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Sabemos que os padrões masculinos e femininos e, conseqüentemente, de maternidade e paternidade estão passando por mudanças significativas. Historicamente, os modelos tradicionais foram sendo amplamente difundidos e fizeram parte da socialização de muitas gerações. As lutas pelas mudanças, iniciadas pelos movimentos sociais, tiveram o apoio da comunidade acadêmica e atualmente há grande produção científica sobre as relações de gênero e suas diferentes configurações. Os sujeitos envolvidos na questão da maternidade e paternidade não estão fora dessas discussões, que já estão sendo amplamente divulgadas pelos meios de comunicação e já começam a subsidiar políticas públicas. Como exemplo, podemos citar o direito da mulher de possuir o apoio de um acompanhante no momento do trabalho de parto, parto e pós-parto, indicado por ela, direito esse garantido pela Lei 11.108, de 07/04/2005 e a Lei 11.698, de 13/06/2008, que institui e disciplina a guarda compartilhada.

Pensando em uma das possíveis formas de se exercer a paternidade, elegemos como objeto de estudo a guarda paterna. Nesta pesquisa, buscamos compreender como se representa a paternidade no contexto desse tipo específico de guarda, através dos relatos de homens viúvos e separados que, por algum motivo ao longo de sua trajetória, assumiram a criação dos filhos. Como critério para participação na pesquisa, elegemos homens que não vivem com esposas, mães ou outras mulheres adultas. Assim, o interesse era verificar como esses homens que constituem famílias monoparentais (residem com seus filhos sem a presença da esposa ou mãe da criança) estão vivenciando a paternidade.

A questão de pesquisa que investigamos foi: Quais as representações sociais de paternidade de homens que possuem a guarda dos filhos e constituem famílias monoparentais?

Dentro do nosso tema de interesse – as práticas parentais - consideramos que a teoria das RS é potente para compreender como os homens representam socialmente a paternidade e como essas representações estão orientando suas práticas. Assim, utilizamos a teoria como um instrumento para compreender as vivências e discursos partilhados por esse grupo de pais.

Reconhecemos que, a partir das vivências propiciadas pela guarda dos filhos, os pais constroem suas RS de paternidade, compartilhando práticas e significados dentro do

contexto social que estão inseridos. Buscamos compreender como esses homens atuam quando estão diretamente em contato com seus filhos.

A esse respeito, faz-se necessário ressaltar o fato de que não terem sido encontrados, na literatura pesquisada, estudos que contemplem o homem como detentor da guarda dos filhos. Crepaldi e cols. (2006) sugerem que novas pesquisas sobre paternidade abordem as vivências parentais em diversas configurações familiares, como famílias recompostas ou monoparentais (chefiadas por mulheres ou homens), enfocando a percepção paterna sobre sua vivência e sempre levando em consideração a análise dos diferentes contextos socioculturais nos quais estão inseridas tais famílias.

2.1. Objetivo geral

Identificar as RS de paternidade e maternidade de homens que possuem a guarda dos filhos e constituem famílias monoparentais.

2.2. Objetivos específicos

- Compreender como os participantes realizam os cuidados parentais, como alimentação, higiene, saúde, educação, orientação e correção, atividades escolares, entre outros;

- Identificar quais foram os fatores que influenciaram a decisão de assumir a criação dos filhos;

- Verificar a avaliação que os homens fazem sobre sua vivência da paternidade, incluindo fontes de satisfação e dificuldades nesse exercício;

- Identificar como os homens conciliam a paternidade com outras esferas de sua vida, como trabalho, lazer e relacionamentos amorosos.

3. MÉTODO

3.1. Participantes

Participaram do estudo 15 homens com idade entre 40 e 57 anos, sendo que a média de idade era de 45 anos. Quatro pais eram viúvos e onze eram separados. O estado civil não foi um critério para seleção da amostra, por isso há essa grande diferença entre o número de participantes em cada situação.

A maioria possuía entre dois e três filhos, com uma média de 2,5 filhos por participante. Quando assumiram a guarda/responsabilidade, os filhos eram menores de 18 anos, com idades variando entre 01 e 17 anos. Dentre eles, 77,41% eram crianças até doze anos e os demais eram adolescentes. Verificou-se que os pais, na maioria dos casos, assumiram a guarda/responsabilidade quando os filhos ainda eram pequenos, com uma média de nove anos de idade na época.

