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CAPÍTULO II Revisão de literatura

2.1. Enquadramento legal de conceitos relevantes para o estudo

2.1.1. Sistema educativo, ensino básico, 2.º ciclo

De acordo com a Lei n.º 46/86 (LBSE), de 14 de outubro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 115/1997, de 19 de setembro, e com as alterações e aditamentos introduzidos pela Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto:

- “O ensino básico é universal, obrigatório e gratuito e tem a duração de nove anos; a obrigatoriedade de frequência do ensino básico termina aos 15 anos de idade” (art.º 6.º); - “Um dos objectivos do ensino básico é criar condições de promoção do sucesso escolar e

educativo a todos os alunos” (art.º 7.º);

- “O ensino básico compreende três ciclos sequenciais, sendo o 1º de quatro anos, o 2º de dois anos e o 3º de três anos” (art.º 8.º, n.º 1);

- “No 2º ciclo, o ensino organiza-se por áreas interdisciplinares de formação básica e desenvolve-se predominantemente em regime de professor por área” (art.º 8º, n.º 1, alínea b)).

Com a aprovação da Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto, passou a considerar-se que se encontram em idade escolar as crianças e jovens com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos, podendo, todavia, a escolaridade obrigatória cessar antes, em caso de obtenção do diploma de curso conferente de nível secundário de educação (art.º 2.º).

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2.1.2. Comunidade Educativa, Pais e Encarregados de Educação

O trabalho desenvolvido em toda e qualquer escola tem reflexos no meio em que se insere e vice-versa, motivo pelo qual é imprescindível perspetivar as escolas como organizações abertas ao seu exterior, pelas vantagens que as parcerias com instituições e envolvência das famílias acarretam. Daí a realização frequente de atividades de índole diversa em que o destinatário indicado é a comunidade educativa. Esta, atendendo ao disposto no n.º 3, do art.º 41.º do Decreto Legislativo Regional n.º 21/2013/M, de 25 de junho:

… integra, sem prejuízo dos contributos de outras entidades, os alunos, os pais ou encarregados de educação, os professores, o pessoal não docente das escolas, as autarquias locais e os serviços da administração central e regional com intervenção na área da educação, nos termos das respetivas responsabilidades e competências.

Por seu lado, as pessoas desta comunidade que podem ter um impacto deveras valioso na forma como os alunos encaram a escola e o trabalho a desenvolver nesta, são os pais e os encarregados de educação, inclusive pelas suas responsabilidades lícitas.

De acordo com o Decreto-Lei n.º 47 344, de 25 de novembro de 1966, com a redação dada pelo Decreto-Lei n.º 496/77, de 25 de novembro (Código Civil Português):

- “Compete aos pais, no interesse dos filhos, velar pela segurança e saúde destes, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los, ainda que nascituros, e administrar os seus bens.” (art.º 1878.º, n.º 1);

- “Cabe aos pais, de acordo com as suas possibilidades, promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos filhos.” (art.º 1885.º, n.º 1);

- “Os pais devem proporcionar aos filhos, em especial aos diminuídos física e mentalmente, adequada instrução geral e profissional, correspondente, na medida do possível, às aptidões e inclinações de cada um.” (art.º 1885.º, n.º 2).

Em 1979, pela Lei n.º 9/79, de 19 de março (Bases do ensino particular e cooperativo), era “reconhecida aos pais a prioridade na escolha do processo educativo e de ensino para os seus filhos.” (art.º 1.º n.º 3).

Com o decorrer do tempo, para além da (re)definição das obrigações legais, passa a ser habitual a menção a encarregados de educação nos diplomas aprovados no âmbito do Ensino, paralelamente à dos pais, fruto das mudanças que foram ocorrendo,

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essencialmente, na sociedade. Tornou-se cada vez mais explícita a ampla dimensão do papel a assumir por estes dentro e fora da escola. Daí o disposto no Decreto Legislativo Regional n.º 21/2013/M, de 25 de junho: “Aos pais ou encarregados de educação incumbe uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder-dever de dirigirem a educação dos seus filhos e educandos no interesse destes e de promoverem ativamente o desenvolvimento físico, intelectual e cívico dos mesmos.” (art.º 45.º, n.º 1).

