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Envelhecimento bem-sucedido e qualidade de vida

Capitulo III Enquadramento Teórico

3. Envelhecimento bem-sucedido e qualidade de vida

De acordo com Lima (2008, pp.796) “através das investigações gerontológicas foi possível alterar a noção de que o envelhecimento está diretamente associado com a deterioração do organismo, e que passasse a ser visto como um estágio do ciclo vital, tão importante como qualquer outro, com as suas virtudes e desafios.”

Assim e de acordo com o mesmo autor (2008, pp.796), que cita Kahn, “é desejável que o envelhecimento ocorra com qualidade e manutenção da autonomia dos indivíduos, buscando preservar a oportunidade de os mais velhos continuarem a participar da sociedade e minimizar a possibilidade de exclusão social”.

O envelhecimento bem-sucedido, de acordo com Sousa et al. (2003, pp.336-371), implica um sujeito pró-ativo que regula a sua qualidade de vida, que estabelece objetivos, que luta para os alcançar, que acumula recursos úteis para a adaptação à mudança e que está ativamente envolvido na manutenção do bem-estar. Tendo isto em conta, um envelhecimento bem-sucedido é acompanhado de uma qualidade de vida e bem-estar que têm de ser fomentados ao longo dos estados anteriores de desenvolvimento.

A qualidade de vida engloba um conjunto alargado de fatores, que vão desde aspetos físicos, tais como dor, desconforto, fadiga, a aspetos psicológicos como a satisfação com a vida. Também muito importante para a qualidade de vida é o nível de independência, a mobilidade e a atividade diária. Outra das áreas importantes para uma boa qualidade de vida é o bem-estar social, a integração na sociedade e na comunidade onde o idoso está inserido e a manutenção de redes sociais. Mas a componente física talvez seja a mais observável e aquele a que normalmente se atribui grande importância no tocante à qualidade de vida, sendo verdade, porém, que “a saúde

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física não é por si só condição de felicidade mas sua ausência provoca sofrimento físico e psicológico e quebra no bem-estar, através de interações complexas […] com outros fatores da qualidade de vida.” (Paúl 2001, pp. 112)

Sousa et al. (2003, pp.336-371), citando Smith, refere que o conceito de bem-estar alterou-se a partir nos meados do seculo vinte: de apenas significar aspetos materiais, como alimentação, habitação e cuidados de saúde, passou a incluir aspetos menos mensuráveis diretamente, como “ sentido de segurança, dignidade pessoal, oportunidade de atingir objetivos pessoais, satisfação com a vida, alegria e sentido positivo de si”. De igual forma, o conceito de qualidade de vida também se alterou englobando agora os recursos e o direito a aproveitar a vida.

Segundo Rowe e Kahn, citados por Oliveira e Barros (2006, pp.267-309), entende-se por envelhecimento bem-sucedido “aquele em que os indivíduos continuam a funcionar eficazmente, quer do ponto de vista físico, quer psíquico ou mental” e que tem três caraterísticas, baixo risco de doenças ou de incapacidades resultantes dessas doenças; bom funcionamento físico e mental; empenhamento ativo na vida.

O mesmo Oliveira e Barros (2006, pp.267-309), agora citando Baltes, refere que existem três grandes fatores que influenciam um envelhecimento bem-sucedido: os fatores ligados ao grupo etário, relacionados com a idade cronológica ou biológica, como algumas doenças próprias da idade; os fatores relacionados com o período histórico em que se vive (por exemplo, em pouco mais de uma geração passou-se de uma sociedade agrícola para uma sociedade urbana, de uma sociedade sem televisão e sem computador para uma sociedade tecnológica); os fatores ligados à história pessoal ou aos acontecimentos autobiográficos, muito diversificados de indivíduo para indivíduo.

Autores como Fontaine (2000, pp. 147-157) indicam como fatores determinantes para um envelhecimento bem-sucedido, a saúde, a manutenção de um elevado nível de funcionamento cognitivo e físico, e a manutenção da participação social.

A reforçar esta ideia, Lima (2008, pp.796) refere que, para se falar de um envelhecimento bem- sucedido é necessário pensar na interação de múltiplos fatores, tais como saúde física e mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência económica, entre outros.

