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Capítulo 3 – Abordagem metodológica da investigação

3.4. Caracterização e apresentação dos instrumentos de recolha dos dados

3.4.2. A entrevista

Para a efectivação da entrevista, procurámos seguir as regras indicadas na literatura consultada. Assim, numa primeira fase, debruçámo-nos sobre a sua preparação, levando em consideração alguns cuidados por ela requeridos. Entre eles destacam-se: o planeamento, que deve ter em vista o objectivo a ser alcançado; a escolha do entrevistado, de acordo com os critérios que preestabelecemos; a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em dá-la. Para isso, foi agendado um encontro individual com cada um dos entrevistados, com antecedência, para que a entrevistadora se assegurasse de que seria recebida. Além de mais, foi escolhido o momento oportuno para expor os objectivos da entrevista.

Posteriormente, escolheu-se uma das salas da escola, que apresentava condições favoráveis, a fim de garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e da sua identidade.

As entrevistas foram realizadas em tempos diferenciados. Foram antecedidas de uma preparação específica, que consistiu em organizar o roteiro ou formulário com as questões consideradas importantes (Lakatos, 1996 apud Boni & Quaresma, 2005: 74). Ainda antes da sua realização, foi solicitada de modo formal a autorização da direcção da escola para a realização da pesquisa.

Optámos por uma entrevista semi-estruturada, ou seja, elaborámos um guião onde formulámos previamente as perguntas abertas e fechadas que permitiam a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, mas sem desvios face aos nossos propósitos. Dado que tínhamos finalidades exploratórias, as questões abertas foram incluídas com o intuito de podermos detalhar, como já tínhamos referido, algumas questões do questionário. A entrevista foi feita num contexto muito semelhante ao de uma conversa informal. As perguntas foram respondidas com interferência mínima possível da entrevistadora, de modo a obedecer aos pontos de vista de Goldenberg (1997 apud Boni & op. cit.: 78). Neste sentido, a investigadora esforçou-se para que houvesse uma atmosfera amistosa e de confiança e em não discordar das opiniões dos entrevistados, evitando qualquer posicionamento. Acima de tudo, teve-se sempre em linha de conta que a confiança

passada ao entrevistado é fundamental para o êxito no trabalho de campo, respeitando assim o código de ética. Para além disso, procurou-se (de acordo com Boni & Quaresma (2005: 74) assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, se interrompeu a fala do informante. Esteve ainda a investigadora atenta para dirigir, em momento oportuno, a discussão para o assunto que a interessava, fazendo perguntas adicionais para elucidar sobre aspectos que não ficaram claros ou ajudar a reconduzir ao contexto da entrevista, caso o informante tivesse “fugido” ao tema ou tivesse dificuldades com ele (op. cit.: 75).

Para que a recolha fosse bem sucedida, a pesquisadora teve a preocupação de dominar bem as questões previstas no guião e o tema, a fim de evitar confusões e atrapalhações na hora. Para além disso, as perguntas foram claras, de modo a favorecer respostas também claras e que correspondessem aos objectivos da investigação.

A entrevista foi realizada com três professores. Por princípio ético, preservamos a identidade dos docentes, optando por identificá-los com as mesmas letras do alfabeto utilizadas para os identificar no questionário.

Os dados foram recolhidos na sua totalidade no contexto escolar. Fez-se o registo áudio com o consentimento dos entrevistados, num ambiente de grande receptividade. Depois de transcrito (ver Anexo 8), este registo foi analisado pela investigadora, constituindo a sua interpretação o instrumento-chave de análise (ver Anexo 5). Os dados forneceram as necessárias citações para ilustrar e substanciar a apresentação dos resultados, na linha do que indicam Bogdan e Biklen (1994: 49 apud Varandas, 2000): "A palavra escrita assume particular importância na abordagem qualitativa, tanto para o registo dos dados como para a disseminação dos resultados".

3.4.2.1 Guião da Entrevista

3.4.2.1.1. Selecção dos sujeitos a entrevistar

Para a selecção dos sujeitos a entrevistar, retomámos os resultados obtidos no inquérito, como já tínhamos anunciado, procurando dois professores que manifestassem posições contrastantes em relação à utilização da LM na aula de LP: de um lado, os que a vêem

predominantemente como factor facilitador e de outro lado, os que a vêem predominantemente como obstáculo à aprendizagem.

As respostas à questão número 24 do questionário foram aquelas que nos permitiram uma primeira identificação dos nossos sujeitos. Note-se que tínhamos pensado convocar igualmente o modo de utilização da escala das questões 25 e 26, cruzando-o com as respostas à questão 24. Contudo, rapidamente nos apercebemos que as respostas dos sujeitos não eram coerentes entre si. Portanto, este seria um cruzamento a abandonar, mas não deixaria de ser uma constatação muito importante a procurar compreender (posteriormente, durante a entrevista).

Embora tenha sido este o critério fundamental de selecção utilizado, complementámo-lo com outro, na decisão final, a saber, as experiências profissionais dos professores (ver as perguntas 1 a 18 do questionário). Neste caso, e porque nos interessava nesta investigação conhecer o pensamento dos professores acerca desta matéria, no sentido de eventualmente vir a contribuir para a melhoria das práticas educativas, pareceu-nos mais relevante focalizarmo-nos sobre os professores com experiência profissional. Com efeito, pensamos que são estes professores que mais consistentemente veiculam as representações que circulam na escola e os que mais à vontade se sentem para as comunicar de um modo aberto e seguro. Serão também aqueles que mais são capazes de as fundamentar, de as justificar e de as defender.

Do cruzamento destes dois critérios foram seleccionados para a entrevista os sujeitos F e A.

Para além disto, e sempre com o mesmo objectivo investigativo de compreender as representações dos professores acerca da utilização da LM na aula de L2 e o modo como estas representações se vão construindo, sob que influências e em que discursos, pareceu-nos também relevante entrevistar um dos coordenadores da disciplina (professor H). Note-se que compete ao coordenador dar instruções e acompanhar as práticas educativas de Português, no sentido de contribuir para um discurso didáctico comum que se traduza em acções concretas, de qualidade e articuladas

3.4.2.1.2. Estrutura do guião da entrevista

Este guião é composto por duas partes (ver Anexo 2):

Parte I – Representações sobre a temática: tem em vista aprofundar o conhecimento adquirido no questionário sobre as representações dos professores acerca do recurso à LCV na aula de LP.

Parte II – Factores envolvidos nas representações: destina-se a identificar factores envolvidos no desenvolvimento das representações manifestadas pelos professores no questionário, nomeadamente a sua relação com as duas línguas em causa, instruções da escola e do sistema educativo, informações recebidas, formação frequentada, estatuto e papel que atribuem a cada uma das línguas, teorias de aprendizagem, linguísticas e pedagógicas que perfilham.

Este guião foi actualizado em três variantes, uma por professor entrevistado, em relação com os dados obtidos no questionário e visando, como se disse, aprofundá-los, conforme se sistematiza anexo 2.