A escolaridade variava entre Ensino Médio Completo e Ensino Superior Completo e as atividades profissionais referidas exigiam certo grau de qualificação, sendo necessária formação técnica ou superior. Variavam entre profissionais liberais, professores, autônomos e bancários e, além disso, um participante que anteriormente exercia atividades administrativas estava aposentado por invalidez há mais de dez anos. O nível sócio econômico concentrava-se na classe média, sendo que três participantes eram de classes populares.

Os critérios utilizados para a inclusão na amostra foram os seguintes:

a) Ter sido responsável pela criação do(s) filho(s) sem a presença materna por no mínimo um ano, independentemente de ter a guarda legalizada;

b) Nesse período mínimo não ter residido com esposa ou outro familiar adulto do sexo feminino;

c) Ter assumido a responsabilidade de filhos menores de 18 anos de idade.

Tais critérios foram utilizados de forma a selecionar participantes que tivessem sido responsáveis diretos por seus filhos em algum momento da vida, independente de a situação perdurar até o momento da entrevista. Assim, também foram incluídos homens que já estiveram nessa situação anteriormente pelo período mínimo estipulado e que não residem mais com seus filhos. Nesse caso, as questões da entrevista focalizaram o período

vivenciado junto aos filhos. Essa situação ocorreu com dois pais, cujos filhos voltaram a morar com familiares – um com a mãe e um com a avó materna.

A restrição à existência de companhia feminina (familiar ou companheira) objetivou garantir que o pai seria o principal responsável pelo cuidado com os filhos, sem a presença de outro familiar que pudesse exercer a função materna. Em duas situações os pais casaram-se novamente, mas já haviam residido com seus filhos pelo tempo mínimo estabelecido como critério. Em outras duas situações, eles residiram um período com seus próprios pais após assumirem a guarda dos filhos (entre 6 meses e três anos) e quando foram entrevistados já haviam se mudado e estavam sozinhos com os filhos há mais de um ano, contemplando, também, o critério inicial.

Foram incluídos também os pais que contaram com o apoio de empregadas domésticas (babás, empregadas, diaristas), considerando que esse tipo de contratação não configura uma situação diferenciada. Embora tal função seja quase que exclusivamente feminina e tais profissionais possam auxiliar no cuidado com os filhos, a contratação de empregados é uma fonte de apoio bastante utilizada também por mulheres na mesma situação e até mesmo por casais, principalmente quando esses estão inseridos no mercado de trabalho. Assim, buscou-se identificar, nas entrevistas, qual o papel do pai e desse profissional no cuidado dos filhos.

Dos pais entrevistados, oito relataram ter contratado empregadas domésticas com jornada de trabalho integral em algum momento do período investigado, sendo que três desses não contavam mais com esse serviço na época da entrevista. Outros três contavam com o auxílio de diaristas, que exerciam trabalhos semanais ou quinzenais e quatro não contratavam profissionais para realizar o trabalho doméstico.

Quanto à idade dos filhos na época da guarda, esse critério foi estabelecido por entendermos que crianças e adolescentes necessitam de mais cuidados instrumentais por parte do cuidador do que os jovens adultos (acima de dezoito anos). Dessa forma, poderíamos avaliar qual o envolvimento paterno nessas atividades de cuidado cotidiano. Todos os participantes entrevistados assumiram a responsabilidade pelos filhos quando eles eram menores de idade e, no momento das entrevistas, sete participantes já possuíam filhos maiores de idade e em cinco situações, os filhos continuavam residindo com o pai.

Apesar de não ser um critério para amostra, todos os participantes tiveram relacionamentos conjugais ao longo de sua história e os filhos sob sua responsabilidade

eram provenientes dessas relações. No momento da entrevista nenhum participante estava casado.

3.2. Instrumento de coleta de dados

Para a realização da entrevista, utilizou-se um roteiro semi-estruturado que investigava aspectos da vivência da paternidade pelos participantes. O roteiro de entrevista (Anexo II) abordou os seguintes núcleos de informação:

- Dados de caracterização do participante;

- Representações sociais de paternidade e maternidade;

- História do relacionamento (namoro, relacionamento conjugal, decisão por filhos, separação/viuvez);

- Como ocorreu a obtenção da guarda/responsabilidade pelo filho; - Cotidiano com os filhos;

- Relacionamentos amorosos do participante após viuvez/separação; - Avaliações sobre o exercício de sua paternidade.

