí já está mais tranqüilo. (...) Agora alimentação, eu sempre ligo do serviço pra empregada: ‘E Mariana tá comendo direito?’” (Valter)

Os pais relatam que a responsabilidade pelos filhos ficou maior após o falecimento das esposas. Antes eles podiam compartilhar a criação dos filhos, apesar de reconhecerem que a maior parte desse acompanhamento era feito por elas. Agora, mesmo com o apoio de amigos e familiares, observam que se tornaram os principais responsáveis e a maior referência para os filhos. A constatação desse fato traz outras preocupações, como o receio de deixar os filhos sozinhos.

“Eu sou responsável pela, pelo caminhar delas até a independência delas aqui, eu tenho que #cuidar delas e que elas têm que #entender isso.” (Valério)

“E eu também, a gente nunca tinha preocupação: ‘ah, eu vou morrer’, nunca tive essa preocupação, hoje eu já tenho. Eu fico mais precavido, não que eu era de fazer essas coisas, mas procuro dirigir mais ... Eu sei que não vai poder mudar muita coisa não, mas também não... essa parte eu sou mais de, mais viva essa preocupação de vir a faltar, deixar eles sozinhos, então essa parte hoje eu já penso mais do que pensava antigamente.” (Valter)

Afetividade e Companheirismo

Nessa categoria estão presentes elementos ligados à afetividade e aos relacionamentos entre pais e filhos. Para eles, ser pai é uma escolha afetiva, que requer envolvimento, amor e carinho. Essa dimensão da afetividade é bastante ressaltada pelos participantes, que consideram que o carinho e o amor devem ser primordiais na relação. É preciso ser compreensivo e demonstrar atenção, mesmo que alguns pais relatem suas dificuldades nessa área.

“Eu acho que é uma, é uma, é um envolvimento afetivo e uma responsabilidade. Sem tirar fora a responsabilidade oficial, legal, é um envolvimento e uma responsabilidade afetiva.” (Vagner)

‘Estar presente’ também aparece como um elemento nessa categoria, significando ‘estar atento’ às necessidades dos filhos. É preciso estar disponível para as situações que envolvam os filhos, buscando interpretar e atender suas necessidades. Ser pai, então, é estar atento a pequenos detalhes no relacionamento familiar, que podem indicar alguma necessidade afetiva. Assim, alguns gestos e atitudes do pai passam a ter outros significados, demonstrando carinho e atenção, mesmo que algumas vezes tenham dúvidas se estão conseguindo atender as necessidades dos filhos.

Por quê? Porque é um #gesto de, de #atenção, de #carinho. Toda hora ele vai: pai, pega um #copo #d’água para mim, tô #sentindo uma #dor de cabeça. Aí às vezes não tá #sentindo, às vezes é nada. Mas isso é um #gesto de #afeto também, #entendeu, o fato de você ir lá, colocar o prato, entregar na mão e ele comer, ou pegar um #copo #d’água, #entendeu? ou tá #sentindo uma #dor, #sei lá, fazer um #carinho. Ah, toma o remédio aí. Não é só isso que tá #envolvido. (Vagner)

Os pais também relatam que é preciso estar atento à saúde emocional dos filhos principalmente nos aspectos relacionados ao falecimento da esposa, oferecendo apoio e compreensão.

“Eu comecei a conversar muito com os dois, ver o que que tava sentindo, se tava com muita saudade, essas coisas para conversar, e se ela quisesse chorar, não tivesse problema, chorava todo mundo junto.” (Valter) “Eu até preciso, eu te falei que eu preciso ajudar a Manu nesse processo de estruturação.” (Valério)

Além disso, procuram oferecer atenção em outros momentos do cotidiano dos filhos, demonstrando carinho.

