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Elementos da recente inversão de trajetória

No documento 10 Anos Governos Lula (páginas 148-151)

marcio pochmann

2. Elementos da recente inversão de trajetória

O principal aspecto das mudanças sociais observadas até a década de 1980 no Brasil foi o vigor da aceleração da produção industrial. Simultaneamente à expansão absoluta da produção secundária da economia (indústria e construção civil), assistiu-se à perda re- lativa de importância do produto do setor primário (agropecuária), sem que houvesse alteração significativa na participação do setor terciário da economia (serviços e comércio).

60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 90 110 130 150 170 190 210 230 250 270 290 310

Participação do rendimento do trabalho na renda nacional Composição do trabalho Cai a parcela salarial e

eleva a composição

do trabalho Cai a parcela salarial e a

composição do trabalho Cresce a parcela salarial e a composição do

trabalho

19601962 196419661968197019721974197619781980198219841986198819901992199419961998200020022004200620082010

Figura 2: Evolução dos índices da participação do rendimento do trabalho na renda nacional e da composição do trabalho no Brasil* (1960=100)

Fonte: IBGE/Contas nacionais (elaboração Ipea). * taxa de ocupação, de formalização do empre- go gerado e de pobreza.

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tanto assim que, entre 1950 e 1980, o peso do produto do setor secundário pas- sou de 20,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 38,6% (aumento de 88,3%), ao passo que a participação do setor primário reduziu-se de 29,4% para 10,7% do PIB (queda de 63,6%). Para o mesmo período de tempo, o setor terciário manteve-se rela- tivamente estável, com participação inferior a 51% do PIB.

no início do século XXI, somente o setor terciário tem registrado aumento na sua posição relativa em relação ao PIB. Entre 1980 e 2008, o setor terciário cresceu o seu peso relativo em 30,6%, respondendo atualmente por dois terços de toda a produção nacional, enquanto os setores primários e secundários perderam respectivamente 44,9% e 27,7% de suas participações relativas no PIB.

Figura 3: Evolução da composição setorial do Produto Interno Bruto no Brasil (em %)

29,4 50,1 10,7 38,6 50,7 66,2 20,5 5,9 27,9 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Produção primária Produção secundária Produção terciária

1950 1980 2008

Fonte: IBGE/Contas nacionais (elaboração Ipea).

As alterações no interior da dinâmica da produção nacional repercutiram na evolução e composição da ocupação da força de trabalho. na fase em que predominou a força da dinâmica industrial, a ocupação do setor primário reduziu-se drasticamen- te, passando de quase 61% do total de postos de trabalho em 1950 para menos de um terço desse total em 1980. Ao mesmo tempo, os setores secundário e terciário aumen- taram suas posições relativas na ocupação total, pulando de quase 17% e 22,5%, res- pectivamente, em 1950 para próximo de 25% e 43%, em 1980.

Desde a década de 1980, somente o setor terciário tem crescido o seu peso no total da ocupação nacional. O setor primário seguiu diminuindo o seu peso relativo no total dos postos de trabalho, de 32,8% para 18,4% entre 1980 e 2008, enquanto o setor secundário manteve-se relativamente estabilizado em quase um quarto da ocu- pação nacional.

na década de 2000, o setor terciário tem gerado 2,3 vezes mais empregos do que o setor secundário, ao passo que, na década de 1970, o setor terciário gerava somente

políticAs públicAs e situAção sociAl nA primeirA décAdA do século XXi ★ 149

30% mais postos de trabalho que o setor secundário da economia nacional. no setor primário, a diminuição nos postos de trabalho no primeiro decênio do século XXI chegou a ser 9 vezes maior do que o que se verificou na década de 1970.

Percebe-se também que, nos últimos quarenta anos, a maior expansão quantita- tiva de ocupações ocorreu justamente no primeiro decênio do século XXI, com saldo líquido 44% superior ao verificado no período de 1980 e 1990 e 22% superior à dé- cada de 1970. A grande parte dos postos de trabalhos gerados concentrou-se na base da pirâmide social, uma vez que 95% das vagas abertas tinham remuneração mensal de até 1,5 salário-mínimo. O que significou o saldo líquido de 2 milhões de ocupações abertas por ano em média para o segmento de trabalhadores de salário de base.

1950 1980 2008 60,6 22,5 32,8 24,6 42,6 57,6 16,9 18,4 24,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Ocupação primária Ocupação secundária Ocupação terciária Figura 4: Evolução da composição setorial da ocupação (em %)

Fonte: IBGE/Censo Demográfico e PnAD (elaboração Ipea).

nas faixas dos trabalhadores sem remuneração e dos acima de três salários-míni- mos mensais houve destruição líquida de ocupações, de 108 mil e de quase 400 mil vagas em média por ano, respectivamente. no segmento dos ocupados pertencentes à faixa de rendimento de 1,5 a 3 salários-mínimos mensais houve a geração média anual de 616 mil postos de trabalho.

nos anos 1970, a geração de postos de trabalho foi menos desequilibrada entre as diversas faixas de remuneração, com leve queda líquida das ocupações sem rendimen- tos. na média, nas décadas de 1980 e 1990 todas as faixas de remuneração cresceram, sendo a de melhor desempenho a de rendimento acima de três salários-mínimos mensais.

Com isso, a estrutura de remuneração dos ocupados brasileiros alterou-se signi- ficativamente. De 1970 a 2000 houve uma trajetória de redução relativa do segmento de remuneração na faixa de até 1,5 salário-mínimo mensal, que passou de 77,1% para 45,8% de todos os postos de trabalho. também aumentou o peso relativo das ocupa- ções de maior rendimento, como no caso daquelas com mais de três salários-mínimos mensais, que saltou dos 9% de todas as vagas, em 1970, para 28,7%, em 2000.

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na primeira década de 2000, a parcela dos ocupados com até 1,5 salário-mínimo voltou a crescer, aproximando-se de quase 59% de todos os postos de trabalho. Em compensação, as demais faixas de remuneração reduziram sua posição relativa.

Em função disso, a estrutura da distribuição dos postos de trabalho de acordo com as faixas de remuneração no ano de 2009 aproximou-se a da registrada em 1980, com forte peso para as ocupações na base da pirâmide social. A recuperação do valor real do salário-mínimo tem contribuído decisivamente para proteger e elevar o piso do poder de compra das remunerações dos trabalhadores que se encontram nos postos de trabalho em profusão nos setores mais dinâmicos da economia nacional, ou seja, no setor terciário, seguido da construção civil e indústrias extrativas.

Figura 5: Evolução do saldo das ocupações de acordo com setores de atividade econômica no Brasil (em mil)

Fonte: IBGE/Censo Demográfico e PnAD (elaboração Ipea).

-0,3 -2,7 5,8 5,1 11,7 7,4 -5 0 5 10 15 Anos 1970 Anos 2000

Setor Primário Setor Secundário Setor Terciário

No documento 10 Anos Governos Lula (páginas 148-151)

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