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Capítulo 2 – Adolescência: contribuições da Psicologia

2.1 Algumas visões sobre o fenômeno da adolescência

2.1.1 Erik Erikson: a idéia de “crise da adolescência”

Influenciado pelas pesquisas de Mead, temos Erik Erikson (1902/1994), psiquiatra de orientação psicanalítica, responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial e um dos teóricos da Psicologia do Desenvolvimento.

Erikson teve uma grande influência na concepção da adolescência enquanto uma fase de crise. No entanto, Osório (1989) ressalta que a idéia de crise presente no pensamento de Erikson contém um caráter polêmico, gerando muitas vezes interpretações equivocadas.

Osório (1989) afirma que o termo crise tem origem no grego krisis, que significa o ato ou faculdade de distinguir, escolher, decidir e/ou resolver. Explica, ainda, que Erikson chamou a adolescência de crise normativa, referindo-se a um momento de organização e estruturação do indivíduo (e não a um processo patológico); daí a associação do termo crise à adolescência.

Erikson enfoca seus trabalhos na crise do ego e no problema da identidade. Das grandes contribuições que trouxe à psicologia temos a sugestão de que, paralelamente aos estágios de desenvolvimento psicossexual descritos por Freud (oral, anal, fálico, de latência e genital), havia estágios

psicossocias de desenvolvimento do ego, nos quais o indivíduo tinha que fixar novas orientações básicas para si e para o seu mundo social. (Pereira, 2005).

Afirmou também, que o desenvolvimento da personalidade prolonga-se por todo o ciclo vital do indivíduo e que cada estágio do desenvolvimento apresenta um momento crítico, uma crise.

“Período de decisão entre um pólo positivo e outro negativo, entre progressão e regressão, integração e retardamento. Cada estágio representa uma crise de aprendizagem, com possibilidade de aquisição de novas habilidades e atitudes.” (Pereira, 2005, pg. 61) Nesse sentido, Erikson identificou oito estágios no ciclo vital. O desfecho satisfatório de cada um deles, ou seja, de cada crise, torna possível o surgimento de um ego mais forte e estável, e uma nova dimensão de interação social: com as pessoas, consigo mesmo e com seu ambiente social. Para Osório (1989) as crises ensejam o acúmulo de experiência e uma melhor definição de objetivos.

As três dimensões – biológica, social e individual – são consideradas em seus estudos. Para ele a personalidade resulta da interação contínua entre essas dimensões que são inseparáveis e interdependentes.

Cada uma das oito crises, pelas quais o indivíduo passa ao longo da vida, é importante durante um estágio específico, tendo raízes em estágios prévios e conseqüências em estágios subseqüentes. São elas:

1. Confiança Básica versus desconfiança básica (dos 0 aos 12/18 meses)10 2. Autonomia versus vergonha e dúvida (dos 12/18 meses aos 3 anos) 3. Iniciativa versus culpa (dos 3 aos 6 anos)

4. Produtividade (diligência) versus inferioridade (dos 6 aos 12 anos)

5. Identidade versus confusões de papéis (adolescência – dos 12 aos 18/20 anos)

6. Intimidade versus isolamento (dos 20 aos 30 anos)

7. Generatividade versus estagnação ou auto-absorção (dos 30 aos 65 anos) 8. Integridade versus desesperança (após os 65 anos)

10 As idades de cada fase são aproximadas. Nas diversas fontes pesquisadas variam em

alguns anos ou são especificadas pela época que a fase compreende como, por exemplo, meia-idade (7ª crise) ou velhice (8ªa crise).

Temos, então, que a fase relativa ao período da adolescência equivaleria à “quinta crise” do desenvolvimento. É o período no qual surge a confusão de identidade e questões relacionadas à sua personalidade; suas escolhas e sua diferenciação em relação aos pais são levantadas (para alcançar uma identidade própria é necessário o processo de rejeitar o legado dos pais). Erikson ressalta que em cada geração a juventude cria uma identidade própria que reflete tal momento cultural, fazendo com que compartilhe de um destino comum. Ele afirma:

“(...) em termos psicológicos, a formação de identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. Este processo é, felizmente (e necessariamente), em sua maior parte, inconsciente – exceto quando as condições internas e as circunstâncias externas se combinam para agravar uma dolorosa ou eufórica “consciência de identidade”. (Erikson, 1987, pg. 21) Na busca pela continuidade e pela uniformidade do ego, a adolescência compreende uma reelaboração dos conflitos das etapas anteriores, até que o indivíduo possa tomar posse de novos ídolos e idéias que serviriam para sustentar uma identidade tida como final11 e que corresponde à idade adulta. Daí a idéia de moratória, que se instalaria durante a adolescência. (Campos, 2006)

Essa moratória é um compasso de espera nos compromissos adultos. É um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação de papéis, que vão permitir um trabalho de elaboração

11 O processo que estão vivenciando é de formação de identidade, pois não estão assumindo

uma identidade final. No entanto, sem ter uma definição sobre o futuro em seus últimos anos de escola, com dúvidas sobre quais papéis no mundo adulto poderão desempenhar e sentindo as mudanças fisiológicas referentes ao amadurecimento genital, a procura do reconhecimento em grupos de pares com a formação de identidades adolescentes e marcada pela excentricidade em relação ao mundo adulto; acabam, nesse momento, experimentando em suas imaginações a construção de uma identidade final. (Campos 2006)

interna. A sociedade permite ao adolescente espaços de experimentação, nos quais ele explora e ensaia vários estatutos e papéis sociais.

O adolescente revisita as fases anteriores, para poder substituir o meio no qual estava assentado pelo meio no qual está sendo inserido. A sociedade, no entanto, apresenta contornos bem menos definidos que os da infância, exigindo que os elementos que foram experimentados anteriormente sejam integrados (uma reorganização do individuo) para preparar sua passagem para o mundo dos adultos.

Nesse sentido Campos (2006) afirma:

As identificações e a formação da identidade, aparecem como a principal tarefa adolescente. (...)A finalidade da adolescência está em trocar o caráter lúdico das identificações que existiam na infância por identificações que terão uma base sólida para o jovem fazer escolhas e decisões para a seqüência da vida” (Campos, 2006, pg. 46)

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