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3.5 Procedimentos e Instrumentos de Coleta das Informações

3.5.2 Grupo focal

No âmbito das metodologias qualitativas, o grupo focal é uma técnica relativamente nova no campo da investigação educacional no nosso país, que consiste ―[...] em um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal‖ (POWELL e SINGLE, 1996, p.449

apud GATTI, 2005, p.7). Assim,

[...] muitas informações referentes ao cotidiano, guardadas no estoque de experiências, não serão reveladas diretamente nas trocas que se dão em grupo focal. Mas também há relações de interação entre seus integrantes que atravessam a convivência diária desse coletivo: de cooperação e aliança entre alguns e de conflito e competição entre outros (MINAYO, ASSIS e SOUZA 2005, p.172).

Para Flick (2009), o grupo focal, como procedimento qualitativo, é altamente eficaz uma vez que fornece controle de qualidade sobre as informações coletadas; as discussões em grupo correspondem à maneira como as opiniões são produzidas e constituídas no cotidiano, podendo ser alteradas, defendidas ou ressignificadas no processo interativo do grupo. Segundo Barbour (2009), os grupos focais também são importantes devido à aquisição de informações contextualizadas sobre o grupo, além de trazer à tona as preocupações daqueles cujas vozes estavam silenciadas.

O grupo focal possibilitou uma boa oportunidade para o desenvolvimento da teoria, confrontando, a partir do concebido até o vivido, como cada um percebe a avaliação das aprendizagens realizada pelos professores, além de permitir ideias e suporte para as inferências novas e proveitosas, relacionadas ao problema da pesquisa em destaque. O trabalho com grupos focais

[...] permite compreender processo de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições,

preconceitos, linguagens, simbologias prevalecentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado (BARBOUR, 2009, p.11).

Essa técnica foi desenvolvida junto ao grupo de estudantes regularmente matriculados na Educação de Jovens e Adultos, assegurando que eles se posicionassem sobre como percebem a prática pedagógica desenvolvida pelos professores. O grupo focal foi realizado em duas fases, sendo a primeira no início da pesquisa, com o objetivo de compreender o processo avaliativo antes da construção do portfólio com os estudantes. A segunda fase foi realizada durante e depois da vivência dos estudantes com a construção do portfólio.

Foram convidados a participar cinco estudantes de cada turma observada (três turmas) da modalidade educativa citada. Isto daria um total de quinze estudantes; entretanto, nos dias da realização só compareceram doze estudantes. Destes, oito estudantes eram do sexo feminino e quatro, do sexo masculino. No que diz respeito à participação geracional, foi destacado o comparecimento de seis estudantes considerados adultos, quatro idosos e dois jovens.

A realização do primeiro grupo focal ocorreu no espaço da própria escola, pois os estudantes não tinham outro horário disponível. Foi no dia 30 de março de 2010, com o horário inicial às 19h15m e o seu término às 20h30m, duração de 1h15m. Estavam presentes, no momento da realização do mesmo, o pesquisador e os doze estudantes, sendo representantes das três turmas observadas.

Inicialmente, expliquei como seria realizado o grupo focal e o seu objetivo. Alguns estudantes pensaram que era uma reunião para falar dos professores ou da própria escola, porém foi esclarecido que não havia o objetivo de avaliar os professores nem os estudantes, mas procurar compreender as suas percepções sobre o processo avaliativo que eles vivenciavam e também sobre a construção do portfólio. Desde o início apresentaram-se dispostos a colaborar com a pesquisa. Não ocorreu dificuldade alguma relevante na realização do grupo, somente atrasos por parte de alguns, no horário da chegada à escola.

Primeiramente, acolhi o grupo e agradeci a participação. Em seguida, procedi à explicação de como seriam os encaminhamentos. Fiz uma leitura do texto reflexivo ―Tudo é uma questão de escolha‖, que eles acompanharam, atentos. Continuando, coloquei para os participantes do grupo focal as seguintes questões:

Por que vocês (estudantes da Educação de Jovens e Adultos) voltaram a estudar ou por que deixaram de estudar?

O que vocês pensam sobre a avaliação das aprendizagens vivenciadas por vocês?

Como vocês avaliam a prática adotada pelos professores?

O que vocês sugeririam aos professores para a avaliação das aprendizagens? A quem cabe avaliar?

A partir daí, foi dado início ao registro das falas que ocorreram de forma pontual e organizada, conforme tínhamos estabelecido antes; os estudantes ficam receosos quanto à utilização do gravador, mas autorizaram o seu uso. Depois dos registros, agradeci mais uma vez e fiz o convite para a participação do segundo grupo focal a ser realizado.

O segundo grupo focal ocorreu quando todos os estudantes já tinham ou estavam tendo a experiência da construção do portfólio, uma vez que os professores observados não utilizaram o portfólio de uma só vez. Esse grupo focal aconteceu em 23 de setembro na própria escola. O horário inicial às 19h35m e o seu término às 20h55m, com duração de 1h20m. Este segundo grupo começou com um pequeno atraso, devido ao horário de chegada dos estudantes à escola.

Como o grupo já era bastante conhecido do pesquisador, dada a convivência por meio das observações realizadas, os estudantes estavam mais soltos e participativos. Agradeci mais uma vez a participação de todos. Para acolhê-los, entreguei a cada estudante presente (doze) um papel com uma imagem. Uns receberam uma mão, outros um olho, outros uma orelha e, por fim, outros, uma boca. A partir daí cada um falou o que achou legal fazer com relação ao portfólio (mão), o que viu de bom ao construir o portfólio (olho), o que ouviu falar sobre o portfólio (orelha) e o que falou sobre o portfólio (boca). Essa atividade foi realizada para servir de incentivo inicial.

Em seguida, perguntei:

Como vocês (estudantes da Educação de Jovens e Adultos) avaliam a vivência da construção do portfólio?

Vocês conheciam a experiência de construir o portfólio? Como o portfólio contribuiu para as suas aprendizagens? Quais as dificuldades enfrentadas na construção do portfólio?

Depois dos registros, agradeci mais uma vez a presença e a colaboração de todos os estudantes.

A realização do grupo focal foi bastante produtiva. A participação durante as discussões foi muito importante e essencial para que eu pudesse aprofundar as informações e, além de

tudo, captar e dar voz aos sujeitos, ouvindo e percebendo suas perspectivas sobre o curso que frequentam, a avaliação praticada e o trabalho com o portfólio desenvolvido.