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SABERES VEICULADOS NA FORMAÇÃO DAS MULHERES BAIANAS PARA PROFESSORAS NA VIRAGEM DO SÉCULO XIX PARA O SÉCULO

3.1. Primeiros tempos da Escola Normal da Bahia: um espaço que se feminiza

3.1.1 Entre Escola e Instituto: (re) formar para quê?

O século XX se aproxima e, com ele, a eminente mudança de regime, de Monarquia para a República. O imperativo de expansão da instrução primária, não alcançada no século anterior, tornava-se premissa para que o curso de formação para o magistério adquirisse cada vez mais relevância. Fatores sociais, políticos e econômicos que marcaram esta fase de transição, inclusive, mencionados ao longo do trabalho, impulsionaram as idéias de modernização, ordem, progresso e civilidade que passaram a nortear as reformas no campo da educação. Com efeito:

Considera, então, como base da reforma a reconstrução do caráter nacional e do sentimento nacional do povo brasileiro, definindo como eixos da nova organização do ensino a educação do caráter, a educação cívica, a educação física e o papel da mulher como educadora do caráter das novas gerações. (SAVIANI, 2008, p. 169).

De acordo com o autor citado, difunde-se na época a concepção de que toda reforma escolar poderia ser resumida na questão do mestre e dos métodos. Nessa linha, em 1890,

destaca-se a iniciativa de Caetano de Campos, então Diretor da Escola Normal de São Paulo quando elaborou com Rangel Pestana, o decreto de 12 de março de 1890. Esta reforma foi criada sob a seguinte premissa: antes de reformas na Instrução Pública, fazia-se necessário e urgente as “escolas modelos” anexas à Escola Normal. “Em conseqüência, é criada Escola- Modelo, anexa à Escola Normal de São Paulo, composta por duas classes, uma feminina e outra masculina”. (Ibid, p. 171).

Nesse sentido, aqui na Bahia, há continuidade nas práticas de formação do quadro de professoras/es neste período em que generalizar os rudimentos do saber ler, escrever e contar ao contingente de analfabetos se tornou imperativo para a construção da sociedade desejada. Entre o final do século XIX e primeira década do século XX, as reformas no campo da educação e, em especial, no curso normal, decorreram da necessidade de garantir uma

instrução popular com bases sólidas e cientificas, assim demandavam os Relatórios. Em tais

fontes, encontramos recorrentemente, a demanda iniciar as reformas deveriam a partir das Escolas Normais.

As Falas e Relatórios do final do século XIX a todo o momento são expressivos quanto à necessidade de reformas na instrução pública baiana uma vez que as já realizadas durante o período, inclusive, a de 1881, segundo avaliações, não atenderam as demandas existentes. É válido destacar a Fala do Presidente da Província João Capistrano Bandeira indicando que “nenhum ramo da administração existia que mais solicitasse interesse esclarecido e atento do que a difusão do ensino popular”:

A nenhum de vós são estranhos os embaraços que envolvem este assumpto e elles por si só explicam esta lentidão com que, em geral, a educação popular vai alcançando desenvolver-se, a despeito da solicitude e energia empregadas pelos Governos dos paizes mais cultos em promovel-a e aperfeiçoal-a. É que o progresso da instrução pública depende de um complexo de medidas, muitas das quaes são subordinadas à acção lenta do tempo e ao desenvolvimento material do Estado.

Reconheço com viva satisfação que se tem feito n’este sentido alguns esforços n’esta Província, mas ainda que o estado de sua instrucção pública elementar não seja absolutamente mao, não corresponde, todavia à despeza relativamente crescida que se lhe tem consagrado. (BANDEIRA, 1887, p. 97).

As Escolas Normais passaram a ter um duplo fim: não só o de educar como o de instruir.

Cassiano da Franca Gomes (1894, p. 3), Diretor da Escola Normal de Homens, dizia que sem esse duplo caráter não teriam organizada em boas bases a instrução e a educação popular; “porque se era verdade que tanto vale o mestre, quanto vale a escola, não é menos verdade que tanto vale a escola normal, quanto valerão os futuros mestres”.

