• Nenhum resultado encontrado

Envelhecimento Individual e o Serviço de Apoio Domiciliário

ENVELHECIMENTO E SERVIÇO DE APOIO DOMICILIÁRIO

1. Envelhecimento Individual e o Serviço de Apoio Domiciliário

O envelhecimento, sendo um fenómeno social, é uma experiência individual no sentido de uma vivência singular, que comporta realidades específicas sob o ponto de vista físico, psicológico e social; é um processo bio- psico-social em que a pessoa humana, no seu existir quotidiano, experimenta ganhos e perdas, resultantes da interação entre o processo de envelhecimento, com as inerentes alterações nas múltiplas dimensões do seu ser, e as circunstâncias concretas em que este processo se dá.

Schroots e Birren (1980) [72], apontam três componentes constitutivas do envelhecimento:

I) O processo de envelhecimento biológico, a que chamamos senescência, enquadrado na vulnerabilidade crescente e na maior probabilidade de morrer;

II) O envelhecimento social, diretamente relacionado com os papéis sociais que a sociedade imputa a este nível etário;

III) O envelhecimento psicológico, que se define pela auto-regulação do indivíduo na tomada de decisões e opções, numa adaptação ao processo de envelhecimento.

Como já vimos, e citando Rosa, “Portugal a par de outros países europeus, embora possa orgulhar-se, neste final de século, de importantes ganhos sociais, nomeadamente em relação à morte e às condições de vida da sua população, observa, paradoxalmente, que os resultados do que lhe serve de orgulho (aumento de indivíduos com idades avançadas), transforma-se em matéria de preocupação.” [73] Isto porque os ganhos alcançados em termos da sobrevivência física das idades avançadas não têm sido acompanhados por ganhos a nível de medidas preventivas que poderiam ser adotadas para

72

Vaz, Maria Ester; Luisa Ferreira, Silva; Alves, Fátima; Vieira, Cristina; Sousa, Fátima; Berg, Aleksandra; Braga, Clementina; Guerra, Maria José; Hoven, Rudy Van “Estudo sobre o Envelhecimento em Portugal: Resultados Preliminares”, Actas dos Ateliers do Vº Congresso Português de Sociologia – Sociedades Contemporâneas: Reflexividade e Acção p.33 Disponível em http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR4628ec1611194_1.pdf acedido em 10.02.2013

73

controlar e reduzir o impacto negativo das diminuições e/ou perdas que ocorrem na sequência do processo de envelhecimento. Quem reforça esta ideia é A.-M. Guillemard [74] que considera que a palavra de ordem deveria ser a prevenção no sentido de retardar o mais possível o surgimento das dependências resultantes do envelhecimento biológico. Segundo o mesmo autor, o meio escolhido como adequado para promover o atraso das dependências, é a integração da pessoa no seu meio de vida e com o SAD prossegue-se com esse princípio básico de respeito pelo meio de integração, contribuindo com serviços que se propõem a substituir os próprios na satisfação das necessidades nas quais já encontram alguma dificuldade de realização.

Pois bem, com o SAD honra-se esse princípio básico de respeito pela integração da pessoa no seu meio de vida, na medida em que se definem e efetuam os serviços que, segundo a situação concreta de um determinado idoso, se revelam adequados e prescindíveis para a satisfação daquelas necessidades em que ele já manifesta real dificuldade de realização

Todavia, o maior interesse não passa apenas por preservar a continuidade de uma vida no meio habitual do idoso, mas também por garantir que este meio continue a assegurar o pleno bem-estar do utente beneficiário do SAD, não ficando contudo confinado às suas necessidades de higiene, saúde e alimentação. Isto significa muito concretamente que assim como em ambientes institucionais existe a preocupação com a parte socioeducativa no processo de envelhecimento do idoso, é igualmente importante tornar a intervenção socioeducativa extensiva às situações de apoio domiciliário.

Dando a conhecer um pouco da realidade da Fundação CESDA, esta vertente socioeducativa apenas é abordada em contexto de passeios organizados pelo Lar ou inserida em celebrações de calendário, como o Natal, carnaval, Páscoa, magusto, etc. A este propósito, convém referir que há aqueles idosos que aceitam participar nesses passeios por serem mais autónomos e porque correspondem aos seus níveis de aspiração; e há aqueles

74

que não aceitam participar por dificuldades de mobilidade ou somente porque os passeios em grupo não correspondem às suas motivações.

Em consequência, é importante que se reconheça a importância desta vertente socioeducativa, mas sem que antes se elabore um diagnóstico de necessidades para que se evitem generalizar as práticas de ação. Uma resposta personalizada e ajustada às necessidades de cada um no âmbito de um serviço socioeducativo em contexto de apoio domiciliário torna possível um SAD atento a todas a necessidades e aspirações e com capacidade de resposta.

A permanência do idoso no seu meio habitual de vida inclui mais vantagens do que aquelas que podemos imaginar, porque é no seu domicílio que encontramos as representações do seu quotidiano e das suas vivências passadas que são os fios com que ele tece a sua identidade As fotografias, os móveis, um simples compartimento, funcionam como marcas indeléveis da continuidade duma vida. Mas esta continuidade tem uma extensão maior do que o seu domicílio. O contexto de vida do idoso também é constituído pela Igreja, a mercearia, os vizinhos, a casa do filho ou da filha que fica no terreno por trás da casa da pessoa que hoje é velha e que em tempos foi por ela trabalhado, o padeiro, a buzina do peixeiro. Tudo isto são referências estruturantes do espaço/tempo da pessoa idosa e constituem aspetos importantes da sua identidade. Quebrar esta rede de laços afetivos feitos história na relação com as pessoas e os objetos, introduz uma rutura nessa continuidade e influencia inevitavelmente o processo de envelhecimento do indivíduo idoso. Como defende Maria de Lourdes Quaresma:

“O domicílio constitui uma pedra angular da relação do homem com o seu meio, entendido como um lugar de vida, fator de promoção das relações sociais e intergeracionais comportando três dimensões: ambiente, habitação e condições físicas da habitação que correspondem ao valor atribuído à casa em que cada um vive: faz parte da sua história, partilha da história dos sítios e é espaço de memórias.” [75]

75

Quaresma, Maria de Lourdes (2008) “Questões do Envelhecimento nas Sociedades Contemporâneas”, Revista Kairós, 11(2), Dezembro 28, p. 37

Investir realmente num trabalho socioeducativo com os utentes que ainda usufruem de autonomia e alguma independência, é o primeiro passo para a prevenção de possíveis situações de solidão, de possíveis estados de desmotivação, tristeza, apatia, para prevenção a favor de um envelhecimento saudável e ativo, de forma a prevenir estados precoces de dependência. Quanto aos utentes gravemente dependentes, também eles podem estar de igual modo inseridos neste investimento, embora a modalidade de intervenção deva ser adaptada a esta situação e, portanto, já não seja feita tanto nos moldes da prevenção, mas do assistencialismo.

“Face ao número crescente de pessoas mais velhas, o número restrito de familiares que possam assegurar os cuidados necessários e a diminuição o mais possível da institucionalização da pessoa, leva à necessidade crescente de implementação e desenvolvimento do Serviço de Apoio Domiciliário.” [76]

76

In Manual de processos-chave (2011) Disponível em

2. O Idoso Dependente e o Idoso Independente: