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A moral alardeada também fazia parte da política de Estado. A moral e a linha de conduta eram sempre temas recorrentes na imprensa católica: “a atitude moral é valor do bem”, escrevem na Revista Alleluia (abr. 1951). A moral é atrelada aos homens e mulheres de bem, que teriam na força moral, a consciência para construírem um Portugal ordeiro,

consolidado na moral cristã. Por isso, como o mal, a imoralidade precisa ser reconhecida e combatida. Em setembro de 1946, o Jornal Novidades trazia em sua capa a manchete “No problema do ensino da moral: o essencial e o secundário”.

O ensino da moral passara a ser obrigatório pelos decretos-leis com a consolidação de Oliveira Salazar; portanto a moral é pauta nas escolas desde o ensino primário, passando pelo ensino secundário e chegando ao técnico. Essa imposição da disciplina é louvada pelo matutino no artigo de opinião:

Quem tiver, porém, ainda, na lembrança as afirmações feitas noutros tempos, em tom de superioridade intelectual inigualável de que a moral se não ensina, nem pode, nem deve ensinar-se, e tiver notado a insistência com que, de vez em quando, se repete com mais ou menos clareza esse mesmo erro ou outros semelhantes, não deixará de reconhecer a necessidade de se afirmar e demonstrar o contrário. (NOVIDADES, set. 1946)

As lembranças que o Jornal Novidades fazia referência eram dos tempos da República, a laicidade que afastara os católicos do centro do poder político ainda era uma memória recente, por isso as comparações dos períodos e do caráter desordeiro que a República tivera:

Houve um período entre 1910 e 1928; se a memória não nos falta, em que esteve abolido nas nossas escolas o ensino da moral e da religião, com o que se deu a Portugal um lugar único e vergonhoso entre todos os países civilizados, e convém acrescentar que, se pais e educadores houve que então reclamaram esse ensino, muitos houve também que se conformaram com a nefasta situação legalmente criada. O esforço dos que sabiam avaliar os perigos resultantes da abolição nas escolas do ensino da moral e da religião, concretamente revelados mais tarde, através da vaga de crime que assolou o país, sobretudo nos últimos anos de decomposição política. (NOVIDADES, set. 1946)

Contrariando a República e sempre utilizando o discurso da desordem criada pelos republicanos, o Jornal Novidades parabeniza Oliveira Salazar pelos dez anos do ensino da moral nas escolas e pela consequente ordem pública que esta gerara, especialmente em relação às mulheres. A moral deteriorada prejudica a todos, mas danifica mais os aspectos da vida feminina, pois à mulher cabe manter sempre uma conduta exemplar. O discurso da moral vai ganhando relevo e a conclusão dessa matéria evidencia isso: “Subordinado diretamente ao essencial, está o prestígio da disciplina de moral e doutrina cristã”. (NOVIDADES, set./1946)

Na campanha pelo ensino da moral, o Jornal Novidades (set. 1946) traz na sua manchete: “A aula de moral precisa ser prestigiada”. Os pais e mães portugueses são chamados a incentivarem os filhos sobre as aulas, advertindo-os da seriedade que elas teriam

em suas vidas, sempre manifestando a importância e sem desqualifica-la ou dá-la menos valor que as outras matérias. E com isso o matutino diz:

Para tanto é preciso que os pais reconheçam o proveito resultante das aulas de moral e queiram ver os filhos a frequentá-las com regularidade e aproveitamento, e, paralelamente, que todos os professores, seja qual for a disciplina, ensinem, colaborem lealmente na formação moral dos alunos, em solidariedade íntima com os professores de moral. (NOVIDADES, set. 1946)

É com esse discurso que o matutino Novidades publicará na coluna feminina a matéria “A formação moral das novas gerações”, que referia-se a parca formação intelectual das juventudes, advertindo da superficialidade da Educação. Todavia, a matéria também centra-se na oposição de alguns ao ensino da moral. Como informa o referido jornal:

[...] Mas parecem que não aprenderam na história que só a educação cristã da juventude pode salvar o mundo da desordem. Se a história do cristianismo for estudada a fundo, desde o seu início, à luz das causas últimas, ver-se-á que a origem da desintegração social, que atinge o auge dos nossos dias, reside em que gerações sucessivas de europeus se têm esforçado por basear a profissão em prática de fé cristã numa filosofia da vida estranha a ética cristã. [...] Quando se fala ou escreve sobre a necessidade de sólida formação moral das novas gerações, é costume fixarem-se os olhos só na escola primária, como se apenas as crianças dos 7, ou 12 anos devessem ser objeto dessa formação. (NOVIDADES, set. 1946)

Esse ensino, que segundo o jornal fixaria a sólida formação, anuncia que as campanhas pelo combate ao analfabetismo só teriam sentido se o consenso fosse que a educação deveria ter por privilégio o ensino moral e cristão.

