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CAPÍTULO II O SUCESSO ESCOLAR DE MINORIAS

3.3 As opções metodológicas

3.3.3 O processo de construção e desenvolvimento das entrevistas: aprendizagens e hesitações

3.3.3.1 A elaboração dos guiões das entrevistas

Para elaborar os guiões das entrevistas começamos por definir os tópicos que pretendíamos analisar e o tipo de informação capaz de responder às questões de ordem teórica que originaram a pesquisa. Tivemos que ter presente que os entrevistados poderiam não possuir a informação que pretendíamos e que poderia haver a necessidade de excluir, no momento da entrevista, alguma questão25, pois ―mesmo quando os inquiridos passaram por determinadas experiências relevantes para os tópicos em análise, não é certo que eles tenham retido a informação que é solicitada sobre essas experiências‖ (Foddy, 1996:39). Além de possuírem a informação que pretendemos, é importante percebermos se os inquiridos ―são capazes de verbalizar a informação solicitada pelo investigador nas condições situacionais em que a pesquisa se realiza‖ (Id.Ibid.). Ou seja, ―O sucesso de um ciclo pergunta-resposta implica que o investigador e o inquirido partilhem um mesmo entendimento sobre o tópico sujeito a investigação‖ (Id.: 40).

Optámos por formular perguntas breves, porque as perguntas longas podiam originar incompreensão por parte dos entrevistados. Tentamos primar pela simplicidade e clareza, com o objectivo de que as entrevistas produzissem uma riqueza de dados que revelassem as perspectivas dos entrevistados.

Elaborámos três guiões de entrevista:

- Guião da entrevista a realizar aos jovens ciganos (ver apêndice 1);

- Guião da entrevista a realizar aos pais dos jovens ciganos (ver apêndice 2);

- Guião de entrevista a realizar aos Directores de Turma dos jovens ciganos (ver apêndice 3) A elaboração destes guiões, a sua estruturação, bem como várias das questões colocadas, seguem muito de perto os guiões de entrevista dos trabalhos realizados por Casa-Nova (2002, 2008a, 2009).

Guião da entrevista a realizar aos jovens ciganos

Relativamente à construção do guião de entrevista a realizar aos jovens ciganos, este teve como principais objectivos recolher informação sobre o agregado familiar dos jovens, conhecer e compreender o contexto familiar e afectivo onde o jovem cresceu e se socializou/socializa e, por

25 A título de exemplo, dois dos alunos entrevistados não foram capazes de se referirem a aspectos relacionados com a cultura cigana, dado não

fim, conhecer e compreender as percepções e opiniões do jovem cigano sobre a sua trajectória escolar.

Para atingir estes objectivos, optámos por dividir a entrevista em cinco temáticas: a primeira pretendia recolher o máximo de elementos relativos ao agregado familiar, relativos à escolaridade, à idade, sexo, grau de escolaridade e profissões do agregado.

A segunda temática pretendia obter informação sobre o contexto familiar e afectivo do/a jovem. Tentamos para isso compreender as suas percepções sobre o local de residência (bairro, casa, vizinhos), o seu dia-a-dia, as actividades que desenvolve à semana e ao fim-de-semana, durante as férias e com quem partilha estes momentos, as relações de sociabilidade intra e inter- étnicas que estabelece e o modo como organiza o tempo dedicado ao estudo.

Como a relação que os jovens entrevistados estabelecem com a escola é central para compreendermos o seu percurso, consideramos fundamental criar uma terceira temática sobre o contexto educativo no qual o jovem se encontra inserido. Tentamos compreender as suas trajectórias e experiências escolares desde a infância até ao presente e as suas percepções e opiniões sobre as experiências vividas no quotidiano escolar. As percepções do jovem cigano acerca da escola (grupo de pares, professores, auxiliares da acção educativa) e das aprendizagens desenvolvidas, bem como a importância atribuída à escola na sua trajectória de vida (utilidade das aprendizagens escolares) são cruciais para compreendermos o seu trajecto escolar e os projectos futuros.

