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Em Tempo de Globalização

I. RASTREAMENTO INICIAL

1.3. Prática Judiciária no Brasil: Um Outro Mundo

1.3.9. Em Tempo de Globalização

O

presente item tem por finalidade considerar algumas

variáveis sócio-institucionais e econômicas da cidadania na atmosfera de um Poder Judiciário tido como provinciano, a partir da experiência profissional do autor desta Tese e de outras observações e abordagens, buscando ao serviço da ideologia democrática, que é um estado de participação, nada obstante o processo de globalização da economia dos diversos países, buscando-se verificar que tal participação tem sofrido detrimento em homenagem aos lucros de uma forma de capitalismo que não convém à harmonia do socius.

O enfoque da matéria, naturalmente, sofrerá uma tendência fortemente interdisciplinar, como comporta ao mais coerente exame dos fatos sociais, em que a retórica do discurso normativo não se entremostre susceptível às banalizações de momento e ao formalismo cínico que não reúne compromisso com a verdade dos fatos e o valor da paz social, como, por exemplo, ressaltou, com proficiência, o professor Norberto Bobbio ao demonstrar as razões e significados da sempre ativada distinção política entre as noções de direita e esquerda271.

Buscar-se-á, pois, tanto quanto possível, a

compreensão do alcance desse binômio

(cidadania/globalização), como elemento de participação política nos negócios de Estado, ainda que se tenha como autêntica a observação histórica de que a Administração Judicial sempre se constituiu em um grande mito, algo como que aterrador e intangível aos simples “mortais” em qualquer tempo e lugar, notadamente quando preconceito e “razões de Estado” a dominam ou nela se insinuam. E isso vale tanto para os cidadãos comuns, perdidos em uma malha multiforme de expedientes e rotinas que os afastam do ideal de realização do justo, quanto para aqueles que, tornando- se membros desse corpo, procuram cumprir o doloroso mister de responder aos compromissos solenemente assumidos quando das respectivas investiduras.

A oposição sem dúvida sistemática, mas não solene, entre racionalismo e empirismo, forma e substância, dos vários enunciados de discussão neste trabalho, caracteriza, em essência, a manifestação mais proeminente de um ciclo de mazelas que afeta o Judiciário brasileiro, como de resto o

Judiciário dos assim chamados países periféricos,

dependentes das grandes economias e do fluxo de capitais

que vêm das economias desenvolvidas, especialmente dos Estados Unidos, Europa e Japão, para retirar em grande parte a previsibilidade de sua atuação. Por outro lado, quanto mais elevada for a hierarquia do órgão jurisdicional que tiver sido chamado a deitar seus veredictos sobre as causas de interesse do Poder Econômico hegemônico, menor será, inquestionavelmente, sua taxa de independência jurídica, dados os laços políticos que vinculam agentes executivos e judiciários, o que vai permeado por um Poder Legislativo em sua maioria manipulado por idênticos interesses.

O papel do operador judicial, nessas condições, passa a não corresponder a um exercício de cidadania, pois é

marcado por crescentes (des)critérios de exclusão

participativa, geralmente sibilinos e socavados, que mutilam o homem em seus predicamentos jurídico-políticos e sociais. Mais uma vez se ressente de uma efetiva construção jurídica que proveja o socius das garantias para a consecução de seus direitos, o que se pode descrever, dentre outros aspectos, mediante a aplicação do princípio da razoabilidade jurídica. Sobre isso, com propriedade, Xavier: “Tal princípio apresenta-se indispensável a aturação do judiciário no final do milênio ante as constantes transformações sociais que já ultrapassam o critério de massificação, fruto da revolução industrial e do “Welfare State”, ante a globalização das relações sócio- econômicas e conseqüente relevância da apreciação dos valores existentes como forma de compatibilização entre recursos cada vez mais escassos em função das limitações científicas e da própria atividade econômica e o crescimento proporcional das aspirações sociais, sobretudo quanto aos valores básicos da existência humana.”272 Já a corrupção, deve-se referir, é apenas um processo de