3 SOBRE A IMPRENSA CATÓLICA EM PORTUGAL: OS IDEAIS DA BOA IMPRENSA E A VIGILÂNCIA SOCIAL

O carimbo da censura adverte: pode-se ler! Com essa prerrogativa, António Oliveira Salazar implantou uma das mais repressivas censuras à palavra escrita. A imagem da figura 2 assevera o que fora o cerceamento das expressões individuais, durante o Estado Novo.

Figura 2: O carimbo da censura

Fonte: Novidades (2 abr. 1933)

No próximo mês de dezembro, o grande diário católico Novidades vai comemorar o seu vigésimo quinto aniversário. É uma data que bem merece a homenagem dos católicos portugueses e sobretudo dos católicos arregimentados no exército da Acção Católica. Bem sabemos apreciar o valor da imprensa diária e a necessidade inadiável de possuir um jornal católico de grande tiragem que leve a todos os recantos de Portugal a verdadeira doutrina cristã sobre os mais candentes problemas da actualidade, que pulverize, caridosamente, as manhosas e virulentas atordoadas do Anti-cristo. Novidades é nosso grande jornal católico. Mas não satisfaz ainda as necessidades do nosso tempo. Não tem a penetração que devia ter; não chega aonde devia chegar. Compete a Acção Católica, aos seus dirigentes e militantes, torna-lo conhecido e estimado. Antes disso: é necessário que todos os associados da A.C., que tem por hábito ler jornais, façam o esforço consciente e corajoso de adquirir o jornal que defende seus ideais, que nunca lhes propinará doutrina corrosiva, que não criará em sua casa um ambiente doentio e malsão. O jornal novidades vai celebrar as suas bodas de prata. É costume, em festa como esta, oferecer algum presente comemorativo. Todos os dirigentes da A.C. vão presentear o diário Novidades:

1) Angariando assinaturas. (Seria de louvar que, pelo menos, cada Secção ou Co- Direcção Diocesana, Geral e Nacional, enviasse a sua, no seu aniversário.

2) Criando ambiente, pela propaganda favorável inteligente.

3) Assistindo ao Santo Sacrifício no dia 15 de dezembro, para que em Portugal, a Santa Igreja venha a possuir o grande jornal que precisa. (NOVIDADES, 19 set. 1942)

A defesa dos ideais católicos, a promoção e a divulgação da doutrina cristã, através da imprensa, são elementos basilares do excerto acima, publicado como chamamento aos fiéis à leitura daquilo que estava sendo escrito e produzido pelas tipografias católicas. A campanha de assinaturas assinala a expansão de um ideal iniciado vinte e cinco anos antes, quando o Jornal Novidades passou a ser um dos porta-vozes da hierarquia da Igreja.

A campanha de assinaturas que a manchete propagandista da epígrafe acima dá a conhecer trata de um novo e moderno modelo de doutrinação: a imprensa. Era preciso retomar

os ideais da boa imprensa103

, pois o seu oposto, a má imprensa, ganhara espaço. Para compreender esses conceitos de boa e má imprensa – fortemente mencionados ao longo das reportagens, artigos de opiniões e editoriais – precisa-se perceber minimamente a trajetória da Imprensa em Portugal.

José Tengarrinha (1965, p. 15), ao historicizar a imprensa em Portugal, afirma que o termo “imprensa” adquire contemporaneamente vários âmbitos e que “originariamente, imprensa diria respeito apenas à máquina de imprimir caracteres tipográficos em papel ou em qualquer outra matéria”. Logo depois, passou a identificar o lugar onde as máquinas tipográficas eram colocadas, para, ao final, designar o produto das máquinas tipográficas: os próprios impressos.

