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3. METODOLOGIA

3.5 Análise de dados

3.5.3 Elaboração e verificação das conclusões

Para o processo de construção indutiva de teoria a partir dos dados, inspirou-se nos passos pro- postos por Gioia e colegas. O método proposto pelos autores está sendo amplamente utilizado em pesquisas publicadas nos principais periódicos em administração no mundo10 e surgiu a partir de décadas de prática dos autores em pesquisas indutivas. Ele foi engendrado como res- posta sistemática aos questionamentos constantes que sofriam para demonstrar rigor na apre- sentação e análise dos resultados, evidenciando o percurso percorrido dos dados brutos até os

10 Para referência, verificar apêndice B do trabalho de Gioia, Corley e Hamilton (2013) contendo um rol de pes- quisadores que empregaram variantes da chamada ‘Método de Gioia’(Langley & Abdallah, 2011) método em suas pesquisas, publicadas em periódicos como Academy of Management Journal, Organization Science , Administra- tive Science Quarterly, dentre outros renomados.

conceitos originados na teoria emergente (Gioia et al., 2013). Trata-se, portanto, de um direci- onamento visando à ‘progressão analítica’, partindo da descrição detalhada do contexto e do fenômeno investigado para a explicação, já que é “difícil explicar algo satisfatoriamente sem antes entender do que se trata” (Miles & Huberman, 1994). A continuação da progressão ana- lítica continua ao se agregar, gradualmente, os conceitos emergentes de forma até que se cul- mine nos principais conceitos que formam o modelo final.

Durante todo o processo de análise, procedeu-se à análise cruzada dos casos (Eisenhardt, 1989). A análise cruzada de casos força os investigadores a enxergarem além das impressões iniciais geradas pela análise individual dos casos e contrastar diferentes ‘camadas’ de dados. A partir das categorias e dimensões reputadas relevantes, seja dedutivamente, com base no referencial teórico, seja indutivamente, com base em aspectos identificados no processo de codificação e análise preliminar dos dados, foram feitas comparações entre os casos. Assim, procurou-se ana- lisar individualmente, código por código, a fim de verificar aqueles mais densos em termos dos incidentes atribuídos. Ao fazer isso, realizou-se dois ciclos de codificação (Miles & Huberman, 2014), visando garantir que no segundo ciclo, todos os casos fossem analisados já se tendo uma listagem de todos os códigos criados ao longo do primeiro ciclo de codificação.

O emprego da técnica de comparação de padrões11 é especialmente relevante na análise cruzada dos casos. Esta técnica consiste em verificar se padrões identificados em um determinado caso podem ser replicados aos demais casos (Miles et al., 2014). Um dos objetivos principais da comparação de padrões é aumentar a validade da teoria que está sendo desenvolvida, na medida em que modera sua complexidade ao assumir como parte da teoria emergente apenas aqueles aspectos que sejam observáveis não apenas em um dos objetos estudados, mas no conjunto de objetos estudados. Uma outra finalidade importante da comparação de padrões é buscar identi- ficar o gradualismo dos padrões obtidos entre os diferentes casos (Trochim, 1989).

Realizar a comparação constante ajuda a pensar de modo não convencional visando identificar novas propriedades e dimensões envolvidas nos conceitos em relação ao fenômeno investigado que de outra forma poderiam não ser identificadas e que dão significado ao fenômeno e atri- buem especificidade à teoria emergente. Desta forma, ajuda a responder o questionamento “‘Do que se trata’ esse conceito ou fenômeno?”, servindo como ferramenta analítica. Além disso,

direciona o pesquisador a refletir de maneira mais abstrata e com vistas a generalizar os resul- tados encontrados, transitando de incidentes específicos identificados nos dados para situações mais gerais ou abstratas (Strauss & Corbin, 1998).

Nesta etapa, semelhanças e diferenças foram analisadas e entendidas, em termos dos aspectos evidenciados em cada um dos objetivos da pesquisa e, sobretudo, contrastando-se empresas e organizações híbridas. Em seguida, foram apresentadas evidências para cada conceito que emergia, buscando-se fornecer explicação da relação entre eles e promover a discussão à luz do referencial teórico existente (Strauss & Corbin, 1998).

