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É incontestável a variedade cultural deixada pelos negros no Estado de Pernambuco, e se torna um tanto quanto difícil descrever todas. Mas, algumas são destaques em outdoors, propagandas de lojas, shoppings centers, bailes carnavalescos, em outros locais do Brasil, são conhecidas até mesmo no exterior. Neste patamar está o maracatu rural, a ciranda e a dança do coco.

Não é só na região metropolitana que se desenvolveu o maracatu, na zona da mata pernambucana também está a presença exótica do caboclo de lança do maracatu rural (MEDEIRO, 2005, p.17; CÁRDENAS, 1981, p.28; REVISTA CONTINENTE, 2007, p.10) chamado de batuque solto, segundo as fontes consultadas. Existindo certa contradição sobre quando este folguedo apareceu pela primeira vez, para a Revista Continente sua aparição data da década de 30 do século 19, no carnaval do Recife; e a autora Medeiros diz que seu surgimento remonta ao início do século XX na Zona da Mata de Pernambuco. Assim, descrevem que foi nos canaviais que houve a constituição do maracatu rural, sendo o resultado do descontentamento e da rebeldia dos negros canavieiros.

Quanto à ciranda – que é uma dança de roda –, em todas as festas folclóricas do Recife se pressupõe que estava presente desde 1961, pois os cirandeiros, ao ritmo do som de um bombo, cantam suas músicas acompanhadas da batida, e usam uma indumentária própria. A mais conhecida cirandeira de Pernambuco é Lia da Ilha de Itamaracá (FUNDARPE, 2005, p.9).

A dança do coco é realizada com os pares se apresentando em roda e na cadência dos cantos especiais, deslizam em passadas ritmadas por um sapateado forte. Os dançadores cantando trocam umbigadas com seus pares e as moças sincronizam o feito com os homens do par vizinho, fazendo uma troca. A famosa representante desta tradição é Selma do Coco que produziu um CD com a música “A rolinha” (FUNDARPE, p.18).

A referência de Almeida (2013, p.16-17) para o samba de coco das comunidades afrodescendentes de Castainho e Atoleiros, situados nos municípios de Garanhuns e Caetés, no agreste de Pernambuco, sendo esta região uma parcela do antigo quilombo dos Palmares. Neste cenário de identidades populares da cultura pernambucana, a presença de Chico Science introduziu o Mangue Beat no segmento dos maracatus-nação que, de acordo com Guillen (2013, p.21), foi a batida do maracatu que permitiu a conexão musical de uma parabólica firmada na lama, entre o local e o global.

No contexto panorâmico pernambucano, as manifestações da cultura popular ainda enfrentam dificuldades para garantir sua continuidade. É uma situação que passa os integrantes das sambadas de coco que persistem na Região Metropolitana do Recife e é, na comunidade de Guadalupe em Olinda8, o local em que se desenvolve a dança do coco de umbigada, intitulado de samba matriz. Tem como representante deste movimento a Mãe Beth de Oxum e os participantes deste evento cobram dos gestores públicos o apoio para manter esta representação de resistência e afirmação. Existindo há mais de 20 anos, em 2004 tornou- se um local voltado para a cultura interativa, tem um cine clube, um centro de tecnologia, uma rádio comunitária direcionada para a cultura popular, além de cursos que se realizam com o sentido de profissionalizar, mantendo 150 jovens afro-brasileiros que recebem aporte financeiro de uma bolsa para participarem destas atividades.

Reconhecendo que a preservação dos bens culturais é um procedimento também governamental, nem sempre os governos assumem essa responsabilidade. Todavia, há o reconhecimento dos valores culturais brasileiros internacionalmente, como é o caso da capoeira, que desde 2008 já era patrimônio brasileiro. Em 2014, foi reconhecida como patrimônio Cultura Imaterial da Humanidade, além de estar em Pernambuco e no Brasil inteiro, é praticada em mais de 160 países.

Em Pernambuco a presença da capoeira é uma marca registrada, não apenas nos festejos e no carnaval, mas nas rodas de rua e nos recintos fechados. Grandes mestres fizeram a história da capoeiragem no solo pernambucano, podendo citar Silva (2008, p.40) que destaca os seguintes nomes: Jovino dos Coelhos, Nicolau do Poço e o mais famoso Nascimento Grande. E nas décadas de 60 e 70 surgem outros, como: Marcos Coca-Cola, Meia-Noite, Zumbi Bahia, e vários outros (Idem, p.42).

A personalidade do capoeirista é vista por um ângulo negativo e por um prisma positivo. De um lado, Oliveira (1971, p.73) fala do conceito negativo do capoeira, dizendo:

“A ideia que geralmente se tem, do capoeira, não depõe a seu favor: desordeiro, malandro, assassino, sempre às voltas com a polícia, sempre temível e temido”. Do outro, Freyre (1998, p.510-511) descreve a influência dos pretos carregadores de açúcar dos armazéns em Pernambuco, os quais formavam corporações próprias e outras forças de atuações positivas, afirmado que:

Impedidos de usar armas de fogo, espadas, bengalas de estoque – armas de fidalgos, de senhores brancos – os escravos – principalmente os negros de ganho e carregadores de fardos que parecem ter constituído no Rio de Janeiro como no Recife, junto com os ferradores, os ferreiros, os serralheiros e os maquinistas, a aristocracia guerreira da massa cativa – tornaram-se peritos, junto com cabras livres e moleques de rua, uns no manejo de facas e navalhas e, principalmente, nas cabeçadas, no rabo-de-arraia e nas rasteiras da capoeiragem; outros, no feitiço, na mandinga, no veneno misterioso que aleijava e matava brancos. A arte da capoeiragem mais de uma vez lhes permitiu suprir a falta de armas de fogo com movimentos de corpo que eram quase movimentos de dança. Dançando, esses bailarinos da capoeiragem enfrentavam com pés ligeiros, pequenos, delicados, às vezes quase de moça e, como os das baianas, geralmente calçados de chinelos orientalmente enfeitados, [...]

E todo esse processo citado pelos autores sobre a capoeira, o resultado culminou na escola pernambucana, e de acordo com Silva (2015, p.65) a capoeira na instituição escolar tem a compreensão da inclusão que se realiza quando: “O sentido de se trabalhar a capoeira na escola é discutir as questões pertinentes à condição de vida histórica e social do negro em nossa sociedade, isso faz com que a escola defina seu papel político”. Por isso, a especificidade deste tema é imensa, porque não só a autora referida acima, mas outros diversos estudiosos do assunto comungam com uma concepção positiva sobre os fatos e fatores desta inclusão realizada pelo ensino da capoeira em Unidades Escolares, não só em Pernambuco como em todo o Brasil.

Afinal, nem só de frevo vive Pernambuco, mas sua cultura é tão vasta que não pode ser retratada em um único capítulo, então, foi preciso fazer um resumo conciso e consistente de algumas manifestações culturais que são elencadas como prioridades.

4 A FUNDAMENTAÇÃO DO PROCESSO INVESTIGATIVO CIENTÍFICO