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CAPÍTULO 2 FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO: ORIGEM E

2.3 Alterações nas normas que regem as operações com recursos dos Fundos Constitucionais

2.3.2 Encargos financeiros: custos e taxas dos empréstimos para o tomador

Inicialmente, com a lei regulamentadora dos Fundos Constitucionais de Financiamento, Lei n0 7.827/1989, os encargos pagos pelo tomador do empréstimo não poderiam exceder a taxa de 8% ao ano (juros e del credere), mais Taxa Referencial (TR). Nesta estrutura, além da taxa de administração, que era de 2% sobre o patrimônio líquido do Fundo corrigido pela TR, o banco recebia também o del credere (ver Quadro 2.1 na seção anterior). O pagamento de juros se dirigia à remuneração do Fundo.

Nesse momento, como não foi definido o percentual relativo ao del credere, mas estipulado somente que o somatório de juros e del credere não poderia ser superior à taxa 8% ao ano, havia a possiblidade de se considerar a maior parte desse pagamento como del credere e, assim, garantir maior remuneração para o banco gestor. Teixeira (1999), citado por Barbosa (2005), ao analisar os valores quanto ao recebimento dos bancos constatou que a maioria dos 8% foi lançado como del credere, remunerando as instituições administradoras dos Fundos.

O Quadro 2.1 mostra que a Lei n° 9.126, de 10 de novembro de 1995, traz alterações importantes tanto no que se refere à taxa de administração, como já foi dito na seção anterior, que passa de 2% para 3% ao ano sobre o valor do patrimônio líquido dos Fundos, quanto na taxa de juros para correção monetária. É estabelecido que, para as operações contratadas a partir de 10 de julho de 1995, os financiamentos concedidos terão como custo básico a Taxa

38 A Medida Provisória n0 2.155, de 22 de junho de 2001, em seu artigo 13, atribuiu aos Fundos, os riscos de todas as operações realizadas até 30 de novembro de 1998, isentando os bancos administradores. Em seu artigo 14, essa medida provisória possibilitou que os recursos dos Fundos fossem repassados aos bancos para que estes realizassem empréstimos em nome próprio, com seu risco exclusivo, embora se pautando pelas regras e orientações da legislação. Neste caso em que as operações de financiamento são de risco integral do banco gestor o del credere a ser pago é de 6% ao ano, não havendo pagamento da taxa de administração ao banco. A partir de 01 de dezembro de 1998, as operações de empréstimos cujos riscos são compartilhados entre o banco administrador e os Fundos passaram a ter o del credere estabelecido em 3% ao ano.

de Juros de Longo Prazo (TJLP), somada ao del credere de 6% ao ano, no máximo. Os mutuários dos empréstimos, portanto, continuavam pagando encargos financeiros que tinham dois componentes: uma taxa fixa (a TJLP) e outra taxa variável (6% de juros ao ano).

Essa mudança – da utilização da TR, até 1995, para a TJLP como taxa de juros para correção da remuneração – proporcionava maior ganho para os bancos gestores, pois a TJLP passa a ser maior que a TR após o Plano Real (1994), quando a inflação começa a decrescer. Por essa lei, os saldos dos recursos não emprestados passam a ser corrigidos pela TJLP. Além disso, a remuneração dos bancos estava assegurada também no percentual de 6% ao ano cobrado a título de del credere (BARBOSA, 2005).

Cabe ainda destacar que, nos financiamentos para micro e pequenos produtores rurais, suas associações e cooperativas, ficou instituído que os custos seriam menores – com uma redução adicional de encargos financeiros de até 5%, como compensação dos gastos decorrentes da assistência técnica - do que os previstos pelo crédito rural nacional.

A Medida Provisória nº 1.727, de 6 de novembro de 1998, mantém a taxa de administração de 3% ao ano sobre o patrimônio líquido do Fundo, mas reduz o del credere dos bancos de 6% para 3% ao ano, como pode ser observado no Quadro 2.1. Institui-se que, a partir de 1º de dezembro de 1998, o custo básico dos financiamentos com recursos dos três Fundos passa a corresponder à variação do Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, acrescida da taxa efetiva de juros de 8% ao ano. A remuneração dos Fundos passa a ser constituída dos juros pagos pelos tomadores, somados à variação do IGP-DI.

