• Nenhum resultado encontrado

Os princípios que norteiam a gestão democrática são os seguintes: a descentralização da administração, de acordo com a qual as decisões e ações devem ser elaboradas e executadas de forma não hierarquizada; a participação, em que todos os envolvidos no cotidiano escolar devem participar da gestão: professores, estudantes, funcionários, pais ou responsáveis, pessoas que participam de projetos na escola e toda a comunidade ao redor da escola; a transparência, em que qualquer decisão e ação tomada ou implantada na escola tem de ser do conhecimento de todos (BRASIL, 1998).

A gestão democrática traz em si o conteúdo da participação e este, como princípio democrático, potencializa tal forma de gestão, criando possibilidades para reflexão coletiva sobre o projeto político pedagógico da escola, com vistas ao engajamento de toda a comunidade escolar. No que tange ao princípio da participação, a democracia exige a compreensão da transformação social que se pretende equalizar, sobretudo a busca pela igualdade de oportunidades. (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001).

Percebendo a participação como conquista, Demo observa (1986, p. 37) que “participar implica disposição para cooperar efetivamente para o alcance de objetivos comuns

a determinado grupo”. Para que isso aconteça, há necessidade não somente de incentivos externos, mas principalmente de motivos internos que levem o grupo ao engajamento.

Daí a importância de se concretizar uma gestão comprometida e eficaz, pois, como diz Vieira (2009, p. 133): “uma escola é tão boa quanto são os seus recursos humanos – professores, por certo, mas também gestores e outros membros da equipe escolar”.

Nessa ótica, o processo democrático de gestão no interior da escola incorpora a opinião e as razões dos atores sociais envolvidos na própria determinação dos problemas a resolver, e qualquer decisão ou ação tomada ou implantada na escola tem de ser de conhecimento de todos, não se restringindo ao simples ato de consultar as pessoas para opinar sobre decisões tomadas previamente.

A gestão democrática é sinônimo de autonomia, de participação da comunidade e de descentralização administrativa, e propõe como principais instrumentos a criação de conselhos escolares e de grêmios estudantis; a elaboração do projeto político pedagógico em âmbito interno; a definição e fiscalização da verba da escola pela comunidade escolar; a divulgação e transparência na prestação de contas; a avaliação institucional da escola, professores, dirigentes, estudantes, equipe técnica e a escolha direta de diretores, entre outras instâncias, consagrando princípios como liberdade, flexibilidade e democracia (SANTANA et al., 2010). A gestão democrática pode ser entendida como:

Um abraço, processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do “jogo” democrático e, consequentemente, do repensar das estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas. (DOURADO, 2000, p. 79)

O princípio da autonomia é alvo de debate relativamente recente, proveniente de discussões políticas e pedagógicas sobre a função social da escola, e associado ao aspecto legal, citado pela LDB 9.394/96, que assegura às escolas públicas autonomia pedagógica, administrativa e gestão financeira (VIEIRA, 2009).

A palavra autonomia remete à capacidade de emancipação, tornando-se parte indissociável da ideia de democracia e cidadania. Tal entendimento orienta-se no sentido de que “a autonomia de uma escola não é algo dado, mas construído a partir de sua identidade e história” (VIEIRA, 2009, p. 44).

Vieira (2002) indica que a autonomia não pode ser percebida como um objetivo por excelência, pois é ela que possibilitará ao sujeito “instituir”, “criar suas próprias leis”, deixando de viver sempre o “instituído” que lhe é estranho.

A autonomia da escola pode ser vista sob quatro dimensões: a autonomia administrativa – evita que a escola seja submetida a uma administração em que as decisões a ela referentes sejam tomadas fora dela e por pessoas que não conheçam sua realidade; a autonomia jurídica – possibilita que as normas de funcionamento da instituição sejam discutidas coletivamente e façam parte do Regimento Escolar, elaborado pelos diversos segmentos envolvidos na escola; autonomia financeira – em que é dada à escola a responsabilidade de administrar os recursos a ela repassados pelo poder público; e, por último, a autonomia pedagógica – que é a liberdade de a escola, no conjunto das suas relações, definir sobre o ensino e a pesquisa, bem como a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação do projeto político pedagógico e das atividades curriculares (VEIGA, 1998).

