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Entre a rutura da P15O e as disputas das manifestações das greves gerais

CAPÍTULO V: DA GAR AO QSLT – A RECONSTITUIÇÃO CRONOLÓGICA ENTRE O OLHAR CRUZADO DOS PARTICIPANTES

5.4. Entre a rutura da P15O e as disputas das manifestações das greves gerais

As tensões e divergências que dominaram a organização da manifestação vão agravar-se após o protesto, uma altura em que a funcionalidade e eficácia daquela estrutura aberta começará a ser colocada em causa, com as desconfianças, face à presença de desconhecidos, a juntar-se às incompatibilizações.

"Depois marcou-se esse tal plenário para o domingo seguinte. E aquilo encheu-se com umas 90 ou 100 pessoas na Casa do Brasil. Estava cheio de pessoal que nós não conhecíamos de lado nenhum. O pessoal entrou um bocado em paranóia da policia estar presente. Obviamente que a polícia está presente nestas coisas. Mas uma coisa é saberes isso, outra é entrares num grande filme de infiltrados." (17 – Ruptura-Fer [atual MAS], P15O, Primavera Global)

"Durante essa semana a seguir à manifestação, no primeiro plenário que ia ser o balanço, havia pessoal do BE, havia os saudáveis – eles diziam mesmo isto – era o pessoal dos partidos ou mais organizado, depois havia os não saudáveis que era tipo os Indignados. E aquilo também aproximava pessoal um bocado mais freak. E nesse processo eles diziam que não podíamos continuar com isto, como estava. Inclusive eles chegaram a marcar uma reunião. O BE, o 7 (PI, P15O, BE), com a Rubra, com o Socialismo Revolucionário e chamaram depois um outro pessoal ligado a X (ativista independente), depois chamaram-nos a nós do Ruptura. Nós nessa altura fomos a essa reunião com o pessoal do BE a dizer que devia haver infiltrados para destruir o movimento, que aquele pessoal era meio maluco e nunca conseguiríamos fazer nada, avançar com as coisas. Isso vinha a propósito do método das votações, que aquilo era muito exaustivo. Na altura o BE não queria a suspensão da dívida, queria só a auditoria. Ficou a suspensão do pagamento da dívida. Quando se falou na nacionalização da banca, eles também acharam que não. Havia uma série de coisas. Se bem que eu também acho que a nacionalização na altura em que nós estávamos... não é que não ache isso uma necessidade, mas a consciência da população ainda não está trabalhada. Nessa reunião dissemos que não concordávamos em separar saudáveis e não saudáveis." (17 – Ruptura-Fer [atual MAS], P15O, Primavera Global)

A utilização do termo "saudável", apontada aos ativistas da área do BE, remete para a naturalização do atual sistema democrático partidário, criando uma demarcação relativamente aos que tomavam posições antipartidárias, algo que era assim apresentado como uma conotação extremamente negativa e mesmo degradante. A ação de membros dos PI, de tentar dar uma continuidade ao movimento deixando de fora aqueles que tomavam posições mais anti-partidárias ou mesmo contra as estruturas mais orgânicas, os "não saudáveis", com os quais entendia não ser possível desenvolver um projeto comum, ía por isso no sentido de desenvolver uma alternativa que agregasse os grupos que, apesar de em plena disputa com o seu, teriam uma lógica de organização mais similar ou compatível.

Neste caso os membros dos PI vão ao encontro da visão hegemónica do sistema político. A questão da hegemonia surge muito presente também nas opções estratégicas, com os ativistas empenhados em tentarem perceber em que momentos conseguirão lançar as suas causas que se afastam do pensamento político dominante com maior possibilidade de ocorrer uma viragem e de

obterem um apoio alargado para as mesmas.

Entretanto, as medidas de austeridade prosseguiam com o anúncio do corte de 50% do subsídio de Natal, da redução das despesas com salários dos funcionários públicos, de cortes nas pensões dos reformados e aumento do IVA em bens essenciais como o gás e eletricidade. A questão da dívida pública portuguesa, que levara ao programa de resgate económico por detrás desses cortes volta a ser alvo de divergências entre os diversos grupos.

"Havia ali todo um sector que achava que a Plataforma 15O se devia pronunciar a favor da anulação da dívida ou pelo menos do não pagamento e havia todo um outro sector no qual eu me incluía e no qual os PI se incluíam também e mais malta, não propriamente organizada, mas X (ativista independente), o 15 e mais algum pessoal, que achava que não. Achavam que não devíamos pôr em causa a dívida, que acima de tudo devíamos focar-nos na austeridade, etc. Nem tanto por não ser. Eu na altura tinha sérias dúvidas sobre a suspensão do pagamento da dívida. Tinha sérias dúvidas sobre a sua fazibilidade, etc. Mas mais do que isso, eu tinha era noção, acho que certa, de que não é pedindo à anulação, o não pagamento da dívida que vais conseguir envolver as massas. Não é. Aquela ideia não juntava muitas pessoas. Achava que quanto mais a Plataforma 15O tivesse posições muito fechadas e muito vincadas, mais hipóteses tinhas de esvaziar ainda mais uma plataforma. Para além de que para passar a mensagem para fora ia ser complicado. E precisávamos urgentemente de ter mais gente a participar e com grandes manifestações. Isso a questão da dívida desgastou bastante. Porque depois havia todo um sector que fazia questão sempre de pôr a questão da suspensão do pagamento da dívida, etc, nos plenários. O pessoal que era contra tentava travar. Só que depois o pessoal ia às assembleias populares abertas e arranjava-se maneira de que aquilo fosse aprovado e aquilo voltava à plataforma..." (9 – UMAR, P15O, May Day, PI, Marcha Mundial das Mulheres, Primavera Global, QSLT)

"Depois houve o fenómeno infiltrados. Há uma pessoa que acusa diretamente outras duas de serem infiltrados. Uma delas que diz que se isto é democrático... Assumindo um bocadinho. E há uma tensão enorme que se cria. Nós já tínhamos decidido sair. A ideia não era criar uma plataforma onde se perdiam horas e horas em coisa que nem sequer eram discussões políticas concretas." (4 –

M12M, Panteras Rosa, P15O, IAC, Academia Cidadã)

A questão da dívida volta a surgir como arma de arremesso no conflito entre grupos como os PI, Ruptura-Fer e revista Rubra, no meio de afinidades, alianças e oposições estabelecidas com membros de outros grupos ou ativistas independentes, com o intuito de cada um tentar fazer prevalecer a sua influência e os seus posicionamentos políticos. No meio disso, ainda voltavam a surgir as divergências dos ativistas antipartidários que defendiam que a luta da plataforma devia situar-se fora do campo das instituições do atual sistema democrático.

Mais uma vez o sucesso das manifestações levara ao fortalecimento da estrutura organizativa, neste caso dada a sua natureza mais ampla e aberta, os jogos de poder no seu interior acentuam-se. Há mesmo quem tenha defendido na altura que, mediante esse quadro, a estrutura deveria ser extinta.

"O final do processo do 15O para mim é o primeiro momento em que se cometem todos os erros. Porque sendo a primeira organização de manifestação não fechada, porque o M12M era fechado, os grupos políticos [nem todos são partidos, são militantes do BE, do Ruptura] tentam fazer uma espécie de acordo de partilha daquilo, tomar conta. E nesse momento dizemos numa reunião sobre isso: 'Não, nós somos contra isso. E mais, nós achamos que a sigla P15O deve morrer aqui imediatamente’." (5 – Panteras Rosa, M12M, P15O, QSLT, BE)

"A partir do balanço foi uma pancadaria generalizada e aquilo começou a ter quebras, de vários setores. Muito envolta de questões organizativas, como por exemplo se é legitimo ou não o voto, como forma de decisão das ações a serem tomadas. Havia um setor considerável dos Indignados de Lisboa que, muito numa tradição anarquista, eram pelas decisões tomadas por consenso. Eu discordo acho que isso nunca foi tradição anarquista. Aliás, eu acho que nunca foi tradição de ninguém, mas enfim." (18 – Revista Rubra, P15O)

