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3.5 Análise posicional das redes

3.5.1 Embeddedness estrutural

O embeddedness estrutural descreve a arquitetura geral de uma rede. É definido, especificamente, pela presença ou não de laços, e as fronteiras da rede como um todo pode ser conceituada com base no encerramento da rede.

Os laços fortes são associados a confiança e intercâmbio de informações entre os parceiros Uzzi (1997). Por outro lado, os laços fracos levam a novas informações, e o seu acesso acontece por meio dos laços indiretos (GRANOVETTER, 1973). Da mesma forma, o debate entre Burt (1992) e Coleman (1988) sobre buraco estrutural e capital social ilustra que os diferentes tipos de embeddedness estruturais podem ser benéficos para o desempenho da rede em análise.

Coleman (1988) argumenta que uma rede densa promove a confiança e a cooperação entre os seus membros e pode gerar capital social. O aumento da freqüência de contato entre os atores conectados também permite facilidade na observação e replicação das atividades de rotina. É mais eficiente a reação para correção de comportamentos contra normas sociais. Segundo o autor, o capital social é inseparável da estrutura de relações situadas entre os atores. Só existe por meio desses contatos, que são as próprias fontes do capital social, uma característica que o diferencia das variadas formas de capital existentes. O seu valor aumenta, à medida que é mais usado. Ele se fortalece a partir de processos de interações repetidas.

Coleman (1988) enfatiza que o capital social não se localiza em um ator específico, mas em um relacionamento entre atores, e é criado por meio de mudanças processadas nas relações entre as pessoas. Além disso, as funções do capital social representam uma espécie de fonte para os indivíduos reunidos em um grupo e, embora não esteja situado no patamar individual, pode ser empregado em finalidades coletivas ou individuais.

Em contraste, Burt (1992) argumenta que os buracos estruturais são áreas dentro da rede onde há ausência de laços ou a densidade é baixa. O autor utiliza o conceito de “pontes”, segundo o qual os atores pontes têm uma posição de intermediadores de informação.

Para Granovetter (1973), o conceito de “ponte” é uma linha, em uma rede, que provê o único caminho entre dois pontos. Para exemplo, uma ponte entre A e B proporciona um único caminho no qual informações ou influencias podem circular de algum contato de A para algum contato de B e, conseqüentemente, de qualquer um conectado indiretamente para A e A, para qualquer um conectado indiretamente a B. Desse modo, no estudo da difusão, as “pontes” assumem um papel importante e para o autor nenhum laço forte é “ponte”. Considere o laço forte A-B: se há outro laço forte a C, então, a proibição da tríade implica que

existe um laço entre C e B, de modo que o caminho A-C-B existe entre A e B, portanto, A-B não é uma ponte. Um laço forte pode ser uma ponte, portanto, apenas se nenhuma das partes tem qualquer outro vínculo forte, mas isso é improvável em uma rede social de qualquer tamanho (embora possível, em um pequeno grupo) e, particularmente em uma rede de empresas. Os laços fracos não sofrem nenhuma restrição desse tipo, embora, certamente, não sejam automaticamente pontes. O importante é que todas as pontes são laços fracos.

Desse modo, a presença de buracos estruturais causa o aparecimento de desníveis de informação dentro de uma rede. A abordagem de Burt (1992) assume a perspectiva de (ego) centrada no conceito elaborado por Granovetter em 1973, ou seja, a rede parte do indivíduo. Entretanto, para a construção da teoria dos buracos estruturais, Burt (1992) vincula essa perspectiva à noção de rotas de acesso para outras redes. Importante para entender a noção de buraco estrutural de Ronald Burt é a compreensão de que pessoas diferentes podem encontrar- se desconectadas numa estrutura social. O buraco estrutural representa, portanto, a oportunidade de agenciar o fluxo de informação e controlar os projetos e as formas que trazem em conjunto tais pessoas.

