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3.5 Procedimentos e Instrumentos de Coleta das Informações

3.5.4 Entrevista semiestruturada

Reconhecendo a importância de ouvir o que os sujeitos da pesquisa têm a dizer, outro procedimento utilizado foi a entrevista, com o objetivo de analisar as concepções e falas dos sujeitos e os diferentes pontos de vista sobre uma mesma realidade, pois ela representa um

dos procedimentos básicos para a busca de informações com caráter interativo, direto e imediato. São oportunas as palavras de Szymanski:

Esse instrumento tem sido empregado em pesquisas qualitativas como uma solução para o estudo de significados subjetivos e de tópicos complexos demais para serem investigados por instrumentos fechados num formato padronizado (SZYMANSKI, 2004, p.10).

Para Ludke e André (2005), a entrevista possibilita a captação imediata e corrente das informações desejadas e permite o aprofundamento de questões que emergem de outros procedimentos de coleta de informações. Nessa mesma linha de pensamento, Poupart (2008) sinaliza três argumentos quanto ao uso da entrevista de tipo qualitativo, sendo eles:

[...] de ordem epistemológica: a entrevista qualitativa seria necessária, uma vez que uma exploração em profundidade da perspectiva dos atores sociais é considerada indispensável para uma exata apreensão e compreensão das condutas sociais; de ordem ética e política: a entrevista visa compreender e conhecer internamente os dilemas e questões enfrentados pelos atores sociais; de ordem metodológica: se imporia entre as ‗ferramentas de informação‘ capazes de elucidar as realidades socais, mas principalmente como instrumento privilegiado de acesso à experiência dos atores (Ibid, p.216).

Respeitando o caráter interativo e dialético da pesquisa qualitativa, a entrevista foi semiestruturada, para proporcionar maior liberdade na relação entre os sujeitos da pesquisa, além de fazer emergir questões que não estavam previamente definidas, permitindo, também, esclarecimentos, correções, adaptações na busca das informações desejadas, o que, segundo Ludke e André (2005, p. 34), ―[...] se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistado faça as necessárias adaptações‖. Nesse sentido, na entrevista,

[...] mais do que verdades e fatos, se constrói um rico material sobre versões, opiniões, descrições peculiares, criadas na interação de dois interlocutores, ou seja, nos interstícios de uma relação, em uma entrevista do pesquisador e seu entrevistado (DESLANDES, 2005, p.170).

Ludke e André (Ibid) aconselham o uso de um roteiro com os tópicos principais a serem cobertos, seguindo uma ordem lógica e psicológica, em uma sequência que discorra sobre os assuntos dos mais simples aos mais complexos, evitando saltos bruscos entre as questões, atentando não apenas ao roteiro, mas também aos gestos, expressões, entonações, sinais não verbais. Isso porque ―a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do

próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo‖ (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.134).

Os interlocutores da pesquisa entrevistados foram a coordenadora da rede municipal que atua na Educação de Jovens e Adultos, a diretora da escola observada e as professoras que atuavam na primeira etapa dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos. Tais interlocutores possibilitaram maior aprofundamento dos temas para que fosse possível compreender melhor a prática avaliativa nessa modalidade educacional.

A realização das entrevistas semiestruturadas permitiu uma imersão bem maior na realidade observada, em que as diversas formas de captar as várias nuances nas entrevistas ficaram mais perceptíveis, desvendando a realidade e as suas facetas frente ao objeto pesquisado.

Gostaria de mencionar que, inicialmente, houve uma testagem prévia do roteiro da entrevista semiestruturada das professoras, no apêndice C. Essa testagem do roteiro das entrevistas ocorreu com outra professora da Educação de Jovens e Adultos e foi de fundamental importância para ajustes e também para perceber as formatações das perguntas no que diz respeito à sua elaboração e compreensão pelos respondentes.

De início, foi feito contato com as professoras, com a coordenadora e a diretora da escola a fim de expor o tema da entrevista, os seus objetivos e as garantias do anonimato das identidades das interlocutoras. Foi solicitada permissão para gravar, porém somente duas professoras e a coordenadora concordaram com a utilização do gravador. As outras interlocutoras disseram não se sentirem à vontade com a presença do equipamento. Desse modo, optei pelo registro manual o mais fidedigno possível. Todas as sessões das entrevistas foram agendadas antecipadamente com cada interlocutora. Não houve empecilho algum para a realização da pesquisa. Todos os interlocutores se manifestaram de forma positiva para colaborar com a pesquisa.

Comecei todas as entrevistas, buscando compreender a trajetória docente de cada interlocutora, o seu tempo de docência e a sua experiência na Educação de Jovens e Adultos e, nos casos da coordenadora e da diretora, como foi a ida para as funções. Essas questões iniciais favoreceram maior entrosamento e caracterização do grupo como profissionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos. Todas as entrevistas foram realizadas sem o conhecimento prévio do roteiro semiestruturado pelas interlocutoras, a fim de evitar a construção de discursos formais, sem espontaneidade.

