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CAPÍTULO II Revisão de literatura

2.2. Enquadramento teórico

2.2.1. Sucesso dos alunos

O sucesso dos alunos é a principal meta das escolas, sendo este sinónimo de êxito, e, portanto, entendido como a obtenção de bons resultados, em oposição ao fracasso, segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa (n.d.). Mas, será esta descrição suficiente? É pertinente categorizá-lo como escolar/académico, educativo, ou outro?

Segundo Perrenoud (2003),

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• de modo muito geral, é associada ao desempenho dos alunos: obtêm êxito aqueles que satisfazem as normas de excelência escolar e progridem nos cursos;

• com a moda das escolas efetivas e a publicação das “listas de classificação das escolas”, o “sucesso escolar” acaba designando o sucesso de um estabelecimento ou de um sistema escolar no seu conjunto; são considerados bem-sucedidos os estabelecimentos ou os sistemas que atingem seus objetivos ou que os atingem melhor que os outros.”. (p.10)

Pese embora não considere os conceitos antagónicos, a (o)posição deste autor em relação ao uso do conceito de sucesso educativo, acerca do qual refere que está muito associado a um significado político, deve-se às implicações nefastas da sua adoção para o entendimento de sucesso escolar, visto de forma simplista como o resultado da medição dos conhecimentos assimilados, e, concludentemente, da escola. “Quer se trate de educação ou de instrução, a escola não se deve furtar à obrigação de fazer a sua parte específica dentro de um conjunto de influências – favoráveis ou desfavoráveis – em relação às quais ela não pode ser considerada a única responsável.” (Perrenoud, 2003, p. 21).

A perspetiva alargada do papel da escola no sucesso dos alunos e das suas interdependências é corroborada por Arroyo (1992), a abordar a temática “Fracasso- Sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da educação básica”, acerca do sistema educacional brasileiro:

O processo ensino-aprendizagem passou a ser avaliado como qualquer processo de produção: o produto escolar estaria condicionado pelos materiais empregados e pelos recursos utilizados: os alunos, suas aptidões, suas deficiências; e os recursos didáticos, os conteúdos, as competências dos mestres, a eficiência das técnicas. Se os materiais e recursos forem de boa qualidade, teremos sucesso escolar. Se forem de baixa qualidade, teremos fracasso escolar.

Estas análises vêm sendo criticadas por esquecer que a escola é uma instituição sociocultural. … A escola é uma organização socialmente constituída e reconstruída. Tem uma dinâmica cultural. (p. 48)

Os afamados rankings baseados na avaliação externa dos discentes são uma das páginas do extenso livro que se tem vindo a escrever às custas da imagem de uma escola cujo sucesso se vê medido numa escala única, nacional e até internacionalmente, que assenta em programas únicos, mesmo quando os contextos, as culturas e o acesso à cultura são tão divergentes. Paralelamente, procura-se na formação escolar: solução para

19 ultrapassar as desigualdades sociais e culturais; bagagem para empregos múltiplos, já não circunscritos ao país, e curricula com qualificações que facilitem a integração das pessoas no mundo e sejam reconhecidos além-fronteiras. O outrora restrito conhecimento é agora unicamente delimitado no espaço físico e temporal pela distância a um qualquer aparelho com ligação à internet, através das novas tecnologias, diferindo o tratamento cognitivo a que é sujeito por cada usuário. As escolas são invadidas por uma avalanche de metamorfoses, mas o sucesso continua a ser avaliado a partir dos familiares programas e modelos de ensino.

Pelo atrás exposto, depreende-se que a definição de sucesso, seja ele escolar ou educativo, não é pacífica, pelas inúmeras variáveis que interliga. Se por um lado, se cingir meramente aos resultados escolares, é redutora, opinião, aliás corroborada por Sil (2004): “O facto de haver um elevado insucesso escolar não implica necessariamente a abundância de reprovações, tal como a existência de sucesso não pressupõe o contrário.” (p. 15). Por outro, se pretender reunir as diferentes perspetivas, dos contextos, sociedade, diplomas, educandos e educadores, tornar-se-á tão ampla que dificilmente poderá ser entendida como uma definição.

O consenso nesta matéria? Assenta no facto de o sucesso dos alunos resultar de uma diversidade de fatores, uns intrínsecos, outros extrínsecos. Dos primeiros é exemplo o essencial empenho, dos segundos o trabalho de todos aqueles que partilham o longo percurso da aprendizagem, que se pretende contínua. Para Maya (2000), um dos pressupostos do sucesso orienta-se para os docentes, em particular, e consiste em aproximar a filosofia de ensino e as propostas metodológicas às da escola onde lecionam, pois quando estas não se identificam geram dúvidas nos alunos quanto ao que deles se espera e à forma como devem interagir com os professores, repercutindo-se negativamente no aproveitamento.

Perante a multiplicidade de sentidos, adotamos o termo sucesso educativo, por nos parecer deixar claro desde logo, o nosso distanciamento relativamente à noção de um sucesso dos alunos, que é entendido apenas [itálico nosso] como a obtenção de classificações que permitem a sua transição/progressão. Para nós este é também uma medida do plasmado na LBSE, diploma no qual se prevê, entre outros, que o sistema educativo contribua “para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho.” (n.º 4, art.º 2.º), bem como “para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela formação para o sistema de

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ocupações socialmente úteis mas ainda pela prática e aprendizagem da utilização criativa dos tempos livres” (alínea f), art.º 3.º).

A forma de restringir a possível abrangência atribuída ao termo foram as três direções em que se definiu que seria estudado: as variáveis dependentes, que podiam influir no sucesso, ou não, sem que, todavia, o explicassem isoladamente. Mas este feito é somente teórico, pois a importância do sucesso a que nos referimos ultrapassa a barreira das designações, significados e até do tempo, iniciando-se no seio familiar, crescendo ao longo do percurso escolar e projetando-se no futuro dos estudantes. Se todos cumprirem o seu papel nesta que é a primeira e derradeira missão da instituição escola, mais facilmente será garantido.