Segundo Burt (1997), dois benefícios decorrem das redes, os de informação e os de controle. São funções inversas de dois indicadores de redundância: a coesão e a equivalência estrutural. Os contatos coesivos retêm as mesmas informações, assim, fornecem benefícios redundantes. Na equivalência estrutural, por sua vez, os contatos equivalentes são aqueles que ligam cada ator às mesmas terças partes, também têm as mesmas fontes de informação resultando em benefícios redundantes. Observa Burt (1992) que, quando o contato é feito entre pessoas ou “nós” de pessoas que já se conhecem, é muito provável que as informações compartilhadas sejam as mesmas. Tais contatos são redundantes, e novas rotas de acesso às informações e recursos não são criados. Portanto, não há necessidade de manter contatos de redes com várias pessoas de uma rede, uma vez que estas funcionam como um grupo.

Os contatos “não-redundantes” ou os contatos “não-conectados” decorrem dos “buracos estruturais” entre dois grupos em uma rede. Isso não significa que as pessoas de cada grupo desconheçam umas às outras. De acordo com Burt (1997), tais grupos estão focalizados em suas atividades e pouco atentos às atividades dos demais grupos. O “buraco estrutural” indica que circulam em diferentes fluxos de informação.

No entanto, o ator que possui fortes relações com os dois grupos tem acesso a ambos os fluxos de informação, podendo intermediar os contatos. Dessa forma, o trabalho de Burt (1992; 1997) traz uma contribuição importante para a construção do uso estratégico das redes.

As redes densas com relações fortes envolvem significativos investimentos e são presentes nas joint ventures de manufatura e projetos de pesquisa e desenvolvimento, enquanto as redes difusas, com relações fracas, são mais adequadas à formação de arranjos de treinamento e marketing (ROWLEY et al., 2000).

Entretanto, Burt (1992) considera que uma firma conectada em uma rede difusa pode aproveitar sua posição intermediária (Structural Holes – buracos estruturais) para a obtenção de informações não redundantes, enquanto Coleman (1988) destaca que as redes densas promovem confiança, cooperação, reciprocidade e controle social entre seus membros.

A definição de embeddedness estrutural é dada por Simsek et al. (2003) como a proporção relativa de vínculos internos e externos, ou seja, o número de relações existentes com o número total de relações possíveis entre todos os membros da rede e o número de relações que os membros da rede têm a não-membros da rede, respectivamente. Teoricamente, uma rede totalmente fechada é aquela em que todas as organizações estão diretamente vinculadas umas às outras e não têm vínculos com organizações "fora" da rede (SIMSEK el al., 2003).

Para Rowley et al. (2000), o embeddedness estrutural – através da perspectiva das posições - vai além dos elos imediatos e enfatiza o valor informacional da posição estrutural que o parceiro ocupa na rede.

No geral, a densidade estrutural de uma rede é definida por Wasserman e Faust (1994) como a extensão pela qual possíveis conexões, dentro de uma rede, são ativadas e, freqüentemente, operacionalizadas em razão de os laços ativos aos laços potencialmente ativos ministrarem uma medida geral de conectividade da rede. Centralidade na posição da rede permite medir o envolvimento de um ator; quanto mais uma firma está envolvida em sua rede, mais ela pode comparar informação por intermédio de múltiplas fontes de informações e acessar novos conhecimentos.

Em resumo, o posicionamento estrutural de um ator varia entre a rede densa e a rede difusa. Uma propriedade de estrutura da rede é a sua densidade. O conceito de densidade é entendido pela extensão da interconexão entre os atores. Quanto maior a interconexão, maior a densidade (GNYAWALI e MADHAVAN, 2001). Na rede densa, a intensidade de interconexão é maior, e os relacionamentos tendem ser duradouros e de longo prazo. Nas redes difusas, o nível de interconexão é menor (ver Figura 6), possibilitando a entrada de novas informações, por meio dos relacionamentos de curto prazo (SACOMANO NETO, 2004).

Figura 6: Rede difusa e a rede densa Fonte: Sacomano Neto, 2004 p. 57