“E a gente vê que isso aí, às vezes... todos gostam, quando não tão se sentindo bem, você recebe um carinho, uma atenção maior, isso faz bem. A gente gosta, todo ser humano tem necessidade disso, né. E eu tento fazer isso. Eu busco sempre fazer isso aí.” (Vagner)

“E a pequena, sempre que eu chego em casa ela procura chamar minha atenção. Então eu procuro, por ter passado aquele problema com ela, de carência, quando a mãe tava doente, então eu procuro me dividir em três, não dar mais atenção a um do que o outro.” (Valter)

A amizade e o companheirismo são aspectos importantes na relação pai e filho. Conversar sobre os problemas, conhecer melhor o filho e ser amigo e companheiro são elementos presentes na definição de paternidade desse grupo de pais. Não basta estar próximo do filho, convivendo na mesma casa. É necessário também estabelecer vínculos de confiança, para que os filhos enxerguem no pai um amigo com o qual podem contar.

“Dar essas coisas. O carinho, a compreensão, o ser amigo.” (Vilmar)

“A parte acho que essencial de um pai é carinho, tentar conversar quando necessário, trocar idéias, experiências, coisas que acho que eu fiz errado, agi errado.” (Valter)

Com exceção de Vagner, todos os outros pais tinham filhas e relataram algumas dificuldades para se aproximar delas. Consideram que a relação delas com a mãe era de amizade e companheirismo, conversando sobre diversos assuntos, inclusive relacionados à afetividade e sexualidade. E essa relação de proximidade com as filhas é considerada difícil de ser alcançada pelos pais entrevistados, o que não acontece na relação com os filhos (no caso de Valter e Vilmar).

“Aquela conversa de mãe pra filha, de mulher pra mulher, então eu sei que ela nunca vai chegar e vai conversar abertamente comigo.” (Valter)

“Então é isso, acho que se fosse um menino seria, eu acho que eu estaria mais à vontade, sabe, nesse momento da, da criação, da continuidade aí, não sei.” (Valério)

A mãe era considerada a intermediária entre o pai e as filhas, o que gerou certo distanciamento que, agora, os pais vêem a necessidade de diminuir.

“Então, teve uma hora que eu tive que estudar isso, de chegar até ela, eu tive que procurar, até hoje eu tenho que chegar sempre e estar futucando, estar sempre tocando no assunto necessário, o que que você acha disso, o que que você acha daquilo...” (Valter)

“A gente entra nas lojas pra comprar calcinha e sutiã, pra elas escolherem. Eu não tenho aquela vergonha de ser, ser um pai na seção feminina não, sabe. Eu vou junto, não tenho essa dificuldade. Se for pra ir pra, à ginecologista junto eu vou lá, sabe, pra participar.” (Valério)

Apesar das dificuldades relatadas, de uma forma geral os pais consideram que o relacionamento com os filhos é positivo e eles têm procurado formas de se aproximar e conseguir um bom convívio familiar, algumas vezes buscando mudanças em sua própria forma de se relacionar.

“Mas acho que isso aí é uma coisa que a gente tem, tá tentando aprender bem. Essa convivência dos quatro.” (Valter)

“Eu sou muito contido. E na paternidade a gente precisa ser, tem que ser mais espontâneo, tem que ser, porque favorece a participação na vida como um todo, né, na casa, na escola, no trabalho, nas relações que os filhos vão ter com o mundo, né.” (Valério)

Orientação e Correção

A dimensão da orientação e correção também está bastante presente na representação social de paternidade. Ser pai é saber orientar e corrigir os filhos, não abrindo mão da autoridade e da punição quando necessário. Eles enfatizam que o diálogo é muito importante na orientação, sendo também a primeira opção na hora de corrigir os filhos. Se o filho agir de forma inadequada, é preciso admitir isso e corrigir imediatamente.

“Porque eu não conheço outro caminho de conversar com ele, explicar as coisas da maneira mais aberta possível.” (Vagner)

“Então é corrigir na hora certa, não tentar tapar o sol com a peneira, errou então vamos corrigir o que errou e tocar a bola pra frente. Eu nunca deixei passar, qualquer um que tenha feito uma quantidade de coisa errada, eu procuro corrigir.” (Valter)

“Limite. Tem que ter o limite, não pode tudo. Tem coisa que não pode. Entendeu? Isso aí eu sou rígido também. Bastante rígido. Sem dar agressão. Só na conversa, só na conversa. Não pode, não pode.” (Vilmar)

Outros tipos de correção também são mencionados pelos pais, como castigos referentes à restrição de realização de atividades ou punições físicas.