"Como podemos viver nesse Estado e dentro dele criar algo alternativo, ou criar algo alternativo implica subverter esse Estado? Ou seja, o que é o motor da sua ação. Muito por conta da questão da dívida, sempre que a questão surgiu no Rossio e mesmo no 15O havia um sector que tinha uma repulsa por essa discussão. Não porque achassem que se devia pagar. Mas muito numa de 'isso é lá com eles, nós é outra coisa, nós fazemos a nossa alternativa'. Isso ficou claro também quando nós começámos a trabalhar muito e que se tornou claro que o problema do desemprego ia ser central e nós quando puxámos essa discussão, inclusive no que deu origem ao MSE, muita gente pôs-se de fora por dizer que a luta não devia ser pelo emprego, mas pelo direito ao ócio, ao não emprego, poder viver sem vender a sua força do trabalho. O que é legitimo. Mas duas pessoas que pensam de formas tão diferentes não têm muito a fazer juntas, a verdade é essa. Ou seja, podem fazer uma ação, mas não apontar alternativa." (18 – Revista Rubra, P15O)

A defesa de diferentes modelos organizativos ou de opções políticas distintas ocorria como fator de demarcação e de afirmação de identidades distintas, o que permitia aos diversos grupos afirmarem-se em relação aos restantes, nomeadamente através de posicionamentos mais radicalizados e distantes dos vigentes.

"Depois da manifestação do 15 de outubro foi o equinócio, porque as tensões se agravaram e até à manifestação da greve geral de 24 de novembro, ou por aí, foi uma espécie de equinócio destes movimentos, porque de repente houve as tais fraturas internas, tensão muito forte entre grupos. A maior parte dos independentes saíram. Abandonaram o carro. Ainda ficou a tensão entre os dois grupos [Ruptura-Fer e PI]" (12 – Indignados de Lisboa, Assembleia Popular da Graça, P15O, Activar, Primavera Global, QSLT)

Entretanto, a 24 de novembro tem lugar uma greve geral, convocada pela CGTP e UGT, contra as medidas de austeridade incluídas na proposta de Orçamento de Estado, que fora divulgada pelo Governo em meados de outubro, e que incluíam a manutenção de cortes de salários e o aumento do horário de trabalho dos funcionários públicos, redução do pagamento das horas extraordinárias e cortes nas pensões dos reformados. A P15O decide convocar para esse dia um

protesto tendo levado a cabo alguns contactos com a CGTP no sentido do desenvolvimento de uma ação, mas a central sindical decide fazer a sua manifestação autónoma. Tendo sido a primeira vez que promoveu uma manifestação num dia de greve geral (Soeiro, 2014: 69), algo que surge mediante a pressão de grupos de ativismo que subitamente estavam a conseguir obter largos apoios populares numa área de confluência com a sua. As manifestações nos dias de greves gerais passavam assim a surgir como um novo campo de disputa, extravasando as disputas internas no meio ativista e projetando-as para a competição com os sindicatos, algo que mais uma vez acirrou os conflitos internos na P15O.

"Já não havia greves daquelas dimensões há muitos anos e então manifestações em dia de greve geral nunca havia, mesmo quando eram greves gerais da função pública. Nós falámos em fazer a manifestação. De inicio o BE também não estava muito a favor, mas depois com a pressão do pessoal, acabou por seguir em frente." (17 – Ruptura-Fer [atual MAS], P15O, Primavera Global)

"De algum modo o 15 de outubro obrigou os sindicatos a perceberem que as pessoas estavam descontentes e que tinham de tomar também uma posição. E nós participámos na greve geral." (12 – Indignados de Lisboa, Assembleia Popular da Graça, P15O, Activar, Primavera Global, QSLT)

"É o tempo da nossa história, este intervalo, em que há muitas greves gerais, coisa que nunca aconteceu, nem antes, nem já está acontecer agora. E portanto nós [PI] tínhamos uma implicação particular nisso, porque quisemos sempre tentar uma participação na greve geral para marcar a diferença da questão da precariedade e contribuir no seu conjunto, mas também forçar a relação com os sindicatos, acompanhar esse espaço, pronto, é assim mesmo, e tentar uma articulação que sempre foi muito difícil, mas que teve essas experiências que foram fortes nas greves e tal." (7 – PI, P15O, BE)

"O nosso argumento sempre foi nós precisamos de um momento de mobilização para que a greve tenha uma força popular que se possa evidenciar para lá do confronto no local de trabalho, porque

há pessoas que não podem fazer esse confronto, nomeadamente os precários, mas podem nesse dia estar presentes na rua e aderir, nem que seja de uma forma indireta, à greve." (7 – PI, P15O, BE)

As manifestações no dia da greve geral de 24 de novembro de 2011, em simultâneo com a que passou a ser convocada pela CGTP, colocam a questão do posicionamento a tomar em relação à estrutura sindical, remetendo as disputas internas entre os grupos da P15O no campo cruzado do seu relacionamento com o meio sindical, em relação ao qual havia uma maior proximidade ou pelo menos afinidades políticas.