Assim, entre 1890 e 1914, foram sancionadas reformas educacionais que evidenciaram a política de formação de professoras/es ensejadas por normas oficiais e ações do poder público.

Ainda que a primeira reforma da instrução pública do estado posterior à mudança de regime político tenha sido com o Ato de 31 de dezembro de 1889, esta foi logo suspensa após quatro meses de execução sem maiores esclarecimentos.

Deste modo, em substituição tivemos o Ato de 18 de agosto de 1890, considerado nesse estudo como um marco no campo da educação baiana após a Proclamação da República.

Este Ato manteve as duas escolas normais sob a mesma denominação, - Escola Normal para Homens e Escola Normal para Senhoras - em externato e com a duração de

quatro anos de estudos.

O direito a matrícula na Escola Normal continuava sob a exigência de Atestados como da aprovação no exame de admissão. Uma vez matriculadas/os as alunas e alunos iriam estudar as disciplinas que seguem abaixo, assim distribuídas ao longo dos quatro anos de curso:

Figura 15: Prof. Cassiano da França Gomes, Diretor da

Escola Normal de Homens e do Instituto Normal, de 1890 a 1898; assessorou o Diretor Geral de Estudos, Satyro de Oliveira Dias, na elaboração e implantação das reformas naquele período. Fonte: TELES, J.F. de Memória Fotográfica - Diretores da Escola Normal da Província da Bahia (1836 a 1889) In.___ notícia histórica da instrução na província da Bahia. (1836 a 1936). Salvador: EGBA, 2003. p. 102

Figura 16: Prof. Antônio Bahia da Silva Araújo, Vice

– Diretor da Escola Normal de homens, de abril a novembro de 1890. Fonte: TELES, J.F. de Memória Fotográfica - Diretores da Escola Normal da Província da Bahia (1836 a 1889) In.___ Notícia Histórica da Instrução na Província da Bahia. (1836 a 1936). Salvador: EGBA, 2003. p. 100

PRIMEIRO ANNO SEGUNDO ANNO 1 Grammatica portugueza e caligraphia theorica e

pratica.

1 Grammatica philsophica applicada á lingua portugueza.

2 Leitura, grammatica e traducção da lingua franceza.

2 Grammatica e traducção e versão da lingua franceza; exercicios de conversação.

3 Grammatica e principio de traducção da lingua latina.

3 Grammatica e traducção da lingua latina.

4 Arithmetica: applicações praticas. 4 Methodologia: educação physica e moral. 5 Desenho: traços. 5 Desenho: sombra.

6 Geographia geral e cosmographia. 6 Historia Universal. 7 Pratica de methodos. 7 Metrologia e Algebra. 8 Musica: solfejo. 8 Botanica.

9 Prendas (Escola Normal de senhoras). 9 Pratica de methodos. 10 Trabalhos manuaes (Escola Normal de

homens)

10 Musica: solfejo.

11 Prendas (Escola Normal de senhoras).

12 Trabalhos manuaes (Escola Normal de homens)

TERCEIRO ANNO QUARTO ANNO 1 Noções de litteratura portugueza,

principalmente nacional.

1 Pedagogia, legislação do ensino; noções de hygiene.

2 Grammatica e traducção e versão da lingua latina.

2 Redacção e estylo.

3 Geometria e trigonometria. 3 Chorographia e historia do Brazil (Escola Normal de Homens).

4 Chorographia e historia do Brazil (Escola Normal de senhoras).

4 Zoologia; noções de anatomia e physiologia humana.

5 Pedagogia, sua historia; educação intellectual. 5 Chimica e Mineralogia.

6 Physica. 6 Logica; noções de direito patrio constitucional. 7 Psychologia; elementos de sociologia; noções

de economia politica.

7 Pratica de methodos

8 Pratica de methodos. 8 Musica: cantos.

9 Musica: solfejo. 9 Desenho: copia de modelos e objectos ao natural. 10 Desenho: sombra. 10 Prendas (Escola Normal de senhoras).