O roteiro foi utilizado apenas para direcionar as entrevistas, pois a pesquisadora inseriu outras questões para melhor compreensão de acordo com os conteúdos que eram abordados pelos participantes. Em alguns blocos as perguntas eram adaptadas ao estado civil do participante.

3.3. Coleta de dados

Durante a realização da pesquisa, houve algumas dificuldades para localização dos participantes. Inicialmente, planejou-se realizar contatos com instituições como a Vara de Família e a APASE/ES – Associação de Pais Separados do Espírito Santo. O contato na Vara de Família se deu através de uma promotora de justiça, que mostrou-se bastante interessada em indicar participantes, inclusive já conhecendo algumas pessoas nessa situação que haviam solicitado a guarda dos filhos e obtido êxito. Mas ao realizar o contato com essas pessoas, quatro no total, os mesmos se recusaram a participar da pesquisa, pois “não gostariam de falar sobre um assunto que já tinha trazido muito desgaste”. Segundo a promotora, esses pais haviam passado por conflitos na solicitação da guarda, oriundos de

divergências com a mãe e, por isso, não se dispuseram a participar da entrevista. Nesse caso, a pesquisadora não teve acesso aos participantes, pois todos os contatos foram realizados pela promotora.

Na APASE/ES foram realizados vários contatos por telefone e e-mail, sem resposta. Em contato com a APASE/RJ não havia informação sobre o funcionamento da instituição no Espírito Santo. Como já previsto anteriormente, a seleção da amostra também seria realizada através da rede de relacionamentos da pesquisadora. Essa metodologia é conhecida como “amostragem por acessibilidade” (Meltzoff, 2001) e o acesso aos participantes se dá a partir da rede de relacionamentos do pesquisador e dos próprios pais entrevistados, através do procedimento conhecido como “bola de neve” (Flick, 2004). Os critérios de participação foram divulgados para amigos, professores e colegas de trabalho. Dos 18 participantes localizados através dessa técnica, 15 aceitaram participar da pesquisa.

As entrevistas foram realizadas individualmente e em locais de conveniência dos participantes, tais como suas residências, locais de trabalho ou restaurantes. O primeiro contato foi por telefone e a pesquisadora explicitou os objetivos da pesquisa, confirmando o interesse deles em participar do estudo. Na entrevista foi lido e explicado o Termo de Consentimento para Participação em Pesquisa (Anexo I), que foi assinado por eles autorizando, inclusive, a gravação em áudio da entrevista.

Os procedimentos obedeceram a normas éticas, não oferecendo riscos para os participantes e preservando seu anonimato. Muitas vezes a entrevista focalizou situações de conflito ou tristeza, o que emocionou alguns participantes – nesse momento, a pesquisadora ofereceu suporte psicológico ao participante e retomou a entrevista apenas quando ele se sentiu em condições de continuá-la.

3.4. Tratamento dos dados

Os dados foram submetidos à análise do software Alceste 4.6 e, de forma complementar, à Análise de Conteúdo, na metodologia proposta por Bardin (1977). Sá (1998) destaca que a metodologia de pesquisa das RS mais comum combina a coleta de dados através de entrevistas em profundidade e a posterior análise de conteúdo. Acrescentamos a análise do software Alceste, que explicitaremos a seguir.

3.4.1. Alceste - Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de Texto

Trata-se de um método informatizado para análise de textos, que busca apreender a estrutura e a organização do discurso, de forma a descobrir relações entre os mundos lexicais mais freqüentemente enunciados pelo sujeito. O programa pode analisar conjuntos de textos sobre um determinado tema tais como entrevistas, respostas de um questionário a uma questão aberta, produção literária, artigos na imprensa, letras de música ou qualquer outro material escrito.

Nascimento e Menandro (2006) ressaltam que o tratamento estatístico de dados através de softwares tem sido cada vez mais freqüente, principalmente quando o conjunto de dados a se analisar é volumoso. De Alba (2004) relembra que o Alceste foi criado por Max Reinert, na década de 1980, na França, e foi desenvolvido a partir da necessidade de investigadores sociais para análise de material discursivo.

