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Elmer, de David Mckee foi o primeiro livro apresentado ao grupo. A sua escolha deveu-se à história encantadora que este livro oferece sobre a diferença e a forma como ela é aceite pelos outros. Nesta narrativa não verificamos atitudes discriminatórias das outras personagens, sendo o próprio Elmer a sentir-se mal por ser diferente dos demais. Quando o livro foi apresentado ao grupo uma das crianças referiu conhecê-lo, embora não se recordasse da história. Começámos então por explorar a capa:

Iniciou-se então a leitura do livro. Durante a mesma apercebemo-nos que o grupo se encontrava atento e interessado em saber o desenrolar da história. A certa altura, mais precisamente quando Elmer decide fugir da sua manada, questionou-se o grupo:

Sinopse: Elmer era um elefante bem-humorado e engraçado, que fazia todos rirem. Mas havia algo que o incomodava, a sua cor, que não era “cor de elefante”. Elmer tinha muitas cores! Certo dia resolve ficar igual aos outros elefantes, começando a pregar-lhes partidas. Pouco tempo durou até que fosse descoberto. Depois de todos se rirem com as suas partidas, decidiram festejar o dia do Elmer. Nesse dia todos os elefantes se pintam de várias cores e o Elmer pinta-se “cor de elefante”.

Ed. E.: Alguém sabe quem será o Elmer? C1 : É um elefante às cores.

C2 : E aos quadrados, porque é o que está na capa. Ed. E: E será um elefante divertido?

C1 : Eu acho que sim porque ele tem muitas cores. Ed. E.: E o que será que vai acontecer?

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Quando Elmer decidiu fugir da manada, sentiu-se a curiosidade por parte das crianças em saber o que Elmer iria fazer. Nesta parte da história pareceu-nos pertinente parar a leitura e questionar as crianças sobre o que pensavam que fosse acontecer. De modo geral, as suas respostas espelham o que realmente vai acontecer. Elmer acaba por fugir da manada por se sentir mal com o seu padrão xadrez colorido. Apesar de Elmer não ser excluído pelos outros elefantes e de até se proporcionarem brincadeiras entre eles, as crianças conseguiram perceber que este não se sentia bem por ser diferente.

A conversa com o grupo no final da história permitiu-nos conhecer a sua perceção acerca do que surge como diferente. O facto de a personagem principal ser diferente dos restantes elefantes não foi um fator de exclusão por parte das crianças. Antes pelo contrário, o seu padrão colorido encantou-as, tendo curiosidade por conhecê-lo e até mesmo incluí-lo nas suas brincadeiras. O tamanho foi o único fator identificado por algumas crianças como um entrave à entrada do mesmo na sala e, da sua participação nas brincadeiras. Já no que diz respeito à diferença de cor nenhuma criança fez qualquer tipo de comentário negativo, associando as suas cores e todo o seu espírito alegre à diversão.

Elmer representa todos aqueles indivíduos que se sentem diferentes num meio onde todos “são iguais”. Esta história pode ser interpretada no sentido da diferença física, ou seja, nas dificuldades que as pessoas com deficiência sentem em se integrar, ou então ser interpretada numa perspetiva intercultural, tal como o iremos fazer.

Sabemos que a diversidade cultural é uma realidade a aumentar na nossa sociedade. Indivíduos originários de outros países procuram melhor qualidade de vida no continente europeu, acabando por muitos deles se instalarem no nosso país. Elmer simboliza as minorias

Ed. E.: Onde será que vai o Elmer? C1 : Vai fugir.

C3 : Vai-se embora porque não gostavam dele. C4 : Pode ir ter com um amigo.

C6 : Eu acho que ele está triste e por isso vai fugir. Ed. E.: Triste? Porque é que dizes que está triste? C6 : Porque não é igual aos outros elefantes. Ed. E.: Vamos ver onde será que ele vai.