avantajamento formalmente intolerável desse mesmo

exercício. Com o emprego de expedientes hermenêuticos nunca raramente incompreensíveis, porém formalmente bem postos e às vezes eruditos, a ação de julgar objetivamente acaba por defenestrar a ratio legis, e a ordem econômica interna como um todo, para integrar-se à curva da dominação opressiva

pela eliminação de direitos subjetivos, geralmente

representada por imposições excessivas de carga tributária,

transnacionalização do mercado interno, falta de

investimento adequado na ordem social, controle de salários com liberação de preços e política de juros altíssimos, facilitação das remessas de lucro ao exterior e dificuldades no estabelecimento de uma política de ajuste que harmonize, para valer, o capital e o trabalho, mediante a construção de uma cultura corporativa e mórbida que ataca a intergrupalidade e prioriza os privilégios dentro e fora

da casta dos condestáveis. Como acima aventado, a situação se agrava na proporção direta da hierarquia do órgão judicial, de forma que aspectos de segurança jurídica bem como de participação (Justiça Distributiva), serão menos atingidos quando por ocasião dos veredictos em últimas instâncias, haja vista que uma variável sociológica, ao que parece necessária no plano das sociedades subdesenvolvidas, reclama que esses resultados correspondam, tanto quanto possível, às orientações do Executivo. Esse fenômeno é explicado pelos vínculos de subsistência material e

subjetiva que unem, inclusive partidariamente, os

operadores componentes das cúpulas dos poderes políticos, notadamente em sociedades cujo desenvolvimento fora interrompido pelas barreiras da tradição menos universal (periferia econômica).273 O maior problema, contudo, é

verificar que, sob a força desse exemplo nocivo, por que eticamente comprometido em sua etiologia e por que atomizador das práticas judiciárias, as gerações que se seguem de novos operadores judiciais de todas as instâncias sofrem uma terrível compulsão, por vezes medida em razão da própria sobrevivência profissional, que os induz a também banalizarem os seus papéis e perpetuarem essa rotina injusta e autofágica do regime democrático e da excelência de seus resultados, bem assim como da autoridade de suas funções e do crédito social que delas haveria de decorrer. Sobre isso, aliás, Baracho: “Os regimes autoritários e totalitários sempre foram contrários à independência da magistratura, visando-a como uma espécie de colaboradora na aplicação da lei.”274 Coincidentemente, os autoritarismos costumam inaugurar tempos de pauperismo moral, político e, sobretudo, econômico, estabelecendo, a partir dessas bases, diversos contrastes de extrema desigualdade social, entre o luxo e os privilégios desmesurados de uns poucos e a miséria e as exclusões mais repulsivas de muitos outros, como uma autêntica “doença típica das sociedades modernas”,

na descrição de Clóvis Beviláqua.275 Nesse sentido,

Gianfranco Pasquino: “Na realidade, o que ocorreu, e se está verificando cada vez com maior clareza, é a formação de um sistema econômico internacional ao qual não interessa

273 (Bobbio et al, 1991: 1225). Nota complementar: A obra, no tópico

“ Subdesenvolvimento” , assinada por Gianfranco Pasquino, ainda descreve: “ O desenvolvimento acontecerá, quando as barreiras que impedem a difusão destes estímulos forem derrubadas, barrreiras formadas, na maioria das vezes, por dificuldades na comunicação e não apenas por falta de recursos.” (op.cit.: 1225/1126) Os “ estímulos” dos quais o texto da citação se ocupa estão relacionados com a resistência social às tradições que impedem o desabrochar, mesmo temporário, do desenvolvimento. Por outro lado, se os tais “ estímulos” são difundidos completamente, dão ensejo aos “ setores rebocantes” da economia e da sociedade que garantem o avanço em direção ao desenvolvimento e plena utilização dos recursos disponíveis, segundo critérios razoáveis de Justiça distributiva.