Por último, cabe ainda esclarecer a quem incumbe a designação de “encarregado de educação”. Atendendo ao disposto no n.º 1.2 do Despacho n.º 14026/2007, de 3 de julho, relativo às normas a observar para a matrícula dos alunos e a organização das turmas nos ensinos básico e secundário, sujeito à Retificação n.º 1258/2007, de 13 de agosto, e alterado Despacho n.º 13170/2009, de 4 de junho,

… considera-se encarregado de educação quem tiver menores à sua guarda: a) Pelo exercício do poder paternal; b) Por decisão judicial; c) Pelo exercício de funções executivas na direcção de instituições que tenham menores, a qualquer título, à sua responsabilidade; d) Por delegação, devidamente comprovada, por parte de qualquer das entidades referidas nas alíneas anteriores. Ou seja, é aquele que está diretamente envolvido no processo educativo de alunos menores de idade, sendo ou não, um dos progenitores, havendo ou não grau de parentesco. Na ausência de uma definição mais rigorosa e inequívoca, percebe-se que a referência “pais e encarregados de educação” seja a mais comum à figura “encarregado de educação”, ao nível dos diplomas legais (Zenhas, 2006, p. 44).

2.1.3. Conselho de turma (CT) e diretor de turma (DT) do 2.º ciclo

Uma vez que este estudo se reporta ao DT, é chegado o momento de abordar a sua ação numa turma sem, contudo, pormenorizar as suas competências da forma como estas podem e devem estar contempladas no Regulamento Interno das escolas. A perspetiva apresentada será, inicialmente, mais genérica, excluindo intencionalmente a análise de alguns aspetos mais subjetivos previstos em regulamentos e, frequentemente, conotados como “castradores” quanto à interpretação e criatividade, ao eliminar formas distintas de concretizar e completar o previsto na lei.

De acordo com o Decreto n.º 48 572, de 9 de setembro de 1968, Estatuto do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário:

15 - “Os professores de cada turma deverão reunir-se por conjuntos, a fim de ajustarem a orientação do ensino das respectivas disciplinas às necessidades da sua integração nos temas centrais escolhidos” [pelo conselho escolar] (art.º 14.º, n.º 3);

- “Os professores de cada turma devem reunir-se em conselho, com o fim de estudar os elementos respeitantes à observação e orientação dos alunos e relações com o meio familiar.” (art.º 17.º, n.º 1);

- Compete ao DT de cada turma presidir aos conselhos de turma e ao serviço de orientação escolar, bem como “apreciar os problemas educativos e disciplinares relativos aos alunos da turma e assegurar os contactos com as famílias.” (art.º 144.º, n.º 1);

- “Os directores de turma serão designados pelo director da escola, preferentemente de entre os professores das turmas respectivas” (art.º 144.º, n.º 2).

No Decreto Legislativo Regional n.º 21/2006/M, de 21 de junho, que alterou o Decreto Legislativo Regional n.º 4/2000/M, de 31 de janeiro, relativo à aprovação do regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação e de ensino públicos da Região Autónoma da Madeira, encontra-se plasmado:

- Em cada escola, a organização, o acompanhamento e a avaliação das actividades a desenvolver com as crianças e os alunos pressupõem a elaboração de um plano de trabalho, o qual deve integrar estratégias de diferenciação pedagógica e de adequação curricular para o contexto da sala de actividades ou da turma, destinadas a promover a melhoria da aprendizagem e a articulação escola- família, sendo da responsabilidade: a) Do conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino secundário, constituído pelos professores da turma, delegado de turma e um representante dos pais e ou encarregados de educação (art.º 42.º, n.º 1);

- Para coordenar o desenvolvimento do plano de trabalho referido na alínea a) do número anterior, o conselho executivo ou o director designa um director de turma, tendo em conta a sua competência pedagógica e capacidade de relacionamento, de entre os professores da mesma, sempre que possível profissionalizado. (art.º 42.º, n.º 2)

