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O PSE está registrado entre os Programas da Saúde Escolar da Secretaria de Educação da capital de São Paulo (SME/SP), que o apresenta como uma política intersetorial dos Ministérios da Educação e da Saúde que foi instituído em 2007 de forma a unir as políticas de educação e saúde voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira. E que está posto para promover o desenvolvimento pleno desse público, justificando que a escola é um espaço privilegiado para práticas de promoção de saúde e de prevenção de agravos à saúde e de doenças, e que a articulação entre escola e unidade de saúde é importante demanda. (SÃO PAULO, 2019).

Apenas e tão-somente para contextualizar, além do PSE, a Saúde Escolar da SME/SP também desenvolve outros programas e projetos em outros temas, tais como:

1) #TAMOJUNTO (prevenção uso álcool e drogas);

2) JOGO ELOS (interação efetiva dos setores educação/saúde na busca eficaz para a resolução dos problemas encontrados nas salas de aula, mediação de conflitos, combate ao bullying e à violência);

3) VISÃO DO FUTURO (saúde ocular);

4) CAMPANHAS DE IMUNIZAÇÃO (Vacinação geral); 5) VACINAÇÃO CONTRA O HPV;

6) DRIBLANDO A TUBERCULOSE;

7) CURSO EAD: “PROMOVENDO O BEM ESTAR (sic) VOCAL DO PROFESSOR;

8) PVBB - "PARA VIVER DE BEM COM OS BICHOS";

9) PROJETO “CRIANÇA SEGURA” (Políticas públicas prevenção acidentes);

10) ISMART (Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos - orientação profissional);

11) SE TOQUE (prevenção ao câncer de mama). (SÃO PAULO, 2019).

Como se nota, assim como o PSE, todos são programas externos à estrutura curricular da escola que, na verdade, não se diferenciam entre si quanto aos seus escopos,

mas, sim, procuram, na medida das suas possibilidades, tratar de assuntos ligados à saúde no espaço escolar de modo extensivo às diretrizes curriculares, sobretudo, como sabem todos, em face da carência social da população, dado que a maioria das famílias da região estudada é de baixa renda, problemas com álcool e drogas, bullying, violência, problemas de saúde ocular, bucal, vocal, auditiva, respiratória, vacinação, acidentes, câncer, enfim, conflitos de diversas naturezas e muitas adversidades. (SÃO PAULO, 2019).

No que concerne ao nosso estudo, a par de todos estes temas registrados como abordados pela SME/SP, a indagação que se apresenta é a de saber, no que tange à nossa área, como é o trabalho/execução do PSE nas escolas municipais dessa região sul da capital paulista (DRE Campo Limpo), extensivo a importantes municípios da Grande São Paulo?

Oliveira, Oliveira e Vaz (2008) suscitam a necessidade de uma interação fecunda entre os diferentes indivíduos que compõem a escola e os setores, e um dos diretores ouvidos na pesquisa atenta para o fato de que “a escola tem que ser vista como um local onde se aprende os componentes curriculares, como também, o local onde se divulga uma série de informações relacionadas à saúde do aluno e da comunidade em geral.” (EMBU DAS ARTES/SP, 2019; ITAPECERICA DA SERRA/SP, 2019; SÃO PAULO, 2019; TABOÃO DA SERRA/SP, 2019).

Segundo os autores e o diretor, portanto, a escola deveria ir além do cumprimento protocolar do currículo e, neste senso, a SME/SP aduz que “o que nos interessa aqui é trazer luz para Saúde no ambiente escolar, pois, se trata de adotar o debate na educação do ensino básico para que o aluno tenha uma visão de que a Saúde é um direito de todos.” Segundo ela, por esse tema, o aluno poderá compreender que a saúde é produzida nas relações com o meio físico e social, de modo que, tendo plena consciência de todas elas, poderá identificar fatores de risco, evitá-los na medida do possível, e poderá adotar hábitos de autocuidado de forma crítica e reflexiva. (SÃO PAULO, 2019).

A SME/SP enfatiza que a educação é considerada como um dos fatores mais significativos para a promoção da saúde e prevenção de agravos, eis que, além de, por óbvio, valorizar-se, e, sem se abster da sua responsabilidade, ela ratifica que, ao educar de forma sistemática e contextualizada, o docente e a comunidade escolar contribuem decisivamente para a formação de cidadãos capazes de atuar pela melhoria dos níveis de saúde pessoais e da coletividade. (SÃO PAULO, 2019).

