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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS E CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO

4. O que gostaria de fazer que nunca fez?

- Olhe, eu sou curioso. Eu faço tudo o que quero. Eu tenho ali uma canga das vacas, trabalhadas, feitas por mim. Duas, mas uma está melhor que até lhe posso mostrar. Eu não vou lá cima, mas o meu filho que está no Canadá quando veio do Canadá, quando cá veio, eu tinha-as aqui penduradas naquele pau que está acolá através no passadiço. E ele disse: -“Você não tenha aqui as cangas. -“Porquê?”-“Algum dia ainda as levo.” Então levou-as lá para aquele celeiro em cima. Então a minha mulher que Deus tem e a minha filha iam ver aquela novela que apareceu primeiro que era a Gabriela, para casa aí de uma pessoa, que ainda não tinha televisão nessa altura e eu pus-me a fazer a canga, a bordá-la. E se eu me dedicasse...mas agora já já, já não me dedico. Gosto mais das árvores, gosto destas coisas…enfim. Está ali aquela macieirinha pequenina que enxertei-a, nasceu ali e enxertei- a. E eu ia às perdizes mais uns amigos, dois já morreram, para o Alentejo, Trás-os-Montes, e via aqueles pomares à linha…gostei. Plantei um em Vilarinho que dá muita fruta e a gente até nem a gasta toda. Estraga-se. Assim como aquelas laranjeiras. Tenho acolá umas laranjeiras caídas mas por causa dos diabetes não como. Lá como uma às vezes mas noutros tempos aproveitava-se tudo. Mas agora temos a boca um bocadinho estragada.

- Temos maus hábitos agora Sr. Agostinho?

- Temos maus hábitos e se a gente fosse augado...eu n sou augado, nunca auguei. Passava pelas ruas, as pessoas tinham laranjas lá uma senhora em Vilarinho e às vezes até nos davam porque o meu pai era uma pessoa séria e de respeito...enfim...bom...mas hoje não se faz nada disso. Olha-se para a televisão e só se vê petiscos que nunca comemos...só no dia do casamento. Se a gente fosse augados, até augava. Mas...enfim é a época moderna. Não podemos condenar ninguém sobre isso.

- São outros tempos, não é?

- Agora sobre a educação é que têm uma educação muito má. Eles têm uma educação…a rapaziada…e tinham por obrigação e dever ser educados porque quando eu saí da escola com 10 anos e antes de sair da escola, o meu pai que Deus tem, em casa dizia que quando passava por fulano ou uma pessoa mais de idade, dá-se os bons dias, as boas tardes ou as boas noites. Hoje estemos ali sentados no banco, passa esta rapaziada nova, fazem de conta que está ali um cão.

- Já vem de casa. É os pais, de certeza. A menina andou na escola, conviveu com muita gente, uns mais bem educados, outros menos...é como tudo…

Notas de Observação:

Desta entrevista destaca-se:

- O entrevistado beneficia de atenção, proteção e apoio dos filhos; - É viúvo e a filha vive com ele;

- Revela muitas lembranças boas do passado e qualquer pergunta era motivo para se referir sempre a episódios de quando era jovem/adulto;

- As respostas mudavam rapidamente de rumo, afastando-se do objetivo da pergunta. Tinha tendência a perder-se nas conversas começando a falar e a contar histórias passadas; - Quando novo, gostava muito de ler, principalmente romances, e de música. Hoje não lê, dizendo que se aborrece.

- Gosta de companhia, de conversar, mas aos convívios do Lar raramente vai. Tem alguma dificuldade em andar – depende de uma moleta e anda muito devagar. Um dos motivos que deu foi esse, a dificuldade em andar e em subir para as carrinhas do lar, sair, etc. Quando se falou em passeios e cadeiras de rodas, revelou preferir não passear a ter que ir numa cadeira de rodas.

- Sempre trabalhou na agricultura e já foi imigrante.

- Demonstrou ser muito dedicado à família e agora conta com o apoio dos filhos. - Gosta de crianças;

- Em casa entretem-se com a televisão e passa algum do seu tempo sentado à sombra numa cadeira no pátio a olhar para o quintal e para as ovelhas. Faz alguns trabalhos no quintal como regar, plantar, etc…e costuma ir até ao banco da rua encontrar-se com alguns vizinhos para conversar – diz ter tudo o que necessita em casa, preferindo envelhecer em casa.

- Já foi quatro vezes ao Canadá visitar um dos filhos.

