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Para realizar as análises e compreender as contribuições que o portfólio pode oferecer ao trabalho pedagógico e ao processo avaliativo em turmas da Educação de Jovens e Adultos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em conformidade com a referida opção metodológica, o estudo de caso passou a ser um tipo de pesquisa de campo coerente e significativo para a compreensão do objeto de estudo aqui mencionado, que se configura como complexo, portanto, precisa ser percebido em profundidade. Em todas essas situações, a clara necessidade pelo estudo de caso

[...] surge do desejo de compreender fenômenos sociais mais complexos, ou seja, todo estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN, 2005, p.20).

González Rey (2005) concebe o estudo de caso ―não como via de detenção de informação complementar, mas como momento essencial na produção de conhecimentos e constitui um processo irregular e diferenciado que se ramifica à medida que o objeto se expressa em toda sua riqueza‖ (GONZÁLEZ REY, 2005, p.71).

A opção pelo estudo de caso pautou-se também pelo fato de conseguir realçar as características e atributos da vida social e ser algo singular, que tem um valor em si mesmo. Assim, segundo Yin (2005, p.32), ―um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos‖.

Confirmando essa linha de pensamento, Ludke e André (2005) salientam o seguinte:

[...] o estudo de caso encerra um grande potencial para conhecer e compreender melhor os problemas da escola. Ao retratar o cotidiano escolar em toda a sua riqueza, esse tipo de pesquisa oferece elementos preciosos para uma melhor compreensão do papel da escola e suas relações com outras instituições da sociedade (Ibid, p.23-24).

Assim, registro que o presente estudo se inseriu na perspectiva do estudo de caso com características etnográficas, em que um único caso é estudado em profundidade conduzindo a busca por uma análise compreensiva de uma unidade social significativa. Nesse contexto, ―o

estudo de caso deve atingir a unidade estudada em profundidade, isto é, lançar mão de vários recursos na obtenção dos dados de pesquisa‖ (MEKSENAS, 2002, p.119).

Segundo Ludke e André (2005), André (2005) e Angrosino (2009), o estudo de caso com base etnográfica visa à descoberta, enfatiza a interpretação da realidade em contexto, busca apresentar o fato de forma aprofundada, usa várias fontes de coleta de informações ou dados e apresenta as várias situações sociais nas quais os sujeitos estão inseridos. Nesse sentido, são oportunas suas palavras quando se adota o estudo de caso como opção de pesquisa, pois

[...] é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento. Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. Esse conhecimento é, portanto, fruto da curiosidade da inquietação, da inteligência e da atividade investigativa dos indivíduos a partir e em continuação do que já foi elaborado e sistematizado pelos que trabalharam o assunto anteriormente (Ibid, p.02).

Desse modo, ratifico a escolha da abordagem com características etnográficas, na qual procurarei compreender a cultura de um grupo social, neste caso, da escola específica, tarefa que não impediu que o pesquisador estivesse atento ao seu contexto, às suas inter-relações como um todo orgânico e sistêmico.

Segundo Erickson (1988),

[...] a abordagem etnográfica caracteriza-se por seu foco particular nas especificidades das performances, o foco geral nas entidades sociais e culturais, o foco no significado social e também o foco no significado da ação social que ocorre naturalmente do ponto de vista dos atores nelas engajados (Ibid, p.2).

Segundo o autor, o interesse em particularidades das performances acontece de forma espontânea na interação social constituída entre os atores sociais, buscando compreender os aspectos e os seus significados que são coletados de forma não questionadora junto aos interlocutores da pesquisa. Assim, a forma de coleta na abordagem etnográfica envolve o uso direto da observação cuja participação do pesquisador pode variar ao longo da sua continuidade no campo.

Nesse sentido, compreendendo a abordagem etnográfica em sua relação intrínseca com a cultura, é preciso mencionar o entendimento de cultura assumida:

O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico. Acreditando que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado (p.04) [...] A cultura é pública porque o significado o é (GEERTZ, 1989, p.09).

Assim, o trabalho de campo com as características da etnografia buscou a relação entre os entrelaçamentos constituídos pelos atores sociais no seu contexto, a sua dinamicidade, as relações individuais e sociais que compõem o cenário social. São oportunas as palavras de Geertz sobre o fazer etnográfico:

[...] praticar etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante (p.09). O que o etnógrafo enfrenta, de fato, é uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas as outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares e inexplícitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. [...] Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de construir uma leitura de) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado (Ibid, p.07).

Desse modo, a abordagem em foco possibilitou ao pesquisador perceber o dito e o feito no contexto e na vida cotidiana das pessoas por um período prolongado de tempo. No caso do espaço escolar, Pfaff (2010) pontua:

Fazer etnografia na escola significa, portanto, decodificar a constituição de papéis em certas instituições e suas relações entre si, estudar sequências cronológicas, a estrutura organizacional e o significado dos diferentes rituais no dia-a-dia da escola (Ibid, p. 261).

Nesta linha de pensamento, para André (2005) a etnografia no contexto escolar:

[...] permite, pois, que se chegue bem mais perto da escola pra tentar entender como operam no seu dia-a-dia os mecanismos de dominação e de resistência, de opressão e de contestação ao mesmo tempo em que são veiculados e reelaborados conhecimentos, atitudes, valores, crenças, modos de ver e de sentir a realidade e o mundo (Ibid, p.41).