Cada entrevista realizada teve a duração em média total de 50 minutos, sendo realizada em vários momentos com a mesma interlocutora, devido ao pouco tempo para a sua realização. Todas as entrevistas ocorreram no período compreendido entre março a agosto de 2010. Quanto ao registro delas, combinei entre anotações e gravações que foram transcritas. Ao final de cada entrevista, garantia o término com cordialidade e sempre deixando claro que poderia retornar para outra possível entrevista e aprofundamentos em algum tema.

Enfim, as entrevistas semiestruturadas foram de significado ímpar no sentido de possibilitar ao pesquisador analisar as práticas avaliativas, trazendo à tona as vozes das interlocutoras que vivenciam o processo nas turmas da Educação de Jovens e Adultos, as razões por que as mesmas utilizaram o portfólio bem como as possibilidades, limites e fragilidades desse trabalho com o portfólio na Educação de Jovens e Adultos.

Assim, busquei um melhor detalhamento sobre a relação entre os objetivos específicos e os procedimentos/instrumentos de pesquisa, o que me permitiu a organização do quadro a seguir:

Quadro 11– Síntese da relação entre objetivos específicos e procedimentos/instrumentos

de pesquisa

Objetivos específicos Procedimentos/instrumentos de pesquisa

Analisar as práticas avaliativas em turmas da Educação de Jovens e Adultos dos anos iniciais do Ensino Fundamental que utilizam o portfólio

Análise documental Observação participante Entrevista semiestruturada Analisar as razões pelas quais os professores das turmas

mencionadas usam o portfólio

Observação participante Análise documental Entrevista semiestruturada Acompanhar e analisar o processo de construção dos

portfólios nas turma

Observação participante Grupo focal

Entrevista semiestruturada Analisar as percepções de professores e dos estudantes

sobre a avaliação das aprendizagens e o trabalho com o portfólio

Análise documental Observação participante Entrevista semiestruturada Grupo focal

Analisar as possibilidades, os limites e os aspectos facilitadores e dificultadores do trabalho com o portfólio em turmas da Educação de Jovens e Adultos dos anos iniciais do Ensino Fundamental

Observação participante Grupo focal

Entrevista semiestruturada Analisar os documentos orientadores do trabalho

pedagógico e do processo avaliativo das turmas da Educação de Jovens e Adultos.

Com o intuito de oferecer melhor detalhamento da relação entre procedimentos/instrumentos de pesquisa, os interlocutores e os critérios estabelecidos, segue o quadro:

Quadro 12– Síntese da relação entre procedimentos/instrumentos de pesquisa, interlocutores da pesquisa e/ou documentos e critérios estabelecidos para escolha dos

interlocutores de pesquisa

Procedimentos/ instrumentos de

pesquisa

Interlocutores da pesquisa e/ou documentos

Critérios estabelecidos para escolha dos interlocutores e/ou documentos de pesquisa

Análise documental Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96. Diretrizes curriculares para Educação de Jovens e Adultos. Projeto político- pedagógico, atas de resultados, diário de classe, regimento escolar. Plano de curso das disciplinas, procedimentos escritos de avaliação, portfólios dos estudantes

Documentos que fazem relação direta ou indireta com o objeto de pesquisa, proporcionando análise entre o conteúdo abordado (manifesto) e o conteúdo significado (latente)

Grupo focal Estudantes da Educação de Jovens e Adultos da primeira etapa dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Ser estudante da Educação de Jovens e Adultos da primeira etapa dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e possuir disposição para participar da pesquisa

Entrevista semiestruturada

Professoras da Educação de Jovens e Adultos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Ser professora da Educação de Jovens e Adultos da primeira etapa dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e possuir disposição para participar da pesquisa. Utilizar o portfólio nas atividades pedagógicas. Atuar na escola que congregar maior número de turmas na sede do município Coordenadora municipal da Educação de Jovens

e Adultos

Estar atuando na Coordenação Municipal da Educação de Jovens e Adultos e possuir disposição para participar da pesquisa

Diretora da escola onde funciona a modalidade da Educação de Jovens e Adultos a ser pesquisada

Estar atuando na equipe gestora da escola onde funciona a modalidade da Educação de Jovens e Adultos e possuir disposição para participar da pesquisa

Observação participante

A sala de aula das professoras da Educação de Jovens e Adultos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da escola a ser pesquisada (prática pedagógica no espaço da escola e na sala de aula)

Professoras que atuam na escola que congregar maior número de turmas na sede do município com turmas de Educação de Jovens e Adultos da primeira etapa dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e que utilizaram o portfólio nas atividades pedagógicas