- No fim na entrevista, foi-me mostrar o quintal e as cangas que havia feito em mais novo. - “E se quiser por aqui aparecer mais algum dia, a gente conversa enquanto cá anda, não é quando morrer…”

- O entrevistado beneficia de atenção, proteção e apoio dos filhos; - É viúvo e a filha vive com ele;

- Revela muitas lembranças boas do passado e qualquer pergunta era motivo para se referir sempre a episódios de quando era jovem/adulto;

- Quando novo, gostava muito de ler, principalmente romances, e de música. Hoje não lê, dizendo que se aborrece:

“ Eu antes gostava muito de ler, agora já me aborreço”

- Também gosta muito de pescar, referindo que quando os filhos eram pequenos, que os levava muitas vezes à pesca com ele:

“Graças a Deus tenho estado muito bem. Não me falta nada. Tinha tudo o que precisava, agora já não tenho nada. Ia à pesca no meu tempo. Gostava muito

mais ir à pesca do que ao cinema ou ao café.”

- Gosta de companhia, de conversar, mas aos convívios do Lar raramente vai. Tem alguma dificuldade em andar – depende de uma moleta e anda muito devagar. Um dos motivos que deu foi esse, a dificuldade em andar e em subir para as carrinhas do lar, sair, etc. Quando se falou em passeios e cadeiras de rodas, revelou preferir não passear a ter que ir numa cadeira de rodas:

“Não, porque já não posso andar muito e subir degraus e descer.” “Agora quanto a passeios turísticos, não me diz nada porque eu gostei sempre

de ser Sr. da minha vontade […] Agora já não me puxa porque já passeei muito”

“Têm-me convidado, mas não vou. Não vou porque tenho em casa […]Tenho em casa tudo o que é preciso. E como me custa andar e tenho tudo o que é

preciso…”

- … Aqui é reforçada a ideia de que a singularidade de cada um existe mesmo quando somos mais velhos e esta deve ser respeitada. Os planos individuais existem quer nos serviços de saúde, quer nos serviços de higiene e alimentação e, portanto, também no âmbito socio educativo deve ser feito com base na individualidade de cada utente.

- Sempre trabalhou na agricultura e já foi imigrante.

- Demonstrou ser muito dedicado à família e agora conta com o apoio dos filhos que se mantém presentes na vida do utente e vice-versa. Para qualquer necessidade (idas ao médico, correios, etc.) é a eles que recorre:

“Pois, aos meus filhos. Enquanto eu puder e eles quiserem.”

- Gosta de crianças:

“Ahh…gostei sempre de meninos”

- Em casa entretém-se com a televisão e passa algum do seu tempo sentado à sombra numa cadeira no pátio a olhar para o quintal e para as ovelhas. Faz alguns trabalhos no quintal como regar, plantar, etc…e costuma ir até ao banco da rua encontrar-se com alguns vizinhos para conversar – diz ter tudo o que necessita em casa, preferindo envelhecer em casa:

“Sim, eu gosto mais de estar na minha casa porque tenho mais que ver do que no lar. Olhe…laranjeiras, ainda têm laranjas, tenho aqui a horta, ali as ovelhinhas

muito lindas, a vinha que dá uvas muito boas brancas e pretas…e vou-me entretendo em casa e falo com este e com aquela pessoa da terra, conhecidos, vizinhos, pois. Às vezes vêm aí e estamos aqui sentados, vamos ali para o banco

para fora. Temos até ali um guarda da chuva para fazer sombra e assim vão-se passando os dias. Quando tinha saúde e trabalhava passava os dias mais…como

a menina também. Estando parados é uma chatice…”

- Já foi quatro vezes ao Canadá visitar um dos filhos.

- No fim da entrevista, foi-me mostrar o quintal e as cangas que havia feito quando era mais novo:

“E se quiser por aqui aparecer mais algum dia, a gente conversa enquanto cá

anda, não é quando morrer.”

Elemento Entrevistado: Utente SAD – B Data: 15/07/2013

Local: Cacia Duração: 00:10:58

DADOS PESSOAIS

I. SERVIÇO DE APOIO DOMICILIÁRIO

1. Há quanto tempo usufrui do SAD?

- Há 4 meses. 4 ou 5 meses.

2. Quais as razões que o levaram a procurar o SAD?

- Foi muito simples. Eu estava a comer lá em baixo no vinagre, não sei se conhece, aquele restaurante lá em baixo, o vinagre…pronto, aquilo fechou. Depois o Vinagre foi então ali falar com o Sr. Doutor e pronto, a partir daí praticamente fiquei aqui.

- Então a iniciativa foi desse senhor, não foi?

- Foi, foi. É muito bom, estou a ser acarinhado…pronto…

3. Foi sua iniciativa ou de algum membro familiar/amigo?