11 Prendas (Escola Normal de senhoras). 11 Gymnastica (Escola Normal de homens). 12 Trabalhos manuaes (Escola Normal de

homens)

12 Trabalhos manuaes (Escola Normal de homens).

Fonte: BAHIA, Acto de 18 de agosto de 1890. Regulamento da Instrução Primária e Secundária do Estado da Bahia. Atos do Governo do estado da Bahia de 28 de novembro de 1889 a 30 de junho de 1891. Salvador: Tipografia Bahiana, 1911, p.68- 134. Arquivo Público do Estado da Bahia(APBa).

Esta reforma, de acordo com estudos realizados, tomou com base o regulamento Bulcão, acrescentando-lhe algumas complementações. Por sua vez, a Reforma de 1890 previa um ensino disciplinar e fiscalizado, estabelecendo no Art. 2º que a inspeção do ensino seria da competência do Diretor Geral da Instrução Pública, do Conselho Superior de Ensino, do Diretor do Liceu, dos Diretores das Escolas Normais, dos Inspetores de distrito e dos Conselhos Escolares Municipais e Paroquiais. “Essa necessidade de garantir a inspeção é bem característica do período republicano, uma vez que este se caracteriza pelos ideais positivistas. Ideais estes que estavam assentados na manutenção da ordem, do controle e do civismo”. (DICK, 2007, p.25).

Encontramos nesta Reforma, o acréscimo das disciplinas: Língua Latina, Ginástica, Psicologia e Lógica; Elementos da sociologia, Noções de higiene e Práticas de ensino. Esta transformação no currículo do ensino normal, já indicava o atendimento à necessidade de um curso mais prático e menos conteúdista, bem como, certa interferência das idéias higienistas, provenientes dos discursos médicos propagados para o campo da educação nas primeiras décadas do século XX.

As finalidades atribuídas às Escolas Normais, principalmente, neste período, estavam ligadas à formação de professoras /es a quem era confiada a missão de preparar as novas gerações. Deste modo, tais instituições deveriam dar uma educação suficiente a tornar esses futuros profissionais capazes de se encarregar de bem educar a mocidade, formando-lhe o caráter, desenvolvendo-lhe o sentimento de amor a Pátria e da humanidade. Para tanto, era preciso dispor de um ensino moderno, ou seja, um ensino rigorosamente prático e

experimental, habituando os alunos na arte de ensinar.

As aulas da Escola Normal de homens, a partir desta Reforma, aconteceriam entre as 8h. da manhã e às 4h da tarde e da Escola Normal de Senhoras das 8h às 3h da tarde, sendo reservada uma hora para as refeições dentro ou fora do estabelecimento. Para tanto, as aulas foram distribuídas por tempo, dando a ver na cultura escolar baiana a introdução do quadro de horários.

Figura 17: SANTANA, Elizabete Conceição [et al.]. A construção da escola primária na Bahia: guia de referências temáticas

nas leis de reformas e regulamentos, 1890-1930. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 74. Quadro elaborado a partir do Ato de 18 de agosto de 1890. Regulamento da Instrução Primária e Secundária do Estado da Bahia.

Mas, apesar da ampliação do programa de estudos das Escolas Normais, o Título III do Art. 134 da Lei, coloca que o ensino da língua latina e o de ginástica seriam privativos da Escola Normal de homens e o de prendas domésticas da Escola Normal de Senhoras. Tal determinação só vem confirmar o continuísmo da educação sexista que sempre permeou a história da educação no Brasil. De acordo com Guacira Lopes Louro(2007):

Embora professores e professoras passem a compartilhar de uma vida pessoal modelar, estabelece-se expectativas e funções diferentes para eles e para elas: são incumbidos de tarefas de algum modo distintas separas por gênero (senhoras “honestas” e “prudentes” ensinam meninas, homens ensinam meninos), tratam de saberes diferentes (os currículos e programas distinguem conhecimentos e habilidades adequados a eles e a elas), recebem salários diferentes, disciplinam de modo diverso seus estudantes, têm objetivos de formação diferentes e avaliam de forma distintas. (LOURO, 2007, p.95-96).

Na Reforma seguinte preconizada na Lei n.117 de 24 de Agosto de 1895- esta lei foi regulamentada pelo Ato de 4 de outubro de 1895 - no que se refere às diferenças de gênero identificadas nas práticas de educação e de escolarização, de um modo geral, há expressão de futuras mudanças, porém, há muitas permanências. A partir desta reforma, as escolas normais de mulheres e homens são aglutinadas em um mesmo prédio, denominado Instituto Normal da Bahia - instituição de ensino secundário profissional que, segundo Art. 104, a finalidade do Instituto era “formar professores para as escolas públicas, ministrando a educação physica, intellectual, moral e prática necessária aos que se destinavam a arte de instruir e educar”.

No entanto, as salas seriam separadas e as portas de entrada seriam privativas a cada sexo. Com a alteração sofrida no funcionamento do ensino elementar, o Ato de 4 de outubro de 1895, posterior à Reforma n. 117, indica também, a possibilidade das professoras ministrar as aulas para meninas e meninos na escola mista, contudo, para evitar a “promiscuidade”, as aulas aconteceriam em sessões diárias: a primeira de três horas para meninos e a segunda, de quatro, horas, para meninas. Deste modo, ainda não se fala em co-educação.

No que tange às disciplinas organizadas entre os quatro anos de curso, o Art. 109 do Ato de 4 de outubro de 1895 estabelecia que a “língua latina, álgebra do 2º grau, trigonometria, mecânica, estatística, agronomia, topografia, trabalhos manuais e exercícios militares seriam destinadas exclusivamente ao sexo masculino”. Enquanto “jardinagem, horticultura, trabalhos prendas e economia doméstica” seriam conteúdos reservados para o sexo feminino (Art. 110).

CADEIRAS

Homens Senhoras HORAS POR SEMANA HORAS POR SEMANA 1º Anno 2º Anno 3º Anno 4º Anno 1º Anno 2º Anno 3º Anno 4º Anno Portuguez 5 4 2 1 5 4 2 1 Francez 5 3 1 1 5 3 1 1 Latim 3 3 1 1 Mathematica 5 4 2 1 5 4 1 1 Geographia 3 1 1 1 3 1 1 1 Historia Universal 3 3 1 1 3 3 1 1 Historia do Brazil 3 1 1 3 1 1 Pedagogia 3 3 3 3 3 3 Physica 6 2 6 1 Biologia 5 2 5 2 Agronomia 2 3 1 2 Sociologia 5 3 Contabilidade e escripturação mercatil 5 3

Horas por semana 24 24 25 27 21 21 22 22

AULAS Desenho 4 4 3 2 4 4 3 2 Gymnastica 2 2 2 2 Musica 2 2 2 2 2 2 2 2 Trabalhos manuaes 4 4 4 3 Prendas 3 3 3 4

Total das horas por semana 36 36 36 36 30 30 30 30

Fonte: BAHIA, Lei de 24 de agosto de 1895. n. 117. Leis e resoluções do estado da Bahia. Salvador: Tipografia do Correio de Noticias, 1895, p.245-276. Arquivo Público do Estado da Bahia(APBa).

Somente com a implantação desta Lei de 24 de agosto de 1895 é que os caminhos a serem seguidos pelo curso normal expressam certa estabilidade, inclusive com a expansão para o interior do estado. Conforme estabelecido nesta Lei constituiu-se o Ato de 17 de outubro de 1895 que criou duas escolas normais, uma para cada cidade de Caetité e outra para a cidade da Barra. Este Ato veio suprir a necessidade de aumentar quantitativamente as escolas normais em lugares distantes da capital. Infelizmente, estas escolas foram logo extintas em 190345, no entanto, apesar da breve existência, consideramos tais escolas como tentativa de expansão do curso normal baiano e mais um indicativo do processo de feminização em curso não só nas Escolas Normais como no magistério, já que ambas só recebiam mulheres.

