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Saneamento básico e enteroparasitoses

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 36-40)

2 REVISÃO DA LITERATURA 1 Saúde Indígena – Brasil

2.2 Saneamento básico e enteroparasitoses

Segundo a Organização Mundial da Saúde, saneamento é ―o controle de todos os fatores de meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre o seu bem- estar físico, mental ou social‖, dessa forma, pode-se afirmar que esta é uma forma de promover a saúde do ser humano, assim como contribuir na melhora da condição de vida das populações (Pena & Heller, 2008).

Dois terços da população mundial vivem em países subdesenvolvidos, com ausência de condições sanitárias adequadas e suplementação de água potável de qualidade, o que contribui para a transmissão de patógenos entéricos. Por tais motivos, pelo menos 750 milhões de episódios de diarréia ocorrem a cada ano em países subdesenvolvidos resultando em cinco milhões de mortes (Mirdha & Samantray, 2002).

O sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequado é responsável por considerável parcela das enfermidades incluídas nas denominações "feco-oral, transmissão hídrica ou relacionada com a higiene" (Mara e Feachem, 1999; Pena & Heller, 2007), e tem como fonte principal de contaminação fezes humanas em água, alimentos, mãos e utensílios domésticos, assim como no ambiente peridomiciliar (Wolman, 1975; Macedo, 2004).

Diversos autores postulam que intervenções ambientais sistêmicas como o esgotamento sanitário e o abastecimento com água tratada apresentam em longo prazo efeitos sobre a saúde consideravelmente superiores às intervenções médicas, além de prevenir mortes e aumentar a expectativa de vida (Heller, 1997).

Indicadores de saúde, em geral, apresentam incidência variada em função da idade. Para as crianças, os principais problemas de saúde pública decorrem de sua defesa imunológica ainda em formação, que se desenvolve com o crescimento, e ainda em função do ambiente (Correia et al., 1999).

O impacto das intervenções ambientais nas TIs é avaliado através do módulo ―censo sanitário‖ do SIASI que reúne dados sobre fontes de água utilizadas pelas etnias indígenas, hábitos de higiene, destino do lixo, sistemas de transportes, comunicação e atividades econômicas nas aldeias indígenas. Os Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN‘s), que

atuam em conjunto com as equipes multiprofissionais de saúde, são os responsáveis pela aplicação do questionário do "censo sanitário" (Macedo, 2004).

Na TI Xakriabá, até o ano de 2000, as intervenções para melhoria do abastecimento de água limitavam-se à implantação de sistemas de abastecimento de água precários, sem qualquer avaliação consistente quanto aos aspectos de engenharia. Naquela época, apenas onze aldeias e seis sub-aldeias possuíam sistemas de abastecimento de água. A partir de 2000, novos sistemas e melhoramentos foram implantados nessa TI, tais como, construção de módulos sanitários, construção de quatro poços tubulares nas aldeias, distribuição de filtros cerâmicos domiciliares de água, distribuição assistida de hipoclorito de sódio em 17 aldeias, com população beneficiada estimada em 1.000 habitantes, dentre outras medidas (Macedo, 2004). A partir de 2002, novo programa – o SISAGUA (Sistema de Informação de Água para Consumo Humano) – veio melhorar o abastecimento de água nessa TI, de modo que atualmente a quase totalidade dos domicílios possuía água canalizada, com exceção das aldeias próximas do Peruaçu.

O abastecimento de água juntamente com esgotamento sanitário, desempenha um papel relevante na melhoria do estado de saúde dos indivíduos, que apesar de não se expressarem nos indicadores de mortalidade, podem prejudicar a saúde e o estado nutricional das populações. Portanto, não só a quantidade, mas a qualidade de água disponível para o consumo possui um impacto no estado geral de saúde das populações (Teixeira & Heller, 2004).

No Brasil, os padrões de potabilidade são estabelecidos pela Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde. Esta, por sua vez, define água potável como ―água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam aos padrões de potabilidade e que não ofereçam riscos à saúde‖ (Ministério da Saúde, 2005). Entre os povos indígenas não atendidos pelo SISAGUA é muito freqüente o uso de águas procedentes de córregos, cacimbas ou cisternas. Na TI Xakriabá é comum a presença de caixa de telha que recebem a água da chuva, construídas através do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), idealizado, em 2001, tendo iniciado a execução em 2006, até dezembro de 2009, pela rede de entidades denominada Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). Do total de cisternas construídas pela Regional Januária, 87% (1.725) foram construídas por meio de financiamentos do Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS) e Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), que financiaram 1.279 e 446 cisternas, respectivamente (ASA, 2009; Brasil, 2008).

Com relação ao lixo, a ausência de coleta associada ao manuseio e à disposição inadequados é outro importante fator de risco para a saúde pública, mas que, no entanto carecem de informações referentes aos efeitos dos resíduos sólidos sobre a saúde humana (Catapreta & Heller, 1999).

Este mesmo autor destaca que o ser humano pode ser atingido de várias formas pelos efeitos do lixo, uma vez que este constitui ambiente favorável ao desenvolvimento de microrganismos veiculadores de doenças. Nos casos em que a deposição de lixo se faz de forma inadequada, com o acesso livre de pessoas, os resíduos oferecem risco de contaminação, com destaque para situações em que pessoas e animais disputam componentes dos resíduos como ‗alimentos‘. As TIs, assim como as regiões rurais brasileiras, carecem, em função da logística, de uma coleta de lixo, podendo esse, se não queimado ou enterrado, propiciar a manutenção e propagação de doenças, seja através dos agentes patogênicos, seja através da proliferação de vetores mecânicos (Rouquayrol, 2006).

O esquema abaixo (Figura 2) representa as vias de contato lixo-homem, o que explica as trajetórias através das quais a transmissão de doenças relacionadas à disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos acontece. Observa-se que o raio de influência e os agravos sobre a saúde apresentam-se de difícil identificação em função da diversidade de vias e a ação dos vetores (Heller, 1998).

Baltazar et al. (1993) relataram que intervenções no hábito higiênico podem reduzir a transmissão de enteropatógenos pela via fecal-oral, e, dessa forma, pode-se citar que uma melhora na suplementação de água juntamente com modificações sanitárias reduz em 20 a 27% a incidência de diarréia infantil. No entanto, a combinação de água potável e bons hábitos higiênicos pessoais e domésticos produzem redução de 40%.

Trabalhos que visam estimar prevalência das parasitoses intestinais são importantes se acompanhados de medidas não isoladas nas TIs. Sendo assim, as praticas educativas,

quando bem aplicadas levam as pessoas a adquirirem os conhecimentos necessários para a prevenção e a redução das enteroparasitoses (Basso et al., 2008).

Massara & Schall (2004) relatam experiência realizada em Jaboticatuba, MG que focou questões em saúde como tema para mobilizar escolares e a comunidade em um trabalho que integrou ambiente, saúde e cidadania. Observou-se segundo os autores, que professores e crianças adquiriram conhecimento e também confiança na habilidade de melhorar hábitos considerados saudáveis. A educação em saúde resulta no controle mais efetivo e permanente da esquistossomose, assim como de outras parasitoses intestinais promovendo benefícios à população.

Figura 2: Representação esquemática das vias de contato homem-lixo.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 36-40)

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