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2. A INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE OS INVESTIMENTOS EM

2.4. OS CRITÉRIOS DE EQUIDADE E EFICIÊNCIA NA INCIDÊNCIA DO

2.4.1. A equidade horizontal e vertical

Inicialmente, é importante destacar que a política tributária apresenta um

trade-off28 fundamental entre a eficiência econômica e a equidade vertical, ou seja, a

eficiência econômica é alcançada à custa da equidade e vice-versa. Uma vez que o sistema tributário também é utilizado pelos governos como instrumento de redistribuição de renda, a estrutura tributária ideal é aquela que proporciona a melhor combinação entre equidade e eficiência. A metodologia da teoria da tributação baseia-se nas seguintes suposições: os governos devem alcançar um determinado nível de receita; os únicos instrumentos tributários disponíveis são os impostos sobre bens, renda ou ambos; as decisões econômicas devem ser consistentes com a otimização da firma e do indivíduo; as escolhas devem maximizar uma função de bem-estar social. Assim, o sistema tributário ideal é usualmente definido pela estrutura tributária que maximiza o bem-estar social, dada uma restrição de receita do governo, e que pondera o equilíbrio entre os objetivos de eficiência e equidade (PAZ, 2008).

A equidade e eficiência não são os únicos parâmetros para que se possa definir uma tributação justa, mas é relevante a visão desses conceitos para que possa haver a maximização do bem-estar social, função primordial da previdência complementar.

A tributação, por ser um poderoso instrumento de intervenção estatal, pode trazer importantes e indesejáveis efeitos colaterais, causados pela forma excessivamente onerosa e desigual (MICHELS, 2005).

Com o advento da Lei n.° 11.053, de 2004 e a possibilidade do diferimento no pagamento do imposto de renda, os investimentos em previdência privada os

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Trade-off é uma expressão que define uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de problema mas acarreta outro, obrigando uma escolha. Ocorre quando se abre mão de algum bem ou serviço distinto para se obter outro bem ou serviço distinto.

tronaram mais atrativos, evitando ainda regras de mudanças a todo o momento, aumentando a segurança e a certeza jurídica, propiciando estabilidade sobre o sistema jurídico e sobre as decisões dos agentes econômicos privados (ARAÚJO NETO, 2010).

Quanto aos efeitos da onerosidade de tributação, torna-se tarefa árdua ponderar o que seria oneroso para a sociedade brasileira quando se analisa a atividade fiscal sobre a previdência complementar. Para tanto, serão utilizados os parâmetros da equidade e eficiência.

Todo o sistema tributário tem a justiça ou equidade como um de seus traços desejáveis. Na literatura econômica, por sua vez, apresentam-se dois conceitos diferentes de equidade: equidade horizontal e vertical. Diz-se que o sistema tributário é horizontalmente equitativo se indivíduos que são iguais em todos os aspectos são tratados da mesma forma. O princípio da equidade horizontal trata, portanto, das exigências de justiça com relação a pessoas iguais, isto é, com o mesmo nível de renda ou consumo (PESSÔA, 2006).

A equidade pode ser analisada por dois pontos de vista: a equidade horizontal e a equidade vertical. A primeira define que os contribuintes com a mesma capacidade de pagamento devem arcar com o mesmo ônus fiscal. Um exemplo são as diferentes faixas de renda para a aplicação do imposto de renda. A equidade vertical exige que os cidadãos com maior renda devem pagar mais impostos de que os que possuem menor renda.

Cumpre ressaltar que o pagamento das contribuições para o financiamento da previdência social pode ser classificado como regime de benefício definido, de contribuição definida e de contribuição variada que é um misto entre o primeiro e o segundo.

No regime de benefício definido, as regras para o cálculo do valor dos benefícios são previamente estabelecidas. É o que ocorre com a previdência pública brasileira, que tem suas regras definidas por força de lei. No sistema de contribuição definida as contribuições são definidas e o valor dos benefícios varia em função dos rendimentos das aplicações individuais (KERTZMAN, 2009).

No caso dos planos de previdência complementar, que estão em conformidade com a modalidade de contribuição definida, o segurado define o valor da contribuição fazendo com que a incidência do imposto se adeque ao princípio da equidade, por respeitar a capacidade contributiva do segurado (KERTZMAN, 2009).

Com relação a equidade vertical, cumpre observar não somente a tributação das entidades, mas também dos investidores, pois são estes que destinam parte de sua renda para garantir uma melhora ou continuidade do seu bem-estar.

A diferença no valor das alíquotas do imposto de renda vigente a partir de 1º de janeiro de 2009 é mais equitativa do que a anterior, pois introduziu dois novos intervalos de classe de renda sujeitos à incidência, as alíquotas de 7,5% e 22,5%. Todavia, manteve a alíquota máxima, anteriormente existente, de 27,5%. Observa- se que a diferença entre as duas últimas alíquotas – de 5% – é inferior às diferenças entre cada uma das anteriores – 7,5%, ou seja, a atual estrutura de alíquotas e de intervalos de classe do Imposto de Renda de Pessoas Física não respeita a equidade vertical (CHALFUN, 2010).

Contudo, as pessoas com renda total mais elevada possuem maiores chances de poupar e investir em planos de previdência complementar do que as assalariadas, uma vez que não são tributadas na mesma proporção.

Assim, dependendo do rendimento auferido, uma pessoa física que vive somente de investimentos paga menos imposto do que uma pessoa que vive somente do trabalho assalariado.

Chalfun (2010) apresenta números que evidenciam ainda mais a desigualdade da tributação do Imposto de Renda. Enquanto o Imposto de Renda Retido na Fonte incidente sobre o rendimento do trabalho cresceu na média de 6,9% no período 2004 a 2008, o recolhimento referente ao rendimento do capital apresentou aumento médio de 3,3%.

Segundo Menezes Filho (2010) a desigualdade é mais grave, uma vez que o valor referente aos salários passou de 84% dos rendimentos em 1992 para 75% dos rendimentos totais no ano de 2008. Denota-se que o valor da renda derivada das aplicações financeiras aumentou mais do que o correspondente à renda do trabalho, então não se adéqua ao conceito de eficiência.

A previdência complementar ainda não atraiu os investimentos da classe assalariada. Medidas como a criação de planos personalizados adequados à necessidade de cada investidor; a maior divulgação das vantagens e formas de investimento não superam, em efetividade, a mudança na forma de tributação iniciada com o advento da Lei 11.053, de 2004. Para demonstrar a influência da Lei n.° 11.053, de 2004 nos planos de previdência complementar, Mileski afirma:

A variação do crescimento entre 2004 e 2005 foi de apenas 3,90%, muito abaixo da média dos últimos 10 anos que foi de 33,25%. O principal motivo para esta freada no crescimento no setor foi a promulgação da lei 11.053/2004. O mercado reagiu de forma conservadora e mesmo as seguradoras tiveram pouco tempo para se preparar para as mudanças trazidas pela nova lei. Porém, se verificarmos a variação entre 2005 e 2006, que foi de 17,3%, mostra que o mercado recuperou a confiança no produto os planos voltaram a ser adquiridos. (MILESKI, 2007).

Conclui-se como positivas as mudanças trazidas pela Lei n.° 11.053 de 2004. A criação do Regime Regressivo de Tributação e a atual estabilidade da economia, um ambiente favorável para que as pessoas tenham segurança em investir a longo prazo. O Estado, por sua vez, deve incentivar tributariamente o crescimento da poupança interna e agir de forma eficiente, conforme demonstrado a seguir.