Percebida em todas essas dimensões, a autonomia é processo construído coletivamente, sem perder de vista as diretrizes estabelecidas pelos sistemas de ensino e as condições para viabilizá-la na forma da lei, à qual a escola deve observar e obedecer, seguindo as normas, portarias, regulamentos e procedimentos de cunho superior (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001).

O exercício da autonomia escolar está ligado à construção da identidade da escola, entendida por meio de elementos que constituem a construção de relações entre pessoas e grupos participantes da gestão escolar, os quais influenciam na construção de um conjunto de percepções e representações mais dinâmicas, marcadas por elementos de acordos e conflitos que orientam as ações desenvolvidas nesse espaço. Assim, “ações da escola voltadas para o exercício da autonomia articulam as dimensões pedagógica, educativa, administrativa, financeira e jurídica, as quais tornam a equipe escolar mais responsável pelos acertos e erros das decisões tomadas” (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001, p. 73).

Nessa linha de raciocínio, pode-se dizer que tais procedimentos possibilitam à instituição traçar suas metas, construir seus projetos e ações em consonância com as diretrizes gerais da esfera macro da educação, evidenciadas nas políticas governamentais educacionais, uma vez que é exercida no âmbito das unidades escolares como processo de construção coletiva cotidiana junto ao projeto pedagógico (VIEIRA, 2009).

Portanto, a autonomia “é vista como a possibilidade e a capacidade institucional de as escolas implementarem projetos pedagógicos próprios, vinculados ao anseio dos segmentos que a compõem e articulados ao seu sistema de ensino e às diretrizes nacionais para a educação básica” (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001, p. 72).

Nesse sentido, é de suma importância a busca da gestão escolar pela autonomia, ou seja, a quebra de paradigma com a gestão burocrática em que a autonomia supõe a reconstrução de ações, planejamentos e da organização e avaliação do trabalho da escola.

A LDB n. 9.394/96 determina, no inciso II do artigo 12, que os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros (BRASIL, 1996), por meio da descentralização, princípio norteador da gestão democrática.

A descentralização requer equalizar estratégias para mudar estruturas e espaços, redefinindo papéis; alterando as atribuições das diferentes instâncias decisórias; reorganizando espaços; mudanças nas relações e deslocamento do eixo do poder, permitindo que as políticas e as decisões sejam formuladas por meio de participação (LIMA, 2009).

Não se deve compreender a descentralização como uma simples transferência de poder decisório. A descentralização tende a uma maior unidade de ação entre os núcleos governamentais, fortalecendo a parceria indispensável entre a implementação de políticas e programas educacionais (LIMA, 2009).

Seguindo a orientação da descentralização e da pretensão de realizar a autonomia e com a diminuição drástica do desvio de verbas e redução significante da corrupção, várias políticas públicas foram instauradas no Brasil. Conforme pesquisa realizada pelo Núcleo de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas (NPP – Unicamp), observa-se o correspondente aumento na transparência do processo e na visibilidade dos casos de má aplicação do dinheiro público. “As avaliações já realizadas da Unicamp mostram que a descentralização de programas, como o da merenda ou do dinheiro na escola, traz enormes benefícios para a educação e para o bem-estar das crianças” (SOUSA, 2000, p. 23).

Como escreve Gadotti (1995), a descentralização e autonomia caminham juntas. A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no seio da própria sociedade. A eficácia dessa luta depende muito da ousadia de cada escola em experimentar o novo caminho de construção da confiança e da capacidade de resolver seus problemas por si mesma, confiança na capacidade de autogovernar-se.

Documentos relacionados