O programa trabalha com a idéia de ‘mundo lexical’, que compreende “(...) um conjunto de palavras principais que tem uma organização habitual (repetitiva) no discurso e que se referem a algo similar” (De Alba, 2004, p. 1.4). Como ressaltam Nascimento e Menandro (2006):

O objetivo do Alceste não é o cálculo do sentido, mas a organização tópica de um discurso ao colocar em evidência os ‘mundos lexicais’. No Alceste, o vocabulário de um enunciado constitui um traço, uma referência, um ‘funcionamento’, enfim, uma intenção de sentido do sujeito-enunciador. (p. 74)

Assim, busca-se apreender as estruturas significantes mais fortes através de cálculos estatísticos de freqüência e co-ocorrência (Image, 2002).

Para analisar o texto corretamente, o programa necessita de duas condições: que o conjunto de dados (denominado corpus) se apresente como um ‘todo’, guardando certa coerência interna e que seja suficientemente volumoso (mais de 1000 linhas) para que as análises estatísticas sejam efetuadas. Como o conjunto de dados, nessa pesquisa, constituiu-se das respostas dos pais a questões e temas semelhantes e foram geradas cerca de 230 páginas de transcrição, o corpus atende aos requisitos necessários para organização através do programa.

Para inserir os dados no software, algumas regras devem ser obedecidas (Image, 2002):

- O corpus deve conter no mínimo 1000 linhas. A pontuação deve ser corrigida, pois o programa baseia-se nisso para fragmentar o material para análise. Eventuais erros de digitação também devem ser acertados. O corpus deve ser separado em parágrafos que não ultrapassassem 1500 caracteres, mesmo quando se tratar da continuação da resposta do sujeito.

- No decorrer do texto não devem ser utilizados sinais como apóstrofos, aspas, cifrões, asteriscos ou sinais de porcentagens.

- As divisões naturais do corpus são denominadas Unidades de Contexto Inicial (UCIs) e podem ser cada entrevista, cada letra de música, cada resposta à mesma questão em um questionário, entre outros. As UCIs são reconhecidas pelo programa através da inserção de uma linha com asteriscos da seguinte forma: quatro asteriscos, um espaço simples, mais um asterisco e a identificação da UCI (exemplo: **** *suj_01). Nessa linha de identificação o pesquisador também pode inserir as variáveis dos participantes, caso sejam objeto da análise, bastando inserir mais um asterisco e a variável, como por exemplo: **** *suj_01*estciv_01.

- O hífen (-) é reconhecido pelo Alceste para identificar as locuções. Mas caso o dicionário do programa não reconheça a locução, a análise será realizada como duas palavras diferentes. Para preservar o sentido das locuções, recomenda-se substituir o hífen por traço baixo (_). Expressões consideradas pelo pesquisador como interessantes para análise também podem ser unidas pelo traço baixo, para que o programa as reconheça como tal. Nesse corpus, foram unidas as palavras bom_pai, boa_mãe, ótimo_pai, ótima_mãe, pai_e_mãe, ser_pai, ser_mãe, dia_a_dia, fim_de_semana e final_de_semana.

- As letras maiúsculas no início das frases são automaticamente convertidas pelo Alceste em letras minúsculas. Caso a palavra inteira esteja em maiúsculo, o programa não a modifica nem a analisa. Por isso, as siglas e palavras em maiúsculo que se desejar analisar devem ser digitadas com letra minúscula (exemplo: UFES foi digitada como ufes).

- As perguntas do entrevistador podem ou não ser analisadas pelo Alceste. Em nosso corpus, as perguntas foram suprimidas, de forma a concentrar a análise nas respostas dos participantes. Elas também poderiam ter ficado em letras maiúsculas, dessa forma o programa não realizaria a análise das perguntas.

- O corpus deve estar em um único arquivo, editado no próprio Alceste EdImage ou outro arquivo de texto. No caso, utilizou-se o programa Word e o corpus foi formatado com fonte Courier New, tamanho 10, com espaçamento simples entre linhas, sem recuo para parágrafos.

