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Enteroparasitoses nas terras indígenas – Prevalência geral

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 76-78)

SB DIZIMEIRO A PERUAÇU

6.2 Enteroparasitoses nas terras indígenas – Prevalência geral

No universo de 2.973 crianças indígenas de 0 a 12 anos foram obtidas amostras de fezes de 2085, e destas, 1.053 (50,5%) apresentaram EPF positivo. O Pólo-base com maior prevalência foi o Sumaré (58,8%), e com a menor prevalência o Pindaíbas (41,8%).

Observou-se maior prevalência de crianças parasitadas por protozoários (32,7%) do que por helmintos (7,6%), e com relação ao poliparasitismo, o pólo Brejo Mata Fome foi o que apresentou a maior prevalência de indivíduos poliparasitados por protozoários patogênicos, enquanto o pólo Pindaíbas apresentou a menor prevalência, sendo esta diferença significativa.

O pólo Sumaré foi o que apresentou a maior prevalência de indivíduos poliparasitados (1,7%) e monoparasitados (12,6%) por helmintos.

Entre os Xakriabá residentes no município de São João das Missões, Minas Gerais, o estudo revelou situação de elevada prevalência parasitária. Essa é uma das características de populações com baixa renda, que vivem em condições precárias de saneamento básico e higiene, sendo as crianças as mais afetadas (Ferreira et al., 2006).

No estudo do perfil epidemiológico dos povos indígenas é necessário conhecer a dinâmica das doenças infecto-parasitárias, que constituem uma importante causa de morbidade e mortalidade nessas populações. Inquéritos realizados em índios da Amazônia e do Nordeste indicam acentuada presença de poliparasitismo, atingindo todas as faixas etárias e ambos os sexos, assim como o observado em nosso trabalho (Fontbonne et al., 2001; Miranda et al., 1990; Salzano & Callegari-Jacques, 1988).

Coimbra Jr. e Santos (2001) destacam o papel de diversas doenças infecto-parasitárias no perfil de morbimortalidade indígena, incluindo endemias como tuberculose, malária e leishmaniose, bem como das gastrenterites e infecções respiratórias, essas últimas com impacto particularmente intenso no segmento infantil. Pode-se afirmar que o perfil de mudança da saúde nas terras indígenas não acompanha o perfil da sociedade brasileira, que inclui aumento da expectativa de vida ao nascer e diminuição da morbimortalidade por doenças infecciosas.

Segundo Basso et al. (2008), no Brasil, o dimensionamento da prevalência das parasitoses intestinais tem sido realizado desde a década de 40. No entanto, esses estudos, em sua maioria refletem as condições de pequenas localidades, o que dificulta um diagnóstico mais abrangente.

A elevada prevalência de poliparasitismo por protozoários observada em nosso estudo assemelha-se aos achados de Ouattara et al. (2010). Esses autores observaram em escolares de Agboville, região de Côte d‘Ivoire na França, elevada prevalência das espécies patogênicas E. histolytica/díspar e G. duodenalis. As múltiplas infecções podem ser explicadas ao menos em parte pela forma de transmissão, que é semelhante entre protozoários como E. histolytica, G. duodenalis, E. coli, e também pelos precários hábitos de higiene das localidades estudadas, onde o contato com água contaminada possibilita a infecção.

A elevada prevalência de poliparasitismo por protozoários observados em nosso estudo (32,7%) pode ser conseqüência das deficiências encontradas na região em relação às condições sanitárias, que são inadequadas. Segundo o inquérito realizado por nossa equipe 20% dos Xakriabá não possuíam água dos canos tratada. Trabalhos desenvolvidos em outras localidades, como o realizado em uma comunidade indígena de Pernambuco, Brasil, mas com as mesmas deficiências, mostram resultados semelhantes quanto ao poliparasitismo (De Carli et al., 1997; Fontbonne et al., 2001)

De acordo com três estudos coproparasitológicos realizados em amostras de solo peridomicíliar por Moura et al. (2010), conduzidos de 2004 a 2006 nas terras indígenas Faxinal e Ivaí, Estado do Paraná, habitadas pela etnia Kaingáng, os níveis de contaminação do solo por parasitas humanos ou de animais foram elevados. Nestas localidades, 75,7% e 96,2%, respectivamente, apresentavam contaminação, sem diferença significativa entre elas. No entanto, a intensidade de helmintos transmitidos pelo solo foi baixa. Os dados obtidos por esses autores demonstram que a maioria dos parasitos encontrados no solo não são da espécie humana, que a contaminação do solo aumentou com a presença de fezes no peridomicílio e por fim, que o grau de contaminação do peridomicílio não era influenciado pela presença de animais domésticos.

Rios et al. (2007) em trabalho realizado também em terra indígena localizada no distrito de Iauaretê, Estado do Amazonas (AM), também identificou elevado índice de prevalência em

amostras fecais, com 76% dos indivíduos parasitados na vila Dom Bosco e 56% na vila São José, bem maior do que a observada em nosso estudo (50,8%).

Miranda et al. (1998) visando estudar a ocorrência do parasitismo intestinal na aldeia Paranatinga da tribo indígena Parakanã, Amazônia, realizaram dois inquéritos coproparasitológicos, em 1992 e 1995. O inquérito realizado em 1992 indicou que 80,2% dos índios encontravam-se parasitados por pelo menos um enteroparasita, em contrapartida, o inquérito de 1995 indicou positividade de 88,5%. Os métodos usados na identificação das formas parasitárias foram os de Hoffman e exame direto, dois métodos simples. Apesar do aumento na prevalência total nesta terra indígena, houve diminuição da prevalência de ancilostomídeos, E. histolytica, G. duodenalis, e ausência de S. stercoralis. Esse estudo evidenciou maior prevalência de parasitoses do que nosso trabalho.

Gilio et al. (2006) verificaram a incidência de parasitoses intestinais em indígenas de 0 a 20 anos, de ambos os sexos, residentes na Reserva do Rio das Cobras, PR. Os resultados indicaram 69,5% de parasitismo na população, sendo que o grupo etário predominante foi o infantil, assim como o observado em nosso trabalho. A elevada prevalência de parasitoses pode justificar-se devido à maior suscetibilidade às infecções parasitárias dessas populações, assim como condições inadequadas de habitação, contato contínuo com ambiente contaminado e ausência de condições higiênicas mínimas.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 76-78)

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