• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO V: Uma proposta de trabalho de Educação Ambiental na Educação

5.12 Episódio 12 Jogo de percurso (consumo consciente versus consumismo)

Previsão de duração: 1 dia

Objetivo: Dialogar com os conceitos de consumo consciente e consumismo de uma forma divertida e didática para que as crianças reforcem o aprendizado de que há diferentes formas de se relacionar com o mundo e com o meio ambiente, seja como consumidor consciente, seja como consumista.

Figura 26 - Jogo de percurso (consumo consciente e consumismo)

Esse jogo foi idealizado e confeccionado por mim e pela professora da turma. A ideia central era contrapor o consumo consciente e o consumismo.

O jogo envolve de 2 a 4 jogadores, um dado e um caminho a percorrer. No meio do trajeto, há atitudes que revelam o consumo consciente, como: construir seu próprio brinquedo reutilizando os materiais; brincar junto com o amigo; partilhar; brincar com bolinha de sabão, porque é barato e divertido etc. Há também atitudes que revelam o consumismo, ilustrado por meio de elementos tais como: birra de uma criança para comprar mais um brinquedo do qual ela já tem vários; compra de sapatos sem necessidade; cesta repleta de chocolates; uma criança em cima de uma montanha de brinquedos.

Ensinamos as regras do jogo, na roda, dias antes da brincadeira. Dessa maneira, quando iniciamos o jogo, a maioria já tinha as assimilado. Embora ainda não leiam palavras, as crianças leem imagens, por isso logo se apropriaram das regras.

O jogo de percurso envolve sorte e, apesar de ter origem competitiva, não estimulamos o ganhar ou o perder. Explicamos que estávamos interessadas na dinâmica do jogo e não no final.

O jogo, ao ocorrer em situações sem pressão, em atmosfera de familiaridade, segurança emocional e ausência de tensão ou perigo, proporciona condições para aprendizagem das normas sociais em situações de menor risco. A conduta lúdica oferece oportunidades para experimentar comportamento que, em situações normais, jamais seriam tentados pelo medo do erro ou punição(KISHIMOTO, 1998, p. 140).

Foi nesse clima de descontração, de brincadeira, que desenvolvemos o jogo de percurso, fixando os conteúdos aprendidos sem nos prender à ideia de vencedor e perdedor, de erros e acertos. Assim, ainda que o jogo de percurso envolvesse quatro jogadores, as

crianças se ajudaram de forma solidária: um ajudou o outro na hora de contar os pontos do dado. As crianças mais novas tiverem dificuldades para contar e os mais velhos as auxiliaram. No momento de avançar e retroceder, na interpretação das imagens e no reconhecimento dos números, eles também se ajudaram.

Apenas C1 apresentou, inicialmente, resistência ao jogo. Ele ficou observando e relutou, dizendo que não queria brincar porque iria perder. Nesse momento, incentivamos sua participação, dizendo que ele era capaz. Com muita insistência, ele aceitou o desafio e brincou.

O jogo de percurso representa um desafio porque envolve vários conhecimentos, entre eles matemáticos, quando a criança tem de contar os pontos do dado e avançar ou retroceder casas; e de conteúdos específicos, no nosso caso, consumismo versus consumo consciente. Além disse, nesse tipo de atividade, as crianças necessitam procurar soluções, constituir relações, argumentar e ter atenção.

Vigotski (2007) relata que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento proximal e que estas possibilitam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças. A interação tem papel fundamental nesse processo. Poderíamos assim dizer que se constitui como mola propulsora para o desenvolvimento infantil. De acordo com Brougère e Wajskop (1997), a criança, ao brincar, se apropria de diferentes códigos culturais e papeis sociais.

Perguntamos se já sabiam jogar e todos afirmaram que sim. Apropriaram-se das imagens fazendo juízo de valor, separando o que é certo e o que é errado. Ainda que não tenhamos, em nenhum momento, usado essas palavras, para eles tais conceitos ficaram subentendidos, afinal apresentamos o consumo consciente como possibilidade distinta do consumismo.

Sabendo de antemão o que era bom e o que não era, e por já conhecerem também os números, tiraram algumas conclusões.

C12 - Coisa boa anda para frente. C22 - E coisa errada anda para trás.

P - Mas o que é coisa boa, você pode me explicar?

C12- É quando a gente compra só o que precisa e não fica comprando um montão de coisas. P - E coisa errada?

C22 - É quando a gente compra muitas coisas sem precisar e vai para o lixo, poluindo o nosso mundo.

É interessante a análise das figuras do jogo por parte das crianças: elas acabaram atribuindo juízos de valor às imagens, associando o consumismo a algo errado e o consumo consciente ao correto.

Brincamos com quatro grupos de quatro integrantes. Sempre que terminávamos a brincadeira, solicitávamos que as crianças mostrassem de qual figura do jogo gostaram mais. As respostas foram:

 Construir brinquedos: “Porque a gente aproveita mais as coisas”.  Partilhar com amigos: “Porque é importante dividir”.

 Brincar com bolinha de sabão: “Porque é um brinquedo mais barato, não precisa gastar muito dinheiro, porque a gente não precisa de muito para ser feliz”.

 Brincar com amigos: “Porque eu não gosto de brincar sozinho, porque é muito bom ter amigos”.

Apenas duas crianças apontaram figuras ligadas ao consumismo e justificaram que querem ter muitos brinquedos.

Constatamos que as respostas das crianças, durante a discussão do jogo, dão indícios de que muitas conseguiram fazer distinções entre consumo consciente e consumismo.

Há também crianças que, mesmo com as discussões sobre consumismo e impactos ambientais, continuaram defendendo o discurso consumista. Nós respeitamos isso, afinal cada um tem o direito de pensar como lhe convém, mas o papel da escola é apresentar vários pensamentos, inclusive o crítico.

Nesse episódio a valorização de uma vida sustentável de Bonotto (2008) estava em evidência, porque demandou conhecimentos e discussões de um modelo de vida sustentável, pautado em princípios igualitários e sustentáveis.

As crianças apreciaram muito o jogo, tanto que passaram a sempre pedir para brincar com ele mesmo após o término da sequência didática. O jogo ficou na sala e foi guardado em um local acessível às crianças, de forma que se configurou como mais um jogo coletivo da sala, garantindo que todos tivessem autonomia para brincar quando desejassem.

5.13 Episódio 13 - Música: “Não Custa Nada” (Música em Família)