274 (1995: 20).

expandir seu campo de ação, nem tampouco ampliar sua

penetração nos setores mais atrasados dos países

periféricos.”276

É evidente que a certeza natural de que os juízes são homens e que, portanto, estão sujeitos às misérias desta vida, se acha estabelecida como pressuposto de toda a discussão a se iniciar nesta parte da presente Tese. Questionar-se-á, todavia, um ciclo de inversões perversas que transformam o que é essencial em acidental e vice-e- versa, e o que é exceção em regra e vice-e-versa, para gerar um estado de descrença social tão grave que os fundamentos da Ordem Jurídica passam a sofrer abalos, com riscos cada vez maiores de desestabilização social. O recrudescimento do fenômeno criminal, que se organiza em escala crescente, e a eclosão de movimentos alternativos de

reivindicação social, como o MST277, ilustram bem a

hipótese. O curioso é que a sociedade, embora perfeitamente ciosa das desgraças que se lhe acometem, não se ocupa de resistir, sistematicamente, contra elas, a exemplo de como se conduzem os seus setores mais corporativos na defesa de seus benefícios e privilégios, ainda quando em contraponto às gritantes desigualdades de uma sociedade excessivamente

estratificada. A Magistratura brasileira é exemplo

recorrente. Essa, porém, é uma outra face, também emblemática, do drama maior vivido pela sociedade brasileira: o subdesenvolvimento haurido da democracia liberal, formal ou simplesmente teórica, em que se pretende liberdade sem apoio de base infra-estrutural, que possibilite seu exercício efetivo e que viabilize a participação social, como condição para a plena realização do ser humano278 e que proteja todo indivíduo das ofensas que os outros possam dirigir-lhe.279

Como dito, ainda no item 1.3, desta Tese, o penhor da lealdade pessoal, ante a questão judiciária, em função da retribuição por favores recebidos, da barganha fisiológica, do enredo de vantagens sem causas justificáveis, da transformação, enfim, da dignidade humana e das relações sociais em mercadoria, constitui manifestação pervertida, embora quase sempre dissimulada de virtude, de uma cultura

underground - sobre ser típica de um capitalismo selvagem

que se não mais tolera na vida contemporânea – em que não pode florescer a paz social pretendida pelo Direito e pelo Estado que, noutros termos, a tutela. Não há, atualmente, espaço para o liberalismo econômico puro. O neoliberalismo é uma desesperada tentativa de eternizá-lo, dissimulando-o frente ao avanço e às conquistas sociais que decorrem do

curso natural da História, enquanto a denominada

276 (apud, Bobbio et al, 1991: 1227).

277 Nota: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra - MST. 278 (Bordenave, 1983: 7, 17).

globalização mais não é do que a expansão, em escala planetária, desse regime econômico cruel. Poder-se-ia mesmo repetir, exemplificativamente, que: “Um desempregado, hoje, não é mais objeto de uma marginalização provisória, ocasional, que atinge apenas alguns setores; agora, ele está às voltas com uma implosão geral, com um fenômeno comparável a tempestades, ciclones e tornados, que não visam ninguém em particular, mas aos quais ninguém pode resistir. Ele é objeto de uma lógica planetária que supõe a supressão daquilo que se chama trabalho; vale dizer,

empregos.”280 Uma análise que surpreende pela sua

oportunidade e contundência em relação à situação econômica mundial. Forrester consegue desvelar e pôr à mostra as contribuições devastadoras para as diferentes economias, da política restritiva imposta pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em escala planetária, como acima dito. Uma ameaça que espreita e atemoriza a todos os segmentos sociais, notadamente nos países periféricos.

Muito embora o povo seja, classicamente, um dos elementos constitutivos do Estado Moderno (ao qual se somam o território e o poder), tem-se que é dele que se extraem os quadros que dão corpo às instituições públicas, reflexos naturais daquele estamento de base psicológica e, pois, subjetiva. Uma tal proposta econômica neoliberal e globalizada, comandada, à verdade, por grupos de patrões ocultos e sem pátria (sua “pátria” é o dinheiro), mas extremamente poderosos, mais até que certos Estados ditos

soberanos, costuma levar ao universo trabalhador,

injustamente, a não mais aspirar nem se empenhar por condições mais dignas no desempenho de suas atividades e no retorno que elas lhe deveriam propiciar. As gentes passam a

se defender como podem e geram uma cultura de

aproveitamento e de conveniência (a denominada “Lei do Cão”) que acaba servindo àquele sistema econômico em face da quase absoluta inexistência de limites éticos para toda atividade produtiva.