Além da referida lei, em 1904 outra lei entra em vigor - Lei n. 579, de 3 de outubro. Esta altera a lei anterior de 24 de agosto de 1895, que organizava o ensino público. Desde então, há uma mudança referente à duração do curso normal que passa a ser dividido por seções. No título III da lei 117, altera os artigos que se referem à distribuição das cadeiras do Instituto Normal em seções. Conforme Art. 319, as cadeiras do instituto ficam subordinados á seguinte divisão por secções:

1ª secção: português e francês;

2ª secção: matemática ciências físicas e naturais elementares e noções de higiene geral;

3ª secção: geografia; história principalmente pátria e instrução cívica pedagogia e metodologia.

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A criação e regulamentação das escolas normais de Barra e Caetité foram, respectivamente, através do Ato de 17 de outubro de 1895 e do Decreto de 26 de maio de 1896. Porém, a extinção se deu através do Decreto n.215, de 29 de outubro de 1903.

Figura 18: Dr. Pedro da Luz Carrascosa,

Diretor do Instituto Normal, de 1898 a 1901 e de 1908 a 1912. Fonte: TELES, J.F. de Memória Fotográfica - Diretores da Escola Normal da Província da Bahia (1836 a 1889) In.___ notícia histórica da instrução na província da Bahia. (1836 a 1936). Salvador: EGBA, 2003. p. 103

Figura 19: Pharm. Leopoldino Antunes de

Freitas Tantu, Diretor do Instituto Normal de 1901 a 1902 e Vice-Diretor da Escola Normal em 1923. Fonte: TELES, J.F. de Memória Fotográfica - Diretores da Escola Normal da Província da Bahia (1836 a 1889) In.___ notícia histórica da instrução na província da Bahia. (1836 a 1936). Salvador: EGBA, 2003. p. 104

Na seqüência de leis, vale ressaltar a Lei nº 1051 de 18 de agosto de 1914, marco final do nosso estudo. Esta lei reforma o Instituto Normal do Estado, passando a denominá-lo de Escola Normal, com o curso de três anos para ambos os sexos, mas, funcionando em salas separadas com as portas de entrada e de saída privativas para cada sexo. Os estudos seriam seriados de modo que as respectivas matérias seriam ensinadas, de ano a ano, com as ampliações necessárias.

Primeiro Anno Segundo Anno

a) Portuguez; a) Portuguez;

b) Francez; b) Historia;

c) Arithemetica e Algebra; c) Geometria e Escripturação Mercantil;

d) Geographia; d) Geographia do Brazil;

e) Pedagogia e) Pedagogia f) Prendas; f) Methodologia; g) Desenho; g) Prendas; h) Gymnastica h) Desenho; i) Musica Terceiro Anno a) Portuguez; b) Historia do Brazil; c) Sciencias Physicas;

d) Sciencias Naturaes e Hygiene; e) Methodologia;

f) Instrucção Civica e Direito; g) Prendas;

h) Economia domestica; i) Musica;

j) Trabalhos manuaes

Fonte: BAHIA, Lei n. 1051 de 18 de agosto de 1914. Reforma o Instituto Normal do Estado - Leis do Estado da Bahia do ano de 1915. Salvador: Tipografia Bahiana. 1915

Figura 20: Prof. Elias de Figueiredo Nazareth, Diretor

da Escola Normal, de 1912 a 1921. Fonte: TELES, J.F. de Memória Fotográfica - Diretores da Escola Normal da Província da Bahia (1836 a 1889) In.___ notícia histórica da instrução na província da Bahia. (1836 a 1936). Salvador: EGBA, 2003. p. 105

Essa Lei revela no seu Art. 10, que a intensidade dos programas, em desdobramentos do plano geral de ensino é com o intuito, de torná-lo fundamentalmente prático, de maneira a assegurar a instituição com o seu tipo de escola profissional, a indispensável feição pedagógica.

Mas, para isso, era preciso dispor de escolas com estrutura física e com materiais apropriados para alcançar as finalidades objetivadas. No entanto, segundo os Relatórios oficiais, subsistiam ainda os mesmos problemas já apontados como a carência de instalações e de materiais ou a demora de chegada de materiais que compravam na Europa. Ainda existiam as criticas quanto à forma como ensinavam determinados conteúdos, quanto à dificuldade integrar o método intuitivo à realidade das escolas de alcançar, portanto, a finalidade própria de cada conteúdo. A título de exemplo:

Resente-se o ensino de sciencias physico-naturaes da falta de gabinetes, onde possam os alumnos receber a instrução prática indispensável á aprendizagem dessas disciplinas. (GOMES, 1893, p. 52).