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No modelo de otimização seletiva por compensação, proposto por Baltes, a velhice bem-sucedida busca dois objetivos: um elevado nível de funcionamento (ganhos) e o evitar de comportamentos de risco (perdas). Assim, o envelhecimento bem-sucedido situa-se entre três processos que de acordo com Barros (2006, pp.267-309) são a seleção, otimização e a compensação. A seleção é a especialização em certos registos de atividades físicas e intelectuais, isto é, o idoso, que, ao longo do seu percurso de vida, faz várias escolhas, ao entrar nesta nova fase da vida também terá de as realizar e terá de escolher um caminho que lhe garanta uma melhor qualidade de vida. A otimização refere-se ao processo de potencializar os meios que o idoso escolheu para o seu percurso. A compensação é o processo em que o idoso tenta compensar com a inteligência cristalizada o que foi perdendo a nível de inteligência fluida. Assim, de acordo com esta teoria o resultado da coordenação destes três fatores é uma velhice bem-sucedida em que as perdas são compensadas com os ganhos.

Para Baltes e Smith, citados por Lima (2008, pp.799), os indivíduos que fazem uso da seleção, otimização, e compensação estão entre os idosos que se sentem melhor e são mais atuantes, de onde que seja necessário que o idoso se adapte a esta fase da sua vida, mantendo-se o mais ativo e atuante possível. Esta adaptação é de tal forma importante para que o idoso alcance uma velhice bem-sucedida que autores como Oliveira (2008, pp.80) afirmam que uma das principais funções de quem lida com pessoas idosas é auxilia-los a adaptarem-se à sua nova situação.

A qualidade de vida é um conceito que tem de incorporar na sua análise a subjetividade, isto é, a forma como o individuo percebe o seu envelhecimento. Recorda Lima (2008, pp.798), que cita autores como Alleyne e Whoqol, que, “após 1995 a OMS passou a definir este conceito como a perceção subjetiva do individuo sobre a sua posição na vida dentro do contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive e com relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações”.

Neri, citada por Lima (2008, pp.796), afirma que a boa qualidade de vida na idade madura excede os limites da responsabilidade individual e deve ser vista por múltiplos aspetos, ou seja, uma velhice satisfatória não será atributo do individuo biológico, psicológico ou social, mas resulta da interação entre pessoas em mudança, vivendo em sociedade, e das suas relações intra e extra- individuais e comunitárias. De acordo com isto, o mesmo autor (Lima, 2008, pp.799) afirma que a qualidade de vida e o bem-estar na velhice são constructos complexo que envolvem variáveis associadas tanto às dimensões individuais como coletivas do envelhecimento. Assim, adquirem

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importância fatores tais como ter uma maior perspetiva de longevidade, possuir bons níveis de saúde física e mental, altos níveis de satisfação com a vida, controle nas dimensões sociais, senso de produtividade, participação e realização de atividades, autoeficácia cognitiva, estatuto social, recursos económicos, continuidade dos papéis familiares e ocupacionais, manutenção das relações sociais informais e das redes de relações.

Para além destes fatores, Goldstein, citado por Lima (2008, pp.800), sugere que para o bem-estar psicológico dos idosos a espiritualidade e a religiosidade são uma das estratégias mais ricas e utilizadas, pois oferecem conforto e bem-estar psicológico face ao aumento do senso de finitude ou proximidade da morte. De acordo com Barros de Oliveira (2008, pp. 45) vários autores relacionam positivamente a espiritualidade e bem-estar na velhice, sendo uma forma de lidar com os problemas dessa etapa da vida, “ ajuda a confrontar-se com o stresse e outras durezas da vida, contribuindo assim para uma melhor saúde física e sobretudo psíquica”.

Este bem-estar psicológico no envelhecimento, de acordo com Ryff e Keises, citados por Lima (2008, pp.800), tem seis dimensões chave, as quais são a autoaceitação, as relações positivas com os outros, a autonomia, o controle sobre o ambiente, o propósito na vida e o crescimento pessoal.

Em resumo a qualidade de vida é determinada pela conjugação de vários fatores como a saúde física e autonomia para a realização das suas tarefas diárias, a perceção do idoso relativamente à sua vida e fatores psicológicos determinados pelas relações sociais, valores pessoais, sentimento de isolamento e das suas preocupações com a segurança e a situação financeira.