É, assim, razoável pensar que as expressões

desqualificadoras da cidadania, exemplificativamente

descritas no item 3.6, acima, somente se produzem em função de determinadas perturbações das propriedades desse mesmo Estado que se alimenta - não obstante sua retórica normativa, sempre passível de ser manipulada - do que há de mais anacrônico e injusto no que diz respeito à vida das sociedades modernas (caracterizadas pela liberdade de seus membros): a negação da solidariedade como obstáculo para o acesso de todos à isonomia política, jurídica, econômica e social em obséquio da dignidade humana.

A situação se revela, ademais, singular e tecnicamente preocupante, na medida em que os direitos sociais, no

Brasil, justamente os últimos da seqüência histórica, tanto não sucederam aos direitos políticos quanto não foram objeto de disputa política, consoante se tem observado, de ordinário, na história dos países de primeiro mundo. De fato, tome-se o exemplo da doutrina social da Igreja que é posterior à Revolução Francesa e mesmo à Declaração de Direitos norte-americana, no século XVIII. No Brasil, porém, tais registros institucionais, que não constituem propriamente conquistas, foram introduzidos pelo despotismo pseudo-esclarecido getulista no chamado Estado Novo. Um momento particularmente favorável ao proselitismo político fascista, haja vista a total inexistência de oposição organizada, em que os mecanismos de representação partidária e sindical não se encontravam em operação. Fácil resultou ao ditador de plantão a construção da imagem de “pai dos pobres”281, gerando a corruptela do “peleguismo” na vida sindical que, aliás, se estratificou excessivamente, e um forte corporativismo de parte do patronato, que se consolidou arraigadamente. Não sem razão, observa-se que o Governo LULA, originalmente concebido como de centro- esquerda, já em seus primeiros meses de instalação, vem refletido algo dessa realidade histórica do passado recente da República brasileira, quando, afastando correligionários históricos e permitindo a cooptação de adversários

tradicionais, se insinua, agradavelmente, sobre os

objetivos clássicos do neoliberalismo, fazendo por merecer o aplauso e os efeitos do mercado financeiro internacional e da grande potência norte-americana, ao mesmo tempo em que acumula a indisfarçável e penosa perplexidade de uma Nação atônita com a guinada política de seus representantes, uma vez instalados no Planalto.

Em grande parte, vêm desses desvios de rota, pelo visto recorrentes, da vida política nacional, desvios esses que apontam para uma regressão atávica em direção ao espírito do colonialismo, embora rejeitando, formalmente, o escravismo, seu maior predicamento, as razões de todo o atraso da gente brasileira. Esse embotado colonialismo é a suprema expressão da economia globalizada no caso brasileiro, em particular. Opções para a periferia econômica de fato existem, tal o que teorizou e sugeriu, por exemplo, Celso Furtado282. Acontece que os agentes

controladores do sistema não guardam simpatia com as teses mais ao centro ou mesmo mais à esquerda, segundo a dicotomia cuja noção pacificou, hodiernamente, Norberto Bobbio.283 Eis o móvel para o espetáculo de ambigüidades e contradições em que se transformou o Governo LULA, situado entre reivindicações políticas históricas e um já repisado

281 (Lopez, 1987: 41). 282 (Furtado, s/d: 59-67).

cenário de pragmatismo administrativo, frustrando

expectativas e esperanças de transformação social

acalantadas por, pelo menos, vinte anos de campanha político-eleitoral, afinal vitoriosa. Uma vitória de “pirro”, pelo que se constata nos primeiros meses de administração pública sob os domínios do emblemático Partido dos Trabalhadores (PT) e da festejada e até então não testada liderança do ex-sindicalista Luís Inácio LULA da Silva, atual Presidente da República, realçando, mais uma vez, a hipótese do “mito fundador” de que trata Chauí: “Um mito fundador é aquele que não cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo.”284 A idéia do “si mesmo” pode ser correlacionada com o subdesenvolvimento econômico e político social brasileiros. De fato: “O Subdesenvolvemento é claramente funcional para a manutenção das relações de dominação que ocorrem entre as classes dominantes e as classes dominadas nos países periféricos, bem como para a relação que existe entre o centro e a

periferia; mas esta última relação está perdendo

importância no tocante à coincidência de interesses entre as classes dominantes dos países centrais e dos países periféricos.”285