Conforme dados obtidos diretamente com a SME/SP via COCEU - Coordenadoria do CEU - Centro de Educação Unificado, da Educação Integral, e da DIGP - Divisão de Gestão Democrática e Programas Intersecretariais - Saúde Escolar - Ano-base 2018 (SME/COCEU/DIGP/SP), no Município de São Paulo são:

13 DRE (Diretoria Regional de Educação): 1 - Butantã,

2 - Campo Limpo (DRE/região aqui pesquisada), 3 - Capela do Socorro, 4 - Freguesia/Brasilândia, 5 - Guaianazes, 6 - Ipiranga, 7 - Itaquera, 8 - Jaçanã/Tremembé, 9 - Penha, 10 - Pirituba, 11 - Santo Amaro, 12 - São Mateus, 13 - São Miguel.

São 2.351 Escolas, 48.299 Professores na Rede, dos quais 2.131 são de Educação Física, para 1.030.527 alunos matriculados. (SÃO PAULO, 2019, grifo nosso).

A respeito do perfil dos alunos da Rede básica, Christmann e Pavão (2015) afirmam que eles têm acesso muito restrito à promoção da saúde de forma integral, equitativa e universal, promoção esta que, segundo as autoras, não deixa de ser um processo educacional que se inicia na infância, em casa, mesmo com todos os seus problemas, e na escola, onde todos os atores sociais, sociedade, poder público, profissionais, pais, filhos, entre outros, estão envolvidos, ou pelo menos deveriam estar.

A educação abrange processos formativos que, de acordo com Christmann e Pavão (2015), mesmo com todos os seus contratempos, ocorrem e se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, o que significa dizer que, com todos os problemas sociais que o País tem, e mesmo que ela não vá, nem possa

resolver tudo, a escola tem que participar de maneira a não se limitar apenas a cumprir a obrigação curricular.

Acerca dessa participação da escola para além do cumprimento curricular, vejamos o que respondeu uma Diretora:

D.1. Muito embora o acompanhamento da saúde do nosso aluno no interior da escola seja pauta constante, por tratarmos e consideramos a integralidade dos sujeitos que compõe a educação - fator determinante do sucesso e da qualidade do trabalho promovido aqui - confesso que a sigla PSE e toda a abrangência deste Programa, inclusive a Legislação vigente, conheci agora, com a visita do doutorando Marco Aurélio à minha Unidade Escolar. Na Rede Municipal de São Paulo, temos os diferentes departamentos e setores responsáveis pelo acompanhamento “da saúde do aluno” – CEFAI (Centro de Formação a Alunos de Inclusão) - responsável pelo acompanhamento da Vida Escolar do aluno com NEE; DAE (Departamento de Alimentação Escolar) -, que cuida e acompanha todo o processo de Nutrição e Alimentação do nosso aluno; DICEU (Divisão de Centros Educacionais Unificados) - Que acompanha e organiza o Programa de Visão do Futuro, que disponibiliza atendimento oftalmológico para alunos das séries iniciais, provendo óculos gratuitos, quando necessário e proporciona aulas extras-classes e visitas a museus/teatros e etc... TEG (Transporte Escolar Gratuito) – Responsável pelo transporte escolar de alunos que moram a mais de 2 km de distância da escola e alunos com alguma NEE comprovada com laudos; Além é claro, das ações da própria escola que visa o acompanhamento da qualidade de todos os serviços oferecidos, visando o bem-estar do nosso aluno dentro do espaço escolar. Não é do meu conhecimento que professores de Educação Física componham nenhum destes quadros na Diretoria de Educação. (EMBU DAS ARTES/SP, 2019; ITAPECERICA DA SERRA/SP, 2019; SÃO PAULO, 2019; TABOÃO DA SERRA/SP, 2019).

Apesar do pouco conhecimento sobre o PSE relatado, uma significativa parcela registrou que, de uma forma ou de outra, mesmo que não associado ao PSE, o exercício físico é trabalhado no viés da saúde no âmbito das práticas corporais e atividades físicas com supedâneo no PPP - Projeto Político Pedagógico da Escola e, tal como se verificou nas escolas estaduais, com base no Currículo municipal:

P.1. De imediato informo que jamais recebi qualquer orientação e nem se encontra presente nos documentos norteadores do currículo qualquer articulação com o PSE. Contudo, em alguns momentos são tematizadas manifestações da cultura corporal ligadas a saúde, mas sem o intuito de atuar diretamente na melhoria da saúde dos estudantes, seja por parte de exercícios

ou algo do gênero. Nossa proposta, escrevendo de uma forma resumida, procura proporcionar vivências de modalidades variadas ligadas a saúde e analisar de forma crítica como estas manifestações operam em nossa sociedade.