Ainda de acordo com o mesmo diploma, mais especificamente com o disposto no artigo 43.º, compete igualmente ao diretor de turma:

a) Promover a realização de acções conducentes à aplicação do projecto educativo da escola, numa perspectiva de envolvimento dos encarregados de educação e de abertura à comunidade;

b) Promover um acompanhamento individualizado dos alunos, divulgando junto dos professores da turma a informação necessária à adequada orientação educativa dos alunos e fomentando a

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participação dos pais e encarregados de educação na concretização de acções para orientação e acompanhamento;

c) Elaborar e conservar o processo individual do aluno, facultando a sua consulta ao aluno, professores da turma, pais e encarregados de educação;

d) Apreciar ocorrências de insucesso disciplinar, decidir da aplicação de medidas imediatas no quadro das orientações do conselho pedagógico em matéria disciplinar e solicitar ao conselho executivo ou ao director a convocação extraordinária do conselho de turma;

e) Coordenar o processo de avaliação formativa e sumativa dos alunos, garantindo o seu carácter globalizante e integrador, solicitando, se necessário, a participação dos outros intervenientes na avaliação;

f) Coordenar a elaboração do plano de recuperação do aluno, decorrente da avaliação sumativa extraordinária, e manter informado o encarregado de educação.

Face ao indicado no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, constata-se que no 2.º ciclo cabe ao conselho de turma:

- desenvolver os planos de atividades elaborados de acordo com o programa e realidade de cada turma (art.º 2.º, n.º 4);

- avaliar os alunos, “sem prejuízo da intervenção de alunos e encarregados de educação” (art.º 23.º, n.º 5).

Por sua vez, o Decreto Legislativo Regional n.º 21/2013/M, de 25 de junho, define que:

O diretor de turma … enquanto coordenador do plano de trabalho da turma, é o principal responsável pela adoção de medidas tendentes à melhoria das condições de aprendizagem e à promoção de um bom ambiente educativo, competindo-lhe articular a intervenção dos docentes da turma e dos pais ou encarregados de educação e colaborar com estes no sentido de prevenir e resolver problemas comportamentais ou de aprendizagem. (art.º 43.º, n.º 2)

Mais recentemente, o Despacho Normativo n.º 9/2014, de 9 de dezembro, prevê que, no 2.º ciclo, compete ao DT:

- atualizar o processo individual do aluno (art.º 2.º, n.º 3);

- apresentar propostas ao Presidente do Conselho Executivo ou Diretor, baseadas na avaliação dos alunos, para que o mesmo mobilize e coordene “os recursos educativos existentes, com vista a desencadear respostas adequadas às necessidades dos alunos” (art.º 3.º, n.º 4);

17 - “coordenar o processo de tomada de decisões relativas à avaliação sumativa interna e garantir tanto a sua natureza globalizante como o respeito pelos critérios de avaliação” (art.º 10.º, n.º 2), cabendo a decisão final ao CT, “sob proposta dos professores de cada disciplina.” (art.º 10.º, n.º 3).

Podemos constatar que, ao longo do tempo, as alterações legais mais significativas respeitantes ao CT e ao DT, ocorreram, sobretudo, a dois níveis: primeiro, na valorização progressiva do papel que desempenham na dinâmica do trabalho desenvolvido nas escolas e nas decisões tomadas, o que se explica, em grande parte, pela informação privilegiada que possuem acerca dos alunos e, simultaneamente, pelas oportunidades advindas da colaboração entre os profissionais em questão e destes com as demais pessoas que intervêm no processo educativo; segundo, no alargamento do leque de funções atribuídas. A maior importância fez-se acompanhar de reveses, principalmente para o DT, como o aumento da carga burocrática. Entre outros, tornou-se imperativo assegurar o registo do determinado/planificado, do acompanhamento feito e dos resultados dos processos, viabilizando a monitorização e avaliação dos mesmos, conforme o disposto na lei. Daí que a desburocratização seja, atualmente, temática recorrente, tendo em vista a agilização dos processos e a maior disponibilidade de tempo para as atividades profissionais a realizar, nomeadamente daquelas que carecem a presença dos envolvidos. O recurso generalizado às novas tecnologias pode facilitar em parte, mas não resolve estas questões. Daí a outra preocupação crescente dos docentes: aprender a gerir o tempo, com resposta parcial na formação contínua.