CAPÍTULO 2 FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO: ORIGEM E
2.3 Alterações nas normas que regem as operações com recursos dos Fundos Constitucionais
2.3.1 Taxa de administração e risco operacional
Como dito na seção anterior, as instituições financeiras federais de caráter regional, responsáveis pela gestão operacional dos recursos dos Fundos, devem receber a chamada “taxa de administração” como remuneração para administrarem tais recursos, conforme determinação da Lei n0 7.827, de 27 de setembro de 1989. Essa remuneração, garantida aos bancos gestores mesmo se estes não emprestarem os recursos dos Fundos, foi estabelecida, inicialmente, em 2% ao ano, calculada sobre o patrimônio líquido de cada Fundo, apropriada mensalmente (Lei n0 7.827/1989, artigo 17). Além dessa taxa, instituiu-se que os bancos
poderiam cobrar del credere sobre os financiamentos, a título de remuneração pela assunção dos riscos da operação,desde que respeitado o limite de 8% ao ano, para os juros.
O Quadro 2.1 mostra as definições legais estabelecidas pela legislação dos Fundos Constitucionais de Financiamento desde 1989 e suas modificações no que se refere à taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e aos custos e taxas dos empréstimos para o tomador. Ao longo desta seção e da próxima esse quadro será referência da análise aqui proposta.
Quadro 2. 1 – Legislação dos Fundos Constitucionais de Financiamento e mudanças nas
condições de remuneração dos bancos e nos custos dos empréstimos
(continua)
Itens Estabelece
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
Cada instituição financeira federal de caráter regional fará jus à taxa de administração de até 2% (dois por cento) ao ano, calculada sobre o patrimônio líquido do Fundo respectivo e apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del credere com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequado à função social de cada tipo de operação, respeitado o limite de 8% ao ano referente aos encargos fixados (taxas de juros, comissões e quaisquer outras remunerações, direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito).
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Os custos dos financiamentos deverão ser diferenciados, considerando-se a natureza do empreendimento, a finalidade do financiamento, a localização e o porte do produtor/empresa. As taxas de juros, nestas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações, direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a 8% (oito por cento) ao ano, ficando estabelecido que os financiamentos concedidos estariam sujeitos a pagamento de juros e encargos de atualização monetária. Logo, o tomador do empréstimo deveria pagar uma remuneração de, no máximo, 8% ao ano (juros e del credere ), mais TR. Neste momento, não foi definido o valor do del
credere.
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
As instituições financeiras gestoras dos Fundos farão jus à taxa de administração de 3% (três por cento) ao ano, calculada sobre o patrimônio líquido do Fundo respectivo e apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del credere compatível com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequados à função social de cada tipo de operação, adicionalmente aos custos previstos neste artigo, de até 6% ao ano.
Os financiamentos concedidos, a partir de 10 de julho de 1995, com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento terão como custo
básico a Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP, somando também del credere de 6% ao ano.
São confirmadas faixas diferenciadas de prioridades e de encargos financeiros, de acordo com a natureza e localização do empreendimento, a finalidade dos financiamentos e o porte do mutuário.
Nas operações com mini e pequenos produtores rurais, os custos seriam menores do que os vigentes, para essas categorias, no crédito rural nacional. Seria concedida uma redução adicional de encargos financeiros de até 5%, como compensação dos custos decorrentes da assistência técnica.
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
As instituições financeiras gestoras dos Fundos farão jus à taxa de administração de 3% (três por cento) ao ano, calculada sobre o patrimônio líquido do Fundo respectivo e apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del credere compatível com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequados à função social de cada tipo de operação, adicionalmente aos custos previstos neste artigo, de até 3% ao ano.
A partir de 1º de dezembro de 1998, os encargos financeiros dos financiamentos corresponderão à variação do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, acrescida da taxa efetiva de juros de 8% (oito por cento) ao ano. O del credere do agente financeiro, limitado a 3% (três por cento) ao ano, está contido nos encargos financeiros.
As instituições financeiras gestoras dos Fundos farão jus à taxa de administração de 3% (três por cento) ao ano, calculada sobre o patrimônio líquido do Fundo respectivo e apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del credere compatível com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequados à função social de cada tipo de operação, adicionalmente aos custos previstos neste artigo, de até 3% ao ano.
A taxa de administração fica limitada, em cada exercício, a partir de 1999, a 20% (vinte por cento) do valor das transferências realizadas pelo Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores.
Custos e taxas dos
empréstimos para o tomador Não houve alteração. Os encargos financeiros dos financiamentos corresponderão à variação do Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, acrescida da taxa efetiva de juros de 8% (oito por cento) ao ano.
O del credere do agente financeiro, limitado a 3% (três por cento) ao ano, está contido nos encargos financeiros.
Lei n° 7.827, de 27 de setembro de 1989
Lei n° 9.126, de 10 de novembro de 1995
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Medida Provisória nº 1.727, de 6 de novembro de 1998
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Medida Provisória n° 1.846-10, de 29 de julho de 1999
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
Quadro 2.1 – Legislação dos Fundos Constitucionais de Financiamento e mudanças nas
condições de remuneração dos bancos e nos custos dos empréstimos
(continuação)
(continua) Não houve alteração. Os bancos administradores dos Fundos Constitucionais de Financiamento farão jus, a partir de 1º de janeiro de 2000, à taxa de administração de 3% (três por cento) ao ano sobre o patrimônio líquido dos respectivos Fundos, apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del credere compatível com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequados à função social de cada tipo de operação, adicionalmente aos custos previstos neste artigo, de até 3% ao ano.
A taxa de administração fica limitada, em cada exercício, a partir de 1999, a 20% (vinte por cento) do valor das transferências realizadas pelo Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores.
Foram eliminadas dos encargos variáveis então vigentes (IGP-DI + taxa efetiva de juros de 8% ao ano, com rebates sobre a taxa efetiva de juros), e estabelecidas taxas de juros fixas, variando de 9% a 16% ao ano para todas as operações, de acordo com o porte de tomadores. O del credere do agente financeiro, limitado a 3% (três por cento) ao ano, está contido nos encargos financeiros, e será reduzido em percentual idêntico ao percentual garantido por fundos de aval. .
Esta lei estabeleceu o risco compartilhado das operações de financiamento (50% para as instituições financeiras gestoras e 50% para os Fundos).
Os bancos administradores dos Fundos Constitucionais de Financiamento farão jus, a partir de 1º de janeiro de 2000, à taxa de administração de 3% (três por cento) ao ano sobre o patrimônio líquido dos respectivos Fundos, apropriada mensalmente. Os bancos poderão cobrar del
credere compatível com os riscos assumidos pelos financiamentos concedidos e adequados à função social de cada tipo de operação,
adicionalmente aos custos previstos neste artigo, de até 3% ao ano. Quando o risco da operação é compartilhado entre o banco e os Fundos, o del credere passa de 3% para 6% ao ano. Neste caso, não há pagamento de taxa de administração.
A taxa de administração fica limitada, em cada exercício a 20% (vinte por cento) do valor das transferências realizadas pelo Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores.
As taxas de juros, já fixas, foram reduzidas passando para intervalos de 6% a 10,75% ao ano nas operações rurais e de 8,75% a 14% ao ano nas operações industriais, agroindustriais, de infraestrutura, de turismo e comerciais e de serviços, variando conforme o porte do tomador e o tipo de operação.
Sobre os encargos financeiros serão concedidos bônus de adimplência de 25% para mutuários que desenvolvem suas atividades na região do semiárido nordestino e de 15% para mutuários das demais regiões, desde que a parcela da dívida seja paga até a data do respectivo vencimento.
O del credere do agente financeiro, limitado a 3% (três por cento) ao ano, está contido nos encargos financeiros, e será reduzido em percentual idêntico ao percentual garantido por fundos de aval. .
Ficou instituído que os recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento podem ser repassados para os próprios bancos administradores para que estes realizem operações de crédito em nome próprio, desde que assumam risco exclusivo
Para efeito do cálculo da taxa de administração a que fazem jus os bancos administradores, serão deduzidos do patrimônio líquido dos Fundos Constitucionais os valores repassados às instituições financeiras.
Aumenta do del credere para as operações realizadas pelos bancos, ficando limitado a 6% ao ano. Custos e taxas dos
empréstimos para o tomador Pagamento de juros, somado ao del credere .
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Dispõe sobre os encargos financeiros das operações realizadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento, estabelecendo taxas de juros diferenciadas conforme o setor de atividade e o porte do tomador. Nas operações rurais, 5% a 9% ao ano e, nas demais operações (industriais, agroindustriais e de turismo, comerciais e de serviços), 7,25% a 11,5% ao ano.
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Dispõe sobre os encargos financeiros das operações realizadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento, estabelecendo taxas de juros diferenciadas conforme o setor de atividade e o porte do tomador. Nas operações rurais, 5% a 8,5% ao ano e, nas demais operações (industriais, agroindustriais e de turismo, comerciais e de serviços), 6,75% a 10% ao ano.
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
O del credere do banco administrador permanece limitado a 3% ao ano, e está contido nos encargos financeiros cobrados pelos Fundos Constitucionais, podendo ser reduzido em percentual idêntico ao percentual garantido por fundos de aval.
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Os encargos financeiros e bônus poderão ser diferenciados ou favorecidos conforme a finalidade do crédito, o porte do beneficiário, o setor de atividade e a localização do empreendimento. Podem ser favorecidos os encargos direcionados para as operações florestais e para as operações de financiamento de projetos de ciência, tecnologia e inovação
Autoriza o Poder Executivo a instituir linhas de crédito especiais com recursos dos Fundos Constitucionais para atender os setores produtivos rural, industrial, comercial e de serviços dos municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecidos pelo Poder Executivo federal. Tais linhas de créditodevem ser temporárias e com prazo determinado conforme o tipo e a intensidade do evento que ocasionou a necessidade dos recursos, podendo ser diferenciadas de acordo com as modalidades de crédito e os setores produtivos envolvidos.
Criou o Programa para a Recuperação da Capacidade de Investimento no Setor Rural (PROCIR). Esse programa constitui-se em uma linha de crédito específica para o setor rural, em que serão utilizados os recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Norte (FNO) para liquidação, até 31 de dezembro de 2013, de operações de crédito rural de custeio e de investimento contraídas até 30 de dezembro de 2006.
Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2001
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Medida Provisória nº 2.196-3, de 24 de agosto de 2001 Medida Provisória nº 2.035-27, de 23 de novembro de 2000
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
Custos e taxas dos empréstimos para o tomador
Lei nº 12.716, de 21 de setembro de 2012
Taxa de administração (remuneração dos bancos gestores) e risco operacional
Decreto 5.951, de 31 de outubro de 2006
Decreto 6.367, de 30 de janeiro de 2008
Quadro 2.1 – Legislação dos Fundos Constitucionais de Financiamento e mudanças nas
condições de remuneração dos bancos e nos custos dos empréstimos
(conclusão)
Fonte: Elaborado própria com base na Legislação dos Fundos Constitucionais de Financiamento e nos trabalhos de BARBOSA (2005), CINTRA (2007) e QUIANTE (2010).
Pode-se constatar que a taxa de administração, a partir de 1995, com a Lei n0 9.126, de 10 de novembro, saiu de 2% para 3% ao ano sobre o valor do patrimônio líquido dos Fundos. Foi instituído que os bancos administradores dos recursos dos Fundos poderiam cobrar del credere sobre os financiamentos até um limite de 6% ao ano. Em 1998, com a Medida Provisória nº 1.727, de 6 de novembro, o patamar limite dessa taxa de del credere ficou estabelecida em 3%, permanecendo assim em 1999, com reafirmação na Medida Provisória n° 1.846-10, de 29 de julho.
Esta última medida provisória ainda estabeleceu que a taxa de administração ficaria limitada, em cada exercício, a 20% do valor das transferências efetuadas pela Secretaria do Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores37. Com isto, os bancos receberiam 1/5 dos repasses da União que deveriam ser transferidos como fonte de recursos dos Fundos e utilizados para financiar atividades produtivas nas regiões beneficiárias. Cresce, portanto, o potencial de expansão dos ganhos bancários (QUIANTE, 2010).
A Lei n° 10.177, de 2001, confirmou o percentual de 3% ao ano para o del credere do banco administrador, podendo esse percentual ser reduzido ou idêntico ao percentual garantido por fundos de aval. Ademais, por meio dessa lei, em seu artigo 60, o risco das operações de financiamento passou a ser compartilhado entre o banco e os Fundos. Isto porque, originalmente, os riscos das operações eram assumidos pelos bancos gestores. Contudo, devido à elevada taxa de inadimplência dos empréstimos, constatada no final da década de 1990, buscou-se modificar esse procedimento com a redistribuição dos riscos (CINTRA, 2007).A partir de então, as formas de cobrança da taxa de administração e do del
37
Conforme Artigo 80 da Medida Provisória nº 1.846-10/1999: “Os bancos administradores dos Fundos Constitucionais de Financiamento farão jus, a partir de 1º de janeiro de 2000, à taxa de administração de três por cento ao ano sobre o patrimônio líquido dos respectivos Fundos, apropriada mensalmente.
Parágrafo único. A taxa de administração de que trata o caput fica limitada, em cada exercício, a partir de 1999,
a vinte por cento do valor das transferências de que trata a alínea c, inciso I, do art. 159 da Constituição Federal, realizadas pelo Tesouro Nacional a cada um dos bancos administradores ".
Definiu novos encargos financeiros e o bônus de adimplência das operações realizadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento
Para operações contratadas no período de 1º de janeiro de 2013 a 30 de junho de 2013, com a finalidade de investimento, inclusive com custeio ou capital de giro associado, a taxa efetiva de juros será de 3,53% ao ano. Esta é a taxa válida para todos os setores (rural, comercial, industrial e de serviços).
Para operações contratadas no período de 1º de julho de 2013 a 31 de dezembro de 2013, a taxa efetiva de juros será de 4,12% ao ano tanto nas operações rurais quanto nas operações com os demais setores.
Sobre os encargos financeiros estabelecidos para os dois períodos será concedido bônus de adimplência de 15%. Custos e taxas dos
empréstimos para o tomador
credere foram alteradas. No caso em que as operações têm risco compartilhado (50% para as
instituições gestoras e 50% para os Fundos), o del credere é de 3% ao ano. Quando as operações são de risco exclusivo do banco, este recebe um del credere de 6% ao ano, não havendo, neste caso, qualquer pagamento de taxa de administração ao banco38.
Isto posto, é possível constatar, no Quadro 2.1, que não houve alterações na legislação no que se refere à taxa de administração depois da Lei n° 10.177/2001. As mudanças advindas com novas medidas provisórias, decretos, leis e resolução, dentre outras deliberações, alteraram os encargos financeiros para os mutuários, conforme se discute na próxima seção.