Para Cavalleiro (2010), o método etnográfico e a sua utilização no contexto escolar possibilitam aos profissionais da educação pensar, compreender e refletir sobre as formas de relação e interação no cotidiano da escola dos vários sujeitos e em diferentes espaços vivenciados. Parte-se, assim, da premissa de que tal cenário apresenta aspectos culturais nos quais as relações estão impregnadas de valores, concepções, crenças e outras subjetividades.

Nessa mesma direção sobre a escola como espaço multidimensional e ratificando a opção pelo estudo de caso de cunho etnográfico, Sarmento (2003) explicita:

Os estudos de caso de escolas são, portanto, um formato metodológico que deve a sua divulgação, antes de mais, ao fato de perspectivarem holisticamente as unidades organizacionais, e, no caso dos estudos de base etnográfica, de acrescentarem ao conhecimento de estruturas, regras, interações e processos de ação, as dimensões existenciais, simbólicas e culturais que lhe associam (Ibid, p.138-139).

Diante das considerações até aqui feitas, emerge a consciência de que a abordagem etnográfica implicou a investigação detalhada, em profundidade, impondo um olhar investigativo para os vários aspectos culturais, as dinâmicas do cotidiano em que os atores sociais estão inseridos. Implicou ainda toda essa análise do contexto investigado, as suas dimensões políticas e a relação com as ações dos sujeitos sociais nesse cenário. (SARMENTO, 2003; ERICKSON, 1988, FLICK, 2009; BOGDAN e BIKLEN, 1994; GHEDIN e FRANCO, 2008).

Vale salientar que, de acordo com a opção pelo estudo de caso, o trabalho de campo configurou-se de modo essencial, pois visou compreender o conhecimento oriundo de um determinado grupo social. A íntima relação do pesquisador com o universo dos interlocutores constituiu-se não como alguém que chega (pesquisador) e sabe tudo, mas como quem sabe o que é ser como ele no cenário investigado.

Sobre o trabalho de campo nessa abordagem, Ghedin e Franco (2008) esclarecem:

[...] envolve aprofundamento da relação estabelecida entre pesquisador e pesquisa dentro do universo intersubjetivo e favorece os encontros de subjetividades que, na fricção identitária de cada sujeito, permitem e possibilitam a construção das trocas e das relações simbólicas. O campo de observação do pesquisador tem um significado específico e uma estrutura de relevância para os seres humanos que vivem, agem e pensam em meio à realidade tornada objeto de investigação (Ibid, p. 196).

Diante das exposições efetuadas, concordo com André (2005) quando menciona que o trabalho com a pesquisa etnográfica não se resume a descrever situações, ambientes e sujeitos, mas deve ir muito mais além, reconstruindo ações e relações. Nesse sentido, o investigador

admite outras lógicas e configurações de significados nas quais os sujeitos da pesquisa estão sendo estudados e estabelece as devidas tessituras.

Assim, o trabalho de campo realizado por meio do estudo de caso durou o ano letivo de 2010. Teve início com a observação e acompanhamento na jornada pedagógica da rede municipal de ensino, quando tive a oportunidade de perceber de perto o envolvimento do professores, principalmente os interlocutores da pesquisa, os temas tratados, as abordagens referentes à avaliação das aprendizagens e a Educação de Jovens e Adultos.

Como já mencionei, por tratar-se de um estudo de caso com características etnográficas, a minha imersão no contexto da escola pesquisada foi de fundamental importância e elemento básico de compreensão sobre o objeto pesquisado. Além da aproximação com os interlocutores da pesquisa, possibilitou a vivência e apreensão da forma e da cultura escolar manifestada nesse cenário educativo pelos vários sujeitos que compõem o ambiente.

As várias situações vivenciadas no período da pesquisa que compreendeu de março a dezembro de 2010, no turno noturno, das 18h30m às 21h40m, aproximadamente, ou seja, mais ou menos três horas por noite, permitiram-me observar o ambiente em que estive inserido no processo da pesquisa, as suas expressões, particularidades, diferenças, consistências em que a compreensão e a explicação se articulam dialeticamente para possibilitarem a interpretação dos fatos humanos (GHEDIN; FRANCO, 2008).

Nesse sentido, inserir-me no contexto investigado demandou do pesquisador exercitar o pensar sistemática e metodicamente sobre as coisas vistas, ouvidas, percebidas e sentidas. Exigiu muito mais do que ―ver‖ as coisas, mas atrelá-las a concepções, posturas, posicionamentos, crenças e valores dos sujeitos no espaço investigado.

Comecei por fazer o trabalho de campo com a autorização da secretária municipal de educação para realizar o acompanhamento da jornada pedagógica. Em seguida, consegui na direção da escola e das próprias professoras autorização para realizar a pesquisa, pois como a esta previa momentos de observação da prática pedagógica, era necessário o devido consentimento para a realização da investigação.

Outros contatos para a realização da pesquisa foram com a Coordenadora Municipal da Educação de Jovens e Adultos do município e com a diretora da escola, tendo ambas manifestado bastante interesse em colaborar.

Não poderia deixar de registrar que houve abertura de todos os interlocutores para essa participação, uma vez que concordaram sobre a necessidade e a importância da temática pesquisada. O contato, a participação, as falas, o envolvimento dos interlocutores citados anteriormente foram imprescindíveis para uma maior compressão do objeto estudado.