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3. METODOLOGIA

3.5 Análise de dados

3.5.1 Redução e condensação de dados

Redução ou condensação de dados refere-se ao processo de selecionar, sintetizar, simplificar e transformar os dados brutos coletados. O processo ocorre continuamente ao longo da análise dos dados, mas pode inclusive ocorrer antes da coleta de dados, ao se optar, ainda na etapa de planejamento da pesquisa, por utilizar determinado framework conceitual, perguntas de pes- quisa e formas de coleta de dados (Miles & Huberman, 1994).

No caso da tese, seguindo a estratégia analítica sugerida por Yin (2003), partiu-se de proposi- ções teóricas que levaram ao estudo de caso, notadamente, da revisão da literatura, que, por sua vez, gerou o problema de pesquisa e os objetivos originais do projeto. Em etapas posteriores, tais proposições orientaram – contudo, sem tornar rígido – o plano de coleta de dados e também direcionaram a análise ao ajudar a focar as atenções do pesquisador em determinados aspectos dos dados em detrimento de outros (Eisenhardt, 1989; Yin, 2003).

Uma vez que se tinha um ponto de partida no problema de pesquisa e no referencial teórico para guiar a coleta e análise dos dados, facilitou-se também o processo de codificação (Miles & Huberman, 1994). O processo de codificação teve início com a importação de todos os dados coletados para o software Atlas ti, versão 7.5.7, em uma Unidade Hermenêutica própria da pes- quisa, de forma a auxiliar na tarefa de gerenciamento dos dados, sobretudo quando apresenta volume considerável. Os chamados Computer Aided Qualitative Data Analysis Softwares (CAQDAS) facilitam a organização, armazenamento de evidências empíricas de diferentes for- matos, bem como o registro das fontes, datas e funções de busca (Baxter & Jack, 2008). Assim, as entrevistas gravadas transcritas e os demais materiais coletados foram importados da mesma forma.

Independente da lógica de análise de dados qualitativa, a codificação é um dos procedimentos comumente empregados, sendo, de maneira geral, a primeira parte (Miles & Huberman, 1994; Miles et al., 2014). Códigos consistem em rótulos, expressos em uma única palavra ou frase e que atribuem significado simbólico a informações inferenciais ou descritivas compiladas du- rante um estudo. Os códigos funcionam como um mecanismo de descoberta na medida em que o pesquisador lê cuidadosamente e reflete sobre o significado de cada fragmento de dado, o que o ajuda a desenvolver grande familiaridade com o conjunto de dados analisados e também a identificar padrões recorrentes (Miles et al., 2014).

As etapas da codificação envolvem inicialmente a atribuição dos códigos a segmentos do texto, sendo que os códigos podem ser aplicados a palavras, frases ou mesmo parágrafos inteiros. Posteriormente, o trabalho analítico se baseia na realização de análises explorando a relação entre os diferentes códigos. Os códigos têm o condão de identificar os dados específicos que são significativos para a pesquisa e estabelecer as bases para fazer interpretações. A criação dos códigos pode ocorrer previamente à análise ou ida ao campo em si, por exemplo, baseada em literatura prévia, no framework de pesquisa no qual o pesquisador guarda interesse, ou mesmo em hipóteses estabelecidas previamente. Ou posteriormente, permitindo-se que os códigos emerjam indutivamente a partir dos dados. Um mesmo código pode ser usado em diferentes trechos de cada material – por exemplo, uma entrevista, e o mesmo segmento pode ser classi- ficado a partir de diferentes códigos (Coffey & Atkinson, 1996).

O uso dos códigos também é útil para resgatar rapidamente excertos de dados e reuni-los sob uma mesma categoria, tema, construto ou problema de pesquisa a ser respondido (Miles et al., 2014).

O processo de codificação na pesquisa seguiu uma lógica dedutiva-indutiva, em que o processo de codificação foi baseado em conceitos pré-existentes obtidos a partir da revisão preliminar da literatura e associados diretamente ao problema de pesquisa e objetivos, mas também permi- tindo que se emergissem novos códigos a partir dos dados (Miles et al., 2014). Assim, na me- dida em que se avançava na análise, novos códigos foram criados, alguns foram alterados e outros fundidos, de forma a refinar as categorias e temas finais. Todo o processo de codificação e alterações nos códigos foram documentados e registrados em memorandos analíticos elabo- rados8 e devidamente atualizados no dicionário de códigos criado. Para cada código, foi listado seu tema, subtemas, eventuais categorias e subcategorias, tipo de código (se dedutivo ou indu- tivo), referência na literatura (para códigos dedutivos), explicação/descrição relatando sobre do que se trata, e um campo de observações gerais. A criação do dicionário mostrou-se fundamen- tal para se garantir consistência ao longo do processo de codificação, já que os códigos gerados chegaram a totalizar cerca de uma centena, número semelhante ao número de documentos re- lativos aos dados que foram codificados.

8 Em inglês e na terminologia original de Glaser e Strauss (2008), os memorandos são chamados memos e o pro- cesso de elaboração dos mesmos é chamado de memoing. Memorandos e elaboração de memorandos, portanto, trata-se de uma tradução livre.

Em fases posteriores da análise, a redução e condensação também ocorreram ativa e frequente- mente. Uma vez codificados os dados, ocorreram diferentes etapas até a interpretação dos da- dos. Isto envolveu a extração dos códigos obtidos e, em seguida, a sua manipulação e explora- ção e dos respectivos dados atrelados a cada um deles, ocorrendo nesse processo a mudança, descarte, reorganização e renomeação dos códigos. Segundo, buscou-se transformar os dados codificados em dados significativos aos objetivos da pesquisa. Desta forma, esta tarefa envolve procurar padrões, temas e regularidade ao longo dos diversos dados, bem como identificar as- pectos contrastantes, paradoxos e irregularidades (Coffey & Atkinson, 1996). Particularmente importante à pesquisa, foi a identificação de 65 incidentes críticos (Miles & Huberman, 1994) que envolviam situações de trade-offs relacionados à sustentabilidade corporativa nos dez casos estudados. As análises posteriores foram amplamente baseadas nestes incidentes, conforme os detalhes que serão discutidos na seção de discussão dos resultados.

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