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5.3 IDIOSSINCRASIAS EXISTENTES SOBRE A LEI Nº 10.639/03 NA ESCOLA DE

5.3.1 As percepções dos docentes de artes

O componente curricular de Artes é um campo fértil de objetos e situações que podem colaborar com os trabalhos que tratam da temática: “História e Cultura Afro-Brasileira”. Sobre o referido assunto, o Professor Munanga (2001, p.160) destaca estas questões como Africanidades, e caracteriza:

Artes Plásticas – Como bem pondera a professora Loris12 nos trabalhos com argila,

papier-mâché pode-se, por exemplo, aprender sobre como criar máscaras de inspiração africana13, além de Picasso, Modigliani, identificando a influência

daquelas sobre estas. Em atividades com pintura, ensina Vera Triumpho14, é possível

conhecer a origem, significados e técnicas do batique. Enfim, muitas ideias certamente surgirão do estudo da valiosa obra organizada por Emanoel Araújo (1988), A Mão Afro-Brasileira – significado da contribuição Artística e Histórica. O autor elege uma abrangente concepção do contexto que se pode lecionar com o componente curricular de artes. É importante lembrar que a arte é uma fonte de apreciação, em que todos sentem prazer e interesse em conhecer, leva mensagens, enquanto completa a gama de saberes, inspira as pessoas a aprenderem novas lições com as outras pessoas ou coisas, além de ser um fator de reconstrução histórica de uma época passada, num presente com características diferentes. Entretanto, na realidade este quadro é outro, pois, essa imensidão de significados, dentro do conceito da escola de referência, não se encontra compactuada na prática docente, com seus alunos em classe. Resume-se apenas a uma abordagem simbólica, em alguma data comemorativa, dedicada ao povo negro. Não há garantias que denote a preservação do trabalho que o professorado deveria fazer com a Lei nº 10.639/03, como uma ponte social e nem procuram uma forma de subsidiar o trabalho docente. Esse sistema educativo estadual não prioriza investimentos na socialização dos aspectos da referida legislação, protagonizando capacitações com todos os professores

12Citada por Munanga - Professora Loris do Rocio E. Gruginki de Educação Artística, na rede pública de Santa

Catarina.

13Citado por Munanga - Neste sentido, consultar, por exemplo: MONTI. Franco. As Máscaras Africanas. São

Paulo, Martins Fontes, 1992.

14Citada por Munanga - TRIUMPHO Vera Regina S., professora aposentada da rede pública; educadora junto a

participantes das turmas do ensino médio semi-integral. Não foi apontado nenhum material didático que pudesse servir de subterfúgios na utilização para o ensino de artes na escola.

Estas são algumas questões que não mascaram o que realmente acontece quando se está à frente dessa matéria escolar que é um contexto imperativo confirmado no ensino de arte construído na escola do estado. Ademais, compactua o não reconhecimento da arte que foi construída e é referida aos negros e muito menos reconhecem seu valor como prática educativa. Por exemplo, o professor do componente curricular de arte, tendo suporte de uma capacitação, poderia agir como o artista que modela sua obra de artes, isto é que deve ser capaz de discorrer sobre as disposições criativas do aluno e incentivar seu desempenho ao conviver cotidianamente com a diversidade.

Falta orientação para que os docentes cultivem seu próprio estilo de ver as artes de forma crítica e construtiva nos termos da Lei nº 10.639/03. Ao mesmo tempo, insistindo no pensamento de que cada um deve ser claro e coerente com o compromisso ético e humano, constata-se que, dentro da comunidade na qual a escola está inserida, também são encontradas outras tantas comunidades que fazem parte da circunvizinhança. Em tais locais, existem confrontos e conflitos e outros tantos anseios que deflagram situações desafiadoras para o professorado que poderia aproveitar as manifestações deflagradas para contribuir com a arte na instituição educacional. Alguns trabalhos realizados poderiam servir de modelo para serem desenvolvidos na escola de referência que tem um grande privilégio do tempo do professor e do aluno na instituição escolar.

Valendo ressaltar uma reportagem sobre a pesquisadora Françozo15; ela descreve que sua investigação resultou no levantamento das obras do holandês Maurício de Nassau, e a pesquisa informou que esse personagem histórico colecionava até os ornamentos de nações africanas. Esta é uma história de curiosidade que também educa e daria uma ótima aula de artes na perspectiva afro-brasileira. É certo que nestas escutas de professores e professoras da disciplina de artes nenhum mencionou trabalhar com a música que também é uma arte. Os negros aqui em Pernambuco deixaram uma grande manifestação musical. Também é do conhecimento que muitos jovens, principalmente, os que estão cursando o ensino médio, ouvem bastante música. Em diversos casos há certa reclamação por parte do professorado ao encontrar um aluno escutando música em plena sala de aula. Essa atitude do aluno que escuta música em classe poderia ser revertida pelo professor em prol do trabalho com a disciplina, revertendo o olhar negativo que traduz indisciplina e levando para a atitude positiva de

aproveitar a situação para contribuir com a aula. Assim, encerrando o mundo da musicalidade existente em Pernambuco.

É relevante expor outra matéria16 do Jornal Folha de Pernambuco que traz o seguinte: A bossa negra de Diogo e Hamilton, a raiz negra do samba, pincelada com características do choro e do jazz, então, esta matéria daria um início incentivador para uma aula de artes. E quando Machado et al (2011, p.130-131) lembra que as obras de arte, por exemplo, são construções da histórica sexualidade e fala da negra Tarsila do Amaral, e tantas outras histórias, afirma que: “Os artefatos culturais pesquisados produziram e veicularam representações de gênero e de sexualidade possibilitando construir aprendizados relativos aos modos de viver [...]”(MACHADO et al, 2011, p.130-131). Afinal, tanto a arte como a música são colocações do que se poderia realizar e enveredar na temática da Lei nº 10.639/03, contudo, outras linhas de seguimentos podem entrar neste componente curricular. Portanto, a arte afro-brasileira é o resultado de um esforço sistemático que pode ser usado com habilidades específicas podem cumprir diversas funções sociais.

Não é, pois, difícil inserir este conteúdo em classe, mas deve acontecer de forma crítica e construtiva com significações verdadeiras. Todos os caminhos merecem atenção, pois é através deles que se pode alcançar a demanda matriculada na escola pública, e que faz a diferença no desenvolvimento da nação, valendo enaltecer que, nas comunidades em torno da escola, existe uma riqueza enorme que pode ser aproveitada para direcionar uma aula de arte.