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Capítulo 3 – Abordagem metodológica da investigação

3.4. Caracterização e apresentação dos instrumentos de recolha dos dados

3.4.1. O questionário

Para a construção deste instrumento de inquérito, também recorremos à revisão bibliográfica, com o intuito de obter informações sobre as regras e critérios que se deve levar em consideração para este efeito. Assim, consultámos alguns estudiosos nesta matéria e levámo-los em consideração, como por exemplo, Estrela & Soares (2006), Bastin (1980), Educação diferente (2006), Sá & Caldeira (2005).

A construção do inquérito por questionário foi feita tomando em conta a interacção indirecta existente entre o investigador e o inquirido, com vista a obedecer a dois critérios fundamentais: clareza e rigor na apresentação, bem como comodidade e agrado para o inquirido. Tivemos a preocupação de apresentar o instrumento de uma forma clara e simples, e também com uma disposição gráfica agradável, adequada ao público- alvo. A redução do número de folhas constituintes do questionário, tanto quanto possível, também foi uma das nossas preocupações, tendo em mente que este facto pode, eventualmente, provocar algum tipo de reacção prévia negativa por parte do

inquirido. Evitámos igualmente termos polissémicos que pudessem suscitar ambiguidade de interpretações. As perguntas foram estruturadas de modo a garantir respostas claras, evitando ambiguidade de tratamento. Tivemos em conta também que o conjunto de questões deve ser bem organizado e conter uma forma lógica para quem a ele responde, evitando as questões irrelevantes, insensíveis, intrusivas, desinteressantes, com uma estrutura (ou formato) demasiado confusos e complexos, ou ainda questões demasiado longas (Amaro et al, 2005).

Antes de administrar o questionário, tivemos o cuidado de proceder à sua revisão gráfica pormenorizada, de modo a evitar erros ortográficos, gramaticais ou de sintaxe, que tanto podem provocar erros ou induções nas respostas dos inquiridos, como fazer baixar a credibilidade do questionário por parte destes.

O instrumento foi submetido a um pré-teste com vista a assegurar a clareza das questões e a sua adequação aos objectivos previamente determinados. Para fazer o pré-teste, contactámos três professores. O critério de selecção foi o seguinte: escolher um professor formado com largos anos de experiência no ensino da LP; um professor também formado mas com poucos anos de experiência, e um terceiro que deveria ser um professor sem formação na área de ensino e com poucos anos de experiência. A opção por estes critérios teve como preocupação encontrar sujeitos com características semelhantes às dos professores que iriam ser abrangidos pelo questionário. Seguindo estes critérios, a investigadora contactou uma professora da Escola Secundária de S. Domingos, portanto, de um concelho diferente, formada, mas com poucos anos de experiência de leccionação da disciplina de Português. Foi esta mesma professora quem lhe indicou o segundo professor, que seria o mais difícil de encontrar porque actualmente quase todos os professores já estão formados. Para obedecer ao primeiro critério, a pesquisadora contactou uma professora que lecciona a mesma disciplina na Escola Secundária Constantino Semedo, na Praia.

Os inquéritos foram enviados, depois de estabelecidos os contacto prévios e de serem dadas instruções sobre o procedimento de aplicação. Os inquéritos foram devolvidos nos prazos previstos e não se apresentou nenhuma dificuldade, pelo que o instrumento não foi revisto nem reformulado com base neste procedimento.

Ficámos assim em condições de proceder à entrega dos questionários definitivos aos professores.

Seguidamente apresentam-se, de forma esquematizada, os objectivos e a estrutura do questionário (com referência ao número das questões e respectiva incidência temática) (Ver anexo 1, onde se apresenta materialmente o questionário, tal como foi distribuído).

Quadro 1 : Objectivos e estrutura do questionário

OBJECTIVOS ESTRUTURA E QUESTÕES (NÚMERO E TEMÁTICAS) - Conhecer o perfil profissional dos inquiridos. Parte I. Informações socioprofissionais (questões 1 a

18) - Obter dados que permitam identificar factores envolvidos nas representações de cada professor:

Quanto à formação profissional;

Quanto à relação com as duas línguas em causa.

Quanto ao estatuto e funções que atribui a cada uma das línguas

Parte II- Relações com as duas línguas.

Formação específica no âmbito do recurso à LCV (questão 19) e orientações sobre esta matéria (questão 23).

Contextos de aquisição da primeira língua (questões 20 e 21).

Situações de utilização da LCV e da LP (questão 22).

- Conhecer as representações dos professores sobre o recurso à Língua Cabo-verdiana em aulas de Português.

- Conhecer as representações dos professores sobre as suas práticas de recurso à Língua Cabo- verdiana em aula de Português.

Parte III- Representações sobre o uso da LCV na aula de LP

Representações sobre o recurso à LCV na aula de LP (questão 24).

Representações sobre a utilização da LCV nas suas aulas (questões 25 e 26)

- Obter informações sobre a opinião dos inquiridos em relação à pertinência desta temática na formação e prática profissionais.

Parte IV- Valor atribuído a esta temática na formação e experiência profissional

Interesse pela formação nesta temática (questões 27, 28 e 29).

Solicitação/procura de bibliografia ou informações sobre esta temática (questão 30).

Valor concedido à discussão desta temática em contexto profissional (questões 31 e 32).

Conforme se mostra no quadro, o questionário é composto por quatro partes (precedidas de uma introdução e com um espaço final destinado a comentários). Passamos a descrever com maior detalhe essas quatro partes.

Parte I - Informações socioprofissionais

Nesta secção constam as perguntas (de 1 a 18) apresentadas aos inquiridos com vista a recolher os dados pessoais, profissionais e factuais que permitiram obter informações que facilitam a caracterização dos mesmos, bem como a identificação dos factores que pudessem estar envolvidos no desenvolvimento das suas representações, nomeadamente no que diz respeito à formação académica e profissional.

Parte II – Relações com as duas línguas

Nesta secção pretendeu-se obter informações que permitam identificar factores envolvidos nas representações de cada professor, bem como conhecer a sua formação profissional, mais precisamente, se recebeu ou não formação específica no âmbito do recurso à LCV (ou LM) em aula de LP (ou LE e L2) (questão 19). Achou-se que seria importante indagar sobre a identificação da sua primeira LM, quando, onde e com quem começou a aprender a LP (questões 20 e 21),que estatuto e funções atribuí a cada uma das línguas (LCV e LP) e em que situações de comunicação (oral e escrita) utiliza cada uma delas (ou ainda, eventualmente, outras) (questão 22).

Perguntou-se ainda nesta secção aos sujeitos se receberam orientações sobre esta matéria (questão 23) e, caso a resposta seja afirmativa, da parte de quem (questão 23.1), quais (questão 23.2) e com que argumentação (questão 23.3).

Parte III – Representações sobre o uso da LCV na aula de LP

Esta secção tem por finalidade recolher informações que permitam conhecer as representações dos professores sobre o recurso à Língua Cabo-verdiana nas aulas de Português e sobre as suas práticas no âmbito deste mesmo recurso. Para isso, propôs-se- lhes três questões (24, 25 e 26) em que lhes foi pedido que expressassem os seus pontos de vista sobre a temática e os justificassem, perante um conjunto de dezanove

proposições correspondentes a funções do recurso à LM pelo professor na aula de LP2 identificadas na literatura (com a possibilidade do inquirido acrescentar outras funções), bem como que indicassem a frequência desse recurso. Com estas questões pretendia-se conhecer as representações dos professores sobre as suas práticas de recurso à LCV em aula de LP2.

Ainda nesta mesma secção, propôs-se mais um outro conjunto de dez itens (ver questão 26, anexo 1) correspondentes às reacções ou procedimentos do inquirido em relação ao aluno quando ele recorre à LM, a fim de saber como reagem os professores perante esta situação. Para além disso, também foi apresentada aos inquiridos uma escala para manifestarem a frequência com que recorrem a tais procedimentos. Esta questão permite-nos também obter informações sobre as relações que se estabelecem entre as representações e as práticas profissionais.

A questão 24 visava ainda saber, da parte dos professores, se a LCV pode ser utilizada na aula de LP, identificando factores envolvidos nas representações de cada professor. Pretendia-se, em particular, indagar se receberam algumas orientações e quais referente à utilização da LCV na aula de LP, e aceder às teorias de aprendizagem linguística e pedagógica perfilhadas, bem como perceber se na origem destas está o discurso oficial ou instruções da própria escola ou de outra entidade decisora.

Parte IV – Valor atribuído a esta temática na formação e experiência profissional

As questões apresentadas nesta parte (como se pode averiguar no quadro 1, acima) têm por finalidade obter informações sobre a opinião dos inquiridos em relação à pertinência desta temática na formação e prática profissionais. Assim, apresentou-se aos professores inquiridos um conjunto de perguntas destinadas a verificar a sua informação, preocupação, sensibilidade e interesse em relação à temática e também verificar se tiveram a possibilidade e oportunidade de a tratar (questões 27, 28, 29 e 30), com quem, em que situações, bem como a consistência desse tratamento, em caso de respostas afirmativas (questão 31), pedindo justificações.

Ainda neste questionário, na parte final, pretendeu-se recolher informações sobre a opinião dos inquiridos em relação à pertinência do mesmo (questão número 31).

O questionário contém diversos tipos de perguntas, dependendo dos objectivos que se pretendia atingir, das informações a obter, bem como das exigências da temática. Assim, encontramos, na Parte I, questões essencialmente fechadas, também designadas por perguntas explícitas. Estas questões são pobres em termos de informações obtidas, mas bastante objectivas e requerem um menor esforço por parte dos sujeitos (Amaro e tal, 2005: 12). Apresentam vantagens também porque não permitem aos inquiridos apresentar a sua opinião fora do quadro das respostas apresentadas. Mesmo estando informadas do embaraço que tal tipo de pergunta pode causar, pois se revela com fortes potencialidades de conduzir a respostas pouco sinceras (Pardal & Correia, s/d: 60), achamos que era a mais adequada para a recolha dos dados pessoais e profissionais necessários não só para a caracterização do público, como também para obter informações sobre os possíveis elementos que podem estar por detrás das representações dos inquiridos. No entanto, para ajudar a ultrapassar esta desvantagem, garantiu-se o anonimato das respostas, já que os inquiridos não utilizaram os seus verdadeiros nomes, mas sim um código ou nome fictício.

Na Parte II optou-se por uma maior variedade de questões: fechadas (questões 19, 20 e 21), de escolha múltipla em leque fechado (questão número 23.2) e em leque aberto (questão 22). Com estas últimas deu-se aos professores inquiridos a possibilidade de apresentar um ou outro aspecto não considerado no questionário.

A Parte III contém uma questão semi-aberta (questão 24.1), uma questão de escolha múltipla em leque aberto (questão 24.2), questões fechadas (questões 24 e 25) e de escolha múltipla de avaliação ou de estimativa (questões 25.1 e 26). As questões de resposta semi-aberta foram colocadas com o objectivo de permitir aos inquiridos construir a resposta com as próprias palavras, facultando deste modo uma maior liberdade de expressão, o que possibilita justificações e observações que podem configurar perspectivas não antecipadas pela investigadora, enriquecendo o processo de recolha dos dados e, por conseguinte, abrindo o leque das interpretações.