Após essa preparação, o corpus foi salvo em arquivo de texto (.txt, sendo que o nome do arquivo não pode conter espaçamentos) e estava pronto para ser analisado no Alceste. Ao inserir o arquivo, o programa verifica, primeiramente, a formatação do corpus. Se houver erros, o programa solicita que sejam corrigidos pelo pesquisador. Se não houver erros, o pesquisador segue a análise escolhendo o idioma (português, francês, espanhol ou inglês) e dá o comando de início da análise. Em poucos minutos, o programa analisa os dados e apresenta os relatórios.

As etapas de análise serão descritas resumidamente para melhor compreensão do funcionamento do programa e dos dados gerados. Essas etapas foram retiradas do manual do programa (Image, 2002) e mais detalhes podem ser encontrados nesse material.

Na primeira etapa de análise, o programa reconhece as UCIs através das linhas com asteriscos e identifica o vocabulário do corpus, separando as palavras “plenas” ou “com conteúdo” das palavras “com função”. As palavras “plenas” são, por exemplo, verbos, substantivos, adjetivos, enquanto as palavras “com função” são os artigos, preposições, verbos auxiliares, conjunções, entre outras. O programa trabalha principalmente com as palavras “plenas, pois contêm o sentido dos discursos analisados. As palavras plenas são agrupadas por seus radicais, gerando um dicionário de formas reduzidas, que auxiliam na identificação das palavras agrupadas. Assim, a forma reduzida ajud+, nos resultados dessa pesquisa, relaciona-se às palavras ajuda, ajudando, ajudar, ajudava, ajudei, ajudou. Essa operação de substituição das palavras por suas formas reduzidas é chamada de “lematização”.

Em seguida, o programa divide as UCIs em Unidades de Contextos Elementares (UCEs). A UCE corresponde à idéia de frase ou trecho do texto, dimensionada em função de seu tamanho e pontuação. A partir disso, o programa efetua a Classificação Hierárquica Descendente (CHD), dividindo o material analisado em classes em função de suas relações de proximidade e oposição, de forma que cada classe tenha vocabulários diferentes ligados a ela e, preferencialmente, que esses vocabulários não apareçam também em outras classes. Esse procedimento é repetido até que não haja novas classes a serem formadas.

A terceira etapa descreve cada classe através das formas reduzidas que a compõem, a freqüência dessas palavras na classe e no corpus e seu grau de associação à classe, através do cálculo do qui-quadrado. O programa também gera a Análise Fatorial de Correspondência (AFC), que permite a visualização gráfica das relações entre as classes, participantes e formas reduzidas.

A última etapa realiza os cálculos complementares das etapas anteriores, gerando, para cada classe, a lista de formas reduzidas e respectivas palavras, as UCEs representativas e os segmentos repetidos, entre outros. O programa, além de permitir a visualização e exploração de todos esses resultados na tela do computador, ainda gera um relatório detalhado de todas as etapas.

A terceira etapa é a que fornece as informações mais relevantes para o pesquisador, pois é possível compreender a formação das classes, as formas reduzidas mais associadas e as relações entre as classes.

3.4.2. Análise de conteúdo

Bardin (1977) conceitua a Análise de Conteúdo como um conjunto de técnicas que objetiva identificar os conteúdos temáticos presentes em um material, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de codificação e categorização. A codificação transforma os dados brutos do texto em uma representação de conteúdo e, a partir das categorias apreendidas, o pesquisador busca compreender os temas que emergem no material analisado.

Inicialmente, realiza-se a leitura flutuante do material a ser analisado, de modo a formar as primeiras impressões sobre o conteúdo. A seguir, em novas leituras mais detalhadas do corpus, realiza-se a pré-categorização, buscando-se incluir os elementos que se destacam nas categorias gerais. Essas categorias gerais são desmembradas em subcategorias, de acordo com sua semelhança e diferenciação e, por fim, busca-se apreender os temas relevantes, as relações entre esses temas e o contexto de produção desse material pelos participantes, de forma a apreender os significados presentes.

Os temas identificados na Análise de Conteúdo foram utilizados para complementar a análise realizada pelo Alceste.

3.4.3. Conjugação dos procedimentos de análise

De Alba (2004) ressalta que a utilização conjugada do Alceste e da Análise de

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