A cadeira de desenho nada tem. Ainda se aprende e ensina desenhar olhos, narizes, boccas, mãos e paisagens europeas, isto é, não executa-se um verdadeiro desenho, representando os objectos ao natural, mas, imita-se uma imitação. Desta maneira desvirtua-se o ensino desta disciplina, fazendo desaparecer a observação directa, intelligente, e tira-se lhe assim seu valor prático e educativo. (GOMES, 1894, p. 6).

Nada se impõe presentemente com mais urgente necessidade que a inauguração dos trabalhos manuaes, prescrita no regulamento em vigor. Não é que a escola deva formar artistas, mas é que esse ensino, espelhado e seguido hoje pela Europa inteira e pela América, é o mais próprio à cultura das capacidades physicas, da intelligencia e do sentimento. O trabalho manual educativo, creado em Nãas da Suecia, adotado no mundo inteiro, não é propriamente um officio, embora exija uma certa dextreza de mãos. O que o recommenda não é sua utilidade, sim o seu caracter educativo. (Ibid., 1894, p. 8-9).

O professor Diogo Vallasques (1893) ao escrever para Revista do Ensino Primário46 em 1893, fala também sobre o ensino nas Escolas Normais:

46 A Revista do Ensino Primário foi publicada na Bahia em 1892. Até o momento foram localizados 12 números, de 1º de novembro de 1892 a outubro de 1893. A revista era uma publicação mensal, vinculada ao professorado baiano. Os redatores e autores dos artigos eram professores primários das escolas da Bahia.De acordo com Elizabete Conceição Santana (2008), a revista estava empenhada na causa do professorado, da criança e do ensino primário.

* Nesta Revista não houve escritos de professoras.

*Para saber mais: SANTANA, Elizabete Conceição. A voz dos professores baianos no início da República: a Revista do Ensino primário (1892-1893). In. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n. 36, p. 70-82, dez.2009 – ISSN: 1679-2584.

As escolas normaes são estabelecimentos de instrução profissional, pertencem, por conseguinte, a um ramo de ensino inteiramente prático. O que notamos no ensino do externato de homens, a mesmíssima cousa notamos no de senhoras: falta de applicação prática ao ensino das diversas matérias alli ensinadas. (...) Queremos o professorado de um ou de outro sexo bem preparado nas diversas materias de ensino: o que combatemos o que reprovamos é a maneira pela qual se encaminhão para uma profissão toda especial aquelles que procuram conquistar um diploma de alumno- mestre. (VALLASQUES, 1893, p. 69).

Ao se apropriar das representações sociais da docência, o referido professor, assim como os seus pares, através dessa Revista, forjaram tais idéias como meio de legitimação da classe da qual faziam parte, colocando-se como importantes para a sociedade desejada, reivindicando melhores condições de trabalho, mostrando conhecimento ao criticar e propor soluções que atendessem as reais necessidades do Estado. Criaram outras representações sobre si, sobre a categoria ao distinguirem o possível do desejado. Deste modo, os professores também ao se posicionaram sobre as Escolas Normais da Bahia deram a ver as representações construídas sobre as mulheres e os saberes requeridos das futuras professoras:

Não achamos sufficiente uma hora, em determinados dias da semana, para uma alumna dedicar-se aos trabalhos de prendas. Este ensino deveria ter uma sessão inteira, para seo melhor desenvolvimento.

A mulher tem o seo circulo de acção traçado na familia.

Querer elevar-se a mulher ao mais alto gráo de perfectibilidade scientifica, fazendo-a desconhecer as prendas do seo sexo e a economia domestica é sacrifical-a nos misteres da sua missão.

Educada nos estabelecimentos normaes sem lhes indicar o caminho a seguir