P.2. Nós professores temos todas as ferramentas por meio de atividades esportivas lúdicas que provavelmente contribuirá em todos os aspectos que tange a saúde na forma geral.

P.3 e D.1. Atuamos em conjunto através da conscientização e participação dos alunos em aulas diferenciadas, estimulando uma vivência maior em atividades físicas voltadas às questões de uma vida saudável.

D.2. Aqui, nesta Unidade Escolar, contamos com a atuação de 4 professores de Educação Física, que trabalham da mesma forma que qualquer outro professor, sempre se relacionando com sua área de atividades basicamente, são bastante ativos e articulados com outras áreas de atuação e cumprem os planejamentos produzidos em conjunto e contidos no currículo e PPP da escola, contudo, em seus planejamentos e ações não há descritivos relacionados diretamente ao PSE, muito embora todos saibamos da preocupação com a saúde física e mental do aluno de forma indireta e constante na área.

D.3. A articulação é feita através do PPP - Projeto Político Pedagógico da escola, baseado no currículo municipal e atualmente a BNCC, construindo um plano de metas anual baseado nas características da unidade escolar, onde o professor também tem o planejamento semestral e o semanário. (EMBU DAS ARTES/SP, 2019; ITAPECERICA DA SERRA/SP, 2019; SÃO PAULO, 2019; TABOÃO DA SERRA/SP, 2019).

Como facilmente se percebe, ao mesmo tempo em que anotam que pouco conhecem o PSE, indicam que, juntamente com os respectivos PPP, têm como parâmetro o Currículo do respectivo município, o qual se mostra com o vetor primordial a pautar as suas ações de trabalho e que merece uma análise, até porque se apresenta como mais um paradoxo constatado, qual seja, o PSE não se comunica diretamente com o PPP e com o Currículo municipal, mas, o Professor, que não conhece o PSE, os aproxima e promove o diálogo entre eles de modo indireto.

Na base curricular do município de São Paulo - Ensino Fundamental, inovada a partir de 2018, estão contempladas 9 (nove) áreas: 1) Artes; 2) Ciências Naturais; 3) Geografia; 4) História; 5) Língua Inglesa; 6) Língua Portuguesa; 7) Matemática; 8) Tecnologias para Aprendizagem; e 9) Educação Física. (SÃO PAULO, 2018).

No que diz com nosso tema, nas diretrizes curriculares da Educação Física Ensino Fundamental, o termo “saúde” apareceu em pelo menos 12 (doze) importantes passagens, as quais são registradas 3 (três) vezes na parte introdutória:

PARTE 1 - INTRODUTÓRIO:

1) Concepções e Conceitos que Embasam o Currículo da Cidade.

Concepção de Infância e Adolescência, p. 15: referência expressa ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n.º 8.069/1990, Art. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

2) Um Currículo para a Cidade de São Paulo.

Referências que Orientam a Matriz de Saberes, p. 28, (...) Princípios Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime democrático e dos recursos ambientais; de busca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros benefícios de exigência de diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos entre bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos que apresentam diferentes necessidades de redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais;

3) Temas Inspiradores do Currículo da Cidade.

Temas Inspiradores do Currículo da Cidade, p. 35-36: A Agenda é um plano de ação que envolve 5 P’s: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz, Parceria. (...)

Os 17 objetivos são precisos e propõem: (...) 3. Saúde e bem-estar; (...). (SÃO PAULO, 2018, grifo nosso).

À nítida evidência, quanto às diretrizes, concepções e conceitos que embasam o Currículo da cidade de São Paulo no Ensino Fundamental, e quanto à concepção de infância e adolescência, resta claro que é dever de todos, família, comunidade, sociedade em geral e do poder público, assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à saúde. Na mesma sintonia, no que tange às referências que orientam a matriz de saberes, e quanto aos princípios políticos que norteiam o trabalho, é patente o reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania e de busca da equidade no acesso à educação e à saúde. (SÃO PAULO, 2018).

