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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.2 EMOÇÕES NA ATIVIDADE FÍSICA

2.2.2 Emoções positivas e negativas

Existem vários estudos que comprovam que as pessoas que têm emoções positivas vivem mais tempo que as pessoas que têm emoções negativas. Algumas das explicações para este fato surgem do campo da psicologia positiva (Fredrickson, 2003). Este ramo da psicologia surgiu há 22 anos através de Martin E. P. Seligman, ex-presidente da American Psychological Association (APA). Como muitos psicólogos, Seligman dedicou muito da sua pesquisa ao estudo da doença mental. Criou a expressão desamparo aprendido para descrever como a falta de esperança e outros pensamentos negativos podem numa espiral provocar uma depressão clínica.

Embora a psicologia se tenha tornado eficiente em resgatar as pessoas de várias doenças mentais, não tinha praticamente qualquer ferramenta científica para ajudar as pessoas a atingir seu eu mais elevado, para prosperar e florescer. Seligman, destinado a corrigir este desequilíbrio apelidou a psicologia positiva com a ajuda do psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que originou o conceito de fluxo para descrever experiências de pico-motivacional-Seligman, cujo trabalho pode ser descrito como investigar o que faz a vida valer a pena (Fredrickson, 2001).

O estudo das emoções foi visto por muitos como uma atividade frívola. Mas, o movimento de psicologia positiva mudou esta visão. Muitos psicólogos começaram a explorar grande parte do terreno desconhecido das forças humanas e das fontes de felicidade. O estudo de emoções positivas é uma área de investigação rara. Fredrickson (2001) dedicou mais de doze anos ao estudo das emoções positivas – alegria, contentamento, gratidão e amor. As novas descobertas geradas pela psicologia positiva mantêm a promessa da melhoria do funcionamento individual e coletivo, bem-estar psicológico e saúde física.

Fredrickson (2003) compilou e enumerou uma série de razões que, na sua opinião, levaram à escassa atenção dada às emoções positivas. Em primeiro

lugar, acredita que existe uma tendência natural para estudar algo que aflige o bem-estar da humanidade e as emoções negativas são responsáveis por muito do que inquieta este mundo. Além disso, as emoções positivas podem ser mais difíceis de estudar, pois são efetivamente em menor número e relativamente diferentes (diversão, alegria e serenidade), e não são facilmente distinguidas umas das outras. O medo, a raiva e a tristeza, emoções negativas, por outro lado, são experiências muito diferentes umas das outras. Esta falta de diferenciação é evidente quando pensamos sobre as emoções. Segundo a investigadora, as taxonomias científicas das emoções básicas geralmente identificam uma emoção positiva para cada três ou quatro emoções negativas e este desequilíbrio também se reflete no número relativo de palavras sobre o número de emoções na língua inglesa (Clore, Ortony, & Foss, 1987; Frijda, Kuipers, & ter Schure, 1989). Por outro lado, o fato de várias componentes físicas da expressão emocional revelarem uma falta de diferenciação para as emoções positivas também dificulta o seu estudo (Liu, Karasawa, & Weiner, 1992). Com efeito, enquanto as emoções negativas possuem configurações faciais específicas que as imbuem com o valor de um sinal universalmente reconhecido – faces irritadas, tristes ou amedrontadas podem prontamente ser identificadas –, as expressões faciais das emoções positivas não possuem um valor de sinal único.

De forma consistente com este último argumento, Lazarus (2000b) defende que a razão pela qual as emoções positivas têm sido praticamente ignoradas ou desenfatizadas é um estímulo relacionado com o fato das emoções negativas terem um impacto muito mais poderoso e óbvio na adaptação e no bem-estar psicológico do que as emoções positivas. No entanto, adverte que apesar das emoções positivas serem geralmente mais fracas em intensidade e impacto que as emoções negativas, também possuem importantes funções adaptativas na luta para sobreviver e prosperar, por isso, podem também ser vistas como uma barreira para as consequências destrutivas das emoções negativas (Fredrickson, 2003). As emoções positivas podem até ser consideradas mais importantes na totalidade da economia psicológica das pessoas e, porque existem como fenómenos psicológicos, devíamos estar apenas interessados nas suas homólogas negativas (Lazarus, 1991a,b).

Fredrickson (1998) defende que as emoções positivas possuem uma função multifacetada e tripartida no processo de confronto. Enquanto inspiradoras, fazem parte de um período habitualmente associado a comportamentos ligados à realização e consecução de tarefas. Como animadoras, a sua importância advém do fato de serem parte integrante da excitação subjacente aos desafios e ao otimismo subjacente à esperança; o conceito de fluxo também é importante quando se pensa nas emoções como animadoras – o fluxo emocional é parte do prazer sentido quando se está profundamente imerso numa atividade específica. Por último, como restauradoras, podem ser entendidas como elementos facilitadores do processo de recuperação de prejuízos ou perdas.