“Castigo das coisas que eles gostam. Corta computador, corta de sair. Todos eles.” (Vilmar)

“E elas entendem isso e quando eu falo, elas confiam, até de usar do chinelo, dar umas palmadas mesmo, né. Não gostei de fazer aquilo, me senti extremamente mal de fazer aquilo, orei pedindo perdão a Deus por ter me excedido daquela forma, não queria ter feito nunca aquilo, mas foi preciso fazer.” (Valério)

Os pais julgam que, às vezes, é preciso ser mais severo nesse aspecto, o que pode gerar algumas discussões com os filhos. Em alguns momentos, os pais admitem agir de maneira mais impositiva mas justificam que, nessa hora, os filhos devem saber quem possui o controle da situação, ressaltando a figura de autoridade que, no caso, é representada pelo pai.

“E quando percebo que elas estão assim, é... não estão vendo mais a figura da autoridade, que elas extrapolam um pouco, aí eu chamo a, a, né, a atenção: ‘Vem cá, o que que você está pensando, não é assim que acontecem as coisas’. Faço intervenção como um pai realmente, minha intervenção é direta, eu falo claramente.” (Valério)

“Não, tem alguns momentos que são bem, é... que chega assim, a ter bastante conflito. Mas é questão de ele querer impor a vontade dele, de fazer, né. Então eu tenho o que que eu posso fazer e o que que eu não posso. Tem coisa que eu não posso fazer isso porque senão eu vou virar meio assim, ficar só à mercê da vontade dele, entendeu. Então algumas vezes a gente tem que ter umas discussões ásperas, de colocar, dele querer e eu colocar de alguma maneira.” (Vagner)

Quando consideram que extrapolam, os próprios pais também procuram fazer uma reflexão sobre a adequação de sua atitude.

“A partir do momento que eu passei da linha então eu tenho que me rever também. Então eu também me construo dentro disso aí, não tem nada pronto. Eu tenho que analisar os fatos e refletir sobre isso aí, agir e tentar o equilíbrio nisso aí, tenho que saber o que é próprio dele, o que é próprio meu, o que é nosso nesse jogo, o que não é, entendeu.” (Vagner)

“Mas quando não, o dia a dia, essas faltas, acaba prejudicando a conversa no momento, a conversa na hora errada, você acaba falando o que não quer, discutindo o que não deve.” (Valter)

Eles consideram que a esposa tinha um importante papel no momento da orientação e correção, muitas vezes sendo a moderadora entre pais e filhos. Por isso, sentem falta desse auxílio e buscam, de alguma forma, suprir essa necessidade, seja conversando com outras pessoas, seja relembrando as atitudes da esposa.

“E quando eu acho que eu não tenho condição, quando eu não sei o que falar, eu procuro ajuda. No início eu tava tendo, no centro de saúde a psicóloga, né. E depois eu comecei a conversar com o pessoal, procurar passar o mesmo processo que eu passei, de ficar sozinho.” (Valter)

“Carina até, ela era assim muito a, a... a moderadora, né. Ela me fazia pensar com relação a algumas coisas, isso eu sinto falta hoje. Ela percebia algumas coisas do meu relacionamento com elas que ela sinalizava: ‘negão, você tá, eu tô percebendo que você tá dando muita atenção a Aninha e está esquecendo Manuela. Olha lá, ela vai sentir isso’. (...) Então só o fato de eu pensar já me levava a uma situação de equilíbrio.” (Valério)

Mas Vagner enfatiza que, em alguns momentos, a opinião de outras pessoas não é tão válida pois quem não participa do cotidiano com o filho não possui elementos suficientes para julgar ou opinar sobre uma atitude do pai.

