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Emissão de instrumentos financeiros híbridos e o gerenciamento da

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Instrumentos financeiros híbridos

2.1.1 Emissão de instrumentos financeiros híbridos e o gerenciamento da

híbridos de forma pretensiosa propiciaria tomada de decisões favoráveis aos ensejos do emissor, a despeito de eventuais equívocos cometidos pelos intervenientes de uma organização.

2.1.1 Emissão de instrumentos financeiros híbridos e o gerenciamento da estrutura de capital

As demonstrações contábeis permitem que partes interventoras a uma organização se posicionem favoráveis ou contrárias ao cumprimento das relações que exercem junto dessa instituição. Sunder (2014) destaca que sob a ótica da Teoria Contratual

22 “There are financial instruments that include characteristics of both debt and equity (or seen from the

creditor/shareholder: loan and shares). These financial instruments are usually known as hybrid financial instruments and include instruments such as preferred shares and profit participating loans.

Member states will not necessarily qualify these hybrid instruments in the same way. If there is a mismatch in the qualifications of such financial instruments between member states (i.e. as debt in one jurisdiction and as equity in the other), double non-taxation might occur”.

23 “this may create a scope for tax avoidance by allowing firms that invest in foreign countries to combine tax

da Firma uma empresa seria uma sucessão de contratos, explícitos e implícitos, os quais norteiam esses arrolamentos.

Nesse sentido, a contabilidade perante a conceituação de uma microteoria do controle seria estabelecida como um sistema que busca o repasse informacional às partes que se interessam pelas atividades de uma organização, cabendo para tal atentar-se aos requisitos expressos adiante.

As organizações consistem de indivíduos, cada qual obrigado a contribuir com recursos e com o direito de receber compensações em troca. A busca dos indivíduos em alcançar o seu interesse próprio pode induzir tanto ao conflito quanto à cooperação. Os sistemas de contabilidade e de controle são projetados para garantir que as forças centrífugas do conflito não superem o instinto cooperativo. Isso é alcançado através de cinco funções na implementação e na aplicação de conjuntos de contratos organizacionais: (1) mensurar as contribuições de cada um; (2) mensurar e pagar pelos direitos de cada participante; (3) relatar aos participantes a

extensão do cumprimento dos contratos; (4) distribuir informação a

potenciais participantes para manter a liquidez dos vários fatores de mercado dos quais a organização extrai os seus recursos; e (5) distribuir certas informações como conhecimento comum para ajudar a reduzir os custos de negociação dos contratos. (SUNDER, 2014, p. 7 – Grifos adicionados).

Em análise restrita ao item (4), verifica-se que o sistema de informações contábeis deve ser fonte de dados para credores, investidores e demais alocadores de recursos econômico-financeiros, cientificando-os sobre a condição patrimonial de uma organização, sobretudo quando considerada sua capacidade de honrar contratos em que vigora como contraparte. Todavia, essa atribuição pode criar ensejos para que as companhias, de maneira direta ou indireta, alterem as demonstrações contábeis com o intuito de expressar posicionamentos substancialmente favoráveis aos seus objetivos.

Essa possibilidade vem sendo estudada por parte de pesquisadores contábeis há pelo menos sete décadas, considerando-se como marco o estudo de Hepworth (1953). Ao decorrer desse lapso temporal, formou-se um importante segmento de investigação acadêmica na lide contábil denominado gerenciamento de resultados (GR).

De acordo com Schiper (1989), o GR é a prática que consiste na alteração proposital dos demonstrativos contábeis por parte das empresas, no intuito de aferirem ganhos privados. Healy e Wahlen (1999) destacam que essa tentativa de ludibriar os usuários das informações contábeis está sempre atrelada a ganhos de natureza econômica. Entretanto, é importante destacar que o gerenciamento de resultados ocorre dentro do âmbito da legalidade, ou seja, sua efetivação ocorre na realização das escolhas contábeis.

Watts e Zimmerman (1978) condicionam o exercício do gerenciamento de resultados a três perspectivas, sendo estas:

i) Remunerações variáveis, empresas concedentes de planos de incentivos cuja validação decorre da averiguação com base em números contábeis tenderiam a possuir práticas de gerenciamento de resultados mais agressivas.

ii) Nível de endividamento, companhias com maiores exposições ao endividamento gerenciariam mais seus números face à constante necessidade de recursos junto aos mercados de crédito e de capitais.

iii) Oneração política, organizações submissas a imposições normativas de ordem fiscal ou parafiscal tenderiam a possuir maiores predisposições ao gerenciamento de resultados.

Tomando-se de forma isolada a segunda categoria elencada por Watts e Zimmerman (1978), é possível encontrar uma associação linear com as controvérsias relacionadas à emissão de IFH, dado que a preocupação por parte dos gestores corporativos com o grau de endividamento organizacional seria uma justificativa plausível para emissão dos instrumentos financeiros discutidos neste estudo. Sendo assim, a redução do endividamento, ainda que de forma artificial (i.e., por meio do indevido registro de títulos de dívida no patrimônio líquido), proporcionaria vantagens à entidade emissora de tais títulos, pois evidenciaria uma melhor situação patrimonial, bem como facilitaria o atendimento de covenants pactuadas em outras transações.

Em face dessa proposição, a terminologia gerenciamento de resultados poderia ser mais bem especificada, nesta tese, como: gerenciamento da estrutura de capital por meio da informação contábil; não havendo nenhuma perda de generalidade em seu sentido, pelo contrário, passando agora a contemplar a possibilidade das organizações sentirem-se estimuladas a apresentar balanços patrimoniais propositadamente formatados sob as diretrizes de ensejos próprios, os quais acarretariam a distorção dos objetivos primários dos números contábeis.

