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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.3. Estratégia de coleta de dados e definição dos sujeitos de pesquisa

A coleta de informações usou como instrumento um roteiro para entrevistas semiestruturado, pois a expectativa é que os pontos de vista dos participantes da pesquisa sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento aberto (FLICK, 2009), na qual as informações fossem construídas num processo dialógico entre entrevistado e entrevistador (conforme roteiro de entrevista que consta do Apêndice A).

O roteiro da entrevista foi organizado em função dos objetivos do estudo. Realizou-se um pré-teste do roteiro com quatro sujeitos. Desse pré-teste, houve alteração na ordem dos blocos de questões. O bloco de questão referente à descrição do trabalho foi utilizado como questões follow-up, ou seja, questões utilizadas em vários momentos do diálogo para extrair informações mais profundas, para solicitar confirmação de pontos de vista ou para redirecionar o curso da entrevista para o problema de pesquisa. Dessa forma, iniciaram-se as entrevistas pelo bloco de questões “Trajetória de aprendizagem no trabalho” e, conforme o sujeito contava sua trajetória laboral e consequentes mudanças de funções, usavam-se as questões follow-up propostas e completavam-se as questões sócio-demográficas e funcionais do sujeito de pesquisa que constam no início do roteiro. A discussão entre funcionários novatos e experientes surgiu espontaneamente desde a primeira entrevista. Embora não se tenha incluído uma questão direta sobre a temática, o pesquisador suscitou a discussão nas poucas entrevistas em que o assunto não foi abordado, já que as informações poderiam contribuir sobremaneira em diversos aspectos da pesquisa.

De acordo com Flick (2009), o conhecimento do campo de estudo e das rotinas de trabalho pode fazer com que o pesquisador não reflita mais sobre essas ações. Portanto, sugere-se que o pesquisador assuma e mantenha uma perspectiva de outsider, isto é, de

dúvida em relação a qualquer tipo de evidência social; ou de insider, compreender o ponto de vista do indivíduo ou os princípios organizacionais dos grupos sociais a partir da perspectiva de um membro. Assim, deverá haver sempre por parte do pesquisador um exercício constante entre familiaridade e estranhamento e entre proximidade e distanciamento do campo de estudo, alternando sua postura ora como outsider, para garantir reflexão sobre as ações já conhecidas e obter novas nuanças da realidade social investigada; ora como insider, para conseguir descrever a realidade organizacional a partir da ótica do membro daquele mundo social.

Essa difícil prática de alternância de papéis insider e outsider foi conduzida pelo pesquisador em diversas ocasiões. A primeira aconteceu sempre no início das entrevistas, quando cada funcionário recebeu duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE – do qual constavam os objetivos da pesquisa e garantia ao sujeito de pesquisa, principalmente, a confidencialidade das informações fornecidas. As duas vias foram assinadas pelo pesquisador e pelo sujeito, ficando uma via em poder de cada uma das partes (Apêndice C). Nesse momento, esclarecia-se que o pesquisador abandonava o papel de colega de trabalho e assumia o papel de pesquisador; portanto, qualquer pergunta cuja resposta pudesse soar evidente como “o que você faz aqui?” ou “com quem você aprendeu seu trabalho?” deveria ser respondida sem estranhamento.

Também, no decorrer das entrevistas, solicitou-se melhor descrição ou aprofundamento de qualquer evento ou pontos de vista que soassem comum ou conhecido ao pesquisador, principalmente quando o sujeito interrompia a sua própria fala com frases “ah, você sabe que é assim”, “você conhece”.

Todos os contatos com os entrevistados foram feitos pessoalmente, com antecedência, muito embora a disponibilidade para a entrevista não foi fácil. Em diversas ocasiões, os entrevistados sugeriram que o pesquisador ficasse disponível durante as 8 horas do expediente normal do trabalho para que a entrevista acontecesse a qualquer momento, dada a dificuldade de se parar o trabalho. Todas as entrevistas aconteceram no ambiente natural de trabalho do entrevistado, ou seja, na sua própria sala ou próximo a ela, para que o entrevistado se sentisse à vontade, mais cômodo e seguro, possibilitando assim que o entrevistador os observasse no contexto social deles. Foi solicitada também permissão para gravação dos dados em gravador digital portátil. Nenhum sujeito se opôs à solicitação.

As entrevistas aconteceram de forma espontânea e, em sua maioria, em clima agradável. Houve momentos em que se notou muita tensão de entrevistados, chegando um deles ao pranto,quando o pesquisador abordou questões sobre experiências boas e ruins no

ambiente laboral, clima organizacional e suas expectativas de trabalho diante do cenário atual. As entrevistas duraram em média quarenta e cinco minutos, totalizando 11 horas e 51minutos de gravação.

No total, foram entrevistados 16 servidores técnico-administrativos das Divisões Técnicas Administrativa e Acadêmica, lotados em suas respectivas seções da Faculdade de Odontologia do Câmpus de Araçatuba. A escolha das Divisões Técnicas Administrativa e Acadêmica se deu pelo fato de essas unidades organizacionais serem as únicas diretorias técnicas da FOA/UNESP. As demais diretorias só possuem status de diretoria, porém são serviços técnicos. Também se deu pela proximidade de relacionamento entre entrevistado e entrevistador para se evitar fatores inibidores como falta de tempo, problemas com agenda, a etiqueta ou a ameaça do eu, ou seja, o temor de que a informação dada volte contra si (GODOI; MATTOS, 2007). Ademais, como sugere Flick (2009), optou-se por funcionários de diferentes seções e com maior e menor tempo de trabalho na instituição, que fossem capazes de refletir sobre sua experiência e verbalizá-la, garantindo variedade de casos e experiências para que seus discursos ampliassem o alcance dos resultados até que novas ideias ou perspectivas não fossem mais encontradas. Esclarece-se que algumas seções não possuem em seu quadro a função de assistente-administrativo, o que impossibilitou sua escolha para a pesquisa.

Assim, foram entrevistados 9 servidores da Divisão Técnica Acadêmica/DTA, distribuídos em 3 diferentes seções (2 da própria Divisão Técnica Acadêmica/DTA, 2 da Seção Técnica Acadêmica/STA, 3 da Seção Técnica de Graduação/STG e 2 da Seção Técnica de Pós-Graduação/STPG), e 7 servidores da Divisão Técnica Administrativa/DTAd, distribuídos em 4 diferentes seções (1 da Divisão Técnica Administrativa/DTAd, 3 da Seção Técnica de Materiais/STM, 1 da Seção Técnica de Finanças/STF, 1 da Seção Técnica de Desenvolvimento e Administração de Recursos Humanos/STDARH e 1 da Seção Técnica de Comunicações/STCom), conforme figura 6.

Figura 6: Localização dos sujeitos de pesquisa no organograma da FOA/UNESP Fonte: elaborado pelo autor (2014).

Para permitir a identificação do sujeito, porém para evitar que seu discurso revele sua identidade ou coloque em risco a confidencialidade das informações prestadas, optou-se por omitir a sua seção de origem e valer-se da letra “S” de “sujeito” e das letras “E” ou “N” para “experiente” ou “novato”.