3 MÉTODO
3.3 FONTES, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
3.3.2 Entrevistas
As informações registradas na observação direta serão complementadas mediante a realização de entrevistas. De cada caso, dos 12 selecionados, está previsto serem entrevistados 3 (três) familiares de vítimas de homicídios, totalizando 36 (trinta e seis) entrevistas. Também serão entrevistados 5 (cinco) operadores do direito, de defesa e de acusação, que estiverem atuando diretamente nos processos judiciais dos casos selecionados.
Foram realizadas entrevistas com 25 familiares, de 13 jovens mortos. Destes, 13 foram entrevistados no estudo anterior e 12 na atual pesquisa. Dos casos selecionados, três são duplos homicídios. Mas somente de um deles (caso VIII) a pesquisa conta com a entrevista dos familiares das duas vítimas. Nos demais apenas os familiares de uma das vítimas puderam ser entrevistados.
O décimo segundo caso encontra-se em destaque e fora da ordem cronológica, porque se trata de um suposto homicídio praticado por Policiais Militares. Ainda que o homicídio não tenha sido elucidado, a sua construção social do crime expressam informações bastante relevantes para pesquisa.
Ainda que os casos de homicídios selecionados tenham sido de notória repercussão midiática e, por conta disso, falas e nomes de familiares das vítimas tornaram-se públicos, nesse trabalho, as suas identidades serão preservadas. Com efeito, os nomes dos familiares das vítimas entrevistados serão substituídos por outros fictícios.
DESCRIÇÃO DA AMOSTRA DOS ENTREVISTADOS
CASONOME PARENTE IDADE NÍVEL DE
ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO Nº VÍTIMA ANO
I Alexandre 2012
Andrea Mãe 43 anos Fundamental
incompleto
Operária da Const. Civil (Desempreg.) Adriana Tia 48 anos Fundamental
incompleto
Operária da Const. Civil (Desempreg.)
II Joel 2010
Girlane Mãe 35 anos Médio
incompleto Manicure
Paulo Pai 49 anos Fundamental
incompleto
Prof. de capoeira e
pedreiro Gislene Tia 26 anos Fundamental
incompleto
Empregada doméstica
III Érica 2010 Natália Mãe 34 anos Fundamental
completo Comerciante IV Valmir 2009
Lícia Mãe 51 anos Médio
completo
Prestação de serviço
Valdir Pai 52 anos Médio
completo
Prestação de serviço
V Djair 2008 Diana Mãe 35 anos Fundamental
incompleto Dona de casa
VI Alexandre 2008
Silvania Mãe 41 anos Médio completo
Líder comunitária Cristiane Tia 50 anos Médio
completo Telefonista
Vera Tia 42 anos Médio
completo
VII Adelmo 2006
Nalva Mãe 40 anos Médio
completo Dona de casa Carlos Padrasto 44 anos Médio
completo Compositor Cláudia Irmã 19 anos Fundamental
incompleto Comerciária
VIII
Fábio
2006
Iara Mãe 49 anos Médio
completo
Funcionária pública
Luciana Irmã 23 anos Superior
incompleto
Estagiária (direito)
Diego Silvia Mãe 48 anos Fundamental
completo Dona de casa IX Luciano 2004
Elena Mãe 40 anos Fundamental
incompleto Artesã
Nilson Padrasto 64 anos Fundamental
X Gledson 2002 Valdemar Tio 43 anos Médio
completo Secretário
XI José Jorge 1998
Idalina Mãe 64 anos Fundamental
incompleto Comerciante Joseane Irmão 27 anos Superior
incompleto
Corretor de moveis Josué Irmão 25 anos Superior
completo Estudante XII Gabriela 2007 Clarissa Prima
(irmã) 24 anos
Superior incompleto
Estagiária (direito) Como podemos verificar, há uma presença predominante do gênero feminino na
composição da amostra (25). Entre as mulheres, as mães representam a maioria dos parentes das vítimas entrevistados (11), seguidas das tias (4), irmãs (3) e prima (1). Entre os homens, a quantidade por grau de parentesco foi mais distribuído, estando os pais, os padrastos e os irmãos em número semelhante (2) e um único tio. As idades dos entrevistados estão distribuídas entre a fase adulta (20 a 40 anos) e meia-idade (de 40 a 65 anos), com uma maior concentração nesta última, em torno de 61 %. Quanto a escolaridade, aproximadamente 56% dos entrevistados possuem o nível médio completo, destes um tem o nível superior completo e dois estão em via de conclusão. Enquanto que 30% não concluíram o nível fundamental. Por fim, a ocupação dos entrevistados, em sua maioria, reflete o nível de escolaridade atingido por eles.
