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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.6. Validação comunicativa

A validade na pesquisa qualitativa pode ser resumida na questão de buscar saber em que medida as construções específicas do pesquisador estão empiricamente fundamentadas nas construções dos membros e até que ponto esse embasamento é transparente para os outros (FLICK, 2009).

Ao optar pela metodologia qualitativa, o pesquisador parte da ideia de que a realidade é socialmente construída por meio de um processo dialógico entre pesquisador e seu objeto de

estudo (GODOY, 2013), dessa forma, o acompanhamento das diversas fases da pesquisa pelos participantes seria uma maneira de conferir fidelidade às informações obtidas. Uma das técnicas usadas para tal é a verificação por membros (GUBA; LINCOLN, 1994), que consiste num retorno dos resultados aos participantes, dando aos sujeitos de pesquisa um papel ativo ao envolvê-los realmente no processo da pesquisa e não limitando seu contato somente durante a coleta de informações. O uso de técnicas, métodos e estratégias deve ser entendido como uma tentativa de assegurar maior precisão na reflexão feita pelo pesquisador sobre a realidade investigada (CHO; TRENT, 2006; FLICK, 2009).

Para dar continuidade à prática de papéis de insider e outsider abordada anteriormente nos Procedimentos Metodológicos (p. 66-67) e para identificar e evitar vieses do pesquisador (GODOY, 2005; ONWUEGBUZIE; LEECH, 2006), optou-se pelo uso da estratégia de validação comunicativa (KVALE, 1995), que consiste em validar o conhecimento afirmado no discurso dos participantes. Essa validação inclui o retorno dos resultados da pesquisa aos sujeitos do estudo para que confirmem se o que foi elaborado pelo pesquisador corresponde ao que eles experienciam, tanto em relação ao conteúdo quanto às relações propostas (ONWUEGBUZIE; LEECH, 2006).

A escolha da estratégia está em conformidade com a proposta de Cho e Trent (2006, p.326) que sugerem estratégias de verificação por membros em pesquisas qualitativas com descrições densas e cuja questão fundamental seja compreender como os sujeitos pesquisados interpretam determinado fenômeno.

Guba e Lincoln (1994) sugerem que a verificação seja feita por membros participantes da pesquisa e, se possível, por não participantes, porém que vivenciam a mesma realidade. O questionamento dos pares envolve a realização de sessões destinadas a explorar e cotejar aspectos da investigação que não estão claros e poderiam permanecer implícitos na mente do pesquisador; para explorar significados atribuídos pelo pesquisador e os esquemas interpretativos que estão sendo construídos; e também para verificar se as categorias cientificamente construídas pelo pesquisador se ajustam à realidade do participante (GODOY, 2005).

A validação comunicativa do discurso obtido por meio das entrevistas foi realizada com quatro funcionários técnico-administrativos da FOA/UNEP. Sendo dois deles sujeitos participantes da pesquisa, SE1 e SE8, de áreas diferentes. Os outros dois, um da área acadêmica e outro da área administrativa, não participaram da pesquisa. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos desta investigação, mesmo aqueles que dela participaram, e sobre os objetivos deste procedimento metodológico. O pesquisador

dispensou o uso de termo de sigilo sobre as informações fornecidas para avaliação, porém os orientou sobre a discrição no processo.

Os critérios para escolha dos participantes da validação foram: aqueles que participaram da pesquisa serem de áreas diferentes um do outro, com a intenção de incluir um olhar de diferentes realidades organizacionais (GUBA; LINCOLN, 1994); aqueles que não participaram da pesquisa também serem de áreas diferentes um do outro; ser servidor técnico- administrativo; estar atuando como servidor técnico-administrativo; terem disponibilidade para leitura minuciosa do texto e poder contribuir com comentários.

Para a coleta de informações, adotou-se o sugerido por Flick (2009). Imprimiram-se a apresentação e discussão dos resultados das metacategorias Trajetória e Processos informais de aprendizagem. Foram propostas duas questões à luz das quais o avaliador deveria analisar o texto, anotando no próprio texto seus pontos de discordância e/ou concordância sobre os fatos e análises feitas: a) Em que medida estes textos representam a sua própria realidade na FOA? b) Em que medida estes textos representam a realidade da FOA?

Não foi estipulado um prazo de devolutiva, porém todos os avaliadores fizeram suas considerações em no máximo 15 dias. A devolutiva foi espontânea, ou seja, o próprio avaliador contatou o pesquisador e disse que já poderia conversar sobre o conteúdo.

A devolutiva aconteceu em tom agradável, com o avaliador apontando e tecendo os comentários conforme folheava o texto. Foram feitas poucas contribuições no sentido de alterar ou complementar a análise do pesquisador. Os avaliadores que participaram como sujeito da pesquisa expressavam durante todo o tempo da devolutiva o quanto se identificaram com as entrevistas do outro; que viram suas opiniões refletidas no discurso dos demais sujeitos de pesquisa; que poderiam ter dito aquilo, porém que foi dito pelo outro; o quanto se sentiram surpresos ao ler o texto e ver escrito com fidedignidade a própria realidade. Não houve nenhum caso de discordância ou baixa identificação com a realidade relatada pelos sujeitos e a analisada pelo pesquisador. Somente ASE1 descreveu as conversas informais como fonte de aprendizagem, o que foi adicionado aos resultados. Nenhum avaliador adicionou outros fatos, porém contribuíram com alguns esclarecimentos, os quais foram incluídos no texto de acordo com o procedimento descrito na sequência. Então, no geral, os avaliadores confirmam todos os resultados e fazem questão de enfatizar sua concordância em alguns trechos, o que foi atendido incluindo as siglas a eles atribuídas conforme explicado na sequência.

Para a análise dos dados das contribuições, embora tenham sido poucas, seguiu-se o mesmo rigor da análise categorial feita com os dados das entrevistas. Para a garantia do

anonimato dos dois avaliadores que não participaram da pesquisa, suas falas foram identificadas no texto por códigos: AE1 – avaliador externo 1 (área administrativa, com mais de 20 anos de trabalho na FOA/UNESP) – e AE2 – avaliador externo 2 (área acadêmica, com dois anos de trabalho na FOA/UNESP). Já para as contribuições dos avaliadores sujeitos da pesquisa, usaram-se as siglas ASE1 e ASE8, ou seja, a mesma sigla usada quando os sujeitos atuam como entrevistados acrescida da letra A, de avaliador, para identificação dos comentários quando seu papel é de avaliador.

Antes da apresentação dos resultados, a próxima seção descreve a organização cenário deste estudo visando a contextualizar os dados encontrados na pesquisa.