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CAPITULO V: Uma proposta de trabalho de Educação Ambiental na Educação

5.10 Episódio 10 Conhecendo objetos antigos e suas funções sociais (obsolescência)

Previsão de duração: 2 dias

Objetivo: Propiciar que as crianças conheçam e interajam com objetos antigos, comparando- os a objetos mais modernos e analisando a qualidade do material utilizado para confecção do objeto e sua durabilidade, bem como a importância e as consequências dos avanços tecnológicos.

Foi solicitado às famílias que enviassem objetos antigos para nossa aula, mas, na falta deles, mandaram somente um disco de vinil e uma fita K-7. Então, levamos objetos pessoais e de amigos. Com esse esforço, conseguimos apresentar às crianças um moedor de carne, um moedor de café, um ferro à brasa, uma bengala, um pilão, um mimeógrafo, uma caneta tinteiro, um ovo de costurar, um rádio com entrada de K-7 e um disco de vinil.

Em determinados locais ou comunidades, quando falamos em objetos antigos, observamos que existe um preconceito muito grande decorrente da associação deles com “velharias de museus”. Sob esse ponto de vista, tais objetos não servem mais para nada. Na realidade, essas ideias desconsideram que esses elementos são artefatos culturais, construídos em um determinado período e acolhedores da história de um povo, de suas relações com a natureza e de suas relações de produção e poder.

A partir dessa perspectiva, o velho paradigma de que museus são lugares de coisas velhas, que não servem para nada, desmonta-se e ganha uma dimensão histórica, social e reflexiva, em que esses locais passam a ser vinculados à preservação de patrimônios históricos que enriquecem ao narrar o passado com suas coleções.

Marandino (2001) tem se dedicado a estudos sobre museus e defende que eles e escolas podem ser bons parceiros educacionais no processo de ensino-aprendizagem.

Museus e escolas são espaços sociais que possuem histórias, linguagens, propostas educativas e pedagógicas próprias. Socialmente são espaços que se interpenetram e se complementam mutuamente e ambos são imprescindíveis para formação do cidadão cientificamente alfabetizado (MARANDINO, 2001, p. 98).

Reconhecemos, nesse momento, que trabalhar com objetos antigos traz a oportunidade de tentar entender o passado e também de analisar os benefícios e as dificuldades resultantes dos avanços tecnológicos. É fato que a tecnologia, embora tenha seus aspectos positivos e necessários à sociedade, também traz problemas de ordem ambiental, visto que os produtos novos surgem em uma velocidade tão grande que os objetos se tornam obsoletos rapidamente. Sendo assim, nunca houve tanto descarte de materiais ainda em boas condições de uso, os quais caíram em desuso por terem sido substituídos por produtos mais modernos.

Com essa atividade, nosso objetivo era apresentar às crianças objetos antigos e tratar da obsolescência, mostrando, ao mesmo tempo, como os avanços tecnológicos afetam nosso modo de vida e como eram mais duráveis os materiais de que eram feitos os objetos antigos. As crianças manusearam todos, sentindo textura e peso e observando cores e materiais utilizados, a fim de depreender a função social dos objetos.

Começamos a atividade com um objeto pessoal, que traz muitas lembranças: a bengala de nosso bisavô, que foi escravo, vindo de Dakar, na África. Ele morou muitos anos na região de São Carlos-SP, trabalhando em fazendas, e casou-se com uma descendente de italianos, contrariando as regras sociais da época. Com ela, teve cinco filhos. Morreu de velhice, com mais de cem anos de idade.

Olhar a bengala é reviver o passado. Foram acionadas as nossas memórias pessoais, as quais compartilhamos com as crianças. Elas, por sua vez, ficaram interessadas em histórias não tão infantis assim — histórias reais, que aconteceram de verdade, repletas de sofrimento, exploração, dominação e preconceito.

Logo depois, apresentamos os demais objetos um a um. Ao observarem o ferro à brasa, as crianças rapidamente o associaram ao moderno, pela similaridade, e disseram que o novo funciona com energia. Ao questionar o que era energia elétrica, obtivemos como resposta:

C11 - A gente não pode colocar a mão porque senão a gente morre.

Assim, as crianças demonstraram seus conhecimentos prévios sobre energia elétrica, assunto que é sempre alertado na infância por cuidadores, professores e pais como forma de prevenção de acidentes.

Quando questionamos como funcionava o ferro à brasa, já que não havia energia elétrica em tempos antigos, somente uma criança respondeu corretamente: “com carvão”. Manuseamos o ferro e mostramos como era seu funcionamento.

P - Por que não usamos mais este ferro? C23 - Por que agora já tem energia. C7 - Porque é muito pesado.

Ao apresentar o moedor de carne, solicitamos explicar o que era. Ninguém conseguiu nomeá-lo nem indicar sua função. Acharam que fosse um secador de cabelo ou mesmo um ventilador. Então, chamamos criança por criança, viramos a manivela e perguntamos se estava saindo vento. A resposta foi unânime: não saiu nada.

De repente, uma criança traz, de sua memória, a lembrança de que já havia visto e manipulado o objeto no sítio do seu bisavô, em Minas Gerais, quando foi visitá-lo nas férias. Explicamos, então, que, embora o objeto seja obsoleto, ele ainda é usado por pessoas que moram mais recuadas, longe dos centros comerciais. Apontamos que seu funcionamento é perfeito, apesar de ser mais trabalhoso do que comprar a carne pronta, já moída.

Apresentamos também, em uma linha do tempo, o disco de vinil, a fita K-7, um CD e um pen-drive, tentando mostrar a evolução cronológica da tecnologia.

Na sala, há uma luminária, doada há anos por uma família, que tem junto um rádio que toca fita K-7. Assim, resolvemos testá-lo. Para a alegria e surpresa das crianças, ele funcionou. Elas ficaram impressionadas ao perceber que, daquele objeto, saiu som de música. Todas disseram que desconheciam a fita e que nunca tinha visto nada igual. Dançaram ao som de Júlio Iglesias. Foi muito divertido.

O mimeógrafo foi outra novidade. Algumas sabiam que a função era produzir cópias, porque apontaram o lugar de colocar o papel. Uma criança (C5) perguntou:

C5 - Tia, como faz para sair tudo igual? Tem que apertar esse botão aqui? P - Tem que usar esse papel aqui, que se chama papel carbono.

Depois que mostramos o funcionamento desse objeto, cada criança desenhou aquele de que mais gostou.

Figura 24 - O mimeógrafo e disco de vinil - C9 (5 anos)

C9 pediu para desenhar dois objetos. Solicitou que colocássemos o mimeógrafo de lado porque seria mais fácil para desenhar, o que lhe permitiu reproduzir o objeto com vista lateral e fechado. Também quis desenhar o disco de vinil da dupla Zezé de Camargo e Luciano. Segundo C9, seu pai gosta da dupla, mas tem CD e não disco. Em suas palavras, o pai gosta de ouvi-lo no som do carro ao dirigir. Quando perguntamos por que ele não tinha o disco, C9 respondeu que não possuía o rádio antigo para tocar LP. Essa resposta nos permite interpretar que a criança compreendeu a explicação dos avanços tecnológicos que comentamos em aula.

Figura 25 - Bengala e pen drive - C27 (5 anos)

C27 é uma criança que faltou muito às aulas, além de ser bastante tímida. Ao questionarmos suas escolhas, suas respostas foram: “porque sim”, “porque gostei mais”. Perguntamos se sua família tinha pen-drive e ela confirmou que sim, que assistia a filmes por meio dessa tecnologia.

Completada a atividade, pudemos constatar que ela foi de grande relevância para nossa sequência didática. As crianças puderam conversar sobre museus, objetos antigos e experiências pessoais, bem como estabelecer comparações com objetos modernos. Enfim, foi possível trabalhar com a valorização das diferentes formas de conhecimento de acordo com Bonotto (2008).

Ao recuperar a história dos objetos antigos, lembramos também da história da sociedade e de algumas pessoas que viveram em outras épocas. Além disso, foi possível constatar, ao manipular os objetos, a qualidade dos antigos, os quais eram feitos de materiais duráveis, diferentemente dos atuais, mais frágeis. Esse aspecto também foi observado durante o episódio.

Acreditamos que conhecer esses objetos é uma forma de lermos nosso passado, de justificar as escolhas feitas e de analisar as tecnologias utilizadas em cada época e contexto. Além disso, as crianças puderam ver diferentes materiais e mais uma vez refletir sobre a obsolescência e os avanços tecnológicos.

5.11 Episódio 11 - Brincadeiras cooperativas