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Energia elétrica: a herança da privatização e as mudanças após 2003 A desregulamentação da energia foi parte do processo de liberalização da economia sob

No documento 10 Anos Governos Lula (páginas 181-183)

luiz pinguelli rosa

2. Energia elétrica: a herança da privatização e as mudanças após 2003 A desregulamentação da energia foi parte do processo de liberalização da economia sob

a globalização financeira, que resultou na crise mundial iniciada nos Estados unidos em 2008 e agravada em 2009, atingindo países como o Brasil. no caso da energia, somam- -se os efeitos da crise financeira à crise ambiental, com o efeito estufa, outro grande problema político, pois se trata de escolhas da sociedade que não cabe às empresas fazer sozinhas. A atribuição do nobel da Paz de 2007 ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (da sigla em inglês, IPCC) veio como um desdobramento da di- vulgação feita, no início de 2007, do quarto Relatório de Avaliação que causou grande preocupação em todo o mundo.

Minha posição sobre a privatização do setor elétrico no governo Fernando hen- rique foi muito crítica. Grupos privados, muitos deles estrangeiros, controlam hoje importantes empresas elétricas que foram privatizadas, mas isso não trouxe ao país os benefícios econômicos prometidos. houve irregularidades jurídicas no processo apon- tadas pelo movimento sindical.

Do ponto de vista técnico, a expansão do setor após a privatização foi menor que o aumento da demanda de energia, levando à crise em 2001. Professores e pesquisa- dores do Coppe alertaram membros do governo Fernando henrique em reuniões, mostrando o quadro que depois se confirmou. O governo deixou a expansão do setor elétrico quase exclusivamente à mercê de decisões do mercado, e isso não garantiu investimentos necessários.

houve aumento das tarifas após a privatização. O Brasil passou a ter energia elé- trica muito cara, apesar de usar geração hidrelétrica em alto percentual. Após a priva- tização, a tarifa ficou em média mais alta do que no Canadá, na noruega e em alguns estados norte-americanos que também usam hidreletricidade em grande escala.

enerGiA e setor elétrico nos Governos lulA e dilmA ★ 181

Com o governo Lula as privatizações foram interrompidas. um novo modelo foi implantado e houve a volta do planejamento com a criação da EPE. Ademais, retoma- ram-se as obras de expansão de linhas de transmissão e de hidrelétricas, embora muito polêmicas, como a de Belo Monte e as do rio Madeira.

Infelizmente o novo Modelo do Setor Elétrico, implementado em 2004, não sanou alguns problemas, embora tenha avançado retomando o planejamento setorial. Os consumidores livres, grandes indústrias intensivas em energia, absorvem atualmente 30% da energia elétrica do país e estão fora do sistema atendido pelas concessionárias com tarifas altas. Esses consumidores livres compraram energia hidrelétrica demasia- damente barata quando havia excedente.

O cancelamento, no início do governo Lula, dos contratos entre as empresas ge- radoras estatais e as distribuidoras acarretou perdas para as empresas federais do Grupo Eletrobras, que tiveram de vender energia excessivamente barata. Isso permitia compensar a energia cara das geradoras privadas. Essa chamada descontratação era objeto de uma medida provisória do governo Fernando henrique, submetida à apro- vação do Congresso já no governo Lula2.

Como não se alteraram as formas dos contratos oriundos do governo anterior, usinas termelétricas que não geravam energia recebiam como se gerassem. tomando Furnas como exemplo, suas hidrelétricas eram corretamente despachadas pelo Ope- rador nacional do Sistema (OnS), por ser sua energia a mais barata, mas eram remu- neradas no mercado spot por valores que chegaram a apenas R$ 8/MWh, pois ficaram sem contratos com as distribuidoras. Enquanto isso, termelétricas desligadas revendiam a mesma energia que Furnas gerava a R$ 140/MWh para as distribuidoras. Esse valor era repassado para o consumidor na cobrança de tarifas. tal situação fora anunciada antes da posse do presidente Lula.

A queda do mercado após o racionamento de energia elétrica de 2001 gerou ex- cedente de energia no curto prazo e jogou para baixo o preço no mercado spot, no qual as geradoras vendiam o excedente. A partir de 2003, as geradoras federais (per- tencentes à Eletrobras), Furnas, Chesf e Eletronorte, tiveram seus contratos com as distribuidoras progressivamente cancelados. Assim foram levadas a vender sua energia no spot perdendo receita e reduzindo a capacidade de investir.

Em 2004 houve o leilão da chamada energia velha, gerada pelas estatais sem contratos, que a venderam a um valor baixo pelo prazo de até oito anos.

O debate sobre energia no início do segundo mandato do presidente Lula se agu- çou, envolvendo o próprio Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a superação do marasmo em que estava a economia brasileira havia mais de uma década. Para en- tender o que se passou devemos ir à raiz do problema.

A retomada do desenvolvimento proposta pelo PAC correu o risco de ter um gargalo na energia elétrica e no gás natural. A política do petróleo devia ser integrada em uma política de combustíveis, por sua vez enquadrada em uma política energética, envolvendo também a energia elétrica, na qual se incluiria a geração termelétrica e as fontes renováveis de energia.

182 ★ luiz pinGuelli rosA Dinamarca Holanda Itália Alemanha Japão Luxemburgo Irlanda Portugal

Brasil com impostos

Áustria

Reino Unido

Espanha França

Nova Zelândia

Brasil sem impostos

Eslováquia Suíça Hungria Polônia Finlândia Turquia República Tc heca Grécia México Austrália

Estados Unidos Coreia do Sul Noruega Canadá China África do Sul Índia 0,350 0,300 0,250 0,200 0,150 0,100 0,050 0,000

Figura 1: tarifas de energia elétrica para as residências (dólares/kWh)

Fonte: Roberto d’Araújo, seminário na Fiesp, jan. 2007.

Essa diferenciação do Brasil se tornou menor com a redução das tarifas de energia elétrica em 2013, a partir da decisão do governo Dilma de renovar as concessões das usinas hidrelétricas antigas, que foi aplicada nas empresas do Grupo Eletrobras, já que as estaduais com importante geração, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Companhia Paranaense de Energia (Copel), não aceitaram.

A introdução das termelétricas, estimulada em face da crise do setor elétrico que levou ao racionamento em 2001, ficou mal resolvida e se desdobrou depois no pro- blema do gás natural para a geração elétrica e na inadequação dos contratos. O segun- do aspecto relacionado a esse último ponto é de natureza técnica: o modo de inserir as termelétricas no sistema de base hidrelétrica brasileiro, sendo necessário rever o mé- todo de definição de energia assegurada, de risco e custo do déficit e do uso da curva de aversão a risco em função da variação hidrológica.

No documento 10 Anos Governos Lula (páginas 181-183)

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