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4 INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

4.3 CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BASICA

4.3.1 Encontro 1: Debates conceituais do estudo da hidrologia e suas

Na semana anterior ao início da aplicação da intervenção pedagógica, através dos formulários de inscrição foram captados os dados de contato dos participantes do curso de formação. Assim, de antemão foram feitas duas propostas via e-mail: o ingresso em um grupo de whatsapp para facilitar as comunicações e diálogos (figura 9); e a elaboração de uma apresentação de boas-vindas a ser incluída na plataforma Padlet, ferramenta de quadro virtual baseada em nuvem para compartilhamento de informações e edição colaborativa de postagens (figura 10).

Figuras 9 e 10: Grupo de whatsapp criado para comunicação e diálogos durante os períodos de atividades assíncronas (Figura 9) e padlet de apresentação (Figura 10)

(9) (10)

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Ao se iniciar a intervenção durante o primeiro encontro síncrono, de forma dialogada e em ambiente amigável, foi realizada a apresentação da proposta do curso de extensão, seus objetivos e organização. Ao longo da etapa, todas as eventuais dúvidas foram sanadas. Foi apresentado também o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Autorização do Uso de Dados e de Figura, o qual foi assinado por meio do preenchimento de um formulário do Google (apêndice 5 e 6, respectivamente).

Uma vez que a intervenção ocorreu de forma remota, apresentou-se também as funcionalidades do Meet que permitiriam um melhor aproveitamento do momento de trocas (uso do envio de mensagem de texto, microfone, câmera e compartilhamento de tela e documentos), bem como do Moodle do IFES.

Ainda nesse primeiro momento, foi realizada uma dinâmica de apresentação, na qual foi compartilhada a tela do Padlet, e os participantes puderam dialogar, identificar pessoas de formações e regiões semelhantes, e se conhecerem melhor. Nesse momento de livre conversa, foi identificado que o grupo de participantes era extremamente heterogêneo, contando com representantes de sete estados brasileiros (ES, MG, RJ, SP, PR, BA, MT), além de dois integrantes estrangeiros, sendo um deles haitiano naturalizado brasileiro e um brasileiro naturalizado português e residente em Portugal. Todos os integrantes atuam ou já atuaram em unidades de ensino como professores na Educação Básica.

Em seguida ao momento inicial de apresentações e esclarecimentos sobre a dinâmica do curso, realizou-se uma roda de conversas, acerca do uso das águas em nosso cotidiano e sua abordagem em sala de aula, com a finalidade de levantar os conhecimentos prévios e identificar as experiências dos participantes frente à temática. Nessa etapa de Problematização Inicial (PI) da intervenção pedagógica, é válido ressaltar que se valorizou a criação de um ambiente em que os participantes puderam sentir-se livres e seguros para descreverem suas sensações, experiências e percepções referentes acerca da sua relação com a água. A partir da roda de conversa, os participantes do curso expuseram e alinharam seus saberes acerca do tema, bem como esclareceram alguns pontos de dúvidas. Em diálogo acerca de suas formações, surgiram algumas falas de notada relevância, as quais foram transcritas e compiladas na tabela 5.

Tabela 7: Transcrição de algumas das falas dos participantes ao longo do primeiro encontro síncrono

Questão norteadora Transcrição das respostas dos participantes

Questão 1: Você entende sua formação acadêmica como suficiente para a realização do seu trabalho na sala de aula?

Participante 1: “Apenas a formação não é suficiente, né? Saí da faculdade e entrei na sala de aula e me deparei com uma realidade totalmente diferente da que eu esperava”

Participante 16: “O que a gente vê na faculdade é totalmente diferente da sala de aula na vida real”

Participante 13: “Muitas das vezes também a gente sai da faculdade e já corre para fazer uma especialização, para pontuar melhor em concursos”

Participante 9: “Acabei de formar e nunca dei aula no presencial. Só online mesmo. Estou até com medo desse dia quando chegar”

Questão 2: Especificamente com relação às temáticas ambientais como a questão das águas, você vê dificuldade em desenvolver atividades em sala de aula?