No dia da greve geral, ambas as estruturas organizam desfiles que partem do Rossio com destino a São Bento. Os manifestantes ligados à CGTP partem primeiro e acabam por dar o protesto por terminado pouco depois de terem chegado a São Bento, enquanto que os restantes manifestantes demoram mais tempo a chegar, levando a cabo pelo caminho algumas ações de desobediência civil , que contrastavam com o comportamento normativo e padronizado dos sindicalistas. Chegados a São Bento ocorre uma tentativa de voltarem a derrubar as grades para voltarem a tomar as escadarias. Algo que ganhara já uma dimensão simbólica de confrontação do poder instituído. Mas a polícia repele-os violentamente, efetuando algumas detenções.

"No dia da greve geral o pessoal [da P15O] fez a manifestação. Mas a nossa estava marcada para as 3 horas e eles marcaram a sua para as 2h30 e foram mais cedo. Nós chegámos lá, ainda voltámos a fazer uma assembleia popular. Depois aí já não me lembro como terminou, se o pessoal ficou lá até mais tarde. Houve aquelas coisas de derrubar as grades, mas já não se conseguiram sentar nem nada. A Assembleia Popular não teve tanta gente, mas houve alguma discussão. Já não me lembro muito bem. Mas nessa altura havia já principalmente o BE que já não queria assembleia popular. Eu acho que eles no fundo estavam com medo. No fundo estes estiveram sempre muito embrenhados neste tipo de movimentos, e acho que estavam a aperceber-se que aquilo estava um bocado a fugir- lhes das mãos, porque eles não conseguiam aprovar e tudo o que eles não queriam passava e nessa altura eles começaram. Como eles iam lá e não queriam avançar com a luta, o pessoal também se começava a aperceber e havia pessoal que também já não concordava com eles, começaram a ser contra a assembleia popular o microfone aberto". (17 – Ruptura-Fer [atual MAS], P15O, Primavera

Global)

A jornada de luta simultânea acentua o contraste entre o repertório dos grupos de ativismo, mais provocatório e dentro de um registo de desobediência civil, e o da CGTP, com maior estrutura organizativa, mas com uma atuação mais contida e padronizada. A manifestação da central sindical era composta sobretudo por membros dos seus sindicatos, uma ligação mais forte e institucionalizada, que contrasta com o caráter mais espontâneo e fluído da manifestação dos grupos de ativismo.

"A manifestação sai do Rossio e rapidamente se divide em duas: a parte dianteira, mais 'respeitável', apressa o passo para se tentar juntar à CGTP, enquanto a parte de trás se demora em várias ações, entre as quais a invasão dos armazéns do Chiado e a colocação de uma faixa na varanda. Chegados a São Bento, a CGTP faz de imediato as malas e abandona o local, apercebendo-se de que os manifestantes convocados pela 15O são mais numerosos. Uma nova tentativa de invasão das escadarias termina em violentas cargas policiais e detenções arbitrárias, realizadas por agentes à paisana. Por essa altura, derrubar as barreiras que defendiam a escadaria já se tinha convertido num gesto banal e quase ritual." (Antipáticas, 2013: 13)

Por essa altura a grande adesão à manifestação de 15 de outubro contribui para a proliferação de protestos convocados através do Facebook por diversos grupos ou indivíduos, grande parte dos quais não conseguindo contudo ganhar grande dimensão, ficando sobretudo circunscritos ao meio ativista, algo que irá prolongar-se ao longo do ano de 2012.

Em dezembro, o Ruptura-Fer concretiza a sua saída do BE, vindo a mudar a sua designação para MAS e encetar um caminho com vista a afirmar-se como uma força política autónoma e a constituir-se como partido político, o que acabará por ocorrer em agosto de 2013 (Costa, 2013).

