• Nenhum resultado encontrado

7. Princípio da mutabilidade do regime

2.7. Concessão e permissão de serviço público

2.7.2. Encargos e poderes do poder concedente

Depois que o poder concedente promove a concessão do serviço público ele não está livre das responsabilidades para a regular prestação do mesmo, afinal, ele continua sendo o titular do serviço. Assim, mesmo após a concessão, o poder concedente possui encargos. Segundo o art. 29 da Lei n. 8.987/95, os encargos do poder concedente são:

I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar permanentemente a sua prestação;

II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;

III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condições previstos em lei;

IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei e na forma prevista no contrato;

V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das normas pertinentes e do contrato;

VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regulamentares do serviço e as cláusulas contratuais da concessão;

VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e solucionar queixas e reclamações dos usuários, que serão cientificados, em até trinta dias, das providências tomadas;

VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do serviço ou obra pública, promovendo as desapropriações, diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis;

IX - declarar de necessidade ou utilidade pública, para fins de instituição de servidão administrativa, os bens necessários à execução de serviço ou obra pública, promovendo-a diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis;

X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, preservação do meio-ambiente e conservação;

XI - incentivar a competitividade; e

XII - estimular a formação de associações de usuários para defesa de interesses relativos ao serviço.

Vale destacar, nesse ponto, que a concessão de um serviço público se faz por meio de um contrato administrativo. Como todos os contratos administrativos, os contratos de concessão também têm as cláusulas

exorbitantes, ou seja, aquelas cláusulas que não colocam contratante

(poder público) e contratado (empresa concessionária) em pé de igualdade e ressaltam que o Estado tem poderes especiais frente ao particular para resguardar o interesse público.

Decorre dessas cláusulas exorbitantes alguns poderes da Administração Pública, quando delegante de serviço público, são:

1) Inspeção e fiscalização da empresa concessionária, conhecendo a sua situação, inclusive internamente, analisando seus livros, documentos, registros, tendo acesso aos dados relativos à administração, contabilidade, recursos técnicos, econômicos e financeiros da concessionária;

2) Alteração unilateral das cláusulas regulamentares, visando adequar o contrato às necessidades e ao funcionamento da Administração, podendo atingir, inclusive, regra da política tarifária, não podendo o concessionário se recusar a cumpri-los, desde que não haja desvirtuamento do objeto do contrato e que seja mantido o seu equilíbrio econômico-financeiro;

3) Extinção da concessão antes de findo o prazo inicialmente estatuído, por razões de interesse público e por descumprimento de cláusula contratual por parte da contratada;

4) Intervenção em ocasiões excepcionais, para proteger questões de interesse público, diretamente ligadas ao serviço prestado, podendo assumir a sua gestão, visando à aplicação das regras legais, contratuais e regulamentares;

A formalização da intervenção deve ser realizada por meio de decreto, contendo a designação do interventor, o seu prazo de duração, seus objetivos e limites. Uma vez declarada a intervenção, o poder concedente deve instaurar um procedimento administrativo, que deve ser concluído em 180 dias, para comprovar as causas determinantes da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de contraditório e ampla defesa.

Ficando comprovado que a intervenção não observou os pressupostos legais e regulamentares, ou quando não for observado o prazo para o encerramento do procedimento, será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à indenização.

A Lei n. 8.987/95 assim regula a intervenção no serviço público concedido:

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares e legais pertinentes.

Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites da medida.

Art. 33. Declarada a intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de trinta dias, instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa.

§ 1o Se ficar comprovado que a intervenção não observou os pressupostos legais e regulamentares será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à indenização.

§ 2o O procedimento administrativo a que se refere o caput deste artigo deverá ser concluído no prazo de até cento e oitenta dias, sob pena de considerar-se inválida a intervenção.

Art. 34. Cessada a intervenção, se não for extinta a concessão, a administração do serviço será devolvida à concessionária, precedida de prestação de contas pelo interventor, que responderá pelos atos praticados durante a sua gestão.

5) Aplicação de sanções ao concessionário inadimplente, previstas em regulamento que antecede a licitação ou em seu edital.

6) ATENÇÃO!!! O poder concedente ainda tem a possibilidade de declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do serviço ou obra pública, promovendo as desapropriações diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis. A transferência realizada para concessionária pode ser formalizada por lei ou por contrato. Isso está previsto nos incisos VIII e IX do art. 29 da Lei n. 8.987/95 acima transcrito.