Foram realizadas, entre o estudo anterior e a atual pesquisa, 23 entrevistas semiestruturadas, isto é, uma séries “de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento” (LAVILLE; DIONNE,1999, p.188). Do primeiro roteiro de entrevista, utilizado no primeiro estudo (apêndice II), para o segundo (apêndice III), seguido na atual pesquisa, as mudanças ocorridas atendem não somente as necessidades do novo recorte, como também aos princípios de construção, a partir dos indicadores da vitimização indireta selecionados.
Diante da peculiaridade do estudo, que consiste em compreender as reações à perda entre famílias de vítimas de homicídios, o mesmo familiar precisou ser entrevistado mais de uma vez. As 23 entrevistas semiestruturadas foram realizadas com dezoito dos 25 familiares das vítimas entrevistados. São 23, pois cinco dos dezoito dos familiares foram entrevistados duas vezes. Todas as entrevistas semiestruturadas foram gravadas, e tiveram duração média de uma hora a uma hora e meia. A maioria
aconteceu na casa dos entrevistados (14), outras foram feitas no local de trabalho (3), no Cedeca-Ba (2) no bar (2), na igreja (1) e na faculdade (1).
A maior parte das entrevistas foi realizada individualmente (19). Mas algumas delas foram realizadas com mais de um participante (6). Das entrevistas que foram feitas na casa dos familiares das vítimas, 4 contaram com a participação de dois entrevistados e 2 com três. Nestes casos, inevitavelmente, um dos participantes acaba falando mais que o outro. Mas, como o familiar da vítima costumam ser tomado por uma forte emoção durante as entrevistas, chegando, por conta disso, a ser interrompida em alguns momentos, a realização em dupla ou em trio torna-se uma vantagem, pois na medida em que um está se recuperando, o outro continua a entrevista.
A realização de entrevistas com mais de um participante, não teve como meta a formação de um grupo focal. Pois, não se tratou de um grupo de discussão, com uma quantidade de participantes pré-definida, tendo como escopo a coleta de informações, a partir do diálogo e do debate com e entre eles (CRUZ, et al., 2002).
Além das entrevistas semiestruturadas, a pesquisa contou com a realização de entrevistas abertas ou não estruturadas, isto é, “entrevista na qual entrevistador apoia-se em um ou vários temas e talvez em algumas perguntas iniciais, antecipadamente, para improvisar em seguida suas outras perguntas em função de suas intenções e das respostas obtidas de seu interlocutor” (LAVILLE; DIONNE,1999, p.190).
As entrevistas abertas ou não estruturadas foram realizadas com todos os 25 familiares. As entrevistas não foram gravadas, e tiveram duração média entre dez e trinta e cinco minutos. Como alguns familiares foram entrevistados mais de uma vez, a pesquisa contou com 32 entrevistas não estruturadas. Somando estas com as semiestruturadas, o trabalho contou com o total de 55 entrevistas.
A maioria das entrevistas abertas aconteceu nos eventos jurídicos (12), outras foram feitas nos eventos sociais (7), pelo telefone (6) no local de trabalho (2), no ônibus (2) no ponto de ônibus (2) e no bar (1).
Também foram entrevistados dois operadores do direito, que tem lidado diretamente com a questão da violência letal perpetrada por policiais militares. Um dos colaboradores foi Maurício Freire, advogado do Cedeca-BA, especialista em ciências criminais. O outro entrevistado foi o promotor do Ministério Público Estadual da Bahia, Ariomar José Figueiredo da Silva, da 2ª Vara do Júri da Comarca da Capital.
3.3.3 ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS E NÃO ESTRUTURADAS: