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Prevalência de enteroparasitoses helmintos

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 79-83)

SB DIZIMEIRO A PERUAÇU

6.4 Prevalência de enteroparasitoses helmintos

Nossos resultados mostraram um perfil interessante com relação à prevalência de geohelmintos, caracterizado por uma baixa prevalência, sendo a de ancilostomídeos 3,5% (n=73), Hymenolepis nana 2,1% (n=44), E. vermicularis 1,1% (n=22), S. mansoni 0,5 % (n=11) e A. lumbricoides 0,4% (n=9). Os casos de S. mansoni foram observados apenas nas aldeias Dizimeiro e Peruaçu, localizadas no Pólo-base Sumaré. Estas aldeias fazem

divisa com rio Peruaçu que é rico em planorbídeos, fator este que poderia justificar a prevalência de S. mansoni. O S. stercoralis foi encontrado em oito indivíduos, no Brejo Mata Fome, no Sumaré e no Itapicuru; e a Taenia sp em apenas dois indivíduos, um no Pólo-base Brejo Mata Fome e outro no Itapicuru. O T. trichiura foi observado em apenas uma criança do Pólo-base Brejo Mata Fome.

Essa baixa prevalência de helmintoses foi também observada por outros autores (Ferreira

et al., 2000; Massara et al., 2004; Menezes et al., 2008).

Ferreira et al. (2000) estimaram a prevalência e distribuição social das parasitoses intestinais na infância, a fim de estabelecer a tendência secular dessas enfermidades e analisar sua determinação, com base em dois inquéritos domiciliares (1984/85 e 1995/96), realizados em São Paulo, SP, e houve redução na prevalência das parasitoses em geral (de 30,9% para 10,7%), das helmintoses (22,3% para 4,8%), da giardíase (14,5% para 5,5%) e do poliparasitismo intestinal (13,1% para 0,5%).

Menezes et al. (2008), em um inquérito coproparasitológico realizado, em 2006, com 472 crianças de três a seis anos oriundas de creches mantidas pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Minas Gerais, observou que a prevalência de positividade para A. lumbricóides também foi muito baixa (3,0%).

Embora a prevalência de helmintos encontrados nas crianças residentes na Terra Indígena Xakriabá tenha sido muito baixa, este grupo etário é considerado de acordo com dados da literatura, como de risco para infecção por estarem em período de crescimento físico e metabolismo intenso, com aumento de demanda nutricional, logo, quando essa necessidade não é suprida, estes são mais suscetíveis. Além disso, as crianças estão continuamente expostas ao solo e água contaminados (Machado et al., 2008)

A transmissão dos helmintos intestinais ao homem acontece por duas vias, sendo por ingestão de ovos ou por penetração ativa de larvas na pele ou mucosa. A ingestão de ovos acontece quando o indivíduo usa água, frutas e verduras, ou através da poeira, ou quando são levados à boca objetos contaminados. A contaminação por penetração ativa das formas larvárias ocorre quando o indivíduo entra em contato com solo ou água contaminada que contenham larvas infectantes (Ramos, 2006).

Dentre vários fatores, a prevalência das parasitoses intestinais depende principalmente do grau de exposição da criança às formas infectantes (cistos, ovos e larvas). No entanto, as condições de moradia e de saneamento, cuidados de higiene e saúde, renda e educação materna são também condicionantes desta situação (Basso et al., 2008).

Alves et al. (2003) em trabalho realizado no interior do Piauí, relatam que a disseminação das helmintíases na região nordeste do país relaciona-se com a umidade do solo. Os autores afirmam que em algumas regiões, a longa estação seca seja um fator limitante para a proliferação de parasitos. Em adição, foi observado que a Terra Indígena Xakriabá apresenta estreita semelhança climática ao Nordeste do país, com clima semi-árido, o que pode justificar a baixa prevalência de helmintos encontrada.

Vários estudos descrevem a associação freqüente entre A.lumbricoides e T.trichiura, que pode associar-se à similaridade dos ciclos de vida, e pela grande quantidade de ovos eliminados pelas fêmeas, além de sua maior resistência no meio ambiente, mantendo os focos de manutenção e transmissão destas enteroparasitoses (Basso et al, 2008).

Considerando que os geohelmintos necessitam de condições específicas e adequadas de umidade do solo e temperatura para se desenvolverem, a ausência de tais condições na terra indígena Xakriabá, São João das Missões, explicaria em parte a baixa prevalência de

A. lumbricoides e T. trichiura.

Ao contrário desses helmintos, observamos uma maior prevalência de crianças parasitadas por ancilostomídeos (n=73, 3,5%) procedentes em sua maioria de uma mesma aldeia – Embaúba II. É interessante observar que essa aldeia é uma das poucas com condições de umidade e luz favoráveis a manutenção do ciclo desse parasito.

De acordo com relatos da literatura (Hotez et al., 2005), as mais elevadas prevalências de ancilostomídeos ocorrem na África e oeste da Ásia. Elevadas transmissões também são descritas em áreas de pobreza rural das regiões tropicais, incluindo sul da China, Índia e Américas. Em todas essas localidades observa-se estreita relação entre prevalência de ancilostomídeos e condição socioeconômica, da mesma forma como relatamos no presente trabalho.

Macedo (2005) observou, no município de Paracatu, MG, uma a taxa de prevalência representativa de infecção por ancilostomídeos (32,2%), seguida por H. nana (8,4%),

sendo essa prevalência no conjunto com os protozoários comensais iguais a 62%, contrastando com os dados encontrados na terra indígena Xakriabá em relação à infecção por ancilostomídeos. Essas amostras foram analisadas de acordo com o método de Lutz. Borges et al. (2009) relataram que as formas infectantes de transmissão das parasitoses são encontrados em diversos locais, tais como no solo, água e também alimentos, como conseqüência da contaminação por material fecal humano ou animal. Dessa forma, a prevalência de helmintos transmitidos pelo solo (A. lumbricoides, A. duodenale ou N.

americanus, T. trichiura e S. stercoralis), fornece uma informação importante sobre a extensão dos problemas relacionados à saúde pública, e tem sido utilizado para direcionar as ações em saúde.

Em relação à himenolepíase, a baixa prevalência na TI Xakriabá contrasta com a observada por Dias JB et al. (2009), que estudou indígenas da aldeia Mapuera (Oriximiná, Estado do Pará, Brasil), e observaram que o H. nana foi o parasito mais prevalente (20,5%), seguido de cistos de protozoários e de A. lumbricoides (7,2%) e E. vermicularis (1,2%). O número elevado de infectados por H. nana naquela localidade, ao contrário do que observamos na TI Xakriabá, denota também má situação sanitária, com ocorrência do fecalismo. Além disso, é importante mencionar que esse parasito é geralmente transmitido pela ingestão acidental de pulgas ou de gorgulhos de cereais (Tenebrio sp infectados presente em cereais quando mal acondicionados), sendo necessário realizar análise das cestas básicas distribuídas mensalmente pela FUNASA e FUNAI.

Com relação à enterobíase, Barros de Melo et al. (2004) relataram que essa parasitose ocorre no mundo inteiro e é a helmintíase de maior prevalência nos países desenvolvidos. A forma de transmissão se dá pelo contato pessoa a pessoa ou por fômites, e o homem é o único hospedeiro. A transmissão indireta pode ocorrer com a inalação de ovos presentes na poeira, e através da auto-infecção, que reforça a necessidade de repetição do tratamento. O sintoma mais comumente apresentado pelos pacientes acometidos é o prurido anal noturno. O achado de ovos de Taenia. sp. foi inexpressivo, ocorrendo em apenas duas crianças. É importante ressaltar também que a criação de porcos na TI é pouco realizada pela população. Taenia solium e T. saginata são parasitos de ampla distribuição, encontrando-se mais freqüentemente em áreas onde existe o hábito de ingerir carne de gado e/ou de porco,

Deve-se considerar que os baixos índices de infecção por S. stercoralis e E. vermicularis, entre as crianças pesquisadas na TI Xakriabá possam ter sofrido alguma influência do método de exame parasitológico utilizado, já que o mesmo não é o mais adequado para identificação das referidas espécies. Como nesse trabalho as amostras de fezes foram coletadas em conservante, este impede a extração de larvas de S. stercoralis. Além disso, sabe-se que o método mais adquado para o exame de E. vermicularis é o swab anal, devido ao seu comportamento biológico.

Apesar da prevalência geral de S. mansoni ter sido baixa nessa TI, nas aldeias Dizimeiro e Peruaçu, localizados no Pólo-base Sumaré, a prevalência foi elevada. É importante salientar que essas são as únicas aldeias Xakriabá que fazem divisa com o rio Peruaçu, rico em planorbídeos.

O S. mansoni é capaz de causar a infecção a partir do contato com água infestada por cercárias, acometendo principalmente viajantes ou indivíduos sem exposição prévia. Em áreas que são consideradas endêmicas, a exposição ocorre principalmente em indivíduos jovens (Lima e Costa et al., 1994). O quadro clínico da esquistossomose mansônica está relacionado com a intensidade da infecção e consequentemente a quantidade de ovos retidos nos tecidos. Portanto, indivíduos com altas cargas parasitárias são mais propensos a desenvolver a doença e contaminar o ambiente com ovos, mantendo a endemicidade (Motta et al., 2002).

Apesar dos programas de controle dessa parasitose terem progredido nos últimos 20 anos, com a implantação do Programa de Controle de Esquistossomose, a partir de 1980 (Amaral

et al., 2006), as TIs têm sido negligenciadas, pois só recentemente as medidas de saneamento têm sido incrementadas. Frente à alta endemicidade da esquistossomose nessas aldeias, e frente a sua gravidade, nossa equipe está ampliando os trabalhos nessa área a fim de estimar a morbidade a que essa população está sujeita.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 79-83)

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