A quarta temática procura questionar os jovens ciganos sobre o seu trajecto-projecto (Casa- Nova, 2002) e sobre as suas percepções acerca do seu futuro profissional. Questionamos os jovens sobre as profissões que gostariam de ter e aquelas que acham que terão efectivamente. Também os questionamos sobre o papel desempenhado pelas aprendizagens académicas e os diplomas escolares na profissão que pensam ter. Para as raparigas, colocamos em discussão qual a importância de ser mulher neste trajecto. Finalmente, a última temática teve como objectivo recolher informação sobre as percepções que o jovem cigano tem de si, do grupo a que pertence e dos ‗outros‘. Ou seja, a sua opinião sobre a sua cultura e a cultura da sociedade maioritária e o modo como as pessoas das duas culturas o percepcionam e interagem com ele.

Guião da entrevista a realizar aos pais dos jovens ciganos

No que concerne à elaboração do guião de entrevista destinado aos pais dos jovens ciganos, este teve como objectivos principais conhecer e compreender as trajectórias escolares

dos pais do jovem cigano. Recolher elementos relativos ao agregado familiar (local onde nasceram, idades, grau de escolaridade, profissão), compreender as suas percepções sobre a escola (a escola na altura em que eles a frequentaram, a escola hoje, experiências vividas mais marcantes) e o impacto/papel da escola na sua vida.

Também se pretendia conhecer e compreender as percepções dos pais sobre as experiências do seu filho na relação com a escola. Pedimos que nos descrevessem o percurso escolar do filho; a sua opinião sobre a escola que o filho frequenta (professores, condições materiais, conteúdos abordados); as percepções sobre o filho enquanto aluno (bom, mau aluno); a opinião sobre a sua intervenção no percurso escolar e na relação do filho com a escola. Questionamos também os pais sobre as características pessoais do filho que foram importantes para a sua continuidade escolar, que tipo de influências recebeu e qual a sua opinião sobre o grupo de pares do filho (manifestações de agrado, de desagrado…). Por fim perguntou-se se mudariam alguma coisa na escola.

Para terminar, procuramos também conhecer as expectativas que os pais dos jovens ciganos têm em relação ao futuro dos seus filhos. Que profissões gostariam que o filho viesse a exercer no futuro, e a profissão que acham que vão efectivamente exercer. Questionamos também sobre a influência que a escola poderá ter no futuro profissional do filho e se o filho fosse do sexo oposto, que profissão acham que exerceria.

Guião de entrevista a realizar aos Directores de Turma dos jovens ciganos

Por sua vez, o guião de entrevista aos Directores de Turma dos jovens ciganos foi elaborado com o objectivo de conhecer e compreender a opinião dos Directores de Turma sobre a escola e sobre os alunos que a frequentam, tendo também recolhido elementos relativos ao percurso escolar e profissional dos Directores de Turma (idade, formação…).

Pretendíamos reflectir, juntamente com os Directores de Turma, sobre a trajectória escolar dos jovens ciganos, nomeadamente, sobre o percurso dos jovens no período em que foram seus Directores de Turma. Era nosso objectivo conhecer as opiniões dos Directores de Turma sobre o comportamento, a aprendizagem, os resultados escolares dos jovens ciganos, bem como compreender como eram, aos olhos dos Directores de Turma, os jovens como colegas e a sua relação com a escola (professores, sala de aula, estudo, participação, conteúdos, horários). Também focamos as relações afectivas que os jovens estabeleceram com os colegas e com os

professores e questionamo-los sobre as razões que, na sua opinião, teriam proporcionado a sua continuidade escolar.

Relativamente à relação que os pais dos jovens ciganos estabelecem com a escola, questionamos os Directores de Turma sobre as suas percepções relativamente à frequência com que os pais se deslocam à escola; à participação dos encarregados de educação nas reuniões de pais e nas actividades da escola.

Por fim, questionamos sobre aquilo que achariam que deveria mudar na escola para se adaptar à diversidade de grupos sócio-culturais que a frequentam, nomeadamente ciganos e o que achariam que deveria mudar nos ciganos na sua relação com a escola.