Nesse contexto, é cabível destacar que o gerenciamento da estrutura de capital pode ser motivado pela existência de cláusulas restritivas elencadas a transações passadas, isto é, dívidas contraídas em exercícios anteriores por meio de contratos de financiamentos preteritamente celebrados. Ainda pode ser realizada pela visualização de eventos futuros, tais como captações expressivas de valores, abertura de capital, emissões de títulos de dívidas etc. Contudo, em ambos os casos, o que se estaria por buscar é a apresentação de uma posição contábil destoante da realidade econômico-financeira.

A Figura 2 apresenta fatores motivacionais ao gerenciamento da estrutura de capital considerando a perspectiva temporal de cada ensejo.

Figura 2 – Tempestividade do gerenciamento da estrutura de capital. Fonte: Autor (2015).

É importante adicionar a essa discussão o fato de que o gerenciamento da estrutura de capital seria favorecido por definições precárias de passivo e patrimônio líquido, o que acabaria por permitir a existência de dúvidas acerca de ambos os grupos quando da análise de casos reais.

Hendriksen e Van Breda (2012) estabelecem que interpretativamente os passivos poderiam ser definidos como obrigações ou compromissos de uma empresa no sentido de entregar dinheiro, bens ou serviços a outrem externo em alguma data futura, não excluindo, dessa forma, o reconhecimento de perdas em potencial como passivos, as quais devem ser registradas pelo seu valor esperado.

De acordo com o IFRS, mais especificamente o pronunciamento contábil 25 (IAS 37) – CPC 25 – (2009, item 10) “passivo é uma obrigação legal presente da entidade, derivada de eventos já ocorridos, cuja liquidação se espera que resulte em saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos”. Essa definição encontra-se alinhada com a do CPC 00 ou Estrutura Conceitual para Elaboração para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro.

Já no que se refere ao patrimônio líquido, Iudícibus (2009, p. 167) amplia o conceito que por muitos é tido como a mera diferença aritmética entre ativos e passivos, destacando que:

[...] Entretanto, o patrimônio líquido, embora em uma avaliação global possa ser mensurado por diferença entre ativo e passivo, contém elementos que caracterizam: interesses residuais em casos de liquidação; interesses em participar em distribuições de dividendos; e direitos de participação no patrimônio líquido de uma entidade em continuidade, no sentido de possível alienação de sua participação ou de aumento de tal participação. À medida que uma boa evidenciação dos elementos constitutivos do patrimônio líquido possa auxiliar no discernimento de tais interesses, estaremos cumprindo a finalidade principal das demonstrações contábeis, ou seja, a de ajudarem o investidor a avaliar a tendência do empreendimento.

A visão de Iudícibus (2009) quanto ao patrimônio líquido é mais ampla do que a abordagem trazida pela Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação do Relatório Contábil-Financeiro (2011) – CPC 00 – a qual se limita a definir esse grupo contábil como sendo “[...] o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”.

A partir das definições atuais de passivo e patrimônio líquido do IASB e do CPC, é possível verificar que uma das principais distinções entre ambos os grupos, senão a principal, situa-se na característica da obrigatoriedade de liquidação dos passivos, a qual é inexistente, ou pelo menos deveria ser em itens do patrimônio líquido.

Essa categorização traz consequências imediatas aos híbridos, pois consideradas as diretrizes advindas da teoria da contabilidade financeira não se espera que ingressem junto às linhas do PL nenhum instrumento financeiro que possua, explícita ou implicitamente, obrigatoriedades de quitação futura seja por meio do uso de fluxos de caixa ou por meio outros recursos com potencial de gerarem benefícios econômicos.

Hopkins (1996) investigou se a classificação IFH no balanço patrimonial afeta o julgamento do preço das ações por parte de analistas que avaliam papéis listados em bolsas norte-americanas. Em linhas gerais, o pesquisador estabelece que companhias que adicionalmente oferecem emissões subsequentes de ações comuns experimentam uma queda no preço de seus valores mobiliários. Em contraste, empresas que se financiam estritamente com capital de terceiros não sofrem o mesmo efeito. Sob o prisma de uma abordagem comportamental, a contabilização dos híbridos como passivo, patrimônio líquido ou mezanino (i.e., entre o passivo e o patrimônio líquido), tenderia a trazer efeitos distintos aos preços das ações, uma vez que os usuários das informações contábeis se valeriam de experiências passadas (e.g., avaliação entre passivo e patrimônio líquido) para aferirem o preço alvo dos títulos patrimoniais.

Pelo intermédio de uma abordagem experimental, os resultados alcançados por Hopkins (1996) indicam que a contabilização dos referidos títulos, entre as categorias mencionadas, afeta o julgamento dos preços das ações por parte dos analistas financeiros. Analistas que receberam balanços patrimoniais em que os títulos se encontravam registrados nos passivos determinaram preços de ações significantemente superiores aos que receberam demonstrações nas quais os títulos encontravam-se junto às rubricas de PL, ratificando a expectativa de que a análise desses profissionais retoma experiências e conhecimentos prévios de seu cotidiano. Em destaque Kahneman (2012) estabelece que esse comportamento é advindo do

conceito de ancoragem, sob o qual os indivíduos se apegam a determinadas referências face ao ineditismo da tomada de decisão em situações novas.

2.2 Tratamento contábil dos derivativos embutidos, compostos e o não