Conforme também descrito anteriormente nesta obra, o caso brasileiro implica uma indisfarçável harmonização de contrários que propende para um secular autoritarismo de direita, favorecido que é, em grande medida, pela tênue estratificação social de seu povo, pela ausência quase que absoluta de “nexos morais” (essenciais a uma sociedade moderna, portanto não-primitiva), gerando-se uma cultura corporativista de índole individual e agregadora de privilégios crescentes, e pela submissão mesquinha a certos dogmas do positivismo jurídico com que diversas Corporações de Ofício, entre as quais as denominadas categorias de Estado, deixam de subordinar sua razão técnica aos superiores fins do Direito e do “pacto social”.286 A disputa corporativa expandida que se gera daí não é menos incongruente do que os são os esforços de Governo no sentido de reprimir e ofuscar a capacidade do Poder

Legislativo em gerenciar suas próprias atribuições

institucionais de formulação dos planos normativo-abstratos para o país. Sobre isso, Nogueira: “Nesse sentido, os propósitos do governo não diferem dos propósitos das corporações de ofício que, em causa própria, igualmente, se arregimentam para pressionar o Legislativo a decidir de acordo com as suas visões localizadas e até episódicas das

284 (2000: 9).

285 (Bobbio et al: 1227). 286 (Rousseau, 1986: 19, 21).

matérias que lhe são submetidas.” Acrescentando, ainda, que: “É preciso que essas categorias, notadamente a dos magistrados, produzam uma reflexão mais cuidadosa acerca do encaminhamento de suas reivindicações, justas, talvez, em uma certa perspectiva, mas realmente indefensáveis em outras tantas. Ter consciência dos próprios limites é o primeiro esforço que deles exige a nação. Porque de profissionais se espera que sejam profissionais. Sair da própria rotina de trabalho, vergastar pruridos de insatisfação ante o porvir e, sobretudo, lutar por causas que ficariam melhor a sindicatos não parecem atitudes edificantes quando tomadas por membros de carreira de Estado.”287

Agora, quanto à globalização, propriamente falando, tem sido dito que é dentro de um tal sistema sócio- institucional, discorrido linhas atrás, que se eleva a idéia de “globalização”. Nos países periféricos um tal regime econômico globalizado, integrado, portador de conexões onímodas, reflete no processo de dominação e controle como forma de agravá-lo em face das implicações internacionais de sua essência. No confronto entre pobres e ricos e estes e os prepostos daqueles não é impensável que se descrevam a eternização de benefícios econômicos àqueles a quem o capital sempre tocou. O Poder Econômico encontrou terreno fértil na denominada globalização, por modo a imperar sobre e até mesmo contra a estrutura de valores tradicionais que possa figurar na base de sustentação histórica de determinada sociedade. O consumo transforma-se como que no único apelo do socius e como esse consumo depende de uma produção cada vez mais centralizada em mãos de um patronato invisível e transnacional, o resultado é que culturas e tradições falecem por falta de sentido,

enquanto as identidades das nações igualmente se

descaracterizam. Consoante já observara Marx, citado por Mészáros ao apontar a denominada “linha de menor do capital”: “A despeito de todos os discursos “piedosos”, ele

(o capitalista) busca meios para impulsionar (os

trabalhadores) ao consumo, procura dar aos seus produtos novos encantos, inspirar novas necessidades pela propaganda constante etc. É exatamente este aspecto da relação capital e trabalho que é um importante momento civilizador, e nele reside tanto a justificativa histórica, quanto o poder contemporâneo do capital.”288 No mesmo sentido, Sung289, já

segundo uma perspectiva de abordagem de tipo filosófico- teologal.

Globalização é uma tendência universal de buscar um mundo único, sem fronteiras, no qual todos se comuniquem

287 (Nogueira, 2003a: 16/04, p. 2). 288 (1989: 52-53).

facilmente e onde a economia não dependa mais dos laços locais, haja vista ser considerada uma necessidade lógica aquela que resulta na acumulação do capital, este que não vê fronteiras nem culturas. O capital é uma espécie de pátria em si, pois o liberalismo tem uma imensa dificuldade