• Nenhum resultado encontrado

Capitulo III Enquadramento Teórico

2. O Envelhecimento

O envelhecimento é um processo inerente à condição humana que tem o seu início no momento em que somos gerados. De acordo com Vitta, citado por Jacob (2006, p. 118), pode ser considerado “um processo, universal, lento e gradual que ocorre em diferentes ritmos para diferentes pessoas e grupos conforme actuam sobre essas pessoas e grupos as influências genéticas, sociais, históricas e psicológicas do curso da vida”.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002), considera-se como idosa a pessoa com mais de 65 anos, ou mais de 60 se viver em países menos desenvolvidos. No entanto esta divisão não é consensual, pois existem autores que dividem de forma diferente. Assim, podem surgir referências tanto a idosos jovens, entre os 60 e 75 anos, como a idosos velhos, expressão esta que se refere às pessoas acima daquela idade. Também, frequentemente, aparecem divisões entre velhos jovens (60-69), velhos de meia idade (70-79), velhos velhos (80-89) e velhos muito velhos (mais de 90). Outra forma de classificação é a divisão entre terceira e quarta idade. Terceira

37

idade, de acordo com Stuart- Hamilton (2002, pp.21), refere-se aos idosos com um estilo de vida ativo e independente na velhice e a quarta idade a um período final de dependência.

Associadas a este estádio do ciclo vital, estão situações de perda de autonomia que levam à dependência de terceiros ou à exclusão social e a condições precárias de vida, devido aos baixos rendimentos económicos que frequentemente afetam esta faixa da população.

De acordo com Berger e Poirier (1995, p.6) “ a velhice é um período importante da vida, com as suas vantagens e com os seus inconvenientes”, ocorrendo mudanças tanto físicas como psicológicas. Este processo de acordo com Paúl, M. (1997, pp.10), citando Birren e Renner, “refere-se às mudanças regulares que ocorrem em organismos maduros, geneticamente representativos, vivendo em condições ambientais representativas, à medida que avançam na idade cronológica”. Actchley, citado por Simões (2006, p. 30-31), acrescenta que o envelhecimento é “um conjunto de processos de natureza física, psicológica e social, que com o tempo, produzem mudanças na capacidade de funcionamento dos indivíduos e influenciam a sua definição social”. Durante o envelhecimento, o organismo humano sofre uma serie de alterações, tanto a nível funcional, como a nível estrutural, que, tal como Cancela (2007, p.3) refere, “compromete fatores físicos e cognitivos”.

Muitas vezes, o envelhecimento e a terceira idade são referenciados e retratados de modo uniforme, como se não existissem diferenças individuais entre as pessoas nesse estádio de vida, como se se tratasse de um grupo uniforme em que todos apresentam uma diminuição das suas capacidades, recursos sociais e económicos. No entanto, tal como Pául (1997, pp.21) refere, essa visão simplista está “completamente afastada da realidade, em que depressa nos apercebemos de que há idosos e idosos e mais ainda de que qualquer deles carrega consigo um enorme peso correspondente a toda a sua longa história de vida, determinada quer pelo seu património genético, quer pelo seu património psico-social.”

O envelhecimento é, portanto, um processo que varia de individuo para individuo e ocorre de forma distinta, pois, de acordo com Birren e Cunningham, citados por Paúl (1997, pp. 11), “o crescimento e envelhecimento nunca é o produto exclusivo de um único conjunto de determinantes, mas a consequência da nossa base filogenética, a nossa hereditariedade única, o meio físico e social no qual estas predisposições genéticas se exprimem e, no caso do homem, ainda o efeito do pensamento e escolha”.

38

As consequências biológicas do envelhecimento “refletem-se nos problemas de saúde dos idosos, principalmente no aumento da vulnerabilidade a certas doenças, sendo disso exemplo a incidência das doenças crónicas que tendem a aumentar com a idade” (Agostinho,2004, p. 32). Mas o envelhecimento não se resume apenas à sua componente física, assim autores como Lima e Veiga citados por Paúl (1997, pp.18) definem velhice como “ um conceito referente à forma como cada sociedade conceptualiza esta fase do ciclo de vida, como uma construção social, inscrita numa conjunturalidade histórica”, isto é, o conceito de envelhecimento varia dentro da mesma sociedade ao longo do tempo histórico e também de sociedade para sociedade. É o envelhecimento, então, um processo complexo que, de acordo como Paúl (2001, p.p.112), que cita Birren e Cunningham, pode ser dividido entre envelhecimento primário, que seria o normal e sem doenças, o secundário, que se refere a um envelhecimento relacionado com a doença”.