(Dá-se continuidade à leitura. No final, proporciona-se um momento de conversa de grupo.) Ed. E.: Afinal onde foi o Elmer?

C3 : Foi pintar-se de cinzento, porque estava triste por ser diferente dos outros elefantes. C8 : Maria o Elmer é muito bonito, tem muitas cores.

C5 : O Elmer era gozado, pregavam-lhe partidas. C6 : Não, não, quem pregava era o Elmer aos outros.

Ed. E.: Então e se o Elmer agora entrasse na nossa sala, brincavam com ele? C8 : Eu brincava.

C7 : Não sei, eu acho que ele ia desmanchar as nossas construções.

C6 : Maria eu brincava, mas ele não ia caber na porta porque os elefantes são muito grandes, iam partir as paredes.

Ed. E.: É verdade ele é muito grande para vir para a nossa sala. Mas mesmo ele tendo muitas cores vocês gostavam de brincavam com ele?

C3 : Sim, eu acho que ia ser muito divertido. C4 : Íamos pregar partidas um ao outro.

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étnicas que se integram na nossa sociedade, sendo todos os outros elefantes a denominada cultura dominante, onde todos “são iguais”. Estamos perante duas culturas distintas, mas que por isso mesmo não se devem deixar de respeitar mutuamente. Relativamente à história, a mensagem espelhada é a de aceitação, respeito e valorização do Outro. Cada um deve ser aceite, respeitado e valorizado, sem tentar ser igual aos demais, para que também a sua cultura seja preservada e conhecida.

A inclusão, tal como sabemos, nem sempre é um processo fácil devido à discriminação e atitudes negativas que muitas vezes surgem, por isso, é importante que desde cedo se trabalhem as questões interculturais. A presença de outras culturas no nosso dia-a-dia faz-se sentir cada vez mais, devendo assim acolhê-las, conhecê-las e, acima de tudo respeitá-las. Deste modo, as suas crenças, tradições e ideologias não devem ser menosprezadas, nem serem fator de exclusão.

Retomando novamente a história, esta aborda outro pormenor muito importante, a questão da cor. A cor é, em muitos casos, o primeiro elemento que leva à discriminação e a atitudes preconceituosas. O facto de o Elmer não ter a mesma cor dos outros elefantes não fez com que fosse excluído da manada. Por sua vez, a questão da cor também não foi um fator negativo para o grupo, antes pelo contrário: as crianças associaram à sua diversidade de cores a alegria e a diversão. Esta atitude das crianças demonstra, de certo modo, que a cor não importa. O importante é conhecer e estabelecer relações com os outros para que lhes possamos dar a oportunidade de se darem a conhecer e de nos conhecerem também. Histórias como Elmer fazem com que se reflita sobre o mundo e o meio que nos envolve, que pensemos no Outro e como este se poderá sentir por estar num meio onde se sente diferente dos restantes membros.

A hora do conto é um momento que não deve ser menosprezada pelos educadores. Ler para as crianças é proporcionar-lhes um momento de puro prazer pelas histórias que os livros oferecem, deixando que se deliciem pelo mundo fantástico que estimula a sua imaginação e a criatividade. Neste sentido, apesar de todos os momentos de leitura serem importantes, é fundamental que nem todos eles se façam acompanhar de perguntas. Muitas vezes, as paragens que fazemos ao longo da leitura para lançar questões ao grupo acabam por fazer com que este se desinteresse pela história, não deixando que usufruam da essência da mesma. Contudo, não foi esse o caso, até porque o livro interroga-nos sistematicamente enquanto leitores e as crianças reagiram de forma muito positiva, revelando terem compreendido a mensagem essencial do livro, ao mesmo tempo que se deleitaram com a leitura do mesmo.

Assim, esta primeira abordagem do tema com o grupo centrou-se na leitura como forma de fruição, mas também na leitura compreensiva do livro, permitindo-nos perceber as suas conceções sobre a temática da diferença de cor.

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