Tengarrinha (1965, p. 16) assinala o ano de 1641 e situa a cidade de Lisboa como a primeira a contar com o objeto “jornal”, em território português. A publicação que inaugurou o modelo que mais se parece com o periódico que contemporaneamente é conhecido foi a “Gazeta em que se relatam as novas todas que houve nesta corte e que vieram de várias partes do mês de novembro de 1641”. Para o autor, esta seria “a primeira de uma série que reúne as três condições que consideramos indispensáveis para que uma publicação possa ser considerada jornal: periodicidade, encadeamento e conteúdo específico, diverso do livro ou do panfleto”. (TENGARRINHA, 1965, p. 16)

103 A carta de Leão XIII, de 25 de janeiro de 1882, versará sobre a imprensa católica e a real necessidade da

formação de eclesiásticos jornalistas, como ferramenta para a disseminação do cristianismo e como boa leitura ao católico. (REMEDIOS, 2003)

Um dos precursores da escrita104

sobre a imprensa em Portugal, Tengarrinha (1965, p. 18) divide a história do periodismo em: primórdios da imprensa, que inicia-se com as Gazetas de Restauração (1641-1820); 2ª época: a imprensa romântica ou de opinião (1820 até fins do terceiro quartel do século XIX); e 3ª época: a organização industrial da imprensa (último quartel do século XIX até a atualidade). Essa classificação tem por fim perceber o que cada jornal publicava tematicamente em sua época e local. Por isso:

1. Âmbito geográfico: jornais nacionais e jornais regionais, rurais e urbanos;

2. Relações com os poderes públicos e religiosos: Imprensa legal e clandestina; imprensa oficial ou de instituições oficiosamente reconhecidas e imprensa particular, órgão dos poderes religiosos.

3. Orientação: Jornais independentes ou que pretendem apresentar-se como tal; jornais orientados: políticos (representação de partidos, de facções ou até apenas de personalidades), religiosos e anticlericais.

4. Matéria: Jornais políticos, predominantemente noticiosos; divulgadores de conhecimentos úteis, bem como das conquistas das ciências e das técnicas; de letras, artes e filosofia; enciclopédicos, biográficos etc.; de legislação e jurisprudência; militares, históricos, comerciais, agrícolas, industriais.

5. Periodicidade e gênero: Diários, bi ou trissemanários, semanários, mensários, anuários, etc.; revistas, boletins, arquivos, anais ou efemérides; o problema dos números únicos (ou, mais propriamente, das publicações avulsas e comemorativas) ou suplementares. (TENGARRINHA, 1965, p. 20)

Ao sistematizar os caminhos que a imprensa periódica fez em Portugal, Tengarrinha (2016, p. 185) não deixará de sublinhar a importância das primeiras gazetas, com caráter noticioso e que também faziam as vezes de diário do governo, com comunicados e nomeações. Entretanto, o período em que mais percebera a mão do Estado na imprensa fora no Estado Novo.

Em entrevista dada a Tânia Alves, doutoranda em sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS), José Tengarrinha, que escreveu a obra que serviu de base para entender a consolidação dos media em Portugal, faz suas ponderações sobre os jornais no Estado Novo, ao ser perguntado sobre a visão que Salazar tinha dos media:

No início, um dos principais objetivos do Estado Novo foi tentar uma corrente de opinião pública que lhe fosse favorável. Ao menos uma maioria silenciosa, passiva, já que se antevia muito difícil conseguir um amplo apoio activo, como em alguns governos fascistas europeus que tiveram considerável suporte das massas. Com essa finalidade, criam-se jornais que lhe são totalmente servis, como o Diário da Manhã (órgão oficial do governo), além de contar com os outros oficiosos, como o Diário de Notícias (quando dirigido por Augusto de Castro), o Século (sob a direção de João Pereira da Rosa), o Novidades (órgão oficioso da Igreja, muito conservador) ou A Voz (católico e monárquico), bem como, no Norte, o comércio do Porto, também

104 Destaca-se aqui a escassez de bibliografia sobre a História da Imprensa em Portugal. Em algumas ocasiões

perguntou-se para quem leciona essa temática dentro das universidades, formando jornalistas e a resposta era desanimadora, pois há pouca produção no campo da história da imprensa em Portugal.

apoiante oficioso. Podemos considerar terem sido estes, então, os principais diários que, mais ou menos, entusiasticamente, foram suportes do Estado Novo. (TENGARRINHA, 2016, p. 185)

Conforme Tengarrinha (2016, p. 187), os jornais e, no caso, alguns dirigentes tinham uma certa sintonia com Salazar e com as políticas do Estado Novo. O autor afirma que a partir da investigação no acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no Instituto dos Arquivos Nacionais (IAN), pode-se contatar que tudo passava pelas mãos de Salazar, e que ele contava com António Ferro, também encarregado de ler tudo que circulava na imprensa, de modo a reforçar quando necessário as propagandas positivas do governo. Tengarrinha (2016, p. 187) afirma: “E sublinho Salazar porque, na verdade, em termos de informação, como aliás em todo o resto, era ele quem mandava”. Os jornais, como se verifica, obedeciam.

