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Na secção anterior fizemos referência à questão da eliminação dos benefícios fiscais à interioridade. Associado a este tema encontramos aquele que é, porventura, o maior problema do sistema fiscal português e que se prende com a sua competitividade, nomeadamente quando comparado com os sistemas vigentes em outros países europeus, e não só.

Efetivamente, quando as empresas decidem realizar um determinado investimento, depois de decidir sobre o que produzir e quais os respetivos mercados alvo, necessitam determinar onde será instalada e efetuada a produção. Apesar de esta questão idealmente não dever depender de considerações fiscais, a verdade é que cada vez mais estas podem ter grandes implicações na rentabilidade do investimento e, consequentemente, na tomada de decisão da gestão. Numa economia global, torna-se premente saber e comparar quais as taxas de imposto que irão recair sobre os investimentos realizados e quais os impactos sobre os meios libertos para os acionistas.

Atendendo ao crescente debate social sobre justiça e equidade fiscal do sistema tributário, a eliminação do regime dos benefícios fiscais para a interioridade, apesar de eventualmente colocar fim a algumas situações abusivas, não deixa de ser preocupante. É questionável qual a racionalidade desta medida, dado ela ter alterado, de forma significativa, as premissas de investimentos realizados ao abrigo deste regime. A mutação extemporânea do regime fiscal e a eliminação de condições favoráveis ao investimento, nomeadamente ao investimento direto estrangeiro, é um forte revés à credibilidade do país na cena internacional com impacto direto na atracão de investimento para Portugal.

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Ao algoritmo de investimento das empresas acresce ainda o montante de investimento a realizar num determinado país e, finalmente, onde apresentar os maiores rendimentos tributáveis. Para ambas as decisões é fundamental saber a taxa efetiva de IRC a pagar determinada tendo em conta a possibilidade de tirar partido de eventuais benefícios fiscais e dos Acordos de Dupla Tributação (ADT) existentes, na medida em que além de ser muito diferente optar, num determinado país, por uma mera sucursal de representação ou investir numa subsidiária, os rendimentos podem ser transladados entre países de modo a diminuir a sua tributação efetiva.

Portugal não é um país competitivo em termos fiscais. Abaixo apresentamos uma tabela comparativa para a tributação de rendimentos provenientes de dividendos, juros, “royalties” e serviços de vários países, consoante tais rendimentos resultem de investimentos realizados a partir de Portugal, da Holanda ou da Irlanda, respetivamente.

A escolha da Holanda e da Irlanda para efeitos comparativos prende-se, no primeiro caso, por ser um país com reconhecidas vantagens ao nível da sua competitividade fiscal, nomeadamente tratar-se do país com mais acordos de dupla tributação internacional; e, no segundo, por ser um dos países que se encontram em dificuldades, tal como Portugal, integrando o grupo dos “PIGS”.77

Tabela 9: Análise comparativa da tributação de dividendos em Portugal, Holanda e Irlanda Dividendos

Portugal Holanda Irlanda

País Taxa IRC 26,5% Retenção Fonte Taxa IRC 25,5% Retenção Fonte Taxa IRC (12,5% ou 25%) (*) Retenção Fonte Brasil 5% 0% 0% - 100% - Irlanda 0% 0% 0% - - - Reino Unido 0% 0% ou 10% 0% - 100% - Dubai 100% 0% 0% - 100% - Egipto 100% 0% 0% - 100% - México 5% 10% 0% - 100% 5% Malásia 100% 0% 0% - 100% - Holanda 0% 0% Irlanda 0% 0%

* Se países da UE ou com ADT 12,5%, caso contrário 25%.

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A terminologia PIGS, ou PIIGS, era originalmente utilizada nos anos 90 para fazer referência às economias do sul da Europa, nomeadamente Portugal, Itália, Grécia e Espanha. Desde a crise da dívida soberana, em 2009, passou a incluir também a Irlanda sendo sinónimo de economias altamente endividadas.

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Tabela 10: Análise comparativa da tributação de Juros, Royalties e Serviços em Portugal, Holanda e Irlanda

Pela análise das tabelas 9 e 10, constata-se a existência de uma clara vantagem da realização de investimentos a partir da Holanda, particularmente no caso dos dividendos que, normalmente, nunca são tributados,78 para além da inexistência de qualquer retenção na fonte sobre esses rendimentos. Também no caso dos juros, royalties e serviços, a Holanda beneficia sempre de retenções mais baixas e de uma taxa de IRC inferior à de Portugal. Pontualmente, a Irlanda poderá apresentar vantagem competitiva face à Holanda, nomeadamente quando os rendimentos a obter da sucursal resultem de operações comerciais. Porém, caso se refiram a juros ou a royalties, esta vantagem dissipa-se pois à taxa de IRC de 25%, inferior à da Holanda, contrapõem-se taxas de retenção na fonte mais elevadas. Note-se todavia que este país é em qualquer das situações apresentadas mais atrativo que Portugal, pois mesmo nas circunstâncias em que a as taxas de retenção na fonte são idênticas, a taxa de IRC é significativamente mais baixa, uma questão que a Irlanda não aceitou negociar com a “Troika” aquando do seu pedido de resgate.

Um último aspeto elucidativo da falta de competitividade fiscal de Portugal, conforme se pode concluir pela análise das tabelas supra, é que, mesmo para uma empresa Portuguesa que pretenda realizar investimentos num destes países, existe uma clara vantagem em fazê-lo através de subsidiárias localizadas num destes dois países na medida em que virá depois a beneficiar das isenções existentes, nomeadamente no que se refere à isenção da tributação de dividendos, conforme demonstraremos empiricamente na secção seguinte.

78 A condição única para beneficiar desta isenção é uma participação mínima de 5% (participation

exemption)

Juros Royaltie s Se rviços Juros Royaltie s Se rviços 12,5% (se trans. come rcial) 25% (se não come rcial)

Juros Royaltie s Se rviços

Brasil 100% 15% 15% 15% or 25% 100% 15% 15% 15% or 25% 100% 100% 15% 15% 15% or 25% Irlanda 100% 0% 0% - 100% - - - - Reino Unido 100% 0% or 10% 0% or 5% - 100% 0% or 10% 0% or 5% - 100% 100% 0% or 10% 0% or 5% - Dubai 100% 0% 0% - 100% - - - 100% 100% - - - Egipto 100% 20% 20% 20% 100% 12% 12% 0% 100% 100% 20% 20% 20% México 100% 10% 10% - 100% 10% or 15% 10% - 100% 100% 5% or 10% 10% - Malásia 100% 15% 10% 10% or 13% 100% 10% 8% 8% or 13% 100% 100% 10% 8% 10% or 13% Holanda 100% 0% 0% - Irlanda 100% 0% 0% or 10% País

The Ne the rlands Ire land

Taxa Re te nção na fonte Taxa 26,5% Re te nção na fonte Taxa 25,5% Re te nção na fonte Juros, Royaltie s e Se rviços Portugal

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