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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.2 A Aprendizagem Informal vivenciada pelos técnicos-administrativos no local

6.2.3. Enfrentando tarefas desafiadoras

Esta categoria também foi identificada nos trabalhos de Eraut (2004; 2011).

A aprendizagem informal no local de trabalho pode acontecer quando os indivíduos assumem, por necessidade ou por automotivação, novos desafios no local de trabalho. Esses desafios podem relacionar-se a sua própria função ou quando o técnico-administrativo se envolve temporariamente com as atribuições de uma nova função ou numa nova unidade organizacional para cobrir outro funcionário em períodos de férias ou licenças.

Os desafios na própria função lembrados pelos entrevistados mencionam a própria natureza da tarefa e o ambiente de trabalho da FOA/UNESP.Os sistemas informatizados,

novas legislações e as decorrentes instruções normativas com inúmeros novos procedimentos de trabalho, a entrada e saída de servidores técnico-administrativos e docentes, as mudanças na estrutura organizacional, o comportamento e a postura profissional de colegas, enfim, a experiência diária do trabalho por si só constitui-se um desafio e os leva a buscar novos conhecimentos, a adotar novas posturas e hábitos e a rever suas condutas e padrões diante do trabalho:

Eu acho que no dia-a-dia a gente passa por muitas experiências. E muitas vezes são boas. Aqui não tem uma rotina, então é legal quando você vê que você conseguiu atender aquela pessoa, consegui fazer aquilo e ela saiu satisfeita, principalmente quando não havia nada escrito e baseou-se na sua experiência daqui, uma experiência dali e deu certo. Então, o desafio do dia-a-dia já é uma experiência boa para mim. (SE4)

Mas somos nós que temos que enfrentar aquilo que a faculdade impõe de novidade, muitas vezes, e com isso a gente aprende mais, se prepara mais. (SE1)

E é no bom desempenho do funcionário diante dessas diversidades que as oportunidades de substituição em novas funções podem aparecer, seja por necessidade da própria instituição, seja por interesse de departamentos e seções. SE1 explica que num tempo passado, não se preparava o funcionário para substituir um colega em posição hierárquica superior, pois a mentalidade era de que a indicação para esses cargos era política, logo, para que preparar o indivíduo? A característica política ainda continua na atualidade, pois é sabido que se depende de indicação para as posições superiores. Contudo, um novo olhar, voltado para o bom desempenho do funcionário e para sua postura profissional, é o que tem definido as indicações para as substituições.

Dos sujeitos entrevistados, 6 substituem seus superiores imediatos ou outras funções dentro da FOA/UNESP. A substituição se dá sempre em cargos de confiança, em que o trabalho deve ser feito quando o funcionário está de férias ou licenças. Quando o funcionário que não ocupa cargo de confiança também se ausenta pelos mesmos motivos, não se caracteriza substituição, somente transfere suas atribuições para o colega que ocupa a mesma função. Daí, a substituição daquele que ocupa cargo de confiança envolve diferença pecuniária, o que se torna um fator motivacional para se almejar a substituição.

Não que seja fator decisório, porém o fato de o técnico-admnistrativo ter substituído uma função e ter se apropriado do "fazer" e do "ser" daquela função pode prepará-lo para ocupá-la definitivamente.

Quando na situação de substituição, diversas vezes o funcionário acumula sua própria função com aquela em substituição. O administrar o tempo para cumprir as funções

acumuladas já é por si só um desafio, o que não é bom para o funcionário, pois ele não se concentra em nenhuma delas. Para aprender, ele deve estar totalmente investido na função (SE2).

Para aprender em condição de substituto, SE5 confirma que é indispensável o apoio dos novos colegas e do próprio substituído ao dar-lhe suporte para que a aprendizagem ocorra. SN8 revela como se sentiu diante da experiência de substituição:

Quando eu fiz a primeira substituição da [anonimato] eu cheguei e falei: Olha gente,

eu tô aqui mas eu não tenho noção do que vou fazer aqui. Vou fazer o melhor que eu puder. Agradeço a oportunidade, vou me esforçar, mas se eu falhar é falta de conhecimento. Quando eu acabei, foi o último dia, eles falaram: Você ultrapassou todas as expectativas, fez tudo certinho, não deu uma pisada, entendeu tudo muito rápido, foi muito bem. Foi muito bom para mim. [...] É bom para minha cabeça, que

estou ficando velha, fazer alguma coisa nova. Eu fiquei 20 anos fazendo a mesma coisa. Eu peguei e falei:eu vou dar conta. Eu sei que sou capaz e vou aprender, vou aprender tudo o que tiver que aprender, vou aprender para fazer. Foi um desafio, mas não tive medo.

À continuação, articulam-se os conceitos do referencial teórico com os achados desta categoria.

Análise da AI dos técnicos-administrativos quando enfrentam tarefas desafiadoras

Assim como a resolução de problemas, o desafio é um gatilho para a aprendizagem informal no local de trabalho. Para enfrentar os desafios na própria função ou em outra, a aprendizagem aconteceu por meio de solução de problemas, frequentemente com ajuda de terceiros em conversas, interações sociais, colaboração, relacionamentos e práticas, o que, segundo Marsick e Yates (2012), são o coração da AI. A conversa com aqueles que já ocuparam o cargo temporariamente, com aqueles que ocupam cargo semelhante, a colaboração na troca de modelos de documentos diversos e de instruções são as formas mais usualmente mencionadas pelos sujeitos que enfrentam o desafio da substituição temporária de cargos.

Os desafios cotidianos citados nos excertos de discurso são problemas para os quais os técnicos-administrativos buscam solução. É na busca dessa solução, ou seja, no processo de investigar que a AI ocorre. As respostas são buscadas na experiência na sua função de origem (de contratação) ou na função anterior a da FOA/UNESP e, ainda, no contato com outros membros da organização. E é justamente pela forma que o indivíduo interage com seus meios que definirá como ele aprenderá. Ao adotar uma estratégia de resolução do problema, o

indivíduo reflete sobre a ação escolhida e verifica o que aprendeu, tanto com os resultados desejados quanto com os indesejados (MARSICK; WATKINS, 2001). Nos casos apresentados, as estratégias foram corretas, já que os resultados obtidos nas substituições foram positivos. Pelo exposto anteriormente, algumas das estratégias para se aprender no ambiente da FOA/UNESP são: na prática, comparando, fazendo roteiros e perguntando para o colega/superior.

Como não é possível aprender algo sem se relacionar (BRANDI; ELKJAER, 2011), o experienciar novas habilidades até então não despertadas ou inexploradas e com o suporte necessário de um colega leva ao aumento da motivação e da confiança do indivíduo (ERAUT, 2004). O feedback positivo, nesses casos, também exerce o mesmo papel motivador, como mostra a última fala de SN8 exposta nesta seção. A AI é melhor empreendida no local de trabalho quando as pessoas se sentem seguras em suas funções(CUNNINGHAM; HILLIER, 2013). Novamente, os relacionamentos positivos construídos na interação cotidiana com colegas permeiam essas experiências.