As explanações iniciais nasceram, a princípio, de alguns aspectos iniciais derivados da revisão da literatura. Posteriormente, algumas explanações preliminares começaram a nascer à medida que se coletava e analisava os dados de cada caso, procedendo-se, então à comparação com os resultados empíricos dos demais casos (Eisenhardt, 1989). Tais explanações foram organizadas em torno de proposições redigidas como forma de se construir explicações - inicialmente pro- visórias - sobre os dados. Como explicam Miles et al. (2014), o uso de proposições é um recurso útil para resumir e sintetizar um grande número de observações analíticas individuais e também para orientar as novas ondas de coleta de dados. Assim, na medida em que se avançava na análise, verificou-se se os demais dados corroboravam ou refutavam as proposições, adotando uma instância provisória da análise de dados (Strauss & Corbin, 1998). Basicamente, em situ- ações em que dois ou mais casos apresentassem evidências suficientes para corroborar os de- senvolvimentos prévios e nenhum dos casos contrariasse os resultados, a replicação teórica foi considerada confirmada e incorporou-se ao corpo das contribuições teóricas e resultados da pesquisa.

Em relação às evidências que eventualmente contrariassem os resultados emergentes, utilizou- se para refinar os conceitos, suas propriedades e dimensões, de forma a aumentar a capacidade de explanatória e estender sua validade externa (Strauss & Corbin, 1998). Como procedimento adicional, procurou-se averiguar se houve alguma teoria ou desenvolvimento teórico ‘rival’ que também poderia explicar determinado resultado de maneira plausível (Miles et al., 2014).

Por fim, buscou-se comparar a teoria e os conceitos emergentes com a teoria já existente de forma a identificar aspectos similares e/ou que vão de encontro a pesquisas anteriores. Aspectos

similares ajudam a robustecer a teoria ao concatenar conceitos ou temáticas cujo relaciona- mento ainda não tenha sido explorado. Eventuais aspectos conflitantes com a literatura existente devem ser especialmente explorados. Primeiro, de forma que não se levantem questionamentos sobre a validade interna da teoria emergente – isto é, que ela está incorreta ou insuficientemente desenvolvida –, ou sobre seu potencial de generalização analítica – isto é, que a teoria não seja idiossincrática apenas aos casos estudados. Segundo, a comparação com a teoria existente tende a gerar insights criativos ao forçar muitas vezes com que o pesquisador pense de maneira cria- tiva para explicar as diferenças (Eisenhardt, 1989).

Tal procedimento de se fazer uma revisão da literatura mais aprofundada e vinculada aos dados que emergem durante ou pós a coleta de dados, em vez de somente ao início do processo de pesquisa, evita que o pesquisador desenvolva um viés confirmatório ao enxergar apenas aspec- tos que já foram estudados em pesquisas anteriores e fique ‘cego’ a potenciais novas descober- tas. Como dito, fez-se isso ao buscar estudar os conceitos amplos sobre sensemaking, sobre os trade-offs da sustentabilidade e sobre modelos de negócio, sem se aprofundar demasiadamente no domínio substantivo de interesse da pesquisa, isto é, o processo de sensemaking em relação aos trade-offs da sustentabilidade corporativa. Com isso, buscou-se uma abordagem indutiva, mas que implica fazer um mosaico de análise que envolva dados e literatura para desenvolver teoria (Gioia, et al., 2013). De fato, A lógica de construção de teoria a partir dos casos implica a transição recorrente entre dados, teoria emergente e, posteriormente, a teoria existente. Dessa forma, a lógica indutiva e a lógica dedutiva se espelham (Eisenhardt & Graebner, 2007). O resultado do processo de construção de teoria a partir dos casos pode ser diversa: pode-se ori- ginar conceitos, um framework conceitual e/ou proposições teóricas (Eisenhardt, 1989).

Especialmente em relação ao processo de sensemaking, utilizou-se a descrição de sensemaking baseado em três microprocessos proposta por Sandberg e Tsoukas (2014) como teoria formal para ‘informar’ a análise. Teorias formais são menos específicas a um grupo e a um contexto local e, sendo assim, se aplicam a um amplo espectro de situações ou de áreas substantivas (Glaser & Strauss, 2008). Assim, A partir do momento em que a teoria substantiva emergente foi se mostrando robusta e consolidada no processo de saturação teórica (Locke, 2003), enga- jou-se no processo de compará-la e discuti-la à luz da teoria existente e do conjunto geral da perspectiva de sensemaking. O capítulo 5, que traz a discussão dos resultados, apresenta tais reflexões.

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