Para Simões (2006, pp.32), o envelhecimento pode ser classificado como normal ou como secundário. O envelhecimento normal ocorre em todos os indivíduos, manifestando-se num declínio gradual das capacidades cognitivas que afeta várias funções, desde a velocidade de processamento de informação, à memória de trabalho e às capacidades sensorial e de perceção; neste caso, a mudança no sistema físico é universal, progressiva e irreversível, não sendo um efeito de outro processo ou modificável com o tratamento. O envelhecimento secundário, por sua vez, é aquele que decorre da presença de patologias, características da faixa etária ou não, que limitam o idoso, como, por exemplo, excesso de mau colesterol, diabetes, cataratas, doenças cardiovasculares, entre muitas outas enfermidades comuns nesta faixa etária.

Schroots e Birren, citados por Paúl (1997, pp.11), referem que o envelhecimento tem três componentes: a biológica, que resulta da vulnerabilidade e de uma maior probabilidade de morrer, a que se chama senescência; a social, relativa aos papéis sociais apropriados às expetativas da sociedade para este nível etário; a psicológica, definida pela autorregulação do individuo no campo de forças, pelo tomar decisões e opções, adaptando-se ao processo de senescência e envelhecimento.

Fonseca (2004, p. 104), que cita Birren & Cunningham, refere que é necessário recorrer à diferenciação das diversas categorias de idade, a biológica, a psicológica e a sociocultural. Assim, a idade biológica refere-se ao funcionamento dos sistemas vitais do organismo humano e é particularmente importante para a consideração dos problemas de saúde que afetam os indivíduos, pois é verificável que a capacidade de autorregulação do funcionamento desses

39

sistemas diminui com o tempo. Por seu turno, a idade psicológica refere-se às capacidades de natureza psicológica que as pessoas utilizam para se adaptarem às mudanças de natureza ambiental, o que inclui sentimentos, cognições, motivações, memória, inteligência e outras competências que sustentam o controlo pessoal e a autoestima. Finalmente, a idade sociocultural refere-se ao conjunto específico de papéis sociais que os indivíduos adotam relativamente a outros membros da sociedade e à cultura a que pertencem, idade essa que é julgada com base em comportamentos, hábitos, estilos de relacionamento interpessoal.

Reforçando esta divisão, Paúl (1997, pp. 12) “considera três tipos de idades, todas elas podendo ser maiores ou menores do que a idade cronológica dos sujeitos”: a idade biológica, a idade social e a idade psicológica. A idade biológica medida pelas capacidades funcionais ou vitais e pelo limite de vida dos sistemas orgânicos, que vão perdendo a sua capacidade adaptativa e de auto- regulação, refere-se ao processo natural de maturação que, juntamente com a passagem do tempo, modifica as estruturas do organismo. A idade social, que se refere aos papéis e hábitos que o individuo assume na sociedade, mostrando os comportamentos esperados pela sua cultura, num processo dinâmico de envelhecimento. E a idade psicológica, que se refere às capacidades comportamentais do individuo em se adaptar ao meio onde está integrado; ainda de acordo com a mesma autora (1992, pp.12), “a idade psicológica é influenciada pelos fatores biológicos e sociais, mas envolve capacidades como a memória, a aprendizagem, a inteligência, as habilidades, os sentimentos, as motivações, e as emoções, para exercer controlo comportamental ou auto- regulação”.

Tendo em conta o que acaba de ser exposto, não se pode deixar de concordar com Fonseca (2001, pp. 111), para quem “a idade cronológica não é um bom critério para se estudar o envelhecimento, seja qual for o ponto de vista considerado, uma vez que o número de anos que um individuo vive não nos dá qualquer informação sobre a qualidade da sua vida, a sua experiencia psicológica e social ou mesmo a sua saúde”

O envelhecimento, como qualquer outro estádio do desenvolvimento humano, traz consigo alterações, as quais, no entanto, de acordo com Borts, citado por Paúl (1997, pp.17), não são necessariamente “sinónimo de fraqueza, fragilidade, depressão, dependência e desânimo”, uma vez que, como sustentam Stuart e Hamilton (2002, pp. 17) “ as pessoas podem influenciar radicalmente a sua expectativa de vida”, através de aspetos como o próprio estilo de vida que levam. Sendo inevitáveis quer o envelhecimento quer as alterações físicas e biológicas que ele

40

comporta consigo, concorda-se com Jacob (2008, p.35) para quem, a fim de que estas alterações não comprometam a qualidade de vida, “é necessário eleger, ao longo da vida, hábitos alimentares saudáveis, praticar exercício físico regularmente, moderar a exposição solar, vigiar as mudanças que ocorrem no nosso corpo para agir atempadamente a possíveis desequilíbrios orgânicos e nunca esquecer de dar ao nosso organismo o repouso que este necessita”.