• Nenhum resultado encontrado

2. A INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE OS INVESTIMENTOS EM

2.2. A FORMA E O MOMENTO DA TRIBUTAÇÃO DAS ENTIDADES DE

2.2.2. Imposto sobre o gasto ou consumo

Na segunda hipótese, a tributação recai sobre o consumo, que é tributado na mesma proporção tanto no presente quanto no futuro. É o caso dos regimes IIT e TII. A tributação ocorre na primeira ou na terceira fase e a isenção sempre na segunda, ou seja, não haverá incidência do imposto na fase do retorno dos investimentos realizados pela entidade.

O imposto sobre a renda alcança a neutralidade fiscal quando trata de maneira igual o consumo e a renda, considerando a poupança como qualquer outra mercadoria. Ocorre que a poupança previdenciária não se trata de uma aplicação qualquer, mas um meio para viabilizar um consumo futuro, ou seja, não é um fim em si mesmo, mas uma forma de diferir o consumo.

Os investimentos realizados nas entidades de previdência complementar não possuem como objetivo o resgate a curto prazo, essas aplicações serão resgatadas a longo prazo, no momento da aposentadoria ou quando o segurado estiver diante de um risco social que o impeça de prover o seu sustento. Nesse momento futuro, os benefícios serão revestidos em consumo para manutenção da qualidade de vida do segurado, momento em que ocorre a tributação.

Diante da terceira e quarta hipóteses apresentadas na tabela 2, a modalidade TII é caracterizada pela incidência do tributo na primeira fase da sistemática fiscal, ou seja, tributa no momento dos aportes na poupança previdenciária, por outro lado não há tributação na fase dos rendimentos nem na fase do resgate dos benefícios.

A quarta modalidade apresentada na tabela 2, que tributa apenas a terceira fase, ou seja, a fase dos resgates, traduz que há isenção no momento dos aportes e durante a fase de resgate das aplicações realizadas pela entidade, mas ocorre a incidência do tributo na fase de recebimento dos benefícios, concentrando a tributação sobre o consumo. Os dois casos são marcados pela ausência de tributação na renda, diferentemente do imposto amplo sobre a renda.

A diferença entre as formas de tributação do consumo consiste, basicamente, no momento da tributação, pois o primeiro incide sobre o consumo presente e o segundo sobre o consumo futuro.

A tributação no primeiro momento, ou seja, na fase dos aportes de capital às entidades de previdência, representa um ganho maior para o ente tributante, uma vez que a tributação ocorrerá no consumo presente representando uma arrecadação imediata. Por outro lado, não se trata da forma mais atrativa para o investidor, pois a possibilidade de transferir o pagamento do imposto para uma data futura, representada, não implicaria um imediato aumento da carga tributária, e é possível investir uma quantidade maior de recursos.

Carvalho e Murgel apresentam ponto favorável ao investidor no caso do consumo futuro, representado pela modalidade IIT, que aponta isenção nas fases dos aportes e aplicações e isenção na fase do resgate:

Não há como negar que quando a isenção tributária ocorre no futuro, e não imediatamente, renegá-la, é instituir tributação no momento do pagamento do benefício (muito embora tenha havido tributação à época da contribuição), tornando a poupança em fundos menos atraente. (CARVALHO; MURGEL, 2007, p. 67).

A modalidade da tributação IIT também se apresenta benéfica ao Estado, uma vez que apenas posterga o poder de compra, pois a gradual maturação dos planos de previdência enseja o pagamento de mais e mais benefícios e, consequentemente, a possibilidade de sua tributação (CARVALHO; MURGEL, 2007).

Paz (2008) alega que constantemente se defende que os impostos sobre o consumo são regressivos em relação à renda, sob o argumento de que os indivíduos mais pobres consomem uma proporção maior da renda do que os mais ricos. Como os impostos sobre o consumo teriam uma incidência mais pesada sobre os indivíduos mais pobres, argumenta-se que o imposto sobre a renda seria uma forma de tributação mais justa. No entanto, mesmo em um problema dinâmico, indivíduos pobres e ricos consumirão a totalidade de sua renda, constatando-se, mais uma vez, a equivalência entre essas duas formas de tributação.

A equivalência ocorre apenas quando o imposto incide sobre a totalidade de suas bases. Essas duas formas de tributação também diferem quanto aos respectivos custos de compliance24, arrecadação e enforcement e quanto às possibilidades de evasão.

Para melhor compreensão na tabela 3, constam os números ilustrativos e as variantes de tributação partindo de um valor comum. Constam também duas situações referentes à tributação sobre o consumo e duas referentes à tributação ampla sobre a renda, apresentando ainda, formas de cobrança imediata e com diferimento.

24

Custos administrativos incorridos pelo governo e pelos contribuintes, os quais envolvem os custos de adequação às normas tributárias pelos contribuintes.

Tabela 3: Comparação de variantes da tributação

Variações IIT TII ITT TTI

Momento da tributação

Diferido Imediato Diferido Imediato Contribuições antes do imposto 37.000 37.000 37.000 37.000 Alíquota de imposto 0% 27,5% 0% 27,5% Contribuições depois do imposto 37.000 26.825 37.000 26.825 Remuneração do capital antes do imposto 97.904 70.980 81.125 58.816 Alíquota de imposto 0% 0% 20% 20% Remuneração do capital depois do imposto 97.904 70.980 64.900 47.053 Total poupado antes 134.904 97.805 101.900 73.878 Alíquota de imposto 27.5% 0% 27,5% 0% Beneficio liquido depois do imposto 97.805 97.805 73.878 73.878

Fonte: Carvalho e Murgel (2007)

A tabela mostra que na tributação sobre o consumo não há diferença entre o imposto a ser cobrado na fase das contribuições ou na fase do pagamento de benefícios. Dessa maneira, conclui-se que o benefício auferido independe do diferimento tributário, a diferença do benefício residirá, sim, na aplicação da neutralidade entre o consumo presente ou futuro (IIT e TII) ou da neutralidade entre consumo e poupança (ITT e TTI).

Diante do exposto, a não incidência do imposto de renda no retorno dos investimentos realizados pela entidade apresenta-se mais benéfica para o segurado por proporcionar um maior benefício liquido depois da tributação. Essa forma de tributação, pode ser realizada de duas formas, com e sem o diferimento, ou seja, se a tributação irá incidir no início ou se será postergada para o final da operação como demonstrado a seguir.