Ainda no que se refere aos temas inspiradores do Currículo da cidade para o Ensino Fundamental, a partir de uma agenda e/ou de um plano de ação que envolve 5 (cinco) P’s (Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz, Parceria) dos precisos 17 (dezessete) objetivos, um dos clara e expressamente inscritos é a saúde. (SÃO PAULO, 2018).

Levando-se em conta que o termo “práticas corporais” aparece em mais de 125 vezes, como Carvalho e Ferreira Neto (2016) indicam, isto abre um leque de possibilidades para encontros, reencontros e novas experimentações para com o corpo, o exercício físico e os cuidados que remetem à necessidade de que a noção de vida e a favor dela seja retomada em sua plenitude. E, ainda, à necessidade de deslocarmos nosso olhar para modos de viver que vão além do simplesmente fazer, de não ser sedentário, de prevenir ou remediar a doença.

Acerca da formação geral dos Professores de Educação Física, que são os que efetivamente executam o trabalho diretamente com os alunos, e mesmo não sendo o escopo originário/primordial desta pesquisa, é um assunto que apareceu de modo recorrente na/da análise, de maneira que, como Neira (2017, p. 200) destaca,

convém abrir um parênteses (sic) e mencionar que diversos estudos salientam que muitos professores da Educação Básica desenvolvem as atividades didáticas de forma atenta, coletiva e vinculada às características, anseios e necessidades da população escolar. Muitos professores sabem exatamente o que estão fazendo, conhecem a sua profissão, a função política e pedagógica da escola na contemporaneidade e refletem constantemente sobre as experiências vividas. Compromissados com seus alunos e reconhecedores das diferenças existentes, planejam atividades de ensino adequadas, registram, avaliam o processo e reorganizam a sua ação diante das respostas dos educandos. Muitas escolas organizam seus projetos pedagógicos a partir da comunidade mais ampla (equipe técnico-pedagógica, funcionários, corpo docente, corpo discente, familiares e circunvizinhos). Elaboram objetivos de ensino exequíveis, boas atividades, projetos paralelos, convivem democraticamente e se auto-avaliam. Como se nota, comete um deslize ético e científico quem generaliza as escolas, o ensino e os professores.

Carvalho e Ceccim (2008) registram que o ensino de graduação com ênfase para a saúde acumulou uma tradição centrada em conteúdos, numa pedagogia de transmissão, de desconexão entre os núcleos temáticos, de predominância de um formato enciclopédico orientado para a doença e reabilitação, com pouco prazer e alegria pelo conhecimento, trabalho coletivo e responsabilidade social. Quase sempre, segundo eles, as disciplinas biológicas são as primeiras dos currículos como, por exemplo, anatomia e fisiologia, que, na maioria dos casos, acaba por lidar com um corpo morto que nem se sabe como chegou até ali, sendo que a intervenção, na verdade, é com o corpo vivo e suas histórias, dilemas, sofrimentos, alegrias, gostos e desgostos, necessidades, culturas e compreensões.

Como isso acaba por refletir no trabalho cotidiano, Oliveira, Oliveira e Vaz (2008, p. 304) registram a presença de “um rico movimento nascido da própria experiência dos professores escolares, da sua própria prática cotidiana”, o qual significa “uma reflexão dos docentes sobre a insuficiência do modelo atual de ensino, o qual muitas vezes privilegia o fenômeno esportivo que, por sua vez, contempla parcialmente a enorme riqueza das manifestações corporais culturalmente produzidas.”

Segundo os autores, são várias as situações que prejudicam o trabalho sob esta perspectiva, tais como a falta de interesse de muitos alunos por várias razões, o pouco sentido que a comunidade escolar vê nessas aulas, a dificuldade dos professores ampliarem a sua intervenção na formação dos alunos, seja pela falta de políticas de formação continuada, insuficiência de interesse pessoal de cada docente, falta de estrutura física e/ou material etc.

A partir disso, prosseguem, é preciso o “esforço de uma parte significativa dos professores de Educação Física de enriquecer o escopo da sua intervenção por meio da ampliação do centro de interesses dessa disciplina”, de forma que tal movimento “faz deslocar de uma perspectiva naturalizada, baseada apenas na dimensão motriz, para uma outra, que lhe reconhece o estatuto cultural, baseada na corporalidade.” Sendo assim, complementam, pode- se dizer que, “de uma tradição fortemente marcada quase que somente por uma visão limitada das Ciências da Natureza, a Educação Física tem avançado para preocupações pautadas por disciplinas variadas que permitem o entendimento do corpo em muito de sua complexidade.” (OLIVEIRA, OLIVEIRA E VAZ, 2008, p. 305).

