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1. Princípio da Correlação entre Acusação e Sentença (princípio da congruência)

Em virtude do princípio em comento, a sentença deve guardar plena consonância com o fato delituoso descrito na inicial acusatória, não podendo dele se afastar, sendo vedado ao juiz proferir decisão extra petita ou ultra petita, sob pena de reconhecimento de nulidade absoluta, em razão de afronta aos princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e do próprio sistema acusatório.

Exemplo de Julgamento extra petita (fora do pedido): reconhecimento da prática de crime, cuja descrição fática não conste da peça acusatória.

Exemplo de julgamento ultra petita (além do pedido): reconhecimento de qualificadora não imputada ao acusado. 2. Emendatio Libelli

2.1 Noções Introdutórias e Conceito

Segundo Brasileiro, a emendatio libelli significa correção da acusação.

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.

O magistrado não modifica a descrição dos fatos, ou seja, não há alteração da imputação.

O magistrado procederá com a correção da classificação típica, ainda que implique na aplicação de pena mais grave. Não há que se falar em violação ao princípio contraditório ou da ampla defesa porque o indivíduo se defende dos fatos e não do tipo penal.

Assim, de acordo com o art. 383, caput, do CPP, com redação determinada pela Lei nº 11.719/08, o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na inicial acusatória, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. O art. 418 do CPP, aplicável à pronúncia, segue a mesma linha. Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.

Obs.1: Na Emendatio Libelli o juiz se limita a corrigir uma classificação típica mal formulada, ou seja, altera -se apenas a capitulação do crime, permanecendo intocada a imputação fática.

146 Exemplo: o MP descreve fato que caracteriza furto mediante fraude, mas classifica como estelionato. Contudo, a partir dos fatos narrados na inicial, o juiz verifica que se trata de furto mediante fraude e corrige a capitulação. Obs.2: A autoridade judiciária não está vinculada à classificação formulada pela acusação. Vigora, nesse caso, o princípio iuria novit curia (o juiz ou tribunal conhece o direito), ou narra mihi factum dabo tibi ius (narra-me o fato e te darei o direito).

Obs.3: Quando a autoridade judiciária procede à correção da capitulação, não há falar em violação ao princípio da correlação entre acusação e sentença, pois, no processo penal, o acusado se defende dos fatos que lhes são imputados (e não desta ou daquela classificação delitiva), não acarretando nenhum prejuízo à ampla defesa ou ao contraditório, ainda que seja aplicada pena mais grave.

2.2 Formas de Emendatio Libelli

Há 3 formas de emendatio libelli passíveis de aplicação pela autoridade judiciária:

a. Por defeito de capitulação: o juiz corrige a classificação típica dada pelo titular da ação penal. Ex.: Promotor classifica um crime de furto no art. 312 do CP, que versa sobre o peculato.

b. Por interpretação diferente: o juiz interpreta os fatos de forma diversa da interpretação dada pelo titular da ação penal. Ex.: subtração de valores pela internet. O Promotor classifica como estelionato, mas o juiz entende que é furto qualificado pela fraude.

c. Por supressão de elementar ou circunstância: o juiz atribui nova capitulação ao fato imputado em razão de a instrução probatória revelar a ausência de elementar ou circunstância descrita na peça acusatória. Diversamente do que ocorre na mutatio libelli, a alteração fática não acrescenta algo. Pelo contrário, faz suprimir elementar ou circunstância descrita na inicial. Ex.: imputação de furto qualificado pelo emprego de chave falsa. Contudo, a utilização de chave falsa não é devidamente comprovada. Nesse caso, admite-se que o juiz condene por furto simples, já que o acusado teve plena oportunidade de se defender do furto simples. 2.3 Momento para a Emendatio Libelli

Quando o magistrado pode alterar a classificação? Ou seja, qual o momento adequado para aplicação da emendatio libelli?

Conforme Brasileiro, a corrente majoritária defende que a emendatio libelli só pode ser feita por ocasião da sentença, já que o art. 383 está inserido no TÍTULO que versa sobre a sentença.

147 Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, é a sentença o momento processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do CPP (Informativo 553, STJ).

Obs.1: Na jurisprudência, prevalece o entendimento de que o recebimento da denúncia não é o momento adequado para aplicação da emendatio (STF, HC 87.324/SP).

Exceção!

Existe importante corrente doutrinária e jurisprudencial que afirma ser possível, excepcionalmente, a correção do enquadramento típico logo no ato de recebimento da denúncia ou queixa em dois casos:

a. para beneficiar o réu; (por exemplo, permitir a liberdade provisória).

b. para permitir a correta fixação da competência ou do procedimento a ser adotado.