Se tudo passava pela mão de Salazar e de António Ferro, como afirma Tengarrinha (2016), os dois locupletavam-se com a principal base documental da presente investigação: o periódico “Novidades”. Esse media cumprira bem o papel de porta-voz do regime, louvara António Oliveira Salazar do início do seu mandato até o fim, convocando a população para missas “de melhoras” ao chefe e consternando-se por dias a fio, após sua morte.

O jornal Novidades apresenta entre seus descritores algumas dubiedades. Fora um jornal marginal para uns, de extrema direita para outros e porta-voz da Igreja Católica para muitos. Contudo, em muitos aspectos todos esses elementos formaram o periódico, portanto há certa razão em cada assertiva. Por outro lado, há uma perspectiva inegável: a de que o Jornal Novidades era em certa medida um dos termômetros da relação Estado/Igreja, manifestando longos textos de louvor a Salazar ou simplesmente deixando de tocar em aspectos políticos, o que era raro, mas, vez por outra, ocorria.

Entretanto, se há convergência entre os investigadores dos media, era do controle que o matutino fizera sobre determinados assuntos, condenando ou congratulando os mais diversos temas. O controle social, através da imprensa, é um instrumento moderno e mostra o poder e a influência que os discursos podem ter sobre o sujeito. Esses discursos e suas influências são perceptíveis, mas nem sempre mencionados pelos estudos que prezam outras fontes. É necessária, para isso, a confrontação das reportagens, da bibliografia e do tempo para perceber os significados do controle e da disciplina, através desse moderno modelo de dominação, resistência, inclusão e exclusão social que fora o periodismo católico.

O trabalho executado por longos anos pelo principal porta-voz da Eclésia – o Jornal Novidades – cumprira, em maior ou menor grau, a vigilância, através das matérias que publicava, consolidando a ideologia Salazarista. Desse modo, os sujeitos estão sendo

influenciados pela imprensa pelo controle daquilo que é publicado. O indivíduo que lê todo o dia a mesma coisa se articula com a formulação de Foucault (1997, p. 128) e da maneira como sintetizou as bases do controle e da disciplina, e que alguns pequenos hábitos perfaziam essa estrutura mental, na conformação dos corpos e dos costumes: “Todas as pessoas [...] chegando a seu ofício de manhã, antes de trabalhar começarão lavando as mãos, oferecerão seu trabalho a Deus, farão o sinal da cruz e começarão a trabalhar”.

A imprensa terá um pouco dessa lógica sequencial. Todas as pessoas, todos os homens e todas as mulheres devem ser “moldados”. Esse “moldado” variaria, conforme a ideologia do jornal e esse será um dos motes da imprensa católica: propalar notícias, que, ao fim e ao cabo, são tomadas como reveladoras da verdade, sem que a doutrina da Igreja seja prejudicada por leituras impróprias.

A proliferação de jornais em Portugal no início do século XX foi um dos pilares que deu sustentação a um certo combate no campo das tipografias, ressaltando novamente os conceitos de bom e mau. A difusão e a crescente procura por informações em formato jornalístico afastara o português católico das leituras edificadoras. Como afirma Maria José Remédios:

Numa sociedade que se afasta do modelo medieval de sociedade cristã, sem cisão entre Império e Igreja, encaminhando-se para a distinção entre poder temporal e o espiritual, a imprensa católica, inicialmente de iniciativa particular e depois apoiada por organismos da Igreja, ‘tornou-se progressivamente num dos meios de ação privilegiados pela Igreja Católica na evangelização da sociedade moderna’. (FONTES, 1999, p. 247)

Entretanto, o Jornal Novidades, quando é comprado, dá uma nova perspectiva aos

ideais católicos de boa105

imprensa. Em 15 de dezembro de 1923, o Jornal Novidades torna-se o órgão oficioso da Igreja Católica portuguesa. De propriedade da União Gráfica, voz da