Na “Parte 2 - Educação Física do currículo da cidade de São Paulo Ensino Fundamental”, vejamos onde o termo “saúde” é visto e contextualizado:

4) Currículo de Educação Física para a Cidade de São Paulo.

Introdução e Concepções do Componente Curricular, p. 64: No cenário nacional, outras instituições, como centros de estudos do movimento humano e outros órgãos, trouxeram para as discussões sobre o currículo perspectivas como a saúde sob a ótica do individualismo e da qualidade total. Já os documentos oficiais tratavam de romper com o modelo de Educação Física voltada à aptidão física, buscando igualar diferentes aportes teóricos dentro de uma perspectiva que pudesse dar espaço às múltiplas vozes. Desde 2007, documentos oficiais da Rede Municipal de Ensino entendem a prática da Educação Física como linguagem, fundamentando-se nos estudos culturais e pós-estruturalistas, os quais encontram sua grande produção nas universidades paulistas. A Educação Física na perspectiva cultural compreende em sua prática pedagógica que o corpo traz as marcas

históricas dos sujeitos e da cultura. Assim, o movimento expressa intencionalidades e comunica e difunde os modos de ser, de pensar e de agir das pessoas. Cabe a essa perspectiva proporcionar aos diferentes estudantes a oportunidade de conhecer, ampliar e compreender em profundidade seu próprio repertório cultural e dos outros e perceber o patrimônio cultural elaborado ao longo do tempo, seja ele do universo particular dos sujeitos, seja de universos distantes, de modo que possam contribuir para a ampliação da experiência pedagógica e da aprendizagem.

5) Direitos de Aprendizagem de Educação Física.

Direitos de Aprendizagem de Educação Física, p. 66: Compreende-se que há pontos de intersecção entre os eixos temáticos da cultura corporal, que se desdobram em objetos do conhecimento e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento importantes para a formação dos estudantes. Por vezes, os temas podem ser estudados como um leque, organizando-se em paralelo, como as danças e os diferentes tipos de danças populares, com sua peculiaridade e mobilização de novos saberes com diversas possibilidades de ensino e de aprendizagem. Em outros casos, o desenvolvimento e/ou o aprofundamento de um objeto de conhecimento converge com outro tema. Por exemplo, podem-se abordar as questões de gênero, saúde e qualidade de vida tanto nas modalidades esportivas, como em dança, na ginástica, nas lutas e nos jogos e brincadeiras, ou tomar a mesma questão sob o ponto de vista da mídia, como o cinema, a TV, as mídias sociais e as tecnologias digitais. Organizar o conhecimento dessa maneira possibilita aos educadores requisitarem qualquer objeto e seus objetivos no tempo-espaço, de acordo com as indagações que mobilizam os estudantes, e também permite-lhes antecipar certas situações e rever outras, de maneira a promover a aprendizagem de todos.

6) Ensinar e Aprender Educação Física no Ensino Fundamental.

Ensinar e Aprender Educação Física no Ensino Fundamental, p. 70: Estudar e aprender sobre a cultural corporal traz diversas maneiras de entender o mundo e a si mesmo, pois, como fenômenos imanentes desse processo pedagógico, os temas ou saberes sobre o corpo e o movimento estão presentes e marcados no espaço/tempo das diversas práticas corporais. Aspectos como saúde coletiva, maturação/envelhecimento, qualidade de vida, treinamento/destreinamento, além dos apresentados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), podem ser estudados a partir desse processo investigativo de uma ou mais manifestações culturais, inclusive estabelecendo uma interação e integração com outros componentes curriculares. Desse modo, entende-se que a aprendizagem da Educação Física seja fundamental para o alargamento das possibilidades de escolha consciente dos sujeitos. (SÃO PAULO, 2018, grifo nosso).

No que tange às passagens 5, 6 e 7 retro transcritas, interessante cotejá-las com as respostas de dois Diretores e de um Professor de unidades da rede municipal de Educação de São Paulo. Eles registram que “a Educação Física não se articula ou participa do PSE, há,