Participante 5: “Apesar de a escola estar construída praticamente dentro do rio e os alunos possuírem relação direta com essas águas, fica difícil vislumbrar, pelo menos a um primeiro momento, possibilidades para o desenvolvimento do assunto em disciplinas diferentes de Ciências e Geografia. ”

Participante 7: “sensação de falta de conhecimentos para tratar do assunto água e o ser humano fugindo do senso comum e da repetição do que já está nos livros. Trazer isso para a vida real, para o dia-a-dia, é mais complicado, requer um saber mais profundo sobre o tema e sobre a comunidade. ”

Participante 4: “Mesmo tendo estudado sobre Recursos Hídricos na graduação, o tema veio completamente técnico, desvinculado das questões de sociedade e, sobretudo, de educação”

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Ainda na busca de uma reflexão acerca do perfil das formações iniciais dos participantes, utilizou-se da ferramenta Google Forms para adicionar questões a respeito do grau de instrução e da abordagem da temática dos Recursos Hídricos ao longo da formação inicial, com a questão “De que forma a temática dos Recursos Hídricos foi trabalhada durante a sua formação? ”. A partir do questionamento, obteve-se que aproximadamente 58% dos respondentes entenderam sua formação como excelente na temática em discussão (gráfico 4). Tais colocações, juntamente com as falas a respeito da dificuldade em abordar a temática em sala de aula de forma contextualizada apresentadas ao longo da roda de conversa, denotam a desvinculação do conhecimento específico do conhecimento, situação já exposta por Gatti (2010), ao afirmar que “ (...) o que se verifica é que a formação de professores para a educação básica é feita, em todos os tipos de licenciatura, de modo fragmentado entre as áreas disciplinares, não contando (...) com uma base comum formativa”.

Gráfico 4: Percepções acerca da formação inicial dos participantes no que se refere a temática dos Recursos Hídricos

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

No que tange a escolaridade, por sua vez, identificou-se que a maior parte dos integrantes da pesquisa (73,7%) já havia realizado ao menos uma especialização lato sensu, enquanto 15,8% já havia realizado um curso de mestrado e apenas 10,5%

possuía apenas a graduação (gráfico 5)

Gráfico 5: Nível de escolaridade apresentado pelos integrantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Ao serem questionados a respeito do desenvolvimento de práticas educativas ligadas à temática dos Recursos Hídricos, apenas 7 participantes (36,8%) dentre os 19 respondentes responderam que já haviam realizado atividades concernentes ao tema (gráfico 6).

Gráfico 6: Relato de realização de intervenções pedagógicas relativas à temática dos Recursos Hídricos pelos integrantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Apesar de apenas 36,8% dos participantes haverem relatado a realização de intervenções pedagógicas na temática dos Recursos Hídricos, todos os respondentes reconhecem a notável importância do desenvolvimento da temática em sala de aula (94,7% consideram o tema fundamentalmente importante, enquanto 5,3% consideram o tema importante), conforme apresentado no gráfico 7.

Após a aplicação do questionário e breve discussão sobre as questões contidas nele, conduziu-se o grupo à próxima etapa da problematização inicial, com a apresentação da dinâmica de construção da narrativa de um Sujeito Hipotético. A atividade consistiu na proposição da construção de uma história fictícia de um sujeito que vive em uma determinada condição previamente sugerida a partir de uma matriz na qual ele selecionaria as suas condições de vida em um leque direcionado de opções (apêndice 6).

A partir da identificação das condições do local onde vive, o cursista deveria construir este sujeito, indicando desde seu nome, idade, sexo, histórico familiar, profissão, dentre outras características. Para tanto, como etapa inicial da atividade, cada participante foi conectado a uma mesma página de trabalho interativa e colaborativa no software Miro, a qual apresentava uma figura do mapa do Brasil, a qual apresentava o desenho de uma bacia hidrográfica situada no estado do Espírito Santo, a qual apresentava uso e ocupação sendo realizado prioritariamente por diferentes atividades de naturezas rural e industrial (imagens 10 e 11). Nessa página de trabalho, os participantes deveriam observar a bacia e selecionar um ponto na bacia hidrográfica representada, para que nesse local os seus sujeitos hipotéticos realizassem suas ações e, a partir desse contexto, suas histórias fossem construídas.

Gráfico 7: Percepção dos cursistas da importância do desenvolvimento da temática dos Recursos Hídricos em sala de aula

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Figura 11: Página de trabalho interativa contendo figura do mapa do Brasil, destacando a bacia hidrográfica hipotética, situada no estado do Espírito Santo

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

O desenvolvimento da etapa foi carregado de muita animação e participação dos cursistas, os quais avidamente observavam os elementos presentes no espaço e teciam comentários com relação às vantagens e desvantagens de residir em cada

ponto da bacia hidrográfica da figura. O trecho de um dos diálogos ocorridos nesse momento da atividade encontra-se apresentado no quadro 1:

Quadro 1: Transcrições de trechos de falas dos participantes sinalizando análise do contexto espacial da bacia hidrográfica fictícia apresentada na dinâmica do sujeito hipotético

Participante 3: “Eu quero morar em cima do morro, para não sofrer com alagamento”

Participante 5: “Ainda vai ter água mais limpa, por causa da nascente. Quero morar perto de você! ” Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Figura 12: Página de trabalho interativa do software Miro, destacando a bacia hidrográfica hipotética. Na figura, é possível perceber elementos que foram incluídos para compor o local (indústria, pesca artesanal, agricultura, extração de madeira, residências) demonstrando diferentes usos e ocupações no solo da bacia.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A figura de cada sujeito hipotético foi construída com uso do Bitmoji, software que cria um avatar (caricatura) na forma de desenho a partir de uma fotografia previamente

carregada (figura 13). A identidade visual criada por cada um dos participantes foi enviada via grupo de whatsapp para, assim, tornar-se conhecida pelos demais participantes do curso (figura 14). Posteriormente, a figura foi incorporada à página de trabalho do Miro contendo a figura da bacia hidrográfica (figura 15). Por meio desta atividade pretendeu-se retratar, refletir e compreender melhor a respeito do contexto das bacias hidrográficas, seus processos naturais e as implicações das atividades humanas nesse ambiente através do uso e ocupação do espaço natural.

Figura 13: Construção de sujeito hipotético com uso do software Bitmoji

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Como parte inicial da problematização inicial (PI), no decorrer da etapa de preparo e posicionamento dos avatares na página de trabalho do software Miro, discutiu-se a definição de bacia hidrográfica e suas principais divisões, ciclo hidrológico, ciclo de uso das águas, bem como discutidos pontos relacionados aos fatores socioeconômicos e ambientais intervenientes na distribuição das águas no planeta.

Figura 14: Avatares dos cursistas criados a partir do software Bitmoji

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Figura 15: Posicionamento dos avatares construídos com uso do software Bitmoji sobre a figura da bacia hidrográfica hipotética disponível na página de trabalho do Miro

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Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Contornada a dificuldade inicial de se utilizar uma nova ferramenta de engajamento e trabalho colaborativo, realizou-se a apresentação de conceitos fundamentais da hidrologia, com destaque para o processo do ciclo hidrológico, as definições das

principais características fisiográficas de uma bacia hidrográfica, em uma etapa da proposta pedagógica dos Três Momentos Pedagógicos denominada Organização do Conhecimento (OC). Em seguida, os participantes foram incitados a continuarem a utilizar software Miro, destacando na lousa virtual os principais termos que vinham às suas mentes ao pensar em Recursos Hídricos, para que tais termos pudessem ser posteriormente revisitados e utilizados nos encontros subsequentes. Como resposta à proposição da tarefa e, a partir de um trabalho colaborativo realizou-se a etapa de Aplicação do Conhecimento (AC), na qual os participantes optaram por construir coletivamente um mapa conceitual (figura 16) contendo os principais termos e conceitos abordados durante os diálogos iniciais.

Figura 16: Mapa conceitual construída coletivamente, destacando termos e conceitos abordados a problematização inicial

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

Ainda no primeiro encontro síncrono, foi apresentado aos participantes a proposta de elaboração de um plano de intervenção escolar (PIE) em Recursos Hídricos sob a perspectiva da alfabetização científica com foco na Educação CTS/CTSA, visando

auxiliar na promoção da construção de uma visão crítica emancipatória que venha assegurar comprometimento social, científico, cultural e ambiental dos participantes do projeto. Para auxiliar em seu processo de elaboração, foi disponibilizada uma matriz contendo as principais perguntas a serem respondidas quando da elaboração do projeto (apêndice 7).

Para as atividades assíncronas a serem realizadas durante a semana, utilizou-se o Moodle do Instituto Federal do Espírito Santo, instituição que ofertou o curso (figura 17). Nessa plataforma, foram inseridos materiais complementares acerca da temática desenvolvida no primeiro encontro síncrono, bem como foram propostas questões por meio da plataforma Google Forms, a fim de avaliar os conceitos prévios a respeito dos fundamentos de Hidrologia abordados no primeiro encontro síncrono, para fins de melhor conduzir o pesquisador nas abordagens nos encontros subsequentes.

Figura 17: Moodle do Curso d´água, plataforma na qual foram socializadas as atividades referentes aos momentos assíncronos do curso

Fonte: Dados da pesquisa (2021)

4.3.2 Encontro 2 - Compreendendo a água como fator limitante e como