“É claro que, de #repente eu #posso #agir de uma #forma e que quem tá fora achar que é #mau. E de outra #forma #agindo, e... É sempre uma corda bamba.” (Vagner)

De uma forma geral, verifica-se que a orientação e correção são bastante presentes na representação de paternidade, sendo que os pais buscam equilíbrio nesse aspecto através da reflexão e avaliação de suas atitudes frente aos filhos.

Provedor Material

Outro elemento presente na representação de paternidade diz respeito à questão material. O pai como provedor já era considerado uma função estabelecida e assumida por eles desde o período anterior ao falecimento das esposas, apesar delas também trabalharem (exceto a de Valter). Os participantes ressaltam que essa preocupação se mantém, agora reforçada pelo fato de serem os únicos provedores dos filhos.

Ao responder à questão ‘o que é ser pai’, apenas Valter inclui a questão material e financeira, mas enfatizando que isso não deve ser o primordial na relação com os filhos. Nesse sentido, considera que dar as coisas para os filhos é uma forma de demonstrar carinho.

“Ser pai? Bem, ser pai não é só dar bem material, no meu ponto de vista, né, é dar carinho, corrigir na hora que precisa. Eu nunca fui de... eu não, eu não bebo, bebo assim a não ser social, mas eu nunca bebi uma cerveja se eu não pudesse dar um refrigerante pros meus filhos. Então eu nunca fiz nada pra mim se eu não pudesse fazer pra eles. Comprar uma roupa pra mim e não comprar pra eles. Então, é... é... a parte do carinho.” (Valter)

Durante vários momentos da entrevista, Valério demonstrou bastante desconforto e preocupação com o fato de não estar trabalhando, relatando seu esforço em conseguir uma nova colocação no mercado de trabalho. Além disso, considera que sua situação atual de desemprego contribui para algumas dificuldades entre ele e suas filhas, principalmente referentes à rejeição delas em relação à sua namorada. Ressalta, ainda, que o equilíbrio no orçamento familiar possibilitaria buscar auxílio profissional para sua filha mais nova, que está demonstrando sentimentos de tristeza que ele não considera saudáveis.

“Ela assim, ela não... Eu não sinto ela muito bem. Eu sinto ela meio, assim... (faz fisionomia triste). Ela nunca fica comigo, é séria. Eu preciso fazer, tô doido pra trabalhar até pra ter uma grana extra, sobrando aí. Sobrando eu não digo, mas dentro do orçamento que possibilitasse colocar ela numa terapia, num acompanhamento, acho que vai ser muito bom pra ela.” (Valério)

Dessa forma, verifica-se que Valério credita não somente o sustento material à sua inserção no mercado de trabalho, mas também considera que outros aspectos de sua vida e de suas filhas também poderão ser resolvidos com isso. Pra ‘ser feliz novamente’ e cuidar da família é preciso estar trabalhando, indicando a importância do trabalho na constituição de sua masculinidade e, conseqüentemente, de sua paternidade e capacidade para enfrentar as dificuldades no dia a dia.

“Eu pretendo voltar, quero e preciso voltar ao mercado de trabalho. Eu tô lá, só eu sei, né, então eu tô buscando isso, né, pra poder voltar a trabalhar e ser feliz novamente.” (Valério)

Essa questão do trabalho paterno também é enfatizada quando eles relatam seu esforço em conciliar seu trabalho com a paternidade. Como a maioria dos pais trabalha em jornada integral (apenas Vilmar trabalha e reside no mesmo ambiente), passam grande parte do dia longe dos filhos. Nesse sentido, julgam que é importante passar mais tempo com os filhos, mas, ao mesmo tempo, assinalam que o tempo que passam no trabalho também é importante para garantir o sustento material da família.

“[Eu falo pro meu filho:] Olha só, no capitalismo tem que ter dinheiro, pra poder bancar o aluguel, bancar

Documentos relacionados