Ainda de acordo com essa medida provisória, os bancos administradores dos recursos dos Fundos podem propor aos Conselhos Deliberativos que sejam aplicados descontos de até 60% sobre a taxa efetiva de juros para as atividades prioritárias e de relevante interesse para o desenvolvimento econômico e social das regiões beneficiárias, de acordo com a natureza, a localização e a competitividade do empreendimento, a finalidade dos financiamentos e o porte do beneficiário. Segundo Barbosa (2005), os descontos no percentual de, no máximo, 60% sobre os juros acabavam por garantir o del credere dos bancos. Se, por exemplo, fosse aplicado o maior desconto (60% sobre os 8% de juros), isto implicaria uma taxa de juros de 3,2%, que asseguraria os 3% de del credere. Ao Fundo restaria perder parte da remuneração.

As alterações trazidas pela Medida Provisória nº 1.727/1998 foram confirmadas na Medida Provisória n° 1.846-10, de 29 de julho de 1999, acrescentando esta última uma mudança no que se refere à taxa de administração ao estipular que esta ficaria limitada a 20%

do valor das transferências realizadas pelo Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores.

O custo básico dos financiamentos, fundamentado na variação do IGP-DI e no acréscimo da taxa de juros de 8% ao ano, passou a encarecer os empréstimos sobremaneira a partir de 1999, quando o Brasil sofreu uma maxidesvalorização cambial. Com uma variação para cima do IGP-DI, que chegou à ordem de 19%, o mutuário tinha que pagar seus financiamentos corrigidos pelo índice mais 8% ao ano, tornando os encargos dos Fundos Constitucionais superiores à inflação em alguns anos. Acenava-se para a necessidade de se rever tais encargos financeiros dos empréstimos (BRASIL, 2008).

A partir da Medida Provisória n° 2.035, de 23 de novembro de 2000, foi possível adotar a cobrança de taxas de juros fixas que variavam de 9% a 16% para todas as operações conforme o porte dos tomadores dos empréstimos. Com este ajuste foi eliminado dos encargos financeiros o indexador variável que compunha o cálculo dos custos dos empréstimos até então – BTNF (Bônus do Tesouro Nacional Fiscal), TRD (Taxa Referencial Diária), TR, TJLP e IGP-DI -, acrescido de um encargo adicional, como demonstra a Tabela 2.1.

Tabela 2. 1 – Fundos Constitucionais de Financiamento: evolução histórica dos encargos

financeiros - 1990 a 1999

Fonte: Ministério da Integração Nacional - Sistema de Informações Gerenciais. Apud BRASIL (2008).

Com a Lei n° 10.177, de 12 de janeiro de 2001, foram instituídas importantes alterações nas normas de operação dos Fundos. Em reafirmação à Medida Provisória n° 2.035/2000, no que tange à cobrança de taxas de juros fixas para os encargos financeiros, procurou-se garantir maior possibilidade de acesso de produtores rurais e empresários, em especial os de menor porte, aos empréstimos concedidos.

As taxas de juros foram reduzidas e passaram a variar de 6% a 10,75% ao ano para as operações rurais, e de 8,75% a 14% ao ano para as operações industriais, agroindustriais, de infraestrutura, de turismo, comerciais e de serviços. Conforme artigo 10, parágrafo 30, essas

Ano Encargos básicos Encargos adicionais Mecanismos compensatórios Legislação

1990 BTNF 8% Rebate sobre encargos totais Lei n° 7.827, de 27 de setembro de 1989

1991 BTNF/TRD 8% Rebate sobre encargos totais

1992 TRD 8% Rebate sobre encargos totais

1993 TRD/TR 8% Rebate sobre encargos totais

1994 TR 8% Rebate sobre encargos totais

1995 TR 8% Rebate sobre encargos totais

TJLP Del credere 6% Rebate sobre encargos totais Lei n° 9.126, de 10 de novembro de 1995

1996 TJLP Del credere 6% Rebate sobre encargos totais

1997 TJLP Del credere 6% Rebate sobre encargos totais

1998 TJLP Del credere 6% Rebate sobre encargos totais

IGP-DI 8% Rebate sobre juros MP nº 1.727, de 6 de novembro de 1998

taxas serão revistas anualmente e sempre que a TJLP apresentar variação acumulada superior a 30%, para mais ou para menos. É importante lembrar que o del credere do banco administrador, limitado a 3% ao ano, soma-se aos juros devidos pelo tomador do empréstimo, e será reduzido em percentual idêntico ao percentual garantido por fundos de aval.