As emoções positivas e/ou os processos que as geram têm um efeito favorável no rendimento e no funcionamento social. Com efeito, enquanto a perceção de ameaça bloqueia o funcionamento dos indivíduos, no interesse da preservação da autoestima, o desafio leva à efusão, utilização e circulação livre de recursos intelectuais e também a um estado mental entusiástico e alegre. Quando as pessoas são tratadas calorosamente ou têm experiências positivas sentem-se seguras, autoconfiantes e efusivas (i.e., desafiadas), em vez de ameaçadas ou com necessidade de autoproteção. Logo, avaliam a relação com o ambiente como benéfica, os pensamentos e ideias surgem mais facilmente e veem os outros mais favoravelmente, o que gera também melhoria do rendimento (Lazarus, 1991a), podendo assim constituir um aspeto preponderante no rendimento desportivo.

Além disso, as emoções positivas trazem mensagens positivas à mente, excluindo memórias desagradáveis e isso também melhora o desempenho das pessoas, fazendo com que resolvam os problemas de forma mais eficaz, talvez adicionando criatividade ou facilitando o processamento de informação (Fredrickson, 2001; Isen, 1987). Isen (1987) aponta três categorias de evidências que apoiam os efeitos benéficos das emoções positivas na resolução de problemas: (a) sentir-se bem afeta o que os indivíduos recordam e, logo, a sua organização em pensamentos (parecemos ser mais capazes de recuperar ideias mais positivas da memória por estas serem em maior número e variedade); (b)

sentir-se feliz leva a uma tendência para os indivíduos manterem essa felicidade no que escolhem fazer (tendemos a selecionar tarefas que mantêm o nosso sentimento positivo e afastamos as que sugerem negativismos ou aborrecimento); (c) pessoas felizes normalmente tomam as mesmas decisões e escolhas quando confrontadas com problemas complexos, mas fazem-no em menos tempo e com mais qualidade no processo.

Fredrickson (2003) propôs que as emoções positivas ampliam momentaneamente a mente individual e ajudam a construir resultados pessoais duradouros. A experimentação de emoções positivas aumenta a probabilidade de nos sentirmos bem no futuro. As emoções positivas não transformam somente os indivíduos, transformam também grupos de pessoas, dentro de comunidades e organizações. A transformação de uma comunidade pode acontecer porque cada emoção positiva de cada pessoa pode advir dos outros. Por último, refira-se que evidências de estudos longitudinais mostram que emoções positivas como a felicidade/alegria têm importantes efeitos ao nível da longevidade (Danner, Snowdon, & Friesen, 2001).

Segundo Fiedler (1988) as emoções negativas podem levar a um estreitamento da atenção e a uma falha em procurar novas alternativas. Por outro lado, Mellers, Schwartz e Cooke (1998) afirmam que as emoções negativas levam os indivíduos a fazerem um uso da informação mais rápido e menos discriminado, podendo aumentar a precisão das escolhas em tarefas mais fáceis, mas diminui-la em tarefas mais complicadas. Então, uma emoção negativa não é sempre desagradável, nem tem que ser sempre necessariamente evitada. Nesta linha de pensamento, Oatley e Jenkins (1996 ) defendem que uma emoção negativa pode ter efeitos positivos, pois ao assinalar que um importante objetivo não pode ser atingido ou que um plano importante falhou, implica que uma grande estrutura de hábito, competências ou conhecimentos está obsoleta e pode necessitar de ser inteiramente reconstruída para se ajustar às novas circunstâncias. Podem ocorrer duas coisas: (a) são feitas restrições no conjunto de planos e opções a serem considerados e planos antigos e alternativos são postos em ação; ou (b) a

emoção pode incluir um debate interno, com tentativas para compreender o problema ou criar novos planos para lidar com a situação.

Paralelamente, Liu, Karasawa e Weiner (1992) defendem que enquanto as emoções positivas estão associadas a uma causalidade múltipla (ex.: a felicidade está relacionada com o fato da pessoa não estar doente e ter sucesso na escola, no emprego ou desporto), as emoções negativas estão relacionadas com uma causalidade suficiente (ex.: a infelicidade de uma pessoa pode dever-se inteiramente a uma doença, insucesso escolar ou desportivo). Os autores afirmam ainda que a ligação entre emoções negativas e avaliações pessoais negativas é mais provável e forte do que uma associação entre emoções positivas e inferência disposicional positiva (que mais provavelmente gerarão inferências relacionadas com a situação e com o estado de humor no momento) e que essas relações têm implicações nos relacionamentos interpessoais: quando uma pessoa exibe uma emoção negativa e existe informação sobre a presença de um evento negativo, um observador tende a inferir algo sobre a disposição dessa pessoa, o que pode resultar (e muitas vezes resulta) numa avaliação negativa e culpabilização do outro. Estas inferências podem minar o impacto de informações relativas aos acontecimentos negativos que acontecem à pessoa e diminuir atitudes simpáticas e intenções de apoio de observadores. Neste contexto, podemos considerar que a expressão de emoções negativas é essencialmente um estímulo social aversivo para os observadores e, provavelmente, coloca um problema interpessoal que deve ser resolvido através de interação. Ou seja, as emoções negativas, mais do que as positivas, podem requerer que os observadores se envolvam em respostas especificamente apropriadas.