A 1 de janeiro de 2012 ocorre o apelo a uma ação de boicote ao pagamento dos transportes públicos (Página do Facebook do evento Boicote ao pagamento dos Transportes Públicos, 2011) (Cruz, 2011b). A 21 desse mês a "Marcha da Indignação" é pela P15O, contando com a presença

dos Indignados de Lisboa e dos Anonymous Portugal, entre outros grupos. O protesto pelo direito ao trabalho com direitos e contra as privatizações e contra o orçamento de Estado confluiu da zona do Marquês de Pombal, junto à sede do Banco Espírito Santo, até São Bento, dando lugar a confrontos com elementos do grupo de extrema direita Movimento de Oposição Nacional (Cruz, 2012a). Um momento em que as várias fações de grupos de ativismo político ali presentes se uniram contra os militantes dos grupos neonazis que também estavam a procurar marcar presença na nova vaga de protestos.

A presença da extrema direita leva a generalidade destes grupos a estabelecerem uma união, ganhando uma coesão momentânea, para fazerem frente a um inimigo comum que desejam excluir do campo de ativismo e de protestos em que estão envolvidos.

"Uma convocatória da plataforma 15O – a 'Marcha da indignação' – não chega a reunir dois mil manifestantes. Apesar disso, a chegada ostensiva e organizada da extrema-direita à cauda da manifestação provoca uma resposta coletiva e espontânea. A manifestação decide tornar-se violenta para se defender a si própria e atuava com os recursos que tem; primeiro o cancioneiro de abril e depois braços e pernas, garrafas e pedras. No espaço de poucos minutos a escumalha fascista é cercada e expulsa (…) Ocorre uma definitiva separação das águas, que exclui a presença da extrema-direita das manifestações." (Antipáticas, 2013: 14)

"A manifestação dos Indignados em que houve sarrabulho com a extrema-direita, foram para lá armados em Indignados e levaram nas orelhas (...) Recordo bem, porque foi a primeira em que se viu toda a gente a fazer bloco e a dizer aos fascistas, nós não caminhamos convosco. Saiu do Marquês de Pombal para São Bento. Foi bastante concorrido. Há vários filmes na net." (16 – Anonymous Portugal, QSLT)

A convocatória, abrangente e politicamente indefinida da GAR contribuíra para que os grupos de extrema-direita procurassem também disputar esse espaço de mobilização. No Rossio e na P15O houve algumas suspeitas e acusações de existirem elementos de extrema-direita presentes

de forma não assumida, mas as próprias denúncias nesse sentido tornavam claro que havia uma posição assumida a exclusão do nazifascismo. Mas apesar de não terem estado envolvidos na organização dos protestos, procuram marcar presença nas manifestações, como ocorreu logo na da GAR e o confronto da "Marcha da Indignação" surge como uma tomada de posição, no sentido de os excluir dessa arena.

As redes sociais da Internet continuaram a ser um espaço de critica e contestação, frequentemente desenvolvidas em torno das notícias dos mass media ali partilhadas. Os protestos continuaram a surgir envolvidos nesse ambiente de reações em cadeia. A 24 de janeiro tem lugar uma flashmob no Marquês de Pombal para ajudar o então Presidente Cavaco Silva a pagar as suas contas (Cruz, 2012b). Uma ação que ocorre na sequência da polémica surgida por o chefe de Estado ter declarado que também estava a ser afetado pela crise e, uma vez que apenas recebia a reforma do Banco de Portugal, mal tinha dinheiro suficiente para as despesas.

No ambiente das redes cibernéticas, as questões nacionais surgem a par de outras transnacionais ou de solidariedade internacional . A 11 de fevereiro ocorre no Terreiro do Paço uma pequena manifestação (CRUZ, 2012c) contra o ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement42). A

19 de fevereiro 50 pessoas fazem um cordão humano no Rossio em solidariedade para com as vítimas das medidas de austeridade a serem implementadas na Grécia (Cruz, 2012d). A 21 de fevereiro, o feriado do carnaval é assinalado com a promoção de dois protestos junto à Assembleia da República, aproveitando a presença de representantes da Troika, e um terceiro junto ao BPN43.

No meio desse cenário de grande dinâmica na convocação de protestos de rua (alguns dos quais teriam apenas níveis de adesão diminutos), a pequena estrutura que organizara primeira grande manifestação viera a afastar-se gradualmente da convocação de protestos, um campo altamente disputado e onde o seu destaque e reconhecimento mediático era altamente contestado. Um dos quatro elementos fundadores sai em fevereiro em discordância com essa opção do grupo que entretanto se virara para a criação da Academia Cidadã, num processo interno conflituoso que dará depois lugar a outras saídas.

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