Além dessa alteração na taxa de juros, foram concedidos, e continuam em vigor, bônus de adimplência, que incidem sobre os encargos financeiros, proporcionando a redução das taxas em 25% para as operações realizadas no semiárido nordestino e de 15% para as realizadas nas demais regiões, desde que a parcela da dívida seja paga até a data do vencimento.

A partir da Medida Provisória nº 2.196-3, de 24 de agosto de 2001, ficou instituído que os recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento podem ser repassados para os próprios bancos administradores para que estes realizem operações de crédito em nome próprio, desde que assumam risco exclusivo. Em função disto foi estabelecido, dentre outras deliberações, que o del credere das instituições financeiras fica limitado a 6% ao ano, permanecendo contido nos encargos financeiros e reduzido em percentual idêntico ao percentual do fundo de aval. Além do ganho proveniente do aumento do del credere em caso de operações realizadas com risco exclusivo dos bancos, essas instituições financeiras gozam de isenção tributária neste tipo de operação. Ademais, os saldos diários das disponibilidades a que se referem os recursos transferidos serão remunerados pelas instituições financeiras com base na taxa extra mercado.

É importante mencionar a Lei n° 11.011, de 20 de dezembro de 2004, como importante tentativa de inclusão de alguns segmentos dos agricultores familiares no acesso a empréstimos com recursos dos Fundos Constitucionais, em especial, do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).

Por meio dessa lei ficou autorizado o pagamento de subvenção econômica ao Banco do Brasil S.A., sob a modalidade de equalização de taxa de juros em operações de crédito para investimentos na área de abrangência do FCO, lastreadas com recursos captados do FAT. As operações de crédito a serem contempladas com tal subvenção teriam as seguintes taxas de juros, segundo o porte de cada beneficiário: taxa efetiva de juros de 8,75% ao ano para o médio produtor rural; 10,75% ao ano, para o grande produtor rural; 12% ao ano, para a média empresa e 14% ao ano, para a grande empresa. Nessas operações, o risco operacional seria integral do agente financeiro, que receberia o del credere de até 4,6% ao ano, no qual estavam

incluídos os custos administrativos e tributários, que incidirão sobre os saldos devedores dos financiamentos.

Com esse dispositivo legal, que alterou o artigo 50 da Lei n° 10.177/2001, a partir de 10 de julho de 2004, os beneficiários dos grupos “B” “A/C”, Pronaf semi-árido e Pronaf- Florestas, integrantes da regulamentação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)39, têm acesso aos financiamentos concedidos com recursos dos Fundos Constitucionais tendo o risco das operações assumido integralmente pelo respectivo Fundo. Nesta formatação, os agentes financeiros receberiam uma remuneração definida pelo Conselho Monetário Nacional, com vistas a cobrir custos decorrentes da operacionalização do Programa.

A edição do Decreto n° 5.951, de 31 de outubro de 2006, alterou os encargos financeiros dos financiamentos concedidos com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento a partir de 01 de janeiro de 2007. Tanto nas operações rurais, como nas operações industriais, agroindustriais e de turismo, bem como nas operações comerciais e de serviços, as taxas efetivas de juros foram reduzidas. Nas primeiras, as taxas passaram a ser de 5% a 9% ao ano, conforme o porte do tomador, em contraposição à faixa que vigorava até então (6% a 10,75% ao ano), dada pela Lei n° 10.177/2001. Nas demais operações, as taxas efetivas de juros estabelecidas pelo decreto foram de 7,25% a 11,5% ao ano, sensivelmente inferior às taxas anteriores (8,75% a 14% ao ano). A Tabela 2.2 mostra nova redução das taxas de juros em 2008, com o Decreto n° 6.367, de 03 de janeiro. Passaram a vigorar as taxas de 5% a 8,5% ao ano para as operações rurais e de 6,75% a 10% ao ano para as demais operações.

Ainda em 2008, a Lei nº 11.775, de 17 de setembro, estabeleceu encargos de 4% ao ano para as operações florestais destinadas à regularização e recuperação de áreas de reserva legal e de preservação permanente degradadas.

39 Compõem o Grupo B os agricultores familiares que obtenham renda bruta anual familiar de até R$ 10.000,00, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais. No mínimo, 50% dessa renda familiar deve ser proveniente da exploração de atividades desenvolvidas no estabelecimento rural.

