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Parte II – Conteúdos Digitais

4. Preservação Digital e a WEB

4.3 Noção de Preservação Digital

4.3.3 Emulação

A emulação é uma técnica informática que se revela como uma ferramenta adequada a garantir a preservação digital, pelo que importa analisar mais detalhadamente as características desta técnica.

Com efeito, a emulação consiste “numa recriação no hardware atual do ambiente técnico necessário para ver e utilizar objetos digitais mais antigos”99. Ora, esta recriação pode

abranger não só recriações de hardwares originais, mas também de softwares. Sendo esta uma técnica que permite preservar a funcionalidade e o aspeto dos conteúdos digitais, algo que não será possível com o recurso à migração. Por outro lado, é também um meio mais barato que a migração, uma vez que será sempre mais fácil criar um só emulador que permite ler e utilizar vários ficheiros digitais em simultâneo, do que migrar cada um destes ficheiros para um arquivo digital. Logo, é um método que tem um melhor custo de eficiência.

Efetivamente, existem dois tipos de emuladores, podendo estar em causa emuladores de sistemas operativos ou emuladores de hardware. Sendo que os emuladores de sistemas operativos funcionam com base na reprodução completa de um sistema operativo, com o intuito de permitir a execução de diversas aplicações num só emulador. Por outro lado, os emuladores de hardware têm como objetivo recriar o comportamento de um dispositivo de hardware, e consequentemente tornar possível a execução de vários sistemas operativos, e respetivas aplicações, para que possam funcionar no contexto de um só emulador100.

Assim sendo, um dos maiores defensores desta teoria da emulação, Jeff Rothenberg, definiu que a solução ideal de emulação como a abordagem que deve fornecer uma única solução extensível e a longo prazo, que possa ser projetada definitivamente e ser aplicável de forma automática, uniforme e em sincronia com todos os tipos de documentos e ficheiros media, com intervenção humana mínima”101. Efetivamente esta solução seria ideal para a

preservação digital de conteúdos digitais que fossem alvos de transmissão em vida, ou mesmo que se incluíssem numa herança digital. Pois garantiria a sua durabilidade, e em simultâneo, a sua acessibilidade, ao longo de um vasto período de tempo, sem necessidade de intervenção humana, e com uma eficiência que asseguraria a sua transmissibilidade ao longo das gerações. No fundo, esta ideia representa um projeto de emulador que funcionaria para todos os casos em

99 Cf. D. HOLDSWORTH, e P. WHEATLEY, Emulation, Preservation and Abstraction, 2001. 100 Cf. Miguel FERREIRA ob. cit., p. 34.

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que fosse necessário. Não obstante, não deixa de ser apenas uma ideia, sem um custo de eficiência que seja previsível. Até mesmo porque todos os emuladores que vêm sendo criados limitam-se a uma emulação específica, por exemplo, recriam apenas um determinado software, sendo que a ideia de um emulador universal de Rothenberg parece ainda um conceito muito distante.

Por sua vez, Hendley defende o uso da emulação somente em contextos em que a preservação do ambiente tecnológico original é valorizada. Definindo a comunidade de interesse como o elemento que efetua essa valorização. Sustenta, ainda, o seu uso em todos os casos em que os conteúdos digitais não possam ser convertidos para os formatos atuais. Isto é, defende a emulação como alternativa à migração102. Outros autores, como Thibodeau, alertam para os

riscos de confiar neste método para preservar os objetos digitais, uma vez que os softwares originais podem ser portadores de vírus, ou bugs que resultem numa substancial perda de informação, ou em danos a esses conteúdos103.

De facto, o custo de eficiência de uma estratégia de emulação depende em grande parte da longevidade que esse emulador poderá ter, e da facilidade de atualização do mesmo. Não obstante, em comparação com outros métodos de conservação, a emulação tem a vantagem de preservar não só o conteúdo, a estrutura e a processabilidade de um conteúdo digital, mas também o seu aspeto e características interativas que possa possuir104. Logo, este método de

preservação será mais vantajoso, quanto mais complexo for o conteúdo digital que se pretende proteger.

Ainda neste âmbito, é essencial falar do Universal Virtual Computer, ou seja, do Computador Virtual Universal. Este conceito refere-se a uma forma de emulação que requerer o desenvolvimento de um programa de computador que seja independente de qualquer software ou hardware, e que seja capaz de simular a arquitetura básica de cada computador desde do início. Incluindo portanto a memória, a sequência de registo e as regras sobre como se move informação entre eles105. Portanto, à imagem do ideal projetado por Rothenberg.

Com efeito, este emulador universal permitiria aos utilizadores criar e gravar ficheiros digitais através da utilização de qualquer aplicação de software, mas todos os ficheiros sofreriam um backup de modo a poderem ser lidos no computador universal. Pelo que, para ler um

102 Cf. Tony HENDLEY, Comparison of Methods and Costs of Digital Preservation, in British Library Research and Innovation Center, West

Yorkshire, 1998.

103 Cf. Miguel FERREIRA, ob. cit., p. 36. 104 Cf. Raivo RUUSALEPP, ob. cit., p. 23.

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ficheiro no futuro seria apenas necessário uma simples camada de emulação, que permitiria a transição entre o computador universal e o computador atual106. Evidentemente, esta solução

seria a ideal para a transmissão de conteúdos digitais, uma vez que permitiria ler ficheiros de qualquer altura, passada ou presente, utilizando o Computador Digital Universal, e assim garantindo a acessibilidade deste conteúdos no futuro. No entanto, esta abordagem requer investimentos muito elevados, e sendo os dados originais abstratos, ou transformados para serem codificados, isto poderia afetar as suas características essenciais, como a autenticidade por exemplo.

Em suma, a emulação como técnica de preservação digital está direcionada a preservar e simular as funções e propriedades técnicas dos ambientes dos conteúdos digitais, permitindo deste modo a preservação das suas características originais, e garantindo que no futuro seja possível aceder a estes conteúdos de uma forma fidedigna. No entanto, é necessário tomar em consideração que a criação de emuladores não é uma tarefa de fácil concretização, sendo necessários profissionais especializados, o que constitui à partida um obstáculo à utilização deste meio. Além de que, o próprio emulador pode ficar desatualizado com a passagem do tempo.