105 “Na opinião dos activistas católicos, a imprensa não é apenas um modo de combater o erro, mas “é o meio

mais universal, mais fácil e mais eficaz de educação, de expansão comunicativa e de sociabilidade” (Cruzada a favor da Boa Imprensa, Lisboa, 1902, p.6 Apud Neto – O Estado, 450). A ideia perdura e faz seu caminho com novos enquadramentos. Em maio de 1935, no Boletim da Acção Católica Portuguesa pode ler-se ainda que um dos principais fins da organização é precisamente “a difusão da boa imprensa”. “A igreja tem de ter imprensa sua, exclusivamente sua, desde os diários que satisfaçam como órgãos de informação geral quotidiana a curiosidade do homem moderno, até as revistas gráficas, literárias, científicas, humorísticas e infantis, que em todos os campos sejam os adaís da campanha incessante que a Igreja tem de sustentar para desenvolver a sua missão no mundo” (cfe. Ano 2, nº13 p.19). Assim, a imprensa católica, originariamente de iniciativa particular mas progressivamente apoiada e sustentada de modo institucional – pelas associações de fiéis, congregações religiosas, dioceses, paróquias, e já em meados do século XX, pela própria Conferência Episcopal Portuguesa. – tornou-se, ainda que de modo nem sempre pacífico, num dos meios de acção privilegiados pela Igreja Católica na evangelização da sociedade moderna. (FONTES, 2000, p. 423)

Eclésia portuguesa, terá como redator chefe o leigo Tomás de Gamboa. (REMÉDIOS, 2003, p. 12)

Desde sua criação em 1885, o Jornal Novidades passou por algumas fases, em geral, sua agenda, era perceptível. No editorial de criação, o matutino Novidades reivindica a bandeira da “novidade”, portanto diferente dos demais órgãos da imprensa até ali vistos. Emídio Navarro, seu fundador, fora um monarquista que viu com maus olhos as publicações republicanas e liberais. Entretanto, não furtou-se de utilizar as páginas do Novidades para manifestar tais posicionamentos oposicionistas a um tempo que não tardaria: o da república. Na edição de n.º 4 declarou: “o republicanismo português não é um partido: para tanto basta ver a qualidade dos chefes. É, porém, uma doença, um tumor, que vai lavrando e dum dia para o outro pode atacar gravemente este jardim da Europa à beira mar plantado” (SANTOS, 2006, p. 90). Em tom ufanista ao referenciar Portugal, o fundador do Novidades, que informa que não há pauta definida para o jornal, conforme seu primeiro editorial, posiciona-se politicamente e manifesta seu ultraje pelas questões republicanas.

É preciso assinalar que, à época, havia algumas categorias jornalísticas que estavam consolidadas no mercado: o jornalismo comercial, o jornalismo político partidário e o jornalismo que misturava cultura e política. O Jornal Novidades estava nessa última categoria (SANTOS, 2006, p. 91). Todavia, o jornal chega às mãos dos portugueses, através do editorial “Apresentação”, apontando o que seria o objetivo desse matutino:

Este jornal apresenta-se ao público sem programa. Um programa pressupõe um ideal definido, e, no momento actual, não o tem a sociedade portuguesa. Todos nós, os que lidamos neste marulhar de águas turvas e revoltas, a que se chama política, navegamos um pouco à mercê dos ventos encontrados, em demandas de ignotas pragas, sem sabermos que perigos e tempestades não esperam detrás dos cerrados horizontes. Vamos para o desconhecido. Não fazendo programa, trabalharemos por ter uma história. (NOVIDADES, 7 jan. 1885)

Abraçando a causa do novo, essa menção à falta de programa que o primeiro editorial refere não traduz o que de fato ocorria. O Jornal Novidades surge com uma roupagem nova, mas com um posicionamento político também bem evidente: a monarquia constitucional. Em sua breve trajetória secular – e ela é efêmera, pois a trajetória como jornal oficioso da Igreja Católica portuguesa, é mais longa – teve algumas vicissitudes e lutou pela sobrevivência, num jornalismo que embrionariamente se afirmava como profissão. Em algumas ocasiões sacrificara a periodicidade em detrimento das dificuldades, sendo oferecido bianualmente.

Em dezembro de 1923, quando tornou-se o principal instrumento de comunicação do órgão oficioso português, havia o consenso e o entendimento da alta hierarquia da Igreja que a