O Grupo A/C é formado por agricultores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF).

Os Grupo Pronaf semi-árido e Pronaf-Florestas são compostos pelos agricultores familiares enquadrados nos Grupos A, A/C, B e Pronaf-Comum. Fazem parte deste último os agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 10.000,00 e até R$ 160.000,00.

Tabela 2. 2 – Fundos Constitucionais de Financiamento: evolução histórica dos encargos financeiros - 2000 a 2008

* variam de acordo com o porte e atividade do tomador de cré

Fonte: Ministério da Integração Nacional - Sistema de Informações Gerenciais. Apud BRASIL (2008).

Em período mais recente, dentre os dispositivos legais que se relacionam diretamente com os Fundos Constitucionais de Financiamento está a Medida Provisória nº 581, de 20 de setembro de 2012, convertida na Lei nº 12.793, de 02 de abril de 2013. Para além de outras deliberações, institui que os encargos financeiros e o bônus de adimplência passarão a ser definidos pelo Conselho Monetário Nacional, por meio de proposta do Ministério da Integração Nacional, consideradas as orientações da Política Nacional de Desenvolvimento Regional. Os referidos encargos e bônus poderão ser diferenciados ou favorecidos conforme a finalidade do crédito, o porte do beneficiário, o setor de atividade e a localização do empreendimento. Podem ser favorecidos os encargos financeiros direcionados para as operações florestais destinadas ao financiamento de projetos para conservação e proteção do meio ambiente, recuperação de áreas degradadas ou alteradas e desenvolvimento de atividades sustentáveis; operações de financiamento de projetos de ciência, tecnologia e inovação.

Essa medida não altera o del credere do banco administrador, que permanece limitado a 3% ao ano, e está contido nos encargos financeiros cobrados pelos Fundos Constitucionais, podendo ser reduzido em percentual idêntico ao percentual garantido por fundos de aval.

A Lei nº 12.716, de 21 de setembro de 2012, dentre outras deliberações, estabelece ajustes no marco legal dos Fundos Constitucionais de Financiamento. Acrescenta, inicialmente, o artigo 8º-A à Lei nº 10.177/2001, por meio do qual o Poder Executivo fica autorizado a instituir linhas de crédito especiais com recursos dos Fundos Constitucionais para atender os setores produtivos rural, industrial, comercial e de serviços dos municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecidos pelo Poder Executivo federal. Tais linhas de crédito devem ser temporárias e com prazo determinado conforme o tipo e a intensidade do evento que ocasionou a necessidade dos recursos, podendo ser

Ano Encargos Integrais (*) Mecanismos Compensatórios Legislação

2000 9,0 a 16,0% ao ano MP nº 2.035-27, de 23 de novembro de 2000 2001 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2001 2002 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2002 2003 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2003 2004 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2004 2005 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2005 2006 6,0 a 14,0% ao ano Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2006

2007 5,0 a 11,5% ao ano Decreto 5.951, de 31 de outubro de 2006

2008 5,0 a 10,0% ao ano Decreto 6.367, de 30 de janeiro de 2008

A partir do ano 2001: bônus de adimplência de 25% no Semiárido Nordestino e de 15% nas demais regiões sobre as taxas de juros, desde que a parcela da dívida seja paga até o seu vencimento.

diferenciadas de acordo com as modalidades de crédito e os setores produtivos envolvidos. Quanto aos encargos financeiros, prazos, limites, finalidades e demais condições dos financiamentos fica a cargo do Conselho Monetário Nacional, a partir de proposta do Ministério da Integração Nacional, as definições que balizarão as operações. No caso dos recursos que integram o FNE, estes devem ser destinados, prioritariamente, às linhas de crédito especiais com vistas a conferir maior abrangência à situação emergencial provocada pela longa estiagem.