Assim, a despeito do entendimento jurisprudencial prevalente, parece-nos possível, em determinadas situações, a emendatio por ocasião do recebimento da inicial, devendo o magistrado fazer a correção da adequação do fato feita pela acusação de maneira incidental e provisória, sobretudo para efeito da análise de concessão de liberdade provisória e/ou da aplicação das medidas despenalizadoras da Lei nº 9.099/95. Mas isso ocorrerá de forma excepcional e somente quando não demandar dilação probatória.

INFORMATIVO 553, STJ EMENDATIO LIBELLI: Momento processual em que deve ser realizados.

Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, é a sentença o momento processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do CPP. Vale destacar, contudo, que existe importante corrente doutrinária e jurisprudencial que afirma ser possível, excepcionalmente, a correção do enquadramento típico logo no ato de recebimento da denúncia ou queixa em dois casos:

• para beneficiar o réu; ou

• para permitir a correta fixação da competência ou do procedimento a ser adotado.

Neste informativo, foi noticiado julgado do STJ no qual se decidiu que o juiz pode, mesmo antes da sentença, proceder à correta adequação típica dos fatos narrados na denúncia para viabilizar, desde logo, o reconhecimento de direitos do réu caracterizados como temas de ordem pública decorrentes da reclassificação do crime. STJ. 6ª Turma. HC 241.206-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

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Obs.: Vícios da Imputação que exigem correção de plano (doutrina de Antônio Scarance Fernandes).

a. Classificação atípica: classificação por crime banido do sistema normativo por lei posterior. O juiz deve rejeitar a inicial e, se não o fizer, o tribunal pode trancar o processo por falta de justa causa em sede de HC.

b. Classificação errônea: ocorre quando não há correspondência entre o artigo de lei indicado na denúncia (ou queixa) e o fato narrado;

c. Classificação excessiva: há abuso quando o titular da ação penal classifica fato descrito em um tipo rigoroso em vez de situá-lo em outro menos grave e adequado. Ex.: classificação como crime de tráfico de drogas e o juiz, desde logo, visualiza a desclassificação do delito para porte de drogas para consumo pessoal (Lei nº 11.343/06, art. 28). Nesse caso, o juiz deve receber a denúncia, mas pode apreciar o excesso de capitulação a fim de admitir a liberdade provisória, por meio de um juízo provisório e não de prejulgamento do mérito (princípio da correção do excesso).

Obs.: (Des) necessidade de oitiva das partes

O Código de Processo Penal, ao teor de seu art. 383 não exige a oitiva das partes.

Nessa sentido, prevalece o entendimento de que não há necessidade de oitiva das partes para se manifestarem a respeito da nova classificação jurídica do fato delituoso, pois o acusado se defende dos fatos e não da capitulação formulada.

É um entendimento que vem sofrendo críticas (doutrina minoritária), aduzindo que há necessidade de oitiva das partes.

Princípio da vedação à decisão surpresa: previsto no Novo CPC

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

149 Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.

O art. 617 do CPP deixa claro que é possível a realização da emendatio libelli em sede de 2ª instância.

Assim, temos que é plenamente possível a emendatio libelli na 2ª instância, desde que respeitado o princípio da ne reformatio in pejus (não pode agravar a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença).

Pelo princípio da ne reformatio in pejus, no recurso exclusivo da defesa, o acusado não poderá ser prejudicado. STJ: “(...) A emendatio libelli (art. 383 do CPP) também pode ser aplicada em segundo grau, desde que nos limites do art. 617 do CPP, que proíbe a reformatio in pejus (...)” (5ª Turma, HC 87.984/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 27/03/2008, DJe 22/04/2008).

INFORMATIVO 770, STF Possibilidade de emendatio libelli desde que não haja reformatio in pejus

O réu foi condenado, em 1ª instância, pela prática de furto qualificado (art. 155, § 4º, II, do CP). O MP conformou- se com a sentença, mas a defesa interpôs apelação. O Tribunal entendeu que os fatos ocorreram realmente na forma como narrada pelo MP, mas que, em seu entendimento, isso configurou peculato (art. 312, § 1º do CP) e não furto qualificado. Vale ressaltar que, a fim de não prejudicar o réu/recorrente, o TJ manteve o quantum da pena imposta na sentença. O Tribunal fez uma emendatio libelli, mas isso não era permitido no caso concreto. Em princípio, é possível que o Tribunal, no julgamento de um recurso contra a sentença, faça emendatio libelli. No entanto, se o recurso era exclusivo da defesa, o Tribunal não pode causar uma piora na situação do réu, já que isso significa reformatio in pejus. No caso concreto, a pena imposta permaneceu a mesma. No entanto, mesmo assim houve um agravamento na situação do réu. Isso porque uma condenação por crime contra a Administração Pública (peculato) é mais grave e traz maiores efeitos deletérios do que uma condenação por crime contra o patrimônio (furto). Segundo o art. 33, § 4º do CP, os condenados pela prática de crime contra a Administração Pública somente podem obter a progressão de regime se efetuarem previamente a reparação do dano causado ou a devolução do produto do ilícito praticado. A análise da ocorrência ou não de reformatio in pejus não pode ficar restrita ao quantum da pena aplicada, devendo ser analisados os outros efeitos da condenação. STF. 2ª Turma. HC 121089/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/12/2014 (Info 770).

