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4 INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

4.3 CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BASICA

4.3.3 Encontro 3: Ferramentas e metodologias para gestão dos recursos

No terceiro encontro síncrono da formação, também ocorrido quinze dias após a realização do encontro referente ao módulo 2, tratou-se acerca do panorama de gestão das águas no estado do Espírito Santo, bem como dos principais instrumentos de gestão propostos pela Lei das Águas (9433/97), a partir da articulação e falas trazidas pela bolsista pesquisadora de Comunicação e Mobilização Social da Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (AGERH-ES) e licencianda em Geografia Erica Cristina Leocadio Zaninho.

O encontro foi iniciado com uma roda de conversas, na qual tratou-se da percepção da utilização do espaço e as alterações na oferta de água ao longo do tempo. Para fins de estimular o diálogo entre os participantes na etapa de Problematização Inicial, a palestrante mostrou imagens do rio Doce de períodos entre os anos 1990 e 2020 e em diferentes trechos, questionando-os sobre as diferenças observadas entre as fotografias e as possíveis razões para essas diferenças. No momento, os participantes pontuaram as variações naturais de cota dos corpos hídricos ao longo do ano, bem como as atividades antrópicas que impactaram o ambiente ano após ano.

A partir da discussão, iniciou-se uma exposição dialogada, na qual falou-se sobre o caráter participativo e descentralizado dos processos decisórios no contexto de uma bacia hidrográfica, com forte atuação popular a partir dos comitês. Nas falas, evidenciou-se a necessidade de que os usuários das águas de uma determinada localidade conheçam bem sobre seus processos de gestão dessa, para fins de efetivamente tornarem cidadãos críticos e ativos, capazes de refletir, compreender e se posicionar frente às demandas de sua comunidade (Figura 19).

Ao longo da fala da palestrante, os participantes da formação trouxeram o panorama de suas localidades, momento no qual pôde-se identificar diferentes demandas e desafios em cada uma das realidades apresentadas: “No local onde eu moro, um senhor construiu uma barragem e atrapalhou a chegada da água na propriedade do

vizinho. Isso foi o suficiente para o vizinho matá-lo, pois, ele tentou, tentou, tentou conservar e o vizinho ignorou” (Participante 6)

Figura 19: Panorama da aplicação dos instrumentos de gestão dos Recursos Hídricos no Espírito Santo, apresentado pela palestrante Erica Cristina Leocadio Zaninho.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Para melhor demonstrar o caráter democrático de gestão dos recursos hídricos, apresentou-se a breve simulação de uma “oficina de manifestação de vontades”, evento esse organizado e realizado pelo órgão de gestão dos recursos hídricos do estado do Espírito Santo e com participação de diferentes usuários dos recursos hídricos, quando em ocasião de elaboração do enquadramento de um determinado trecho de um corpo hídrico. A partir da realização da oficina, busca-se “obter as contribuições e a validação dos participantes sobre os trechos a serem enquadrados e obter a manifestação de vontades sobre os usos futuros da água pretendidos pela sociedade da bacia” (AGERH, 2018).

A palestrante, buscando representar o trabalho da equipe técnica da Agência Estadual de Recursos Hídricos e a participação das comunidades durante a atividade simulada, convocou os participantes do curso de formação para uma atividade de aplicação dos conhecimentos previamente construídos a partir de uma oficina, a qual evocou a bacia hidrográfica utilizada na atividade da dinâmica do sujeito hipotético.

Iniciada com um momento de contextualização e apresentação de resultados fictícios de um estudo sobre uso do solo e da água, qualidade da água, disponibilidade,

demanda e balanço hídrico local, foi conduzido um debate para construção coletiva de uma percepção comum acerca do panorama atual do trecho do corpo hídrico a ser classificado (enquadrado) no quesito qualidade da água e a quais usos ela pode se destinar em função da qualidade que apresenta. Por fim, de posse do conhecimento acerca do diagnóstico da bacia e das classes de água propostas pela Resolução CONAMA nº 357/2005, foram selecionados 5 participantes, os quais foram identificados como entes pertencentes a uma atividade usuária de água específica (agricultura, pesca, diluição de efluentes, abastecimento e uso industrial).

Os participantes da simulação foram convidados a discutirem, analisarem e manifestarem suas vontades em relação aos usos atuais e usos pretendidos para cada trecho, através da escolha de cinco usos da água a partir dos quinze usos propostos pela AGERH/ES (figura 20) em sua metodologia proposta para a oficina, e indicou a posição que gostaria de adicioná-las ao mapa do corpo hídrico a ser enquadrado. As escolhas foram baseadas nas diferentes formas em que esses usuários estariam em contato com as águas, lavando em conta suas necessidades de oferta e qualidade das águas para garantia de seus usos pretendidos.

A partir de tais manifestações, seleciona-se para o trecho em questão a classe de água (Resolução CONAMA nº 357/2005) mais citada pelos participantes da oficina.

A partir da realização da oficina, os participantes podem conhecer mais detalhadamente as informações técnicas a respeito do diagnóstico da bacia hidrográfica em que habita e realiza suas atividades, compreendendo-se como parte integrante de local e responsável pela tomada de decisões para a melhor gestão das águas locais. Ademais, os participantes podem auxiliar no planejamento e conciliação de interesses de usos diversos para fins de que se mantenha o desenvolvimento local de forma realmente sustentável, evitando que este desenvolvimento receba um delineamento puramente econômico, ocorrendo em detrimento da conservação dos recursos hídricos, hoje já sabidamente classificado como um recurso finito.

Figura 20: Usos das águas propostos pela AGERH/ES a serem utilizados em uma oficina de manifestação de vontades

Fonte: AGERH/ES (2021)

A oficina foi finalizada com um debate pedagógico, enfatizando as potencialidades do uso de documentos técnicos como o plano de bacias hidrográficas na sala de aula a fim de aprofundar as discussões acerca do panorama das águas nas bacias locais.

Dentre os relatos dos participantes, destacaram-se pontos relevantes, como a questão de conflitos de interesse de uso da água, dificuldade de acesso a água tratada em determinadas localidades e as suas razões de viabilidades técnica, econômica e ambiental, desastres decorrentes de precipitações intensas em áreas mais vulneráveis a inundações e a atuação da defesa civil em apoio aos órgãos de gestão de recursos hídricos nesses locais, o subdimensionamento dos sistemas de drenagem urbana em cidades em franca expansão e a implicação da presença de resíduos sólidos nos sistemas de drenagem urbana.

Tal como nos módulos anteriores, retomou-se o material proposto para a etapa assíncrona disponível no Moodle, com o compartilhamento de saberes e percepções dos cursistas de forma dialógica e livre a respeito dos conteúdos sugeridos para leitura.

4.3.4 Encontro 4 - Análise quali-quantitativa das águas e suas possibilidades