Cabe ainda destacar que a Lei nº 12.716/2012, em seu capítulo dois, criou o Programa para a Recuperação da Capacidade de Investimento no Setor Rural (PROCIR), regulamentado pela Resolução nº 4.147, de 25 de outubro de 2012, do Conselho Monetário Nacional (CMN). Esse programa constitui-se em uma linha de crédito específica para o setor rural, em que serão utilizados os recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Norte (FNO) para liquidação, até 31 de dezembro de 2013, de operações de crédito rural de custeio e de investimento contraídas até 30 de dezembro de 2006, no valor original de até R$100.000,00 (cem mil reais) e que estejam em situação de inadimplência até 30 de junho de 2012. O programa, portanto, proporcionará, entre outros benefícios, o refinanciamento das dívidas contraídas no setor rural, concedendo o prazo de até 10 anos para pagamento das dívidas renegociadas, possibilitando a regularização de financiamentos e, em alguns casos, até a suspensão de ações judiciais.

A Resolução nº 4.181, de 07 de janeiro de 2013, definiu novos encargos financeiros e o bônus de adimplência das operações realizadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento. Para as operações rurais, contratadas no período de 1º de janeiro de 2013 a 30 de junho de 2013, com a finalidade de investimento, inclusive com custeio ou capital de giro associado, a taxa efetiva de juros será de 3,53% ao ano. Utilizar-se-á esta mesma taxa para as operações com os demais setores. Os encargos financeiros das operações contratadas no período de 1º de julho de 2013 a 31 de dezembro de 2013 constituir-se-ão da taxa efetiva de juros de 4,12% ao ano tanto nas operações rurais quanto nas operações com os demais setores, desde que tenham a finalidade de investimento, inclusive com custeio ou capital de giro associado. Sobre os encargos financeiros estabelecidos para os dois períodos será concedido bônus de adimplência de 15%, se a parcela da dívida for paga até a data do respectivo vencimento.

O que se questiona, inicialmente, com relação às medidas estabelecidas pela Resolução nº 4.181/2013 diz respeito às taxas de juros que, embora tenham sido reduzidas40, deverão ser pagas pelos produtores sem distinção de setor, ou seja, tanto os produtores do setor rural quanto os produtores dos demais setores (comercial, industrial e de serviços) pagarão, no primeiro semestre de 2013, 3,53% ao ano e, a partir de 1° de julho, 4,12% ao ano. Produtores do semiárido nordestino, por exemplo, que vivenciam intempéries do tempo receberão tratamento igual ao dispensado aos produtores de outras áreas que não padecem de problemas semelhantes. Ademais, o bônus de adimplência, que era de 25% para mutuários do semiárido, foi reduzido para 15% para todos os tomadores de empréstimos, estejam eles na região do semiárido do Nordeste ou não.

Diante deste quadro, em que pese a redução das taxas de juros, o tratamento igual para todos os mutuários, sem levar em consideração as profundas diferenças regionais presentes nas regiões beneficiárias dos Fundos Constitucionais acaba por colocar em questão o principal objetivo de criação destes Fundos, qual seja, o de contribuir para a redução das desigualdades regionais.

Por fim, a partir da análise da legislação que regulamenta o uso dos recursos dos Fundos e de suas alterações nas duas últimas décadas pode-se apreender que, mesmo diante de mudanças que visavam proporcionar maior acesso das regiões carentes e, no interior destas, dos agentes mais pobres aos recursos disponibilizados pelo Tesouro Nacional, a persistente garantia de ganho aos bancos gestores em suas operações de empréstimos, ganho este assegurado mesmo quando não se emprestava, pode ter influenciado as ações dessas instituições financeiras quando diante de operações que envolviam maior risco. Ao ficar estabelecida, por exemplo, a correção dos valores não emprestados e sua acoplagem ao Patrimônio Líquido do Fundo, explicitava-se a não necessidade dos empréstimos para garantir os ganhos bancários, uma vez que parte da remuneração viria de um percentual do Patrimônio do Fundo. Por conta disto, pode ter ocorrido retenção de recursos, comprometendo o direcionamento destes às áreas mais carentes e, por conseguinte, a promoção do desenvolvimento econômico e social das regiões-alvo.

40 Os produtores que contraíram operações anteriores, com taxas mais elevadas, não serão contemplados com a redução das taxas de juros, mas, ao contrário, continuarão com as taxas mais altas, já pactuadas. De acordo com o artigo 4º, “(...) os encargos financeiros e o bônus de adimplência estabelecidos na Resolução não se aplicam aos beneficiários das linhas de crédito de que tratam o art. 8º-A da Lei nº 10.177, de 2001, e o art. 5º da Lei nº 12.716, de 21 de setembro de 2012, nem aos agricultores familiares enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), definidos na legislação e no regulamento daquele Programa”