2.5 Emendatio Libelli nas diferentes espécies de ação penal

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.

Da análise do art. 383, que trata do instituto em estudo, chegamos a conclusão de que é possível a emendatio libelli tanto nos crimes de ação penal pública quanto de ação penal privada, posto que o legislador faz referência a fato descrito “na denúncia ou queixa”, peças acusatórias da ação penal pública e privada, respectivamente.

150 Nesse sentido, ensina Brasileiro, a emendatio é cabível tanto na ação penal pública (incondicionada e condicionada) quanto na ação penal privada (exclusiva, personalíssima e subsidiária da pública).

2.6 Emendatio Libelli e cabimento de transação penal e/ou suspensão condicional do processo

É possível que, em virtude da emendatio libelli, passe a ser cabível a proposta de suspensão condicional do processo. Nesse sentido, é o espirito da Súmula 337 do STJ.

Súmula 337, STJ. É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

Em consonância com o entendimento dos Tribunais, a legislação alterada recentemente (reforma processual e 2008) também passou a regulamentar essa possibilidade, vejamos.

Art. 383. § 1º Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.

Diante do exposto, contemplamos que é perfeitamente possível a concessão a suspensão condicional do processo as hipóteses em que, por força da mudança da capitulação do fato delituoso narrado na peça acusatória, a nova classificação passa a admitir a concessão desse benefício despenalizador (Brasileiro, Súmulas Criminais Comentadas – STF e STJ).

✓ Já caiu: (Defensor Público – BA/2016 – FCC) Sobre os institutos jurídicos da mutatio libelli e emendatio libelli, é correto afirmar: c) Na hipótese do juiz reconhecer a emendatio libelli, poderá, caso a nova figura típica reflita hipótese de furto qualificado tentado, oferecer a suspensão condicional do processo, mesmo que já encerrada a instrução processual, caso o acusado preencha os requisitos previstos na Lei nº 9.099/95.

2.7 Emendatio Libelli e reconhecimento da incompetência do juízo

Nos termos do §2º, do art. 383, se por ocasião da emendatio libelli se auferir que a infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.

Desse modo, temos que se, após realizar a emendatio ou mutatio, a nova definição jurídica do crime acarretar a mudança da competência, o magistrado deverá declarar-se incompetente e encaminhar os autos ao juízo competente.

3. Mutatio Libelli

151 Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.

§ 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código.

§ 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento.

§ 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo.

§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.

§ 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. 3.1 Conceito

Segundo Renato Brasileiro, a mutatio libelli ocorre quando, durante o curso da instrução processual, surge prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, como há uma alteração da base fática da imputação, é evidente que há necessidade de aditamento da peça acusatória, com posterior oitiva da defesa e renovação da instrução processual, pelo menos para fins de realização de novo interrogatório do acusado, sob pena de se permitir que o acusado seja condenado por fato delituoso que não lhe foi imputado, o que viola, à evidência, os princípios do contraditório, da ampla defesa e da correlação entre acusação e sentença.

→Na mutatio libelli, ocorre mudança da situação fática, enquanto que na ementatio libelli a alteração era apenas da capitulação legal, vejamos algumas distinções básicas.

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Para melhor compreensão do tema, vamos ao exemplo!

O Ministério Público narrou, na denúncia, que o réu praticou furto simples (art. 155, caput, do CP). Durante a instrução, os depoimentos revelaram que o acusado utilizou-se de violência contra a pessoa, a qual é elementar do crime de roubo. Com base nessa nova elementar, que surgiu em consequência de prova trazida durante a instrução, verifica-se que é cabível uma nova definição jurídica do fato, mudando o crime de furto simples para roubo (art. 157, CP). Nessa hipótese, ocorre a emendatio libelli.

Diante desse caso, não pode o juiz de plano proceder com a condenação de plano do acusado, por violação ao princípio do contraditório, da ampla defesa e ao próprio sistema acusatório., isso porque entende-se que, no processo penal, o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados na peça acusatória, se lhe foi imputada originariamente a prática do crime de furto simples, e se não houve qualquer aditamento à peça acusatória, não pode o juiz querer condená-lo pela prática de um crime de roubo.

3.2 Distinção entre elementares e circunstâncias

a. Elementares: são os dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar uma atipicidade absoluta ou relativa.

b. Circunstâncias: são os dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica, podem aumentar ou diminuir a pena, mas não interferem no tipo penal básico. São, portanto, tudo aquilo que interfere no preceito secundário, ou seja, na pena.

Nos termos do art. 384, será caso de mutatio libelli quando, no curso da instrução processual, surge prova de alguma elementar ou circunstância que não havia sido narrada expressamente na denúncia ou queixa.

153 Segundo Renato Brasileiro, que a necessidade de aditamento para fins de inclusão de elementar ou circunstância não contida explicitamente na peça acusatória não se aplica às circunstâncias agravantes em sentido estrito (CP, arts. 61 e 62) nos processos iniciados por meio de ação penal pública. Isso porque, por força do art. 385 do CPP, nos crimes de ação pública, o juiz pode reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. A despeito da crítica de parte da doutrina quanto a esse dispositivo, tem sido admitido pelos Tribunais o reconhecimento de circunstâncias agravantes nos crimes de ação penal pública, ainda que nenhuma tenha sido arguida pela acusação.

3.3 Fato Novo X Fato Diverso

a. Fato novo: ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial constituem acontecimento criminoso inteiramente diferente daquele resultante dos elementos do núcleo essencial da imputação, ou seja, o fato novo não se agrega àquele inicialmente imputado mas o substitui por completo. Exemplo: Denúncia narra o delito de receptação, mas durante a instrução probatória fica comprovado que o crime em questão foi furto. b. Fato diverso: ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial correspondem parcialmente aos do fato da imputação, porém com o acréscimo de algum elemento que o modifique. É nessa hipótese que haverá a incidência do art. 384 do CPP.

Exemplo: denúncia por furto simples, porém, durante a instrução probatória constata-se o emprego de violência, sendo o delito adequado o de roubo. Nesse caso, o Ministério Público procederá com o aditamento.

3.4 Aditamento

Obs.1: Em regra, o aditamento deve ser feito de maneira espontânea pelo órgão ministerial.

A redação do art. 384, caput, do CPP, deixa entrever que, diante do surgimento de prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória, incumbe ao Ministério Público aditar a denúncia ou queixa.

Obs.2: Inobstante a regra seja o aditamento espontâneo, o §1, do art. 384 prevê a medida a ser adotada, na hipótese do MP não observar o referido, ou seja, não for feito de maneira espontânea, aplicar-se-á o princípio devolutivo. Nesse sentido, vejamos o dispositivo em comento.

Art. 384. §1º. Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código (Princípio da devolução).

Assim:

Regra – aditamento espontâneo; Exceção – aditamento provocado.

154 Antes da

Lei 11.719/08

Após o advento da Lei 11.719/08

Somente se da alteração resultasse pena superior. Sempre será necessário o aditamento, independente do quantum da pena.

Obs.: Mutatio Libelli e Desclassificação de tipo doloso para culposo:

Sugestão de Estudo Complementar: https://www.youtube.com/watch?v=s0v-5rofJ00 A legislação prevê que a defesa deve ser ouvida antes do magistrado analisar o aditamento.

Nesse sentido, § 2º, do art. 384, “ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento”.

Segundo Brasileiro, com a possibilidade da defesa ser ouvida antes de o juiz se pronunciar quanto à admissão do aditamento, conclui-se que, ao mesmo tempo em que o defensor deve atacar o aditamento da peça acusatória em si, buscando sua rejeição com fundamento no art. 395 do CPP, também deve apresentar manifestação semelhante a uma resposta à acusação (CPP, art. 396-A).

Esquematizando

Ministério Público →realiza o aditamento →Defesa apresenta sua manifestação.

Em sequência os autos prosseguem para o juiz, o qual realizará um juízo de admissibilidade.

Ao se referir à admissão do aditamento, o § 2º do art. 384 do CPP deixa claro que o magistrado tem 02 (duas) opções: receber ou rejeitar o aditamento.

Aditamento:

155 b. Rejeição.

Obs.1: Não cabe recurso contra a decisão do recebimento do aditamento.

Obs.2: Contra a rejeição do aditamento, a espécie de recurso adequado para sua impugnação será conforme a espécie da decisão.

a. RESE (art. 581